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quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Consequências da tortura



Tortura deixou uma mancha negra, diz ex-preso de Guantánamo






Saber Lahmar passou quase oito anos preso na base americana de Guantánamo, na ilha de Cuba
Foto: AFP

Saber Lahmar, preso durante quase oito anos na base americana de Guantánamo, na ilha de Cuba, é agora um homem livre, mas diz que o isolamento, a humilhação e a tortura deixarão para sempre uma "mancha negra" em seu coração.

Para começar, havia "drogas em minha comida", o que, segundo o ex-prisioneiro argelino, o impedia de dormir. Além disso, afirma que as luzes fluorescentes estavam constantemente acesas em sua cela de dois metros por 1,5, com um ar condicionado gelado e uma trilha sonora de material pornográfico como música de fundo.

No entanto, as coisas pioraram. "Anos de torturas por nada", afirmou o ex-preso de 42 anos em uma entrevista por telefone desde Bordeaux, na França, onde reside desde que foi libertado por um tribunal federal americano.

Lahmar é apenas um dos muitos presos que passaram pelo buraco negro legal da prisão militar localizada na base naval americana de Guantánamo, em Cuba, após os ataques de 11 de setembro de 2001. Como muitos outros prisioneiros, teve negado o direito de se defender.

Foi entregue às autoridades americanas na Bósnia, junto a outros cinco argelinos suspeitos de prepararem um ataque contra a embaixada dos Estados Unidos em Sarajevo. Quando ficou provado que estas acusações eram infundadas, foi acusado de querer se unir as guerrilhas contrárias às tropas americanas no Afeganistão.

Em 2008, Lahmar ganhou uma apelação perante um tribunal de Washington para ser libertado e o tribunal determinou que não havia evidência de crimes ou de que o acusado fosse uma ameaça para os Estados Unidos.

"Eu não fiz nada", afirmou à AFP Lahmar, um ex-professor de árabe que dirigia uma livraria em Sarajevo.

Quando chegou pela primeira vez à prisão de Guantánamo, em janeiro de 2002, lembra que lhe disseram: "Esqueça do mundo, da vida normal, esqueça tudo".

O Campo V foi o mais duro, segundo as lembranças de Lahmar. "Era para as pessoas que não falavam nos interrogatórios", disse, descrevendo as torturas as quais foi submetido, incluindo privações de sono e de alimentos e exposição constante ao ruído de um motor em movimento, que foi colocado na porta de sua cela, mas que era guardado durante as visitas da Cruz Vermelha.

"Não podia caminhar, me mover, falar; estava proibido", contou o ex-prisioneiro, que também lembrou que os carcereiros o submetiam às vezes a descargas elétricas ou introduziam gás na cela durante 20 minutos todos os dias.

Depois foi levado a Campo Eco, que descreveu como um local de isolamento completo. "Durante um ano e meio não vi o sol", afirmou, lembrando que durante os interrogatórios o obrigavam a se sentar em um banco durante 18 horas seguidas.

"Por trás disso há grandes pensadores", assegurou. "Quando não conseguiram conosco, começaram com o programa seguinte... mas não entendem que com a força não conseguirão nada", acrescentou.

Para Lahmar agora as consequências são psicológicas, não são perceptíveis, mas não o deixam virar a página.

Inclusive os guardas concordavam com ele que não havia cometido nenhum crime, afirmou, já que eles lhe diziam que estava recluso com o objetivo de fornecer informação.

Embora tenha sido libertado, ainda precisa conhecer seus próprios filhos e reconstruir sua vida. "A única coisa que quero é que me deixem tranquilo", disse. "Ainda tenho uma mancha negra em meu coração. Para limpar esta mancha eles deveriam nos devolver todos os nossos direitos. Mas como?".

"Eles dizem que eu era um terrorista", expressou. "Eles devem dizer ao mundo que eu não sou um terrorista", acrescentou.

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