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sábado, 14 de março de 2015

A Marcha do dia 15




Por Paulo Muzell

A história brasileira é uma monótona repetição de lamentáveis episódios. De sucessivas tentativas de “viradas de mesa”. A nossa atrasada elite ainda habita a “Casa Grande“. Ela controla o judiciário, tem maioria nos legislativos, manipula a informação através de um oligopólio midiático que não informa, deforma. A opinião pública é manipulada, bombardeada por versões caolhas, que atendem aos interesses muito particulares dos donos da mídia e dos que ela representa. Uma elite que não permite o avanço da reforma agrária, que se recusa reformar um vergonhoso sistema tributário, altamente regressivo, que poupa o rico e cobra do pobre. Que ainda se queixa do peso da carga tributária do país quando suas empresas sonegam, ano após ano, cerca de 10% do PIB do país, algo em torno de 500 bilhões de reais. Que se recusa a abrir a “caixa preta” de um poder judiciário ultraconservador, lento, caro, que presta maus serviços à população, que não se submete a controles e que faz o que quer, invadindo, inclusive, competências dos outros poderes. Uma elite que mantém um sistema político-eleitoral sustentado pelo financiamento privado de campanha, porta aberta para a corrupção. Uma elite carola, cínica, preconceituosa, que odeia o pobre e que se sente incomodada com a melhora dos padrões de vida da classe média baixa. Que se posiciona – juntamente com a ampla maioria de uma classe média alta, argentária -, contra os programas sociais que minimamente contribuem para melhorar as condições de vida de milhões e milhões de pessoas que vivem na pobreza. Uma elite que nunca teve um projeto de construção nacional, que sempre andou a reboque dos interesses internacionais comandados pelos Estados Unidos. Que, para revolta e horror do velho Ariano Suassuna, repete incessantemente novos e velhos anglicanismos e outros estrangeirismos. Que não valoriza, não tem orgulho do que é nosso. Que se orgulha disso, e que por isso, se acha moderna e chique. Uma Casa Grande entreguista, privatista, mambembe. Que repudiou Getúlio, Lula e agora Dilma porque não aceita e não permite sequer os tímidos avanços necessários à construção de uma frágil social-democracia, que engatinha no Brasil. Uma elite adepta fervorosa do “deus livre mercado”, que defende com unhas e dentes seus privilégios, que cada vez mais concentram a renda e a riqueza do país.

Nos momentos de crise, seu braço armado se arvora em direção política do país. O exército proclamou a República e elegeu três presidentes militares entre 1889 e 1930: os marechais Deodoro da Fonseca, Floriano Peixoto e Hermes da Fonseca.

Em 1930 os militares, após alguns períodos presidenciais ocupados por civis, passam novamente a ter destacado protagonismo. Liderados por Eduardo Gomes, Ernani do Amaral Peixoto, Hermes da Fonseca Filho, Siqueira Campos, Juarez Távora, dentre outros, organizaram o tenentismo, um movimento insurrecional que levou à presidência Getúlio Vargas. A maioria dos tenentes, poucos anos depois, trocaram de lado, passaram à oposição de Vargas e acabaram por apeá-lo do poder em 1945. Eduardo Gomes, candidato à presidência na eleição de 1946, pela UDN é derrotado por Gaspar Dutra, ex-ministro da guerra de Getúlio que liderara um movimento para depô-lo. Por essas ironias da história, o apoio de Vargas foi fundamental para a eleição do seu algoz, o general Dutra. Na eleição seguinte, em 1950, Eduardo Gomes foi novamente o candidato escolhido pela UDN, partido que representava o que de mais atrasado e retrógrado existia na política brasileira. Foi fragorosamente derrotado por Getúlio. Em 1955 Juarez Távora, também da UDN, perde as eleições, desta vez se elege Juscelino Kubitschek. A UDN, ao perder sucessivas disputas eleitorais, tentou sempre subverter as regras do jogo político através do golpe. Em 1955 não conseguiu, Juscelino assumiu e governou até 1960. Alguns anos depois foi bem sucedida, finalmente: 1964 reeditou o episódio de agosto de 1954, que resultou no suicídio de Vargas. As forças da reação, com o apoio da mídia e da igreja católica conseguiram derrubar Jango Goulart, entregando o poder aos militares. A ditadura militar durou 21 anos num período em que o país foi governado com “mão de ferro” por dois marechais e três generais do exército.

Trinta anos depois e por coincidência num mês de março, o PSDB, o DEM, o PPS e o Solidariedade (SD) organizam dia 15, domingo próximo, passeatas nas principais cidades brasileiras pedindo o impeachment da presidenta eleita. A mídia, desesperadamente, tenta recriar o clima de 1954 (“um mar de lama invadiu o Catete”) ou de 1963/1964 (desta vez a alegação foi a sinistra e iminente “ameaça comunista”). Final de 2014 e início de 2015: depois do mensalão e de um ano de investigações da Lava Jato se tenta criar um clima (falso!!) de que “um mar de corrupção ameaça a Petrobras e o Brasil, tudo sob os olhos complacentes do governo”. A tentativa de golpe é engrossada por um ódio fermentado – e multiplicado nos últimos tempos -, por uma classe média alta preconceituosa, que odeia o popular, o pobre, cuja ideologia beira o fascismo. Tenta-se articular uma grande greve nacional dos caminhoneiros. O golpe do desabastecimento felizmente fracassa, muito embora tenha sido meticulosamente montado e tenha contado, fala-se, com o financiamento do homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann, o dono da AMBEV. E que, certamente, contou com o apoio de muitos outros empresários cujos nomes ficaram no anonimato.

Apesar de todas dificuldades do momento e de alguns graves equívocos deste início do segundo governo Dilma, não há clima nem condições objetivas no país para que dê certo esta nova tentativa de golpe montado pela direita.


Paulo Muzell é economista

Fonte: http://www.sul21.com.br/

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