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domingo, 16 de setembro de 2012

Émile Zola


Escritor francês

02/04/1840, Paris, França

28/09/1902, Paris, França
Da Página 3 Pedagogia & Comunicação
[creditofoto]
Émile-Édouard-Charles-Antoine Zola foi o fundador e o principal representante do movimento literário naturalista. Educado em Aix-en-Provence, Zola começou a trabalhar em 1862 no departamento de vendas da uma editora. Quatro anos depois decidiu dedicar-se exclusivamente à literatura. Suas duas primeiras obras, "Contes à Ninon" (1864) e o romance "La Confession de Claude" (1865) marcaram a transição para o naturalismo, já definitivamente manifesto em "Thérèse Raquin" (1867).

Inspirado na filosofia positivista e na medicina da época, Zola partia da convicção de que a conduta humana é determinada pela herança genética, pela fisiologia das paixões e pelo ambiente. Conforme afirmou no ensaio "O romance experimental" (1880), o desenvolvimento dos personagens e das situações deve ser determinado de acordo com critérios científicos similares aos empregados nas experiências de laboratório. A realidade deve ser descrita de maneira objetiva, por mais sórdidos que possam parecer alguns aspectos.


Consciente da dificuldade de conferir caráter científico a uma obra de ficção, Zola procurou pôr em prática suas concepções. A partir de 1871, trabalhou num ciclo de vinte romances, "Os Rougon-Macquart", que tinha como subtítulo "História Natural e Social de uma Família no Segundo Império". Essa obra constitui um painel vigoroso e franco sobre a decadência da sociedade do Segundo Império - o que lhe valeu várias acusações de pornografia. A primeira parte do ciclo - "A Taberna" (1876) e "Nana" (1880) - é dominada por uma atmosfera de degeneração e fatalismo, mas a partir de "Germinal" (1885) a descrição das más condições de vida numa comunidade de mineradores destaca a opressão social como responsável pela paralisação moral da humanidade.



Posteriormente Zola escreveu outros dois conjuntos de romances, "As Três Cidades" (1894-1898) e "Os Quatro Evangelhos" (1899-1902), onde manteve a violência quase visionária dos trabalhos anteriores.



Nos últimos anos de vida, o escritor foi mais uma vez alvo de polêmica por sua intervenção no caso de Alfred Dreyfus, oficial judeu do Exército francês condenado por traição, cuja inocência Zola defendeu de público, acusando os comandos militares de terem admitido provas falsas. Julgado por injúria e condenado a um ano de prisão, Zola exilou-se em Londres em 1898 e só regressou à França 11 meses depois. Émile Zola e sua mulher morreram em Paris, asfixiados pelo monóxido de carbono de um acidente com uma chaminé.

Fonte: UOL

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ATUALIZAÇÃO:


O evangelho de Zola

Como tantos outros homens de letras e pensadores sociais do século XIX, como seus conterrâneos Charles Fourier, Proudhom, Considérant, Eugène Cabet, e mesmo o fantasioso e imaginativo Jules Verne, o romancista Emile Zola (1840-1902), por igual, dedicou-se a formular numa série de novelas – as últimas que escreveu – à reforma social, a tentar superar a guerra entre o capital e o trabalho que tantas convulsões provocou na idade contemporânea. Significativamente, denominou-as de Quatre Évangiles, os Quatro Evangelhos.


O país negro


Emile Zola (1840-1902)

Os franceses chamam-na de o País Negro. Trata-se da zona carbonífera do Passo de Calais e da bacia de Charleroi , situada no norte do país, fronteira com a Bélgica, em cujas profundezas subterrâneas acham-se as grandes bacias de lignita e hulha negra. Precioso minério, impulsionador das máquinas, arrancado a ferros por um exército de escavadores que diariamente, desafiando a morte, descem nos profundíssimos poços daquelas trevas feitas de labirintos de breu.

Conforme a revolução industrial na França fora se estendendo pelo século XIX, maiores tornaram-se as pressões sobre as costas dos mineiros para que aumentassem, em meio a mil perigos, a tonelagem extraída. Situação que se estendeu até que, em 1884, uma greve geral eclodiu por toda a região. Exaustos e famintos, eles cruzaram os braços.

A França, ainda traumatizada com a lembrança da Comuna de Paris de 1871, eletrizou-se. Os patrões chamaram o exército e a greve, com vários mortos, foi sufocada. 

