12.07.2012 - 18:34 Por António Marujo
Um bispo desaparecido, sujeito a um forçado “período de reflexão” que se transformou numa inquirição policial, um outro excomungado pelo Vaticano por ter sido ordenado sem o acordo do Papa.
Depois de um tempo em que parecia que o Vaticano e a China se aproximavam, os episódios dos últimos dias mostram que a tensão regressou às relações entre as duas partes. Em causa, o papel da Associação Católica Patriótica (ACP), controlada pelo regime, cuja hierarquia a Santa Sé não reconhece. Para Pequim, o Vaticano deveria cortar relações com Taiwan.
Ontem, em Hong Kong, o cardeal Joseph Zen-Kiun, bispo emérito da cidade, protestou junto do Governo local, contra a ordenação ilícita – ou seja, não reconhecida pelo Vaticano – do padre Yue Fusheng e a detenção do bispo auxiliar de Xangai, Thaddeus Ma Daqin, ordenado no sábado, dia 7.
Durante o ritual, conta a agência Asia News, do Instituto Pontifício das Missões no Estrangeiro, o novo bispo teria recusado a imposição das mãos (o gesto formal de sagração) por parte do bispo Zhan Silu, da ACP, bispo de Mindong que se fez convidado para a cerimónia, facto que depois o Vaticano lamentaria.
Apenas três bispos, fiéis a Roma, o fizeram: Aloysius Jin Luxian, o velho bispo “oficial” de Xangai, com 96 anos; Joseph Xu Honggen, de Suzhou e Joseph Shen Bin, de Haimen.
Quase no final da cerimónia de ordenação e perante entidades oficiais do regime e do Partido Comunista Chinês, Ma Daqin, 44 anos, anunciou que se demitia da ACP. Depois de apelar à unidade dos católicos e a que todos seguissem a tradição da Igreja, Ma Daqin afirmou que se focaria no seu trabalho de apoio ao bispo de Xangai, Jin Luxian: “Devo concentrar-me no trabalho pastoral e de evangelização”, disse o bispo. “Por esta razão, desde este dia da minha consagração, não considero conveniente ser membro da Associação Patriótica.”
Um longo aplauso, conta a Asia News citando fontes presentes na cerimónia, acolheu as palavras do bispo. À BBC, uma outra fonte local afirmou: “Ele escolheu a fé em vez da liberdade.” Logo depois da missa, Ma terá sido levado por funcionários do departamento estatal de Assuntos Religiosos.
Durante três dias, não se soube onde estava. Havia rumores de que poderia estar a “repousar” no Seminário de Sheshan. Ontem à tarde, a ACP emitiu um comunicado, citado também pela mesma agência, onde acusa o bispo de ter violado “gravemente” o regulamento sobre as ordenações episcopais. Por isso, embora sem referir qual foi a violação, a nota diz que Ma Daqin está agora sujeito a inquérito. Hoje, a situação mantinha-se.
Pouco antes, uma nota da diocese de Xangai, assinada pelo “porta-voz”, dizia serem falsas as acusações de detenção e que o bispo tinha pedido para fazer um retiro em Sheshan, onde esperava “não ser perturbado”.
Roma não interfere nas questões internas da China
As críticas à actuação do regime chinês chegaram de vários sectores da igreja Católica: o cardeal Oswald Gracias, secretário-geral da Federação das Conferências dos Bispos Asiáticos (FABC, da sigla inglesa) afirmou à Asia News que o Papa “nunca interferiu nas questões internas do Governo” chinês. E este, por seu lado, deveria abster-se de “interferir nos campos pastoral e espiritual, com a nomeação de bispos ilícitos, devendo consentir” que a Igreja trabalhe com “independência e liberdade”.
Além da manifestação que reuniu o cardeal Joseph Zen-Kiun e várias dezenas de católicos em Hong Kong, também a Comissão Justiça e Paz católica do território criticou a alegada detenção do bispo.
