Símbolo religioso opõe a Polónia conservadora aos mais jovens e liberais
11.08.2010 - 18:20 Por Ana Fonseca Pereira
A hierarquia católica têm-se mantido à margem da polémica (Kacper Pempel/Reuters)
A cruz que simbolizou a união dos polacos após a morte do Presidente Lech Kaczynski, em Abril, está agora a dividir o país e a inflamar o debate sobre a separação entre o Estado e a Igreja. Num protesto nunca antes visto num país onde 90 por cento da população se diz católica, milhares de jovens exigiram que o símbolo seja retirado da principal praça de Varsóvia. Os “defensores da cruz” dizem-se “dispostos ao martírio” para a manter no sítio e acusam o Governo de desrespeito pelos “valores sagrados”.
A cruz foi erguida de forma espontânea por um grupo de escuteiros em memória das 96 vítimas da queda do avião que transportava a comitiva de Kaczynski numa visita à Rússia. Findo o luto, o novo Presidente, Bronislaw Komorowski, acordou com o episcopado de Varsóvia a transferência da cruz para uma igreja próxima. Mas os apoiantes do ex-Presidente insistem que ela não deve ser retirada até que esteja pronto o monumento definitivo previsto para o local, e há uma semana que se mantêm em vigília, dia e noite, junto à cruz.
E a polémica cresceu, alimentada pelo discurso incendiário de Jaroslaw Kaczynski, ex-primeiro-ministro e irmão gémeo do ex-chefe de Estado, já esquecido do tom conciliador que adoptou na campanha presidencial. Numa entrevista, o líder conservador acusou a Plataforma Cívica, do Presidente e do primeiro-ministro Donald Tusk, de “ser pior do que os comunistas” no desrespeito pelos símbolos religiosos e acrescentou: eles “fogem da memória de Lech Kaczynski como o diabo da cruz”.
O primeiro-ministro liberal acusou o rival de explorar os sentimentos religiosos dos polacos, mas a esquerda foi mais longe: a oposição social-democrata lançou um abaixo assinado em “defesa do Estado laico” e, num protesto organizado através das redes sociais na Internet, milhares de jovens concentraram-se segunda-feira em Varsóvia para exigir que a cruz recolha à Igreja. A resposta da Polónia conservadora chegou 24 horas depois. Centenas responderam ao apelo da emissora católica Maryja e desfilaram terça-feira “em defesa da Cruz”.
A hierarquia católica têm-se mantido à margem de um conflito que diz não ter provocado, mas os observadores admitem que a primeira consequência da polémica seja a reabertura da discussão sobre a influência da Igreja Católica no país, decisiva para a queda do comunismo e mantida intocável desde então. E também Kaczynski pode sair a perder por fomentar os extremismos: as últimas sondagens mostram o partido Direito e Justiça (PiS) em queda, com 28 por cento das preferências, muito longe dos 47 por cento conseguidos pelo ex-primeiro-ministro na segunda volta das presidenciais de Julho.
Fonte: PUBLICO (Pt)
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