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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Grécia - Os contrastes da praça Exarchia

TO VIMA ATENAS


Mensagens de homenagem a Alexis Grigoropoulos, o jovem anarquista morto no bairro ateniense de Exarchia, em 2008.
AFP


Reduto histórico dos anarquistas no coração de Atenas, a praça é um barómetro da sociedade grega em tempo de crise. Tráficos e violência evoluem entre ocupantes de setores artísticos, observados por filhos de família que ali vão respirar um pouco da atmosfera de contestação.



O albanês tornou-se empresário de sucesso e a menina do bairro rico de Ekali transformou-se em contestatária. O velho anarquista envia os neófitos pseudo-revolucionários para as aulas, o hoteleiro cipriota revela-se o melhor amigo dos turistas japoneses e o ex-prisioneiro passa a organizador de eventos culturais. Reúnem-se todos numa zona que um cacique do PASOK [o Partido Socialista grego] queria transformar em parque de estacionamento e que é hoje o ponto de encontro dos adolescentes da capital, que vêm em busca do misticismo da praça Exarchia.

No coração de Atenas, como uma serpente que muda de pele, transforma-se quotidianamente, misturando raças, abrindo e fechando lojas (com bombas artesanais, entenda-se), apoiando os seus restaurantes Rosalia e Floral, bem como o cinema Riviera. Para não falar dos seus dois quiosques, da estátua dos amantes e duas ou três coisas mais. Uma visita noturna permite constatar os efeitos da crise, mas também detetar as características imutáveis de Exarchia, a mais agitada área territorial grega, desde a queda da ditadura, e como tal classificada pelo Departamento de Estado norte-americano!


Música aos berros, descapotáveis e máfia

À noite, a praça recebe frequentemente DJ amadores e grupos musicais, com música invariavelmente alta: "Queremos música bem alta e ‘happenings’ para afastar os toxicodependentes, os vendedores de pechisbeque e a máfia albanesa", explica um dos organizadores de concertos. Apesar da música ensurdecedora, o local acolhe também jovenzinhos que jogam à bola, bebem cerveja e conversam em pequenos grupos, sobre tudo, exceto política: à noite, na Praça Exarchia, o debate político é quase inexistente!

Como debater política, se, a partir das onze da noite, os Mini Cooper, os BMW descapotáveis e os Audi descendem dos bairros luxuosos, para despejar os jovens ocupantes nas esplanadas da praça? São frequentemente bandos de raparigas, empoleiradas em saltos de 15 centímetros ou com sandálias Tod’s, roupas Prada e carteiras Louis Vuitton. Bebem cerveja, desfrutando, por uma noite, da atmosfera mítica da Exarchia. Às vezes, evola-se das mesas vizinhas um cheiro a erva, partindo de um grupo com T-shirts polvilhadas de mensagens revolucionárias, que lhes enaltece os penteados.

Quem os detém? Ninguém! Os “boinas” não são bem-vindos na praça, explicam os moradores locais. Qualquer uniforme em geral, seja da polícia ou da brigada antifraude fiscal. Se algo acontecer, é provável que a polícia não intervenha. Ou que espere pelo romper do dia. Giorgos Apostolopoulos, vereador próximo do presidente da Câmara de Atenas, já telefonou para a polícia durante uma noite inteira, a reclamar do ruído. O guarda de plantão disse-lhe que ia informar o chefe e deixou-o dependurado.


Ataques com matracas

A Exarchia tem o seu quinhão de "elementos criminosos", como são designados os paquistaneses que vendem cigarros de contrabando, ou a máfia albanesa, que trafica droga. Mas os moradores tratam deles, afugentando-os regularmente. E os anarquistas não se eximem de participar.

Giorgia Blani tinha uma loja de joias na praça. Assistiu muitas vezes a ataques com matracas. "Não imaginem a praça só cheia de gente. Todos os anos, na data do aniversário da revolta contra a ditadura, a 17 de novembro, as pessoas desaparecem, com medo, e torna-se cada vez mais perigoso", conta. Especialmente se alguém de cabelo curto andar estranhamente pela rua. Podem considerar que é um fascista e atacam-no à matracada.

Outros consideram que a crise foi benéfica para a Exarchia. É verdade que as livrarias fecharam as portas e o pequeno comércio desapareceu, mas brotaram pequenos bares que têm cerveja muito barata. Há boa música ao vivo e está tudo impecavelmente limpo. No Vox, um antigo cinema ocupado, foi instalado um café social: beber é barato e não passa fatura! É difícil remover os ocupas e fechar definitivamente o velho cinema. Da última vez que a polícia tentou, os anarquistas voltaram três dias depois, forçaram a fechadura e instalaram-se de novo. Ainda lá continuam.


Anarquistas e heroína

Mas não há só anarquistas na praça, isso é um mito. Com o regresso da heroína, a Exarchia mudou. Arruaceiros da vizinha rua Messolonghi circulam por ali: é a rua mais perigosa da capital. Os "históricos" da praça, muitas vezes amigos ou colegas de turma de Alexis Grigoropoulos [rapaz de 15 anos morto por uma bala da polícia em dezembro de 2008, perto da praça], não se sentem seguros. Movimentos como a Iniciativa Anarcossindicalista ou os Anarquistas pela Libertação Social são considerados os mais civilizados da praça Exarchia, porque são os únicos realmente organizados. Defendem o anarcossindicalismo, nascido durante a Guerra Civil Espanhola, mas também o anarquismo social, desvio comunista da anarquia. Marcam o seu território nas manifestações com bandeiras negras, mas não participaram no movimento dos indignados, porque o consideraram uma iniciativa da pequena burguesia. A abolição do “memorando de rigor” [assinado pelo Governo com a troika UE-BCE-FMI] é a única luta que consideram valer a pena contra o capitalismo.

Fonte: PRESSEUROP

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