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sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

MARISCO É EXPRESSÃO GENÉRICA (FRUTOS DO MAR) QUE ABARCA CAMARÕES? - Trump e as descascadoras de camarão


Fruto do mar


Marisco cru à venda para consumo culinário: (de cima para baixo, da esquerda para a direita) percebes, camarões, búzios, e caranguejolas.Caranguejo CozidoBobó de CamarãoCaranguejo Cozido com molho de Tomate, Pimentão e CoentrosCasquinha de Siri.
Percebes
Polvo à Galega

Frutos do Mar no mercado central de Madrid

Ligações externasNa culinária, frutos do mar ou marisco são animais, que geralmente possuem uma concha ou carapaça, como os crustáceos e moluscos, extraídos do mar ou de água doce, usados na alimentação humana.[1]

O peixe e os mariscos são apreciados em todo o mundo e fornecem importantes nutrientes, incluindo proteínasvitaminas e minerais.[2] No entanto, é necessário ter cuidado quando se compram estes ingredientes, uma vez que são perecíveis. As características organolépticas (as que são visíveis ao olho nu) são normalmente suficientes, tais como a firmeza da carne, as brânquias (em peixes inteiros) devem ser vermelhas e brilhantes, o cheiro deve ser o do pescado fresco.

Algumas receitas de mariscos

América do Norte

Costa atlântica

O nordeste dos Estados Unidos e costa leste do Canadá, incluindo a Terra Nova, são importantes zonas pesqueiras, capturando grandes quantidades de bacalhau e de mariscos, como o lavagante (“lobster”) [3] e várias espécies de moluscos, que são ingredientes de várias preparações tradicionais, como os chowders (sopas de peixe e mariscos) da Nova Inglaterra.[4]

A sul da baía de Chesapeake, o marisco mais popular é o caranguejo-azul (“blue crab”) que, naquela baía, constitui a pescaria mais lucrativa.[5] Outros mariscos abundantes e populares incluem as ostras, não só na costa leste, mas também no golfo do México e na América Central.[6] Nesta região, a culinária dominante é a “sulista”, em que o peixe e os mariscos são principalmente fritos, depois de passados por farinha, ou num polme, embora continuem a aparecer algumas receitas locais de chowder.

Culinária cajun
 Ver artigo principal: Culinária cajun

Os cajun da Louisiana são tradicionalmente pescadores e agricultores, pelo que o peixe e os mariscos são importantes na sua dieta.[7] Entre os mariscos dominam o caranguejo-azul, o camarão e a ostra, enquanto que o vermelhão (“red snapper”, Lutjanus campechanus), o “redfish” ou “red drum” (Sciaenops ocellatus, uma espécie de corvina, mais importante na pesca recreativa), a solha (“flounder”) e o “pompano” (xareu) são as espécies de peixe mais importantes. Entre os produtos de água doce, figuram em primeiro lugar o “crawfish” (lagostim, da espécie Procambarus clarkii), cultivado artesanalmente em campos alagados depois da colheita do arroz,[8] e o peixe-gato (“catfish”, Ictalurus punctatus) também produzido em grandes quantidades em tanques, para além de várias outras espécies de peixes.[9]

Exemplos do uso de mariscos na culinária cajun/crioula incluem o gumbo, uma espécie de sopa ou guisado com muitos ingredientes, onde os mariscos são frequentes, a jambalaya (uma espécie de “paella”), o “crawfish boil” (cozido de lagostim, embora se faça também com camarão), a fritada de peixe ("fish fry", tal como o “seafood boil”, uma comida para grandes grupos de convivas) e o ”Cajun popcorn” (camarão ou crawfish frito e temperado com “cajun spice mix”) [10]

Culinária da costa do Pacífico

O nordeste do Pacífico, desde o Alaska até à California, é rico em peixes e mariscos. Podia dizer-se que o rei desta fauna – e da respetiva culinária – é o salmão, aliás, qualquer das cinco espécies de salmão pescadas nesta região, uma das quais é conhecida como “king salmon” (salmão-rei). No entanto, estas águas são também “reinos” duma espécie de caranguejo-real, o Paralithodes camtschaticus, que atinge 1,8 m de tamanho (com as pernas esticadas), e uma espécie de halibute, que também atinge tamanhos “reais”.

