A política externa brasileira e a dependência do país de
commodities causam incômodo ao governo norte-americano. Por isso, Brasil
ainda não é um parceiro estratégico de Washington, como os emergentes
China e Índia.
O Brasil não é um parceiro chave no combate ao terrorismo, não
representa uma grande ameaça à indústria norte-americana, e também não é
um essencial mercado consumidor – principalmente devido às suas
barreiras comerciais. Em linhas gerais, é assim que os Estados Unidos
veem o Brasil. O problema é que são justamente estas questões que guiam a
política externa norte-americana.
Essa visão ajuda a explicar por que o Brasil ainda não é um parceiro
estratégico do governo norte-americano, diferentemente dos emergentes
China e Índia. "Quando a economia brasileira for capaz de passar de uma
sociedade baseada em commodities para uma baseada numa grande classe
média com produção de alto valor agregado, aí sim as coisas vão mudar",
avalia o especialista norte-americano Jonathan Warren, da Universidade
de Washington, em conversa com a DW Brasil.
O discurso, neste caso, seria outro. "Nós ouviríamos conversas sobre o
Brasil se juntando ao Conselho de Segurança da ONU", garante Warren.
Para os norte-americanos, a geopolítica brasileira é "amadora" e
"irritante" – vide o caso do Irã. "E os brasileiros não se mostraram
muito sofisticados no uso 'suave' do poder a favor de seus próprios
interesses – ao contrário dos países asiáticos", comenta Warren a
maneira como os Estados Unidos olham para o gigante sul-americano.
E a série de reuniões oficiais previstas não significa que uma
"elevação do status" esteja próxima. Depois do encontro em Washington
entre os presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama, na semana passada,
desembarcou em Brasília nesta segunda-feira (16/04) a secretária de
Estado norte-americana, Hillary Clinton, para uma visita de dois dias.
Ela cumpre a agenda da 3ª Reunião do Diálogo de Parceria Global
Brasil-Estados Unidos, que coordenada cooperações em áreas como
educação, ciência e tecnologia.
Tudo muito básico
A expansão econômica brasileira fortemente baseada na exportação de
commodities confere ao país uma posição menos prestigiada na agenda dos
Estados Unidos. Uma análise assinada por Ruchir Sharma, indiano que
chefia o setor de investimentos em mercados emergentes da Morgan
Stanley, chama a atenção dos investidores norte-americanos: "A reluzente
imagem do Brasil repousa numa premissa, o preço vacilante das
commodities."
O executivo alerta: "O problema é que a fome mundial por essas
commodities (ferro, petróleo, cobre) está diminuindo. E se o Brasil não
tomar um rumo para diversificar e estimular seu crescimento, o país
pode, brevemente, cair com as commodities."
A estrutura do Produto Interno Bruto do país é decisiva quando as
nações se sentam à mesa de negociação política, defende Warren, que
chefia o departamento de estudos brasileiros. "A China, por exemplo, é
uma economia que cresce num sentindo bem diferente do crescimento do
Brasil: baseada em manufatura, produção de alto valor agregado, fortes
investimentos em infraestrutura", compara Sharma a diferença de
tratamento dada pelos Estados Unidos aos dois emergentes.
"Podemos confiar?"
Não se trata apenas do aspecto econômico, opina Amos Nascimento,
professor convidado da Universidade de Washington e doutor formado pela
Universidade de Frankfurt. "O que explica então o fato de o Chile e a
Argentina, mais dependentes da agricultura do que o Brasil, terem mais
visibilidade nos Estados Unidos que o próprio Brasil?", questiona.
Nascimento, brasileiro que atua como acadêmico no exterior desde 1991,
reconhece que existe certa ignorância norte-americana em relação ao
Brasil. E a culpa também é de Brasília: "O país não tem uma política de
apresentação. É difícil vender o Brasil nos Estados Unidos", critica,
apontando a ausência de uma política cultural brasileira nos EUA.
Outro ponto que influencia a política externa norte-americana é a
histórica tradição de independência diplomática brasileira – e que, em
muitos casos, se opõe aos Estados Unidos. "Apesar de todas as exigências
de Hillary Clinton, Lula recebeu Ahmadinejad, por exemplo. Essa
independência deixa o pessoal aqui meio assustado", contou em conversa
com a DW Brasil. E adicionou: "Essa independência diplomática é muito
boa. Mas, aqui nos Estados Unidos, gera certa instabilidade".
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer
Revisão: Roselaine Wandscheer
Fonte: DEUTSCHE WELLE
Nenhum comentário:
Postar um comentário