Comportamento
Sem-tecnologia dão um jeitinho para sobreviver
Grupos religiosos que recusam modernidades contratam gente de fora para usar internet e inovam em adaptações
A recusa em adotar modernidades pelas comunidades amish, formadas por descendentes de suíços anabatistas do século 16, foi retratada no filme A Testemunha, com Harrison Ford (Peter Weir, 1985).
Depoimento
Desplugada por 4 dias, tudo se resolve
A exemplo de uma experiência proposta aos leitores do jornal The New York Times (NYT), passei quatro dias sem checar e-mails e com o celular desligado. Esse foi o meu “desplugamento” pessoal. No NYT, cada um escolhia seu próprio desafio. Um jovem, por exemplo, ficou dois dias sem Facebook (você conseguiria?).
Gostaria de dizer que após meus quatro dias de E.T. sou uma nova pessoa. Não. Continuo bastante ansiosa.
Mas a experiência me fez ver que a ausência de ferramentas que considero indispensáveis para a comunicação pode ser facilmente contornada.
Acabo de voltar ao meu Yahoo. Estão lá 51 mensagens, 6 que me interessam e 1 que exige resposta. Não foi o que eu imaginei no primeiro dia de meu autoembargo tecnológico, quando senti desespero de que alguém estivesse berrando em algum lugar por não conseguir falar comigo. Cheguei a pensar em ligar para os amigos e perguntar se haviam ligado ou escrito. Me segurei.
No segundo dia, uma surpresa ao chegar em casa: sobre a cama havia um daqueles bons e velhos recadinhos escritos à mão: fulana ligou. Mas senti falta de um material de aula que estava preso no mundo virtual. Resolvi pedindo uma cópia a uma amiga (é, a tecnologia nos torna mais independentes).
No terceiro dia, chegaram as contas do mês: ainda bem que não aderi ao envio virtual de cobranças que o banco me ofereceu.
Último dia, prestes a quebrar o jejum, o caos tomou conta, tal qual a hora do clímax num filme: o cachorro da vizinha fugiu. Ótimo, pensei, é só ligar para o telefone fixo dela. Ninguém atendeu. Segundos de dilema pessoal: quebro a experiência e procuro o número de celular na agenda do meu móvel?
Não. Pedi ao “papi” a gentileza de sair correndo pela rua e dar um jeito de prender o bichinho (é uma rotweiller). Agora que acabou, uma pergunta fica no ar: ligo o celular?
Helena Carnieri é repórter de Mundo
Países mantêm pobreza ao comprar “caixas pretas”
Enquanto grupos religiosos se privam de modernidades por sua escolha, países emergentes fazem uma opção semelhante ao comprar produtos de tecnologia de ponta no formato de “pacotes” prontos de outros países. A opinião é corrente entre analistas do tema, que criticam o pouco investimento que se faz no desenvolvimento de conhecimento próprio.
A professora de Ciências Humanas Ambientais da Universidade do Missouri Jana Hawley precisou se adaptar a essa realidade. Para a pesquisa de seu doutorado, ela passou um ano entre os amish da cidade de Jamesport, no estado do Missouri. “Fiz pão em um forno a lenha, lavei roupas em uma máquina movida a diesel, doces em um fogão a querosene e sidra em uma prensa manual” relata em artigo. Mas ela também se admirou com inovações do grupo, como lamparinas instaladas em lustres.
Em conversa com a Gazeta do Povo, Hawley contou que outro trabalho para o qual foi muito requisitada foi o de motorista: os amish da comunidade com a qual fez amizade não podem dirigir nem possuir carros, mas pegam carona de bom grado. “Fiz 55 mil milhas (88,4 mil quilômetros) naquele ano”, recorda.
A aceitação desta ou daquela inovação foi justamente o motivo das divisões entre o grupo original que migrou da Suíça para os EUA. Hoje os 300 mil membros de comunidades amish espalhados pelo campo norte-americano têm diferentes níveis de tolerância a carros, motores para trator e roupas moderninhas. Algumas comunidades se espalharam até o Canadá e o México.
