quarta-feira, 4 de agosto de 2021

DUPLOS DESASTRES

Quem sofria um desastre marítimo, assim como quem sofre um acidente aéreo ou rodoviário, acaba padecendo um duplo desastre, como consequência da existência de gente miserável e de outros não necessitados, mas esganados e inescrupulosos.


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- OSWALDO RODRIGUES CABRAL - Nossa Senhora do Desterro - Edit. Lunardelli/Fpolis-SC/1979, vol. 1 - p. 399, destacou o reprovável costume - hoje imitado por populares quando se acidenta um caminhão de carga nas rodovias, de assaltar os despojos de barcos naufragados:

Como se vê, o pior dos perigos nem sempre estava no mar...Muitas vezes, dele escapos, passageiros e tripulações viam-se na contingência de ter de escapar à fúria dos praianos das proximidades de onde acontecesse o sinistro, gente que acudia em massa, não para prestar qualquer socorro e auxiliar os náufragos, mas para saquear os salvados, na presença às vezes dos seus legítimos proprietários, aos quais disputavam a posse dos objetos.

Populações vivendo quase na mais angustiosa miséria, disputavam os destroços como coisa sua, de seu direito, se dessem à praia, cargas, mercadorias, utensílios, o que fosse - e muitas não faltou o machado para destruir o madeirame, as obras mortas dos barcos, tudo o que pudesse ser aproveitado, e até mesmo o que para coisa alguma pudesse ter serventia. E não hesitava matar, até, para apropriar-se das bagagens dos passageiros, jogados à praia.

Era um perigo naufragar. E, por vezes, muito maior ir dar em alguma praia de tal gente…

A descrição feita por Cabral, fez-me lembrar do acidente do avião da Transbrasil, que caiu no Morro da Virgínia, no distrito de Ratones, quando cenas que aconteceram, igualmente lamentáveis, com envolvimento de parte da população local e por pessoas vindas de outras comunidades vizinhas ao dito morro. 
E pior ainda foi o episódio da apropriação indébita de jóias dos passageiros, promovida por um delegado e um agente da Polícia Civil, a cujos cuidados estavam ditos pertences dos passageiros da aeronave.

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