Abaixo uma listagem dos principais tipos de peixes e mariscos da costa ocidental da América do Norte, sempre que possível com indicação de alguns modos de preparar.Salmão do Pacífico – todas as espécies pertencem ao género Oncorhynchus, que inclui ainda algumas espécies de truta e, ao contrário do salmão do Atlântico, todas estas espécies são obtidas de populações naturais e não de aquacultura.[11] O salmão-rei é o que atinge maior tamanho (até 60 kg) e é muitas vezes considerado o mais gostoso; o salmão-vermelho, que atinge 4 kg na altura da desova; o salmão-prateado atinge 6 kg; o salmão-rosado é a espécie mais comum, tem uma carne clara e um sabor menos pronunciado que as outras, pode encontrar-se enlatadofumado, mas também fresco ou congelado; e o salmão-cão, assim chamado por causa dos dentes, atinge 4 kg e tem uma carne de cor clara e menos gorda que as outras espécies; é principalmente exportado, congelado ou enlatado.Tal como para os indígenas do norte da Europa, o salmão tem uma grande importância para os povos nativos dos Estados Unidos e do Canadá, principalmente para os grupos do noroeste da América do Norte; eles consideram-nos fonte de vida e tradicionalmente juntam-se ao longo do rio Columbia e outros, durante as épocas de desova do salmão, para os capturarem. A parte que eles não conseguem comer fresco, secam ao ar livre.O salmão fresco pode ser assado no forno, ou servido em filetes ou postas grelhadas ou cozidas em vinho ou outros líquidos, sem exagerar nos condimentos.[12]Alabote ou “linguado gigante” - Paralichthys californicus, que pode chegar a 30 kg, mas normalmente é pescado com 2–6 kg, ou o (alabote-do-pacífico) que pode ultrapassar os 200 kg; normalmente vendidos em filetes, são fritos em polme, grelhados, cozidos no vapor, ou fritos na chapa ou na frigideira com pouca gordura, o equivalente ao linguado meunière dos franceses.[13]
peixe-carvão-do-pacífico (Anaplopoma fimbria, conhecido como "sablefish", "coalfish" ou "black cod", em inglês) é uma espécie endémica do norte do Pacífico e pescada principalmente a partir do Alaska e Canadá; tem uma grande quantidade de gordura e, por isso, é principalmente fumado, mas também é muito apreciado como sushi, grelhado, frito na própria gordura ou numa pequena quantidade de azeite.[14]
Os pargos-da-praia (Embiotocidae ou “surfperches” em inglês) são peixes relativamente pequenos (o maior atinge 45 cm ou 2 kg), endémicos do norte do Pacífico, e normalmente pescados à linha a partir da costa. São principalmente grelhados, fritos ou cozinhados no vapor, de acordo com a culinária da Ásia.[15]
Atherinopsis californiensis (“jacksmelt”, em inglês) é um peixe endémico da costa ocidental dos Estados Unidos e México, entre Oregon e Baja California; é pescado principalmente à linha, a partir de molhes e docas, e é muito apreciado; o tamanho médio de captura é de cerca de 40 cm; a sua carne tem uma grande quantidade de gordura, pelo que são principalmente fumados, mas também pode ser recheado com ervas e cogumelos, envolvido em folhas e assado na brasa, ou preparado em escabeche.[16]
corvinata-branca (Atractoscion nobilis, ou "Pacific white seabass", em inglês) é uma espécie de peixe endémico da costa ocidental dos Estados Unidos e México, popular na pesca recreativa e que atinge grande tamanho; também é popular na culinária daquela região, com uma carne firme e de sabor agradável; é normalmente assada lentamente na brasa ou numa frigideira.[17]
Existem ainda outras espécies de peixes mais pequenos e menos abundantes, mas igualmente apreciados como itens culinários, como os linguados-da-praia (“sanddabs”), ou os “rockfishes”, uma grande variedade de peixes da família Scorpaenidae.[18] Os bacalhaus do Pacífico, nomeadamente o Gadus macrocephalus (“Pacific cod”) e o Theragra chalcogramma (“Alaskan pollock”) estão a substituir no mercado as espécies afins do Atlântico, cujas populações decresceram muito; estas duas espécies do Pacífico norte são alvo de pescarias bem geridas, mas não têm a mesma qualidade gastronómica que os “parentes” do Atlântico, sendo utilizadas principalmente para fazer pastelinhos de peixe (“fishsticks” e “fishcakes”) para fritar, e para transformar em surimi (uma pasta de peixe de origem japonesa, utilizada para produzir, por exemplo as “delícias do mar” ou imitação de carne de caranguejo).[19]
A vieira-gigante-do-alaska (Patinopecten caurinus ou “weathervane scallop”, em inglês) é a maior espécie conhecida de vieira, atingindo a casca mais de 20 cm de diâmetro;[20] no entanto, existem outras duas espécies de vieiras mais pequenas no Alaska, capturadas por uma pequena frota de arrasto, e populares na culinária local, entre as quais várias receitas de vieira feitas no forno, algumas na própria concha, outras enroladas em fatias de bacon ou de salmão, em espetadas, em ceviche, ou em sopas, como o tradicional chowder.[21]
Existem várias espécies de caranguejos na costa ocidental da América do Norte que são populares como mariscos. O caranguejo-real-vermelho (Paralithodes camtschaticus ou “red king crab”, em inglês), o azul, Paralithodes platypus, e o dourado, Lithodes aequispinus, são endémicos do Pacífico norte; embora as duas últimas espécies sejam mais pequenas que o vermelho, todos são pescados a partir do Alaska e importantes produtos na culinária local.[22] O Dungeness crab (do nome dum porto pesqueiro no estado de Washington), conhecido em português como “sapateira-do-pacífico”, com o nome científico Metacarcinus magister, é também um caranguejo grande, atingindo um tamanho de 20 cm de largura da carapaça, muito popular na região.[23] Outras espécies mais pequenas e menos abundantes nesta região são os “rock crabs”: o “red rock crab” (Cancer productus), os “box crabs” (Lopholithodes foraminatus) e o “king crab” (Lopholithodes mandtii), e ainda os “shore crabs” (Hemigrapsus sp.).[24] Para além de poderem ser servidos “ao natural”, a carne destes crustáceos depois de cozidos pode ser usada em inúmeras confeções culinárias; uma receita famosa é o cioppino, ou sopa de peixe da Califórnia, aparentemente iniciada pelos pescadores italianos que ali se instalaram.[25]

