domingo, 4 de abril de 2021

VIDA OU MORTE? - O que ensinam as vetustas leis judaicas

Neste momento crucial da saúde pública no Brasil, em que se antepõe os interesses financeiros das Igrejas ao isolamento sanitário, com a situação sendo levada ao STF e motivando uma decisão de um ministro "terrivelmente evangélico", mesmo sendo confessadamente irreligioso, vejo-me na contingência de apelar para ensinamentos religiosos provindos das leis judaicas (de onde derivaram os credos cristãos), a saber: 

O Princípio de Salvamento de uma Vida (Picúach Néfesh, em hebraico) é, sem dúvida, o mais fundamental de todos, na lei judaica.

Sua origem está na Bíblia (*). Levítico 18:5, diz: "Guardareis os Meus estatutos e os Meus juízos, cumprindo os quais, o homem viverá por eles...".

E Deuteronômio 30:19 diz: "...tenho dado perante vós a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolherás , pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência..."

Destes versículos, os rabinos deduziram que a maior prioridade é salvar a vida - tanto a própria como a do próximo.(**)

Portanto, aqueles que priorizam a arrecadação do templo à saúde e à vida dos crentes (cristãos = "semitas de espírito"), agem contra os ensinamentos de "D'us".

Neste passo, importante lembrar que enganar os fiéis (guenevát dáat), é algo deplorável. Maimônides ensinou (1135-1204) que  não se pode enganar o próximo e o que os pegadores evangélicos (e alguns católicos também) estão a fazer nada mais é do que roubar a mente de alguém, isto é, usando de fraudes para submeter o rebanho de crentes e explorá-lo, impiedosamente, mesmo à custa das vidas alheias.

Para finalizar, é preciso dar ênfase ao princípio judaico marit áin, o qual exige que seja evitado qualquer ato que possa ser enganoso. 

Pode ser até que os pregadores estejam a valer-se do entendimento de eruditos judeus no sentido de que  a oração pública é preferível à privada 

No século XI, Rashi (1040-1105) afirmou que uma pessoa  tem a obrigação de rezar em um minián.  Um século depois, Maimônides expressou opinião semelhante, ao escrever: Deus responde às orações em comunidade...portanto, é preciso associar-se com a comunidade e, se possível, não rezar em particular". 

Vejam bem o destaque em negrito (se possível). Quando isto, por razões sanitárias, não é aconselhável, quem quiser orar que o faça particularmente, na sua própria casa, reunindo, quando muito, os membros da própria família que lá residem.

A maioria quer mostrar-se (exibir-se) como uma pessoa de muita fé, rezando em voz alta, quase escandalosa, mas o Talmud assinala:  Aquele que recita a Tefilá de forma que possa ser ouvida (pelos outros) é uma pessoa de pouca fé. O que implica que, quem age assim, pensa que Deus não consegue ouvir suas orações a não ser que as diga em voz alta. 

Ocorre-me, ainda, outro pensamento: como alguém pode ser grato a Deus, proclamando a bênção (Shehecheiánu - Bendito sejas Tu,  ó Eterno, nosso Deus, Rei do Universo, que nos mantivestes vivos, nos sustentaste e nos permitiste chegar a este momento) se, ato simultâneo, busca aglomerar-se e propiciar ao vírus que lhe tire a vida, além de levá-lo a contaminar outros viventes? 

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(*) - Em hebraico "Micrá"

(**) ALFRED J. KOLATCH -   Segundo Livro Judaico dos Porquês - Edit. e Liv. Sêfer/SP/1998, p. 12.

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