Perfil

Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

Mensagem aos leitores

Benvindo ao universo dos leitores do Izidoro.
Você está convidado a tecer comentários sobre as matérias postadas, os quais serão publicados automaticamente e mantidos neste blog, mesmo que contenham opinião contrária à emitida pelo mantenedor, salvo opiniões extremamente ofensivas, que serão expurgadas, ao critério exclusivo do blogueiro.
Não serão aceitas mensagens destinadas a propaganda comercial ou de serviços, sem que previamente consultado o responsável pelo blog.



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Compartilho do entendimento dos urbanistas


Eu sempre achei - embora não seja urbanista -  que condicionar o funcionamento da cidade a eventos como Carnaval, shows musicais, competições esportivas, desfiles gays, eventos religiosos e outros de tamanha envergadura, constitui planejamento equivocado.  
É certo que tais eventos canalizam renda para hotéis, bares, restaurantes, transportadoras, etc..., gerando empregos e aumento da arrecadação, mas não podem implicar em obstáculo ao direito de ir e vir (hoje está na moda falar-se em "mobilidade"), ao direito ao silêncio e à paz de espírito, daqueles que deles não participam, por exemplo.
A vida é muito mais do que tais acontecimentos e penso que o planejamento deve ser feito para disciplinar e facilitar o cotidiano, não para as ocorrências excepcionais.
Ocorre que os grandes eventos geram ganhos extraordinários também para as empresas que cominam os meios de comunicação de massa e, então, a vontade dos gestores públicos é condicionada pelos interesses de tais grupos, esquecendo-se os políticos que são os interesses coletivos que devem prevalecer.

-=-=-==

Plano urbano do Rio não pode ficar refém de megaeventos, advertem urbanistas



Paula Adamo Idoeta

Da BBC Brasil em Londres



Para urbanistas, obras olímpicas devem se adequar a um projeto de cidade de longo prazo

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, já chamou a Olimpíada de 2016 de uma "desculpa fantástica" para fazer mudanças urbanísticas necessárias à cidade. Mas, para dois especialistas estrangeiros, os megaeventos estão pautando excessivamente as mudanças urbanas do Rio, numa espécie de distorção: em vez de Olimpíada e Copa ajudarem a cidade a alcançar um plano urbanístico de por exemplo, 50 anos, a cidade é que está se adequando para acomodar os eventos esportivos.

No livro Planning Olympic Legacies, lançado neste ano, a arquiteta alemã Eva Kassens-Noor analisa o legado urbanístico de cidades-sede de Olimpíadas e diz que o Rio "está sendo guiado pela demanda de megaeventos", desde a conferência Eco-92, passando pelos Jogos Panamericanos de 2007, a Rio+20, a Copa e Rio-2016, em vez de por um planejamento focado nos habitantes.

Notícias relacionadas




Tópicos relacionados


Para o geógrafo americano Christopher Thomas Gaffney, professor visitante de pós-graduação da Universidade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense, pesquisador e que serviu de consultor para o livro de Noor, o perigo é que "o projeto de cidade seja sempre para vender o Rio para outros interesses".



"A cidade está sendo construída para os outros usarem, e esse modelo tem de mudar"


Christopher Thomas Gaffney, pesquisador e consultor

Gaffney, que mora no Rio há três anos, questiona o que ditará o planejamento após 2016. "O que pode ser maior que uma Olimpíada? Essas mudanças deveriam ser parte de m planejamento de longo prazo. A cidade está sendo construída para os outros usarem, e esse modelo tem de mudar", afirma à BBC Brasil por telefone.
Mapeamento

Noor, que é professora-assistente de planejamento urbano e transporte na Universidade Estadual do Michigan (EUA), faz a ressalva de que o capítulo de seu livro dedicado ao Rio ainda está em andamento para futuras edições, mas diz à reportagem que o ideal é "mapear onde quero que a minha cidade esteja nas próximas décadas, e daí ver como os megaeventos podem contribuir com essa visão", em vez de atender às demandas desses megaeventos.