Brasil

Brasil, com a sua grande costa marítima e enorme rede de águas interiores, tem uma grande variedade de pratos de peixe e mariscos. Abaixo, algumas preparações ou ingredientes típicos, com ligações para grande número de receitas:Vatapá – é um prato típico da culinária da Bahia; também é frequente no Amazonas, onde sofre alterações nos ingredientes; o seu preparo pode incluir pão molhado ou farinha de roscafubágengibrepimenta-malaguetaamendoimcastanha de cajuleite de cocoazeite-de-dendêcebola e tomate; além disso, leva camarões frescos inteiros, ou secos e moídos, peixebacalhau ou carne de frango, acompanhados de arroz.[26]
Acarajé – é outro prato típico da Bahia e faz parte da comida ritual do candomblé; é uma massa de feijão-fradinho, cebola e sal, frita em azeite-de-dendê; pode ser servido com pimenta, camarão seco, vatapá ou caruru .
Moqueca – é um guisado ou uma caldeirada de peixe e outros frutos do mar cozinhado em azeite com vários condimentos;[27] na Bahia, a moqueca é engrossada com leite-de-coco;[28]
Bobó – é mais um prato típico da Bahia, feito à base de caldo de aipim; pode levar camarão ou bacalhau (ou outros ingredientes), mas as diferentes variantes de bobó de camarão são as mais populares.[29]
Abará – é um prato típico da Bahia e, como o acarajé, também faz parte da comida ritual do candomblé; os ingredientes são idênticos, mas o abará é cozido em banho-maria, dentro de folhas de bananeira.[30]
Caruru – é igulmente um prato típico da Bahia, também parte da comida ritual do candomblé; é um guisado de quiabo, camarão seco, castanha de caju e amendoim moídos, refogado em azeite de dendê com cebola, alho e outros condimentos.[31]
Camarão na moranga – para além das receitas mais tradicionais com camarão, a preparação do crustáceo dentro da abóbora-moranga com requeijão cremoso é popular no Brasil.
Siri – este é o nome dado no Brasil aos caranguejos-nadadores ou pelágicos, principalmente os do gênero Callinectes, muito apreciados na culinária litorânea; o prato principal, com inúmeras variantes é a casquinha de siri, em que se recheia a carapaça com uma preparação feita com a carne do caranguejo; podem ser fritas ou assadas no forno; outras receitas incluem o arroz de siri, bobó de siri, “muqueca” de siri, fritada de siri, sopa de siri e até pratos de “siri-fingido”, ou seja preparados com repolho ou polpa de caju.[32]
Sururu – Mytella charruana é um molusco bivalve, da família do mexilhão, presente na costa do nordeste do Brasil e popular na culinária dessa região;[33] muitas vezes cozinhado com leite-de-coco e dendê ou azeite,[34] como caldo de sururu,[35] servido em vinagrete,[36] ou em fritada.[37]
Fritada de bacalhau – esta é outra preparação que, sem se poder considerar tradicional, é popular no Brasil, como muitos outros pratos com bacalhau; tal como a fritada de sururu, esta preparação é feita no forno, com ovos, como a frittata italiana.
Piraíba - O Brachyplathystoma filamentosum é um peixe de água doce da família dos grandes bagres, da região amazônica da América do Sul, podendo atingir até 2,50 metros de comprimento e 300 quilogramas de peso; é de grande importância comercial, possuindo carne muito apreciada na culinária brasileira.[38]
Tucunaré – são peixes de água doce do gênero Cichla, muito populares na pesca recreativa e na culinária do Brasil.[39]
Pirarucu – o Arapaima gigas é um dos maiores peixes de água doce do Brasil; o bolinho de pirarucu é uma receita bem brasileira, que não se pode comparar com o tradicional bolinho de bacalhau português, apesar de ser feito com peixe seco, dessalgado e desfiado; o peixe é refogado, assim como um puré de macaxeira, com que se fazem bolinhos, se recheiam com o peixe e se fritam.[40]
Surubim ou surubi – é o nome vulgar dum grupo de peixes-gato de água doce da América do Sul; a sua carne é muito apreciada, tendo várias receitas, entre as quais uma moqueca.[41]
Tambaqui – o Colossoma macropomum é outro peixe de grandes dimensões das bacias do Amazonas e do Orinoco;[42] o caldo de tambaqui é uma comida típica do norte, em que se assa o peixe no forno e depois se desfia e se cozinha com um refogado e tucupi.[43]

Portugal

culinária de Portugal é rica em pratos de peixe e mariscos, apesar do país não estar entre os principais produtores: os portugueses consomem cerca de 60 kg de peixe por pessoa e por ano, o recorde da Europa, e estão em quarto lugar no consumo de peixe no mundo.[44][45][46]

pesca longínqua do bacalhau pelos portugueses está documentada a partir do século XIV, pelo que não é estranho que este produto seja um dos principais da gastronomia portuguesa, a começar pelo tradicional cozido da consoada de Natal.[47] No entanto, apesar de vários pratos com bacalhau serem finalistas ou concorrentes na votação das 7 Maravilhas da Gastronomia, incluindo o pastel de bacalhau, o bacalhau à Braz, o bacalhau à Gomes de Sá e o bacalhau à Zé do Pipo, nenhum deles foi vencedor; nos pratos de peixe, o vencedor foi a sardinha assada e nos mariscos, o arroz de marisco.[48][49] Outras receitas típicas de bacalhau incluem as pataniscasbacalhau à lagareirobacalhau à minhotabacalhau assado com batatas a murro e até uma sopa de bacalhau dos campinos. De referir que, em Portugal e no Brasil, os pratos de bacalhau são tradicionalmente preparados com bacalhau seco e salgado, demolhado antes de cozinhar ou de servir numa salada (“bacalhau cru”),[50] enquanto que no norte da Europa e na América do Norte se consome bacalhau fresco e curado de várias maneiras.[51][52]

Outros pratos típicos de mariscos incluem as amêijoas à Bulhão Patorissois de camarão, a açorda de mariscos,[53] a sapateira, a santola, a lagosta, os percebes, as lapas e as cracasmexilhões e ostraslulaschocos e polvo; algumas receitas em que os mariscos podem ser cozinhados em conjunto com carne incluem várias preparações na cataplana, a carne de porco à alentejana e o xarém com conquilhas. Alguns destes pratos foram concorrentes ou finalistas do concurso das 7 Maravilhas da Gastronomia.[45][48]

Para além do bacalhau e da sardinha, concorreram para serem incluídos nas 7 Maravilhas da Gastronomia, outros pratos de peixe, incluindo pratos de atum, a sopa de cação, a lampreia e o sável.[48] Outros pratos típicos ou espécies de peixe populares incluem a caldeirada, o arroz de tamborilcarapau,[54] pescada,[55] garoupacherne e outras espécies.[56] As preparações incluem pratos de peixe cozido, guisado, com arrozmassadas, grelhados, assados no forno, em escabeche e outras.[57].[58]

Referências
«Centro de Nutrição Fula». Consultado em 22 de novembro de 2013. Arquivado do original em 4 de abril de 2015
(em inglês) “Recipes” no site da LouisianaFoods.com Arquivado em 16 de dezembro de 2013, no Wayback Machine.
«"Receitas de Bobó" no site da TVGlobo». Consultado em 22 de dezembro de 2013. Arquivado do original em 25 de abril de 2013
«70 Pré-Finalistas». Maravilhas da Gastronomia. Consultado em 10 de setembro de 2011. Arquivado do original em 19 de novembro de 2011
«21 Finalistas». Maravilhas da Gastronomia. Consultado em 10 de setembro de 2011. Arquivado do original em 9 de setembro de 2011
(em inglês) “Foods of Norway”

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Las peladoras de gamba de Bombay sufren el azote de los aranceles draconianos de Trump

Miles de trabajadoras pelan a mano el marisco y ahora ven cómo las ventas a su principal destino exportador, Estados Unidos, se reducen debido al gravamen del 50% impuesto a India

Un grupo de mujeres pela gambas en el puerto de Sassoon, en Bombay, India, el 4 de julio de 2025.

ANSHUMAN POYREKAR (HINDUSTAN TIMES VIA GETTY IMAGES)
PRIYANKA SHANKAR
Bombay, India - 12 DIC 2025 - 01:30 BRT

El olor a pescado impregna el aire en Sassoon, uno de los puertos pesqueros indios más antiguos y concurridos de la costa del mar Arábigo, situado en Bombay, en el Estado occidental de Maharashtra. En una mañana de principios de octubre, grupos de mujeres vestidas con saris de colores se sientan juntas en el muelle a pelar gambas, mientras los hombres arrastran sus embarcaciones llenas de hielo para cargarlas una vez peladas y llevárselas a los exportadores de marisco. Muchos de ellos pertenecen a la comunidad indígena Koli, muy numerosa en el Estado de Maharashtra y que se dedica a la pesca y la agricultura.


Lakshmi Madhukarter, una mujer que trabaja en el puerto, asegura que, últimamente, el negocio sufre pérdidas. “Los exportadores nos han dicho que son por los aranceles de Estados Unidos. No entiendo exactamente qué son los aranceles, pero no estamos vendiendo tanto como antes”, asegura. “Los kolis siempre hemos tenido un fuerte vínculo con el mar y tenemos nuestros propios métodos tradicionales de pesca. Hoy estoy vendiendo gambas pequeñas que hemos pescado durante una salida al mar de 10 días. Normalmente, se las vendo a empresas que luego las exportan a países como EE UU”, agrega.

Según la Autoridad de Desarrollo de las Exportaciones de Productos Marinos del país (MPEDA por sus siglas en inglés), entre 2024 y 2025, India exportó 1,7 millones de toneladas de marisco, por un valor de 7,4 millones de dólares (6,3 millones de euros). La mayor parte de dichas exportaciones fueron de gamba pelada y EE UU fue el destino principal, seguido de China, Japón y varios países de la Unión Europea.

Sin embargo, desde que el presidente estadounidense, Donald Trump, impuso en agosto aranceles del 50% a las exportaciones indias —para castigar a Nueva Delhi por importar petróleo de Rusia— y desde que en septiembre presentó la ley arancelaria sobre la gamba de India —con el objetivo de proteger el mercado interno de las importaciones del país asiático, que son más baratas—, el mercado de marisco indio está atravesando dificultades.

Las tasas aplicadas a India son las más elevadas decretadas por Washington en el continente asiático y pueden poner en la cuerda floja las ambiciones del primer ministro del país, Narendra Modi, de transformar el subcontinente en un importante centro manufacturero. En 2024, el comercio de bienes entre los dos países sumó 129.000 millones de dólares, con un déficit comercial estadounidense de 45.800 millones, según datos de la Oficina del Censo de EE UU.
Los exportadores nos han dicho que son por los aranceles de EE UU. No entiendo exactamente qué son los aranceles, pero no estamos vendiendo tanto como antesLakshmi Madhukarter, trabajadora en el puerto de Sasoon

K. N. Raghavan, secretario general de la Asociación de Exportadores de Productos Pesqueros de India (SEAI), aseguró a la revista india The Frontline, que las exportaciones a EE UU han disminuido un 80%.

Junto a Madhukarter está Shanti, de 60 años, que trabaja en Sassoon desde que era niña. “Nacimos aquí y la gamba es muy importante para nuestra comunidad koli”, explica mientras pela marisco. “Cada día, dependiendo de la captura, pesamos las gambas y empezamos a pelarlas. Luego se las entregamos a empresas que las exportan a otros países. En un solo día, podemos ganar entre 400 y 600 rupias (entre cuatro y seis euros)”, dice. Como ella, más de 10.000 personas se dedican a pelar gambas en los muelles de Sassoon.

De este puerto salen aproximadamente entre 40 y 50 toneladas diarias de gambas. Sheetal Sharadh Bhanji, que es la nuera de Madhukarter, asegura que los aranceles han tenido graves repercusiones en su negocio. “Mi marido falleció hace unos años y, desde entonces, he criado a mi hijo sola. Mi familia vive gracias a la venta de gambas y, en un día, después de pelarlas y venderlas, no ganamos más que alrededor de 500 rupias (5 euros) por kilo. Cada vez que sufrimos pérdidas, tenemos que arreglárnoslas por nuestra cuenta. Espero que el Gobierno indio encuentre una solución para ayudarnos”, dice.

El Gobierno de India espera cerrar un acuerdo comercial con EE UU para reducir los aranceles antes de que termine el año, según confirmó Rajesh Agarwal, secretario de Comercio, el pasado 26 de noviembre.

Sin embargo, la realidad parece alejar este entendimiento. Esta semana, Donald Trump amenazó con imponer nuevos aranceles a la India por “dumping” de arroz en EE UU, porque sus importaciones estarían perjudicando a los productores locales, lo que aumentó la presión sobre este socio estratégico. Este gravamen se sumaría al arancel del 50% ya en vigor y con el que Trump, tras meses de frustradas negociaciones bilaterales, decidió gravar las importaciones indias por considerar que el país asiático “estaba alimentando la maquinaria de guerra rusa”.

En estos meses, los aranceles estadounidenses no solo penalizaron a India. Un total de 200 países se vieron afectados por tasas que oscilaban entre el 10 y el 50% en sus exportaciones hacia EE UU.
Salarios atrasados

Mientras tanto, en el puerto de Sassoon, todo el mundo hace cuentas. Janaardhan Pawar supervisa a las mujeres que pelan gambas en su almacén, Lakshmi Seafoods, proveedor de marisco pelado a numerosas empresas exportadoras del área de Bombay. Asegura que, desde que EE UU impuso aranceles a la gamba india, su negocio, con más de 40 años de antigüedad, ha empezado a notar las consecuencias.

“Las mujeres que trabajan en mi almacén pertenecen a la comunidad koli. Pescan gambas y luego las pelan en nuestro almacén. Les pagamos en función de la cantidad de gambas que pelan al día. Las gambas pequeñas tienen un precio más alto, de entre 40 y 60 rupias (entre 40 y 60 céntimos de euro) por kilo. Las gambas grandes valen alrededor de 25 rupias (25 céntimos) por kilo”, explica, y añade que hay más o menos 10 almacenes de este tipo en el puerto.

Una vez peladas las gambas, la empresa de Pawar las lleva en furgonetas isotérmicas a varias empresas exportadoras. “Cada empresa nos paga un precio fijo”, dice Pawar. Pero, asegura, desde que EE UU impuso los aranceles, las empresas exportadoras no les pagan a tiempo. “El pago correspondiente a septiembre lleva más de 15 días atrasado y hemos tenido que utilizar nuestro propio capital para pagar a las mujeres que pelan gambas y a los demás empleados”, se queja Pawar.

Krishna Pawle, presidente de Shiv Bhartiya Ports Sena, que supervisa toda la actividad empresarial del puerto de Sassoon, dice que el coste de los aranceles lo van a pagar los exportadores, que luego se resarcirán pagando menos a los pescadores y los trabajadores.

“Las gambas marinas se venden aproximadamente a 300 rupias (3 euros) el kilo, dependiendo del tamaño, y, con los aranceles, los exportadores empezarán a bajar el precio a 250 rupias (2,5 euros) o incluso menos, lo que perjudicará a los pescadores, los arrastreros y todos los que trabajan en el sector”, explica. “Los pescadores, además de la gamba, intentarán capturar otro tipo de pescado. Pero los trabajadores de los muelles, como las mujeres que pelan las gambas o los que la transportan a las empresas exportadoras, se quedarán sin empleo”, añade.

Además de Maharashtra, también se han visto afectados otros Estados indios, como Andhra Pradesh, que genera aproximadamente el 80% de la producción de gamba del país. En septiembre, el Gobierno de Andhra Pradesh publicó una previsión de pérdidas de 250.000 millones de rupias (casi 25 millones de euros), y muchas personas que acuden a la región para trabajar en las piscifactorías de gambas se han quedado sin empleo.

Mientras India y EE UU negocian un acuerdo comercial, Pawle dice que el Gobierno indio y todos los Estados que viven de la pesca deberían instaurar subvenciones que ayuden a los pescadores, los trabajadores, los intermediarios y los exportadores. Raghavan, de la asociación de exportadores, declaró a The Frontline que “es urgente la diversificación, no solo en cuanto a explorar nuevos mercados, sino también ampliar la gama de productos”.

Otro problema: los alquileres

Además de las amenazas de los aranceles de Trump, la comunidad pesquera de Sassoon, también se enfrenta a amenazas de desalojo por parte de la Autoridad Portuaria de Bombay, que afirma que los comerciantes de pescado propietarios de almacenes en los muelles no han pagado los alquileres. Los pescadores y comerciantes llevan desde agosto de este año organizando protestas contra los desalojos, pero el 13 de noviembre comenzaron las expulsiones. La autoridad portuaria afirmó que el Tribunal Supremo de la India había examinado el asunto y había anunciado la orden de desalojo, según informan los medios de comunicación locales.

“Hemos alquilado almacenes y hemos pagado el alquiler al gobierno estatal. No pueden desalojarnos”, afirma Pawar. El presidente de Shiv Bhartiya Ports Sena afirma que el desalojo también afectará al suministro de marisco.

Pastilhas de heroína


Los narcos reinventan la peligrosa heroína en formato pastillas para atraer a nuevos consumidores

La Policía detecta por primera vez una partida de ocho kilos de esta droga, que se iba a distribuir en Madrid y Barcelona
Pastillas de heroína intervenidas en la Operación Atis de la Policía Nacional.

Juana Viúdez
Madrid - 12 DIC 2025 - 14:27ACTUALIZADO:12 dic 2025 - 15:01 BRT

Fonte: EL PAÍS

APESAR DE CONTAR COM AVANÇADA TECNOLOGIA PARA DIAGNÓSTICOS E ATOS MÉDICOS...


....OS PROFISSIONAIS DA SAÚDE ESTÃO A ERRAR MAIS? 

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A situação calamitosa da saúde no Brasil vai para além do sucateamento dos serviços, a fim de levar adiante a política econômica neoliberal de privatização de hospitais, Unidades Básicas de Saúde, CAPS etc., etc.

O problema da saúde engloba também a formação dos profissionais da área, como os citados na matéria sobre o menino Benício, de 6 anos, que entrou andando no Pronto-Socorro (PS) com uma laringite e saiu morto devido a um erro médico crasso. Uma médica prescreveu três aplicações de adrenalina na veia da criança, apesar de a mãe questionar a técnica de enfermagem sobre ser uma injeção e não uma inalação, e a mesma responder que nunca tinha visto tal procedimento, mas que estava na prescrição médica, então fez. 

Temos ainda os farmacêuticos, que também têm plenas condições de identificar a prescrição errada e poderiam ter avisado a médica, mas não o fizeram. Foram pelo menos três erros, eram três chances de o menino Benício estar vivo.

Mas o que acontece? 

Além das formações ruins que temos, há cursos privados a partir de R$ 129,90/mês… quem confia em uma formação semipresencial ou EAD com esses valores? 
Quem são os professores? 
Compreendo que pessoas sem recursos financeiros acabam fazendo essa opção, até porque não têm condições de passar em um vestibular de universidade pública, pois, como sabemos, o ensino está há muito tempo péssimo. 

Os adolescentes saem do colégio analfabetos funcionais, isto é, a pessoa reconhece letras e números, mas não consegue interpretar as informações dos textos e utilizá-las no dia a dia. Pessoas funcionalmente analfabetas têm seu desenvolvimento pessoal, profissional e social afetados, e afetados para baixo, quem questiona o que não compreende?

O outro problema é o famoso “ato médico”. O ato médico é inquestionável: vá você perguntar para o médico sobre o tratamento que ele está lhe prescrevendo.

Contarei uma experiência pessoal. Em uma época da minha vida, já bem adulta, comecei a ter infecções de garganta recorrentes. Eu passava no PS e sempre prescreviam amoxicilina; o quadro melhorava e, após o término da medicação, a infecção voltava. Depois de alguns episódios desses, novamente no PS, uma médica disposta a ouvir, quando eu disse que a infecção era recorrente e expliquei o que vinha acontecendo, me disse: “Você é resistente à penicilina e seus derivados; vou te passar outro antibiótico, e, quando tiver problemas de saúde que precisem de antibiótico, avise o médico”. 

A infecção foi curada e, anos depois, quando tive outra infecção de garganta, avisei à médica da minha resistência à penicilina e seus derivados. A mulher ficou muito irritada, respondeu rispidamente que havia me prescrito amoxicilina com clavulanato para aumentar o combate à bactéria… resultado: depois de alguns dias, voltei ao PS e me prescreveram outro antibiótico.

Existe uma classe social do ato médico que ninguém pode questionar. Onde trabalho, um médico acusou a enfermagem de não supervisionar a tomada de medicação, ou mesmo de não medicarem os pacientes, devido à não melhora do quadro, isso porque nunca, nunquinha na vida, poderia ser uma medicação equivocada por parte do Sr. médico.

Dados:

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) divulgou que, em 2024, houve um aumento de processos por erros médicos de 506% comparados com 2023. Em 2023 foram 12.268 e, em 2024, foram 74.358. Esse dado sinceramente não me espanta, mas um outro dado é muito curioso: são os dados que mostram a disparidade de erros médicos entre a saúde pública e a saúde privada. 

Vamos lá: “No sistema público de saúde, as ações por danos morais somaram 10.881 registros, enquanto as relacionadas a prejuízos financeiros (danos materiais) totalizaram 5.854. Já na rede privada, os números são quase três vezes maiores: 40.851 processos por danos morais e 16.772 por danos materiais. 

A média diária de 203 casos judicializados em 2024 evidencia uma crise que se arrasta há anos, mas ganhou novos contornos com a maior conscientização da população sobre os direitos do paciente”.

É incrível que, apesar de todo o sucateamento da saúde a fim de privatizar os serviços, o Sistema Único de Saúde (SUS) continue sendo melhor que a saúde privada. Apesar de esses dados serem públicos, vemos a população concordando com a imprensa capitalista de que o SUS é ruim e deve ser privatizado, ao invés de lutarem pelo fortalecimento do SUS — mas isso tem a ver com o terceiro parágrafo.

Outro problema importante da saúde é a elitização dos cursos de medicina — não só, mas esse é o nosso foco aqui. A medicina sempre foi considerada um curso para a elite, e assim querem que continue, pois é uma forma de manter altos salários. 
Já conversei com pai de médico reclamando que o filho só recebia 16 mil reais, e obviamente não era por 40 horas semanais. Essa situação acaba levando jovens que nem gostam de medicina, de cuidar de gente, a fazer o curso, seja porque os pais são médicos e a tradição familiar tem que continuar, seja porque é uma profissão rentável. 
Por outro lado, pessoas que realmente têm o desejo de ser médico, vocação para ser médico, vontade de praticar a medicina para cuidar de pessoas e salvar vidas, ficam impedidas devido a toda essa política mercantilista da profissão.

Quem já teve a oportunidade de ser tratado por médicos cubanos — ou, caso não tenha tido essa oportunidade, pode ver em entrevistas e documentários — percebe a diferença de tratamento dos médicos cubanos para com as pessoas que tratam: são educados, acolhedores e interessados. Foram eles que foram para os locais mais afastados, os estados mais distantes de São Paulo, para as periferias. 
Os médicos brasileiros que tanto reclamaram dos médicos cubanos: quantos deles foram para esses locais depois que tiraram os cubanos? Pelo contrário, já conheci muitos médicos que vieram do Norte e Nordeste do país para fazer algum tipo de especialização (porque todo mundo quer ser especialista) aqui em São Paulo e não voltam, porque pouco se preocupam com o povo.

Qual a diferença de Cuba? A universidade é aberta, é pública e é boa. Vocês sabiam que muitos americanos vão para Cuba se tratar porque, além de a medicina ser boa, eles não têm dinheiro para pagar seu tratamento nos EUA?

Esse é o caminho: a universidade aberta, pública e boa. Vamos ter muitos médicos, gente interessada, com vocação e amor por tratar pessoas. Ninguém teria medo de questionar um médico, mesmo vendo que a coisa está errada, estranha, e o Benício e tantas outras pessoas estariam vivas e bem, sendo tratadas adequadamente.


* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

Burgueses

 “Bugueses”:

Não me dão pena os burgueses vencidos,
E quando penso que vão dar-me pena,
Aperto bem os dentes e fecho bem os olhos.
Penso nos meus longos dias sem sapatos nem rosas.
Penso nos meus longos dias sem abrigos nem nuvens.
Penso nos meus longos dias sem camisas nem sonhos,
Penso nos meus longos dias com minha pele proibida.
Penso em meus longos dias.

– Nicolás Guillén

Sobre o mundo hídrico (V)

Nunca a água que corre bela dos rios sempre-fluentes atravesses a pé antes de rezares olhando para a bela corrente, tendo lavado as mãos com água límpida, tão amável.
Quem atravessa um rio sem lavar sua maldade e suas mãos, com ele os deuses se indignam e depois lhe dão dores. - HESÍODO - Os trabalhos e os rios.

Sobre o mundo hídrico (IV)



- Tomando para o lado da cascatinha, que as chuvas dos últimos dias tinham enriquecido, lembrou-se o moço de subir até a Floresta, um dos mais lindos sítios da Tijuca. O nome pomposo do lugar não é por ora mais do que uma promessa; quando porém crescerem as mudas de árvores de lei, que a paciência e inteligente esforço do engenheiro Archer têm alinhado aos milhares pelas encostas, uma selva frondosa cobrirá o largo dorso da montanha, onde nascem os ricos mananciais.

Viva a imagem da loucura humana!

Refazer à custa de anos, trabalho e dispêndio de grande cabedal, o que destruiu em alguns dias pela cobiça de um lucro insignificante!

Aquelas encostas secas e nuas, que uma plantação laboriosa vai cobrindo de plantas emprestadas, se vestiam outrora de matas virgens, de árvores seculares, cujos esqueletos carcomidos às vezes se encontram ainda escondidos nalguma profunda grota. 

Veio o homem civilizado e abateu os troncos gigantes para fazer carvão; agora, que precisa da sombra para obter água, arroja-se a inventar uma selva, como se fosse um palácio. 

Ontem carvoeiro, hoje aguadeiro; mas sempre a mesma formiga, abandonando a casa velha para empregar sua atividade em construir a nova. - JOSÉ DE ALENCAR - Sonhos d’ouro.

Sobre o mundo hídrico (III)

- As culturas desaparecem dos roçados com as sementes enterradas na poeira esturricada ou com as plantas tenras dessecadas pela soalheira. O pasto seco se esfarinha e é arrastado pelos ventos de fogo, ficando o gado à míngua de água e de alimento. Recorre o vaqueiro ao recurso das ramas e dos cactos, queimando os espinhos dos mandacarus e dos facheiros e picando os seus gomos a facão para evitar a extinção imediata do rebanho. - JOSUÉ DE CASTRO - Geografia da fome.

SOBRE O MUNDO HÍDRICO (I)



-  Pede vinho, bebe, e diz: “é o melhor licor do mundo” (ao que Montaigne lhe responde que é a água).  - JEAN LACOUTURE -  Montaigne a cavalo - Edit. Record/1996, p. 94.

Entre EUA e México já existe um conflito potencial, envolvendo o precioso
líquido. 
E estou seriamente desconfiado que Trump está de olho não somente no petróleo e riquezas minerais dos países da América Latina que ensaiam uma saída do quintal ianque. Ele visa, sobretudo, sobretudo o estoque natural significativo de águas ainda preservadas nos vizinhos países da Venezuela e Colômbia, por exemplo. Daí as ameaças a Maduro e a Petro, os quais resistem às investidas do império do norte e seu governo totalitário, o qual disfarça seu verdadeiro intento sob a capa de combate ao narcotráfico, defesa da democracia (defesa da liberdade de expressão, inclusive, para angariar as simpatias dos meios de comunicação), etc... 


- Setembro de 1878 ia em meados, e não apareciam no céu límpido, de azul polido e luminoso, indícios de auspiciosa mudança de tempo. Não se encastelavam no horizonte, os colossais flocos a estufarem como iriada espuma; nem, pela madrugada, cirros, penachos inflamados, ou, em pleno dia, nuvens pardacentas, esmagadas em torrões. À noite, constelações de rutilante esplendor tauxiavam o firmamento, e a lua percorria, melancólica, a silenciosa senda. Como que se percebia no abismo do espaço infindo, a eterna gestação do cosmos, operoso e fecundo, em flagrante criação de mundos novos. E, na gloriosa harmonia dos astros, na expansão soberba da vida universal, a terra cearense era a nota de contraste, um lamento de desespero, de esgotamento das derradeiras energias, porque o sol sedento lhe sorvera, em haustos de fogo, toda a seiva. 

Olhares ansiosos procuravam, em vão, o fuzilar de relâmpagos longínquos a pestanejarem no rumo do Piauí, desvelando o perfil negro da Ibiapaba. Nada; nem o mais ligeiro prenúncio das chuvas de caju. 

O sertão ressequido estava quase deserto: campos sem gados, povoações abandonadas. E a constante, a implacável ventania, varrendo o céu e a terra, entrava, silvando e rugindo, as casas vazias, como fera raivosa, faminta, buscando e rebuscando a presa, e fazendo, com pavoroso ruído, baterem as portas de encontro aos portais, num lamentoso tom de abandono. 

As pastagens de reserva, nos pés de serras, protegidas por espessa facha de catingas impenetráveis, onde se criavam famosos barbatões bravios, haviam sido devoradas ou estruídas e pesteadas pela acumulação de rebanhos em retiradas numerosas. E, à grande distância, sentia-se o fedor dos campos infeccionados por milhares de corpos de reses em decomposição. Não havia mais esperança. 

Os horóscopos populares aceitos pela crendice, como infalíveis: a experiência de Santa Luzia, as indicações do Lunário Perpétuo e a tradição conservada pelos velhos mais atilados, eram negativas, e afirmavam uma seca pior que a de 1825, de sinistra impressão na memória dos sertanejos, pois olhos-d'água, mananciais que nunca haviam estancado, já não merejavam. 

Os socorros, distribuídos pelo Governo, não podiam chegar aos centros afastados, por falta de condução, ou eram os comboios de víveres assaltados por bandos de famintos, malfeitores e bandidos, organizados em legiões de famosos cangaceiros. 

Em tão aflitiva conjunção, era natural que os retirantes, por instinto de conservação, procurassem o litoral, e abandonassem o sertão querido, onde nada mais tinham que perder; onde já não podiam ganhar a vida, porque à miséria precedera o fatal cortejo de moléstias infecciosas, competindo com a fome e a sede na terrível faina de destruição. - DOMINGOS OLÍMPIO -  Luzia Homem.


Sobre o mundo hídrico (II)



- O que Bloom, amante da água, tirador da água, aguadeiro, voltando para o fogão, admirava na água?

Sua universalidade: sua igualdade democrática e constância em sua natureza ao procurar seu próprio nível: sua vastidão na projeção oceânica de Mercator: sua profundidade desconhecida no fosso de Sundam do Pacífico excedendo 8.000 braças: a agitação de suas ondas e partículas de superfície visitando sucessivamente todos os pontos de sua orla marítima: a independência de suas unidades: a variabilidade dos estados do mar: sua quietude hidrostática na calmaria: sua turgidez hidrocinética em maré morta e fortes marés: sua subsidência depois da devastação: sua esterilidade nas calotas circumpolares, árticas e antárticas: seu significado climático e comercial: sua preponderância de 3 a 1 sobre a terra seca do globo: sua hegemonia indiscutível se estendendo em léguas quadradas por sobre toda a região abaixo do trópico subequatorial de Capricórnio: a estabilidade multissecular de sua bacia primitiva: seu leito lúteofulvo: sua capacidade de dissolver e conservar em solução todas as substâncias solúveis inclusive milhões de toneladas dos metais mais preciosos: suas erosões lentas de penínsulas e ilhas, sua formação persistente de ilhas homotéticas, penínsulas e promontórios propensos à inclinação: seus depósitos aluviais: seu peso e volume e densidade: sua imperturbabilidade nas lagoas e lagos pequenos nas regiões montanhosas: sua gradação de cores em zonas tórridas e temperadas e frígidas: suas ramificações veiculares em correntes continentais contendo lagos e rios confluentes fluindo para o oceano com seus afluentes e correntes transoceânicas, golfos, cursos norte e sul equatoriais: sua violência nos maremotos, trombas-d’água, poços artesianos, erupções, torrentes, torvelinhos, cheias, enchentes, vagalhões, bacias hidrográficas, divisores de água, gêiseres, cataratas, redemoinhos, turbilhões, inundações, dilúvios, aguaceiros: sua vasta curva ahorizontal em volta da Terra: seu segredo das fontes e umidade latente, revelado por instrumentos rabdomânticos ou higrométricos e exemplificado pelo poço pelo buraco no muro do portão de Ashtown, saturação do ar, destilação do orvalho: a simplicidade de sua composição, duas partes componentes de hidrogênio com uma parte componente de oxigênio: suas virtudes curativas: sua flutuabilidade nas águas do mar Morto: sua perseverante penetrabilidade em córregos, ravinas, represas inadequadas, fendas em navio: suas propriedades de limpar, matar a sede e apagar o fogo, alimentar a vegetação: sua infalibilidade como paradigma e modelo de perfeição: suas metamorfoses em vapor, névoa, nuvem, chuva, saraivada, neve, granizo: sua força em hidrantes rígidos: sua variedade de formas em lagos e baías e golfos e angras e desfiladeiros e lagoas e atóis e arquipélagos e estreitos e fiordes e canais entre ilhas e estuários de maré e braços de mar: sua solidez em geleiras, icebergs, banquisas: sua docilidade ao trabalhar com rodas de azenha hidráulicas, turbinas, dínamos, centrais elétricas, agentes descoradores, curtumes, fábricas de linho: sua utilidade em canais, rios, se navegáveis, docas flutuantes e revestidas de alcatrão: sua potencialidade derivável de marés utilizadas ou cursos de água caindo de um nível para o outro: sua fauna e flora submarinas (anacústicas e fotofóbicas), numericamente, se não literalmente, os habitantes do globo: sua ubiqüidade ao constituir 90% do corpo humano: a nocividade de seus eflúvios em brejos lacustres, pântanos pestilentos, vasos de flores murchas, poças estagnadas sob a lua minguante.

Tendo colocado a chaleira cheia pela metade sobre os carvões agora ardentes, por que ele retornou à torneira com a água ainda escorrendo?

Para lavar suas mãos sujas com um sabonete de limão Barrington parcialmente consumido, ao qual o papel ainda aderia (comprado treze horas antes por quatro pence e ainda não pago), numa água fresca e fria sempre mudando e nunca mudando e secá-los, rosto e mãos, num longo pano de algodão debruado de vermelho passado por um rolo giratório de madeira.

Qual foi o motivo que Stephen alegou para recusar a oferta de Bloom?

Que ele era hidrófobo, detestando contato parcial por imersão ou total por submersão em água fria (seu último banho tendo tido lugar no mês de outubro do ano anterior), detestando as substâncias aquosas de vidro e cristal, desconfiando de aquacidades de pensamento e linguagem.

O que impedia Bloom de dar a Stephen conselhos profiláticos e de higiene aos quais deveriam ser acrescentadas sugestões relativas à preliminar molhadela da cabeça e contração dos músculos com rápido borrifo do rosto e pescoço e regiões torácica e epigástrica no caso de banho de mar ou de rio, as partes da anatomia humana mais sensíveis ao frio sendo a nuca, o estômago e tênar ou sola do pé?
A incompatibilidade da aquacidade com a originalidade caprichosa do gênio. (...) águas efluentes e refluentes - JAMES JOYCE - Ulisses.