“Em alguns quesitos, eles vivem como no século 18, mas em outros estão como em 1960”, disse Jana à reportagem. A lógica por trás da vida amish é estar separado do mundo, conforme interpretação do versículo bíblico que diz: “Não vos conformeis com este mundo” (Romanos, 12:2).
Motivação semelhante, mas que remonta ao Velho Testamento, têm grupos ultraortodoxos do judaísmo, que recusam diversos tipos de tecnologia. Restrições que foram contornadas via inovação. A internet “kosher” (termo que designa a alimentação preparada de acordo com os preceitos judaicos) é um exemplo, e serve para informar sobre produtos e serviços em Israel sem o “risco” de cair em páginas com pornografia ou violência. Buscar palavras como “televisão”, “rádio” ou “máquina” no site www.koogle.co.il, porém, é perda de tempo.
Os ortodoxos também criaram formas de usar a eletricidade no sábado, dia sagrado, sem ferir a lei judaica, e, por incrível que pareça, têm feito avançar as pesquisas de teste genético. Casais em que o homem e a mulher são portadores de genes ligados a alguma doença são desencorajados a ter filho.
Fonte: GAZETA DO POVO
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Mais sobre os "amish"
Amish é um grupo religioso cristão anabatista baseado nos Estados Unidos e Canadá. São conhecidos por seus costumes conservadores, como o uso restrito de equipamentos eletrônicos, inclusive telefones e automóveis.
Origem
Como os Mennonitas, os Amish são descendentes dos grupos suíços de anabatistas chamados de Reforma radical. O Anabatistas suíços ou "os irmãos suíços" tiveram suas origens com Felix Manz (ca. 1498-1527) e Conrad Grebel (ca.1498-1526). O nome "Mennonita" foi aplicado mais tarde e veio de Menno Simons (1496-1561). Simons era um padre católico holandês que se converteu ao Anabatismo em 1536. O movimento Amish começou com Jacob Amman (c. 1656 - c. 1730), um líder suíço dos Mennonitas que acreditava que estes estavam se afastando dos ensinos de Simons. Amish é um grupo religioso cristão anabatista baseado nos Estados Unidos e Canadá. São conhecidos por seus costumes conservadores, como o uso restrito de equipamentos eletrônicos, inclusive telefones e automóveis e 1632 da Confissão de Fé de Dordrecht, particularmente a prática de excomungar os membros excluídos que não seguiam as regras da igreja. Essa postura estrita trouxe uma divisão ao movimento Mennonita em 1693 e levou ao estabelecimento dos Amish.
Os primeiros Amish começaram a emigrar para os Estados Unidos no século XVIII, para evitar perseguições e o serviço militar obrigatório. Os primeiros emigrantes foram para o condado de Berks, Pensilvânia.
A Sociedade Amish
Estimativas do início da década de 2000 apontavam a existência de 198 mil membros da comunidade amish no mundo, sendo 47 mil apenas na Pensilvânia. Esses grupos são compostos por descendentes de algumas centenas de alemães e suíços que migraram para os Estados Unidos e o Canadá.
Os amish preferem viver afastados do restante da sociedade. Eles não prestam serviços militares, não pagam a Segurança Social e não aceitam qualquer forma de assistência do governo. Muitos evitam até mesmo fazer seguro de vida.
A maioria fala um dialeto alemão conhecido como "Alemão da Pensilvânia" (em inglês: Pennsylvania Dutch ou Pennsylvania German). Eles dividem-se em irmandades, que por sua vez se divide em distritos e congregações. Cada distrito é independente e tem suas próprias regras de convivência.
O filme "A Testemunha", com o actor Harrison Ford, mostra o modo de vida dos amish nos Estados Unidos. Homens usando ternos e chapéus pretos e mulheres com a cabeça coberta por um capuz branco e com um vestido preto. A comunidade Amish considerou muito liberal a imagem que se fez deles.
Os amish não gostam de ser fotografados. Interpretam que, de acordo com a Bíblia, um cristão não deve manter sua própria imagem gravada.
[editar] Crenças
Os princípios enfatizados pelos Amish são:
- A Bíblia, principalmente a ética do Novo Testamento, devem ser obedecidas como a vontade de Deus, embora não sistematizando sua teologia, mas aplicando-as no dia-a-dia. A interpretação da Bíblia é realizada nos cultos e reuniões da igreja. Essa posição de evitar querelas teológicas evitou divisões de carácter doutrinário nas denominações anabatistas.
- Credos e confissões são somente documentos para demonstrar aquilo que se crê, mas requerem a adesão ou crença a eles. Aceitam, portanto, em essência os Credos históricos do Cristianismo, mas não o professam.
- A Igreja é uma comunidade voluntária formada de pessoas renascidas. A Igreja não é subordinada à nenhuma autoridade humana, seja ela o Estado, ou hierarquia religiosa. Assim evitam participar das atividades governamentais, jurar lealdade a nação, participar de guerras.
- A Igreja não é uma instituição espiritual e invisível, mas uma coletividade humana e real, marcada pela separação do mundo e do pecado e uma posição afirmativa em seguir os mandamentos de Cristo.
- A Igreja celebra o Batismo adulto por imersão como simbolo de reconhecimento e obediencia a Cristo, e a Santa Ceia em memória da missão de Jesus Cristo.
- A Igreja tem autoridade de disciplinar seus membros e até mesmo sua expulsão, a fim de manter a pureza do indivíduo e da igreja.
- Como pode ser notado, a teologia anabatista é massivamente eclesiológica, baseada na vida comunitária e Igreja.
- Quanto a salvação, os Amish crêem no livre-arbítrio, o ser humano tem a capacidade de se arrepender de seus pecados e Deus regenera e ajuda-o a andar em uma vida de regeneração.
- Os Amish não creem que a conversão para Cristo seja uma experiência emocional de um momento, mas um processo que leva a vida inteira;
- O que único na Teologia Anabatista, principalmente depois de Menno Simons, é a visão sobre a natureza de Cristo, possui uma doutrina semi-nestoriana, crendo que Jesus Cristo foi concebido miraculosamente pelo Espirito Santo no ventre de Maria, mas não herdou nenhuma parte física dela. Maria, seria portanto um instrumento usado por Deus, para cumprir o Seu plano.
- A essência do cristianismo consiste em uma adesão prática aos ensinamentos de Cristo.
- A ética do amor rege todas as relações humanas.
- Pacifismo: Cristianismo e violência são incompatíveis.
Culto
O culto Amish é praticado da mesma maneira desde a incepção do Anabatismo na época da Reforma. O Culto é voltado a Deus e não tem o carácter evangelizador, portanto práticas como "chamada ao altar" ou "aceitar Jesus" não existem. Não constroem igreja, assim reúnem-se em casas privadas ou em salas de escolas. As mulheres sentam-se separadas dos homens e cobrem a cabeça com um véu. O culto inicia com uma invocação de algum dos anciãos, seguem-se hinos, cantado do hinário Ausbund, que é o mesmo texto desde o século XVI e não contém notação musical. Então há uma oração, onde todos se ajoelham silenciosamente até que algum membro masculino ore pela igreja. A leitura e pregação da Bíblia é feita extemporaneamente, sem sermões preparados, e muitos elterns (anciãos) abrem as Escrituras aleatoriamente. Seguem uma oração do ministro e uma bênção final. A congregação se despede com um ósculo.
Controvérsias
Os Amish são muitas vezes confundidos com comunidades igualmente reservadas, mas de tradições e raízes completamente distintas. Algumas vezes até com os mórmons, com os quais mantém poucas semelhanças.
Uma das maiores comunidades Amish no mundo fica na Pensilvânia (EUA). Em outubro de 2006, uma chacina dentro de uma escola Amish resultou na morte de cinco crianças entre 6 e 13 anos, além do atirador de 32 anos, que se suicidou.
O atirador era um motorista de camião de leite que atendia a comunidade. Fez reféns 10 meninas. No mesmo dia, membros da comunidade visitaram a família de Roberts (o motorista) para dizer que o perdoavam. No enterro das meninas, o avô de uma das vítimas disse às outras crianças: "não devemos odiar aquele homem"
Fonte: WIKIPEDIA
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