O lado bom, ela agrega, "é que os eventos colocam o Rio no mapa e proporcionam boom econômico, ímpeto ao desenvolvimento urbano e união de partidos políticos, já que é preciso concluir tudo a tempo. O que o Rio conseguiu nesses megaeventos é virar uma cidade referência na América do Sul".

Eventos internacionais colocam o Rio no mapa, mas participação popular pode ficar relegada, diz arquiteta

"O lado ruim é que nesse processo a participação política popular acaba relegada, por causa da falta de tempo. Pouca gente é envolvida no planejamento." Além disso, algumas áreas da cidade acabam sendo beneficiadas em detrimento de outras.

Por isso, na opinião de Gaffney, o projeto acaba sendo "segregador", por beneficiar áreas como a Barra – onde ficarão a Vila e o Parque Olímpico – mas não as zonas norte, oeste e a Baixada Fluminense. Ao mesmo tempo, o bolso de todos os moradores acaba afetado pela alta nos preços dos aluguéis da cidade.
Transporte

Para a prefeitura do Rio, o principal legado será a rede de transporte, com investimentos focados principalmente em quatro linhas de BRT (bus rapid transit, tipos de corredores de ônibus), para totalizar 150km e ligar a Barra ao aeroporto Tom Jobim. As autoridades dizem que as obras terão impacto na vida de 2 milhões de cariocas.

Noor acha que a escolha pelo BRT faz sentido diante da pressão do tempo (sua construção é mais rápida do que a de linhas de metrô), do fato de o Brasil ter experiência nesse modelo e de ele ter capacidade para levar um grande número de passageiros.

Já Gaffney é extremamente crítico, opinando que a prefeitura se curvou diante do lobby de empresas de ônibus e escolheu privilegiar um modelo pior do que o metrô, poluente e que não vai convencer, por exemplo, moradores da Barra da Tijuca a trocar o carro pelo transporte público.

Além disso, diz, "faltou construir uma rede de transporte que integre as várias modalidades – trem, ciclovia, metrô. Todas as alterações ligam nada a quase nada. Não ampliar mais o metrô é uma oportunidade perdida".
Barcelona, natureza e 'elefantes brancos'

Obras de transporte são apontadas como o principal legado olímpico ao Rio

Noor, ao contrário de Gaffney, se diz otimista com algumas escolhas do Rio. Aponta que áreas como Deodoro se tornarão mais acessíveis e os avanços em infraestrutura beneficiarão a cidade.

Mas ela acha perigoso que o Rio se inspire em Barcelona, apesar do sucesso urbanístico da cidade espanhola após os Jogos Olímpicos de 1992.

"Lá (em Barcelona) também houve quatro áreas diferentes conectadas pelo transporte (no caso do Rio, essas áreas serão Barra, Deodoro, Maracanã e Copacabana). Mas as duas cidades são muito diferentes em tamanho e em área natural, e Barcelona não tinha favelas. Não sei como o Rio vai garantir que a natureza seja protegida e que as favelas sejam beneficiadas pela passagem do BRT", diz a arquiteta.

Isso porque, segundo os especialistas, várias obras viárias do Rio passarão por ecossistemas pantanosos frágeis e por zonas urbanas densamente povoadas, que terão de conviver com corredores de ônibus.

Questionada a respeito do Velódromo do Rio – que, construído para o Pan de 2007, não pode ser adaptado para a Olimpíada e tem destino incerto – Noor diz que todas as cidades olímpicas têm de lidar com "elefantes brancos".

A solução para minimizar o problema, opina, é construir arenas temporárias, que possam ser desmontadas após os Jogos e dar lugar a construções que beneficiem os moradores locais.

"Em muitos casos, esse espaço pode virar um parque, como fez Sydney em Homebush bay, área de seu Parque Olímpico de 2000. Nesse caso, a Olimpíada criou um ímpeto de desenvolvimento para a cidade."

Mas, ressalta Noor, "é preciso separar o dinheiro (para essas construções) antes. Veja o caso de Atenas, que planejava transformar o complexo olímpico em um parque. Mas a Grécia entrou em crise e o projeto ficou parado. A lição é que, se você for pensar no legado urbanístico só depois da Olimpíada, cometerá um grande erro."


Fonte: BBC

Nenhum comentário: