Eu não resisti à idéia de escrever sobre outro livro que tem Barrabás como tema. Principalmente, não resisti à idéia de ler outro livro do José Roberto Torero, um autor por quem fui apaixonada durante toda minha adolescência. Ainda mais que O evangelho de Barrabásfoi escrito em parceria com Marcus Aurélius Pimenta, que rendeu aquele que é meu livro preferido de Torero –Terra Papagalli.
Mal atravessaram o batente da porta e José, afogueado por suas urgências de homem, levou Maria para a esteira.
Seus dedos tremiam como chamas enquanto ele tirava as vestes da esposa. Mas aconteceu que, quando finalmente a despiu, notou que o ventre dela estava bojudo.
Abriram-se em espanto os olhos e a boca de José, que indagou: “Acaso tens um filho na barriga?”
Depois de olhar para o próprio corpo, Maria pôs-se de joelhos, juntou as mãos em prece, olhou para o teto e disse: “Milagre, milagre!”
Ao que José, cruzando os braços, perguntou: “De quem?”
p.9
Tal como em Chalaça e outros livros de Torero, o personagem principal é malandro, picaresco, boa praça, aventureiro. O livro tem o cuidado de não ser ofensivo com a fé cristã, criando um Barrabás que segue em paralelo a Jesus sem jamais encontrá-lo – com exceção, claro, da absolvição diante de Pilatos. Uma amiga já disse uma vez – com razão – que os diálogos são uma arte perdida nos livros de hoje. Os de Torero fogem a essa regra; seus diálogos são ricos e rendem os momentos mais interessantes do livro. Mais do que um romancista, vejo Torero seja um roteirista, basta ler sobre sua carreira para entender. Nas suas histórias tudo é muito visual, teatral e dinâmico. O evangelho de Barrabáscomeça tímido, e durante alguns momentos temi que meu lindo (desculpa a intimidade, Torero, foram muitas horas observando tuas fotos) tivesse perdido a mão, ou que sua obra tivesse envelhecido mal. Felizmente, à medida que avança, Barrabás se torna cada vez mais livre e hilariante. Como todo livro que faz referência à história, ele é muito melhor aproveitado quando o leitor conhece o período ou texto que lhe serviu de base – no caso, a Bíblia. É um livro leve e engraçado. Como bem disse o Ernani Ssó, existe uma tendência a menosprezar o humor na literatura, sendo que ele é justamente um dos efeitos mais difíceis de conseguir. E o Torero consegue, ô se consegue.
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