Emile Zola, seguramente o mais popular e prolixo escritor da França de então, chocado com os relatos que recebera sobre o episódio, pôs mãos à obra, escrevendo a sua versão da grande paralisação dos mineiros. O resultado foi um clássico da literatura social: Germinal, aparecido em 1885.

A guerra social

Longe de afilhar-se à escola de Victor Hugo ou de Michelet, que quase santificavam “le peuple”, o povo, Zola, seguindo a linha do naturalismo extremado, tratou de expor a miséria e as desgraças fatais que o meio ambiente causava no proletariado. As condições horríveis em que os operários braçais viviam faziam com que “o povo se mantivesse na ignorância e vivesse afundado na lama, que onde é obrigado a trabalhar e tirar o sustento”.(Carta a G.Montorgueil, 1885).

Travava-se, para ele, no campo social da produção, um combate épico entre os “gordos e o magros”, entre o capital e o trabalho, para o qual decidiu contribuir com idéias para evitar que uma futura revolução do povo, esfomeado e doido, provocasse uma enxurrada de sangue burguês, uma exibição de cabeças cortadas, acompanhada pela pilhagem do ouro nos cofres estourados.

Sentiu-se como um apostolo social voltado para oferecer receitas da reforma da sociedade. Típica dessa tomada de posição foi o título que ele adotou para a sua obra derradeira: os Quatro Evangelhos, uma tetralogia de novelas dividida em “Fecundidade” (1889), “Trabalho” (1901, “Verdade” e “Justiça”, os dois últimos póstumos.

No mais conhecido deles, o “Trabalho”, Zola concentra a narrativa nas atividades de um reformador itinerante, um tal de Luc que se diz seguidor de Charles Fourier, o mais famoso dos socialistas utópicos daquela época, e que chega no coração da zona mineira e metalúrgica - onde, desde 1864, o magnata Ernest Solvay formara o seu império de solda e de aço - , com a missão de fundar uma associação operária.

O falanstério de Zola (*)


Operários siderúrgicos, trabalhando no inferno (tela de M. Luce, 1896)


"Ponham-se em guarda, olhai sobre a terra, vejam esses miseráveis que trabalham e que sofrem. Há talvez ainda tempo para evitar as catástrofes finais. Atentem porém em serem justos, de outro modo eis o perigo: a terra se abrirá e as nações submergirão numa das mais apavorantes transformações da história." 
E. Zola, L´Oeuvre, dossier preparatoire,1885


Em seguida a uma impressionante descrição da corrida do aço numa siderurgia, no capitulo introdutório intitulado “O Abismo” (na qual os operários, em meio à forjas quentíssimas, como se fossem servos de Vulcano, parecem estar numa sucursal do inferno, situação que por igual comoveu o pintor Maximillien Luce, autor da impressionante tela “Fondarie à Charleroi, 1896), Zola, como tantos outros homens de letras daquele século, dedicou-se a descrever o seu projeto utópico. Imaginou-o, tal ordenamento perfeito, como o falanstério de Crêcherie, local radiante (bem o oposto à caverna incandescente da metalurgia), no qual homens e mulheres conviviam coletivamente em condições ideais de habitação e trabalho.

Ao escritor, testemunha da Comuna de 1871, repugnava a revolução, apostando sim na regeneração da sociedade burguesa desde que se recorresse a um amplo programa de reformas que implicava em por fim ao despotismo do Capital sobre a mão-de-obra, reintegrando numa mesma ordem social pacificada tanto o patrão como o empregado. A estratégia que ele adotou compreendia em expor as mazelas dos trabalhadores para obter a simpatia geral da sociedade, especialmente da burguesia liberal mais culta, para que, sensibilizada pela crueza dos relatos dos seus livros, apoiassem as políticas de proteção aos operários.


(*) A palavra Falanstério (do grego falanx = coletivo, phalanstère em francês), foi criada pelo socialista utópico Charles Fourier (1772- 1837) , e compreendia um prédio enorme onde 810 casais, perfazendo 1.620 pessoas, agrupados pela afinidade do seu temperamento (passions cardinales: ambição, amizade, amor e parentesco), trabalhavam no artesanato e na agricultura alternadamente. Para Fourier era o modelo ideal de convivência que a sociedade futura deveria abraçar.

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