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sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Sindicalistas tentaram chantagear o governo com dossiês


Diretor da Aneinfra, entidade que negocia aumento salarial para servidores de 18 ministérios, ameaçou dirigente do Ministério do Planejamento


MURILO RAMOS


Na tarde do dia 19 de julho, 13 sindicalistas da Associação Nacional dos Analistas e Especialistas em Infraestrutura (Aneinfra) – entidade que representa mais de 700 servidores de 18 ministérios – reuniram-se com Marcela Tapajós, secretária-adjunta do Ministério do Planejamento. Pauta do encontro: negociação salarial. A reunião durou mais de uma hora e aconteceu no sétimo andar do ministério. Ela transcorria de forma serena, até que a dificuldade em avançar nas tratativas irritou o engenheiro civil Alexandre Ono, diretor da Aneinfra. Sem delongas, Ono, desde a semana passada coordenador de informática do Ministério das Cidades, dirigiu-se a Marcela e disse que, se as negociações não avançassem, divulgaria um dossiê com informações sobre fragilidades de programas da área de infraestrutura (leia-se PAC) e faria “ataques institucionais” contra ministérios. Caso essas duas estratégias não funcionassem, partiria para uma ação mais forte. “Aí vem o terceiro momento, com ataques pessoais”, disse. Surpresa com o comportamento de Ono, Marcela reagiu. Bateu as duas mãos na mesa e afirmou que não aceitaria aquele tipo de conduta. “Se optarem por radicalizar, façam isso. Mas não venham nos ameaçar.” No dia anterior, Ono afirmara a colegas da associação que faria o papel de “bad boy” na reunião com Marcela.

A tentativa de chantagem revela que o racha entre os sindicatos e o governo pode produzir abalos políticos sérios. Nas últimas semanas, as greves no setor público estão avançando velozmente. Aumentaram também as frases belicosas entre as duas partes, como se viu nos xingamentos de sindicalistas ao secretário-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Hoje, há 36 categorias paralisadas. Estimativas recentes apontam para cerca de 350 mil servidores em greve, travando serviços fundamentais como a liberação de cargas em portos e aeroportos. A Aneinfra — associação pequena, criada no final de 2008—pretendia na reunião do dia 19 de julho ameaçar que entraria em greve. Os analistas de infraestrutura pressionavam o governo, diante das dificuldades em obter uma equiparação salarial a categorias como auditores, policiais e diplomatas. A ameaça do sindicalista Ono enterrou a negociação.
 
Os diretores da Aneinfra Alexandre Ono (ao fundo) e Hélio José Lima com a presidente Dilma Rousseff em 2009, quando ela era ministra da Casa Civil (Foto: Reprodução/Twitter)

Na manhã de ontem, quinta-feira (9), ÉPOCA acompanhou a assembleia da Aneinfra no auditório do Ministério de Minas e Energia. Os associados estavam preocupados com o vazamento da ameaça de Ono. “Que categoria vai adiante ameaçando o governo?”, afirmou um dos presentes. Outro associado estava mais preocupado em abafar o escândalo. “Precisamos botar panos quentes. Não podemos expor nossas fragilidades”, disse. O Ministério do Planejamento também queria botar “panos quentes” na situação. Procurada por ÉPOCA para confirmar detalhes da reunião do dia 19 de julho, uma assessora de imprensa do ministério, Paula Marquez, garantiu que Marcela Tapajós não sofrera ameaças. “Não acompanhei toda a reunião, mas tenho certeza de que não houve chantagem nem ameaça”, afirmou. Em seguida, ÉPOCA obteve o áudio da reunião, em que a chantagem dos sindicalistas fica evidente. Confrontado com a nova evidência, o Ministério do Planejamento voltou atrás. A própria secretária Marcela Tapajós confirmou a história: “Nunca havíamos sofrido ameaças dessa natureza. Nesse nível, foi uma novidade para mim”, disse. “É uma situação inaceitável.”

Procurado por ÉPOCA, Ono estava mais calmo. Disse que sua manifestação na reunião do dia 19 não passou de um mal entendido: “As palavras foram mal colocadas. Eu me expressei mal. Acabei falando coisa que não queria. Foi uma encenaçãozinha. Não existe dossiê. Não existe nada. Já está tudo pacificado”. Durante a assembleia da quinta-feira, os sindicalistas decidiram afastá-lo da Aneinfra até que seu comportamento seja julgado pelo conselho de ética da entidade. Ono corre o risco de ser destituído. Quem perde mesmo com esse tipo condenável de negociação é a categoria representada pelos sindicalistas. Justas ou não, suas reivindicações enfraqueceram com a chantagem.

Fonte: ÉPOCA

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