Uma nota do Vaticano, citada pela agência Fides, das Obras Missionárias Pontifícias, critica igualmente a actuação do Governo chinês, referindo-se com mais pormenor à sagração ilícita do padre Joseph Yue Fusheng, na sexta-feira. A nota refere que o padre incorre em excomunhão automática, por ter sido ordenado à revelia do Papa.
Fonte: PUBLICO (Pt)
Ontem, em Hong Kong, o cardeal Joseph Zen-Kiun, bispo emérito da cidade, protestou junto do Governo local, contra a ordenação ilícita – ou seja, não reconhecida pelo Vaticano – do padre Yue Fusheng e a detenção do bispo auxiliar de Xangai, Thaddeus Ma Daqin, ordenado no sábado, dia 7.
Durante o ritual, conta a agência Asia News, do Instituto Pontifício das Missões no Estrangeiro, o novo bispo teria recusado a imposição das mãos (o gesto formal de sagração) por parte do bispo Zhan Silu, da ACP, bispo de Mindong que se fez convidado para a cerimónia, facto que depois o Vaticano lamentaria.
Apenas três bispos, fiéis a Roma, o fizeram: Aloysius Jin Luxian, o velho bispo “oficial” de Xangai, com 96 anos; Joseph Xu Honggen, de Suzhou e Joseph Shen Bin, de Haimen.
Quase no final da cerimónia de ordenação e perante entidades oficiais do regime e do Partido Comunista Chinês, Ma Daqin, 44 anos, anunciou que se demitia da ACP. Depois de apelar à unidade dos católicos e a que todos seguissem a tradição da Igreja, Ma Daqin afirmou que se focaria no seu trabalho de apoio ao bispo de Xangai, Jin Luxian: “Devo concentrar-me no trabalho pastoral e de evangelização”, disse o bispo. “Por esta razão, desde este dia da minha consagração, não considero conveniente ser membro da Associação Patriótica.”
Um longo aplauso, conta a Asia News citando fontes presentes na cerimónia, acolheu as palavras do bispo. À BBC, uma outra fonte local afirmou: “Ele escolheu a fé em vez da liberdade.” Logo depois da missa, Ma terá sido levado por funcionários do departamento estatal de Assuntos Religiosos.
Durante três dias, não se soube onde estava. Havia rumores de que poderia estar a “repousar” no Seminário de Sheshan. Ontem à tarde, a ACP emitiu um comunicado, citado também pela mesma agência, onde acusa o bispo de ter violado “gravemente” o regulamento sobre as ordenações episcopais. Por isso, embora sem referir qual foi a violação, a nota diz que Ma Daqin está agora sujeito a inquérito. Hoje, a situação mantinha-se.
Pouco antes, uma nota da diocese de Xangai, assinada pelo “porta-voz”, dizia serem falsas as acusações de detenção e que o bispo tinha pedido para fazer um retiro em Sheshan, onde esperava “não ser perturbado”.
Roma não interfere nas questões internas da China
As críticas à actuação do regime chinês chegaram de vários sectores da igreja Católica: o cardeal Oswald Gracias, secretário-geral da Federação das Conferências dos Bispos Asiáticos (FABC, da sigla inglesa) afirmou à Asia News que o Papa “nunca interferiu nas questões internas do Governo” chinês. E este, por seu lado, deveria abster-se de “interferir nos campos pastoral e espiritual, com a nomeação de bispos ilícitos, devendo consentir” que a Igreja trabalhe com “independência e liberdade”.
Além da manifestação que reuniu o cardeal Joseph Zen-Kiun e várias dezenas de católicos em Hong Kong, também a Comissão Justiça e Paz católica do território criticou a alegada detenção do bispo.
Uma nota do Vaticano, citada pela agência Fides, das Obras Missionárias Pontifícias, critica igualmente a actuação do Governo chinês, referindo-se com mais pormenor à sagração ilícita do padre Joseph Yue Fusheng, na sexta-feira. A nota refere que o padre incorre em excomunhão automática, por ter sido ordenado à revelia do Papa.
Fonte: PUBLICO (Pt)
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