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sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

SOBRE O MUNDO HÍDRICO (I)



-  Pede vinho, bebe, e diz: “é o melhor licor do mundo” (ao que Montaigne lhe responde que é a água).  - JEAN LACOUTURE -  Montaigne a cavalo - Edit. Record/1996, p. 94.

Entre EUA e México já existe um conflito potencial, envolvendo o precioso
líquido. 
E estou seriamente desconfiado que Trump está de olho não somente no petróleo e riquezas minerais dos países da América Latina que ensaiam uma saída do quintal ianque. Ele visa, sobretudo, sobretudo o estoque natural significativo de águas ainda preservadas nos vizinhos países da Venezuela e Colômbia, por exemplo. Daí as ameaças a Maduro e a Petro, os quais resistem às investidas do império do norte e seu governo totalitário, o qual disfarça seu verdadeiro intento sob a capa de combate ao narcotráfico, defesa da democracia (defesa da liberdade de expressão, inclusive, para angariar as simpatias dos meios de comunicação), etc... 


- Setembro de 1878 ia em meados, e não apareciam no céu límpido, de azul polido e luminoso, indícios de auspiciosa mudança de tempo. Não se encastelavam no horizonte, os colossais flocos a estufarem como iriada espuma; nem, pela madrugada, cirros, penachos inflamados, ou, em pleno dia, nuvens pardacentas, esmagadas em torrões. À noite, constelações de rutilante esplendor tauxiavam o firmamento, e a lua percorria, melancólica, a silenciosa senda. Como que se percebia no abismo do espaço infindo, a eterna gestação do cosmos, operoso e fecundo, em flagrante criação de mundos novos. E, na gloriosa harmonia dos astros, na expansão soberba da vida universal, a terra cearense era a nota de contraste, um lamento de desespero, de esgotamento das derradeiras energias, porque o sol sedento lhe sorvera, em haustos de fogo, toda a seiva. 

Olhares ansiosos procuravam, em vão, o fuzilar de relâmpagos longínquos a pestanejarem no rumo do Piauí, desvelando o perfil negro da Ibiapaba. Nada; nem o mais ligeiro prenúncio das chuvas de caju. 

O sertão ressequido estava quase deserto: campos sem gados, povoações abandonadas. E a constante, a implacável ventania, varrendo o céu e a terra, entrava, silvando e rugindo, as casas vazias, como fera raivosa, faminta, buscando e rebuscando a presa, e fazendo, com pavoroso ruído, baterem as portas de encontro aos portais, num lamentoso tom de abandono. 

As pastagens de reserva, nos pés de serras, protegidas por espessa facha de catingas impenetráveis, onde se criavam famosos barbatões bravios, haviam sido devoradas ou estruídas e pesteadas pela acumulação de rebanhos em retiradas numerosas. E, à grande distância, sentia-se o fedor dos campos infeccionados por milhares de corpos de reses em decomposição. Não havia mais esperança. 

Os horóscopos populares aceitos pela crendice, como infalíveis: a experiência de Santa Luzia, as indicações do Lunário Perpétuo e a tradição conservada pelos velhos mais atilados, eram negativas, e afirmavam uma seca pior que a de 1825, de sinistra impressão na memória dos sertanejos, pois olhos-d'água, mananciais que nunca haviam estancado, já não merejavam. 

Os socorros, distribuídos pelo Governo, não podiam chegar aos centros afastados, por falta de condução, ou eram os comboios de víveres assaltados por bandos de famintos, malfeitores e bandidos, organizados em legiões de famosos cangaceiros. 

Em tão aflitiva conjunção, era natural que os retirantes, por instinto de conservação, procurassem o litoral, e abandonassem o sertão querido, onde nada mais tinham que perder; onde já não podiam ganhar a vida, porque à miséria precedera o fatal cortejo de moléstias infecciosas, competindo com a fome e a sede na terrível faina de destruição. - DOMINGOS OLÍMPIO -  Luzia Homem.


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