quinta-feira, 26 de março de 2020

FALTAM LEITOS HOSPITALARES, MAS SOBRAM ESPAÇOS PARA APANIGUADOS

 (...) O hospital era um pequeno edifício de um só andar, com um jardinzinho.
Três dias depois da sua chegada, o bispo foi visitar o hospital. Terminada a visita, pediu ao diretor que o acompanhasse ao paço.
Senhor diretor perguntou-lhe quantos doentes tem a seu cargo?
Vinte e seis, Monsenhor.
Foi os que contei disse o bispo.
As camas estão muito apertadas e juntas.
Também reparei nisso.
As enfermarias são muito pequenas e têm falta de arejamento.
Também me pareceu.
E o jardim mal chega para os convalescentes passearem quando está bom tempo. 

 Assim é, com efeito.
Em ocasiões de epidemias, como este ano, em que houve muitos casos de Ɵfo, não sabemos como acomodar os doentes.
Também me ocorreu isso.
Mas, senhor bispo, não podemos fazer outra coisa senão resignarmo-nos concluiu o diretor.
Esta conversa desenrolava-se na sala de jantar ou galeria do andar térreo.
Após um momento de silêncio, o bispo voltou-se de repente para o diretor e perguntou-lhe:
Quantas camas lhe parece que poderão caber nesta sala?
Na sala de jantar de V. Ex.ª?! — exclamou o diretor, estupefacto.
Entretanto, o bispo correu a vista pela sala, como quem mede e calcula as distâncias e disse como que falando consigo próprio:
— Podem aqui caber vinte camas à vontade!
— E em seguida acrescentou, elevando a voz:

 — Senhor director, é evidente que há aqui um grande erro. O senhor tem vinte e seis pessoas em cinco ou seis quartos pequenos. Nós aqui somos três e temos lugar para sessenta. Repito que há erro! O senhor ocupa a minha casa e eu vou ocupar a sua.
Façamos, pois, a troca.
No dia seguinte, os vinte e seis pobres que naquela ocasião estavam doentes, eram transportados para o paço episcopal e o bispo mudava a sua residência para o hospital (...) 
 O texto em itálico, acima, excerto da obra de VICTOR HUGO intitulada Os Miseráveis,  escancara como, em tempos difíceis, muitas soluções dependem apenas, e tão somente, de boa vontade e boa dose de desprendimento.
Então pensei: por que não se usa o "Palácio da Agronômica" para expandir o Hospital Nereu Ramos, que se dedica  ao tratamento de doenças infecto-contagiosas e, se cria, ainda ali, uma unidade para atenção médica a queimados? 
Terra tem sobrando, me parece. Questão de vontade política. 

Embora seja de se ponderar se convém concentrar ainda mais os estabelecimentos do gênero na Ilha, agravando-se  os problemas de mobilidade urbana. 

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