Na Noite de São Bartolomeu de 1572, os católicos
massacraram os huguenotes na França. Somente em Paris, três mil
protestantes foram exterminados nessa noite. A violência estava
espalhada por todo o país, o número de huguenotes mortos foi de dezenas
de milhares.
Poucos dias antes, era calmo o ambiente na capital. Celebrara-se
um matrimônio real, que deveria encerrar um terrível decênio de lutas
religiosas entre católicos e huguenotes. Os noivos eram Henrique, rei de
Navarra e chefe da dinastia dos huguenotes, e Margarida Valois,
princesa da França, filha do falecido Henrique 2º e de Catarina de
Médici.
Margarida era irmã do rei Carlos 9º. Alguns milhares de
huguenotes de todo o país – a nata da nobreza francesa – foram
convidados a participar das festas de casamento em Paris. Uma armadilha
sangrenta, como se constataria mais tarde.
Casamento sobre o Sena
A guerra entre católicos e protestantes predominou na França durante
anos, com assassinatos, depredações e estupros. E agora, um casamento
deveria fazer com que tudo fosse esquecido?
O casamento não foi realizado na catedral. O noivo protestante
não deveria entrar na Notre Dame, nem assistir à missa. Diante do portal
ocidental da catedral, foi construído um palco sobre o rio Sena, no
qual celebrou-se o casamento. Margarida não respondeu com um "sim" à
pergunta, se desejava desposar Henrique, mas fez simplesmente um aceno
positivo com a cabeça. Como era comum na época, o casamento tinha
motivação exclusivamente política.
No século 16, o maior esteio da França não era o rei, mas sim a
Igreja. E ela estava inteiramente infiltrada pela nobreza católica. Uma
reforma do clero significaria, ao mesmo tempo, o tolhimento do poder dos
príncipes. Assim, a nobreza – tendo à frente os Guise – buscava a
preservação do status quo.
Casamento forçado seguido de atentado
Os Guise – a linhagem predominante na França – observavam com
profunda desconfiança a cerimônia ao lado da Notre Dame. O casamento foi
realizado por determinação da poderosa rainha-mãe Catarina de Médici –
uma mulher fria, detentora de um marcante instinto de poder.
Poucos dias depois da cerimônia, almirante Coligny sofreu um atentado
em rua aberta. O líder huguenote teve apenas ferimentos leves. Ainda
assim, os huguenotes pressentiram uma conspiração. Estava em perigo a
trégua frágil, lograda através do casamento. Por trás do atentado,
estavam os Guise e Catarina de Médici.
O casamento era parte de um plano preparado a longo prazo.
Carlos, o rei com olhar de louco, ficou furioso ao saber do atentado a
Coligny, que era seu conselheiro e confidente. Os católicos espalharam
então o boato de que os huguenotes estavam planejando uma rebelião para
vingar-se do atentado.
Começa o plano diabólico
O rei Carlos foi pressionado por sua mãe, Catarina. Carlos vacilou,
ficou inseguro. Mas cedeu, finalmente, e ordenou a execução de Coligny. E
exigiu, de repente, um trabalho completo: não deveria sobrar nenhum
huguenote que pudesse acusá-lo posteriormente do crime.
Coligny foi assassinado com requintes de crueldade na noite de
São Bartolomeu. Com ele, milhares de pessoas que professavam a mesma fé.
Henrique de Navarra sobreviveu à noite de São Bartolomeu nos
aposentos do rei, que tinha dado a ordem para o massacre. Henrique teve
de renegar a sua fé e foi encarcerado no Louvre. Quatro anos mais tarde,
ele conseguiu fugir. Retornou ao seu reino na Espanha e, anos depois,
subiu ao trono francês.
Henrique, que permaneceu católico, mas irmão espiritual dos
huguenotes, concedeu-lhes a igualdade de direitos políticos através do
Édito da Tolerância de Nantes. Uma compensação tardia para os
huguenotes. Henrique defendia a coesão do país: "A França não se
dividirá em dois países, um huguenote e outro católico. Se não forem
suficientes a razão e a Justiça, o rei jogará na balança o peso da sua
autoridade."
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