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sexta-feira, 30 de abril de 2021

Biba luxenta


Bibo Nunes gastou R$ 58 mil de dinheiro público para alugar BMW de empresa de assessor de Bolsonaro

"Meu padrão de vida é esse. Meus carros sempre foram BMW, Porsche. Quem não gostar que vá enxugar gelo", afirmou o deputado ao justificar a escolha
Por Luisa Fragão 30 abr 2021 - 13:02


O deputado federal Bibo Nunes (PSL-RS) - Foto: Bruno Peres/PSL

O deputado bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS) gastou R$ 58 mil em cota parlamentar para alugar uma BMW da empresa Locar 1000, ligada ao assessor especial do presidente Jair Bolsonaro, Joel Novaes da Fonseca. Além dele, outros deputados bolsonaristas, como Bia Kicis, Daniel Silveira e até Eduardo Bolsonaro já alugaram carros com a empresa da filha e esposa de Joel.

Segundo reportagem da revista CrusoÉ, Bibo Nunes diz que escolheu alugar uma BMW porque o carro é o mais compatível com seu “padrão de vida”.

“Meu padrão de vida é esse. Meus carros sempre foram BMW, Porsche… Quem não gostar que vá ‘enxugar gelo’. Para mim é comum isso desde que eu nasci”, diz o deputado. “Eu te garanto uma coisa: não vou alugar com ninguém do PT nem do PSOL”, ironizou.

Ainda segundo a revista, a Locar 1000 possui uma frota de veículos avaliada em mais de R$ 1,5 milhão. Os carros são sempre alugados para deputados bolsonaristas à custa da verba da cota parlamentar. Desde 2019, os parlamentares já destinaram cerca de meio milhão de reais para a locadora do assessor de Bolsonaro.

Fonte: https://revistaforum.com.br/politica/bibo-nunes-gastou-r-58-mil-de-dinheiro-publico-para-alugar-bmw-de-empresa-de-assessor-de-bolsonaro/

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Loja da Havan em Osasco (SP) é inaugurada com faixa de “Bolsonaro genocida”


No interior da loja, bolsonaristas se aglomeravam, a maioria sem máscara, com Luciano Hang; na parte de fora, militantes protestavam contra Bolsonaro
Por Ivan Longo 29 abr 2021 - 20:43

Reprodução

A bizarra inauguração de uma loja da rede Havan, do bolsonarista Luciano Hang, em Osasco (SP), nesta quinta-feira (29) contou com um protesto contra o presidente Jair Bolsonaro.

Enquanto Hang, a filha de Silvio Santos e outros bolsonaristas se aglomeravam no interior da loja – a maioria sem máscara – e faziam a “dancinha do carpinteiro”, militantes colocaram uma faixa com a frase “Fora Bolsonaro genocida” bem em frente à réplica da Estátua da Liberdade que adorna todas as lojas da rede bolsonarista.

Os militantes também colocaram uma faixa de “Fora Bolsonaro genocida” no viaduto Metálico de Osasco, um dos cartões postais da cidade.

Patrícia Abravanel, filha do apresentador e dono do SBT, Sílvio Santos, e o dono da rede TV, Marcelo de Carvalho, estiveram entre os presentes na inauguração da loja com Luciano Hang. Os três estavam sem máscaras de proteção contra o coronavírus e o evento causou aglomeração.

“Uma loja linda e maravilhosa. Tenho certeza que vai encantar todas as pessoas”, disse o dono da empresa.

Estavam presentes, além deles, vários de seus serviçais, como João Kleber, Tirulipa, Nelson Rubens, Ernesto Lacombe entre outros. Muitos deles não utilizavam máscara de proteção contra o vírus.

Fonte: https://revistaforum.com.br/brasil/loja-da-havan-em-osasco-sp-e-inaugurada-com-faixa-de-bolsonaro-genocida/

Yoki fecha as portas e causa “baque social” em cidade gaúcha de 27 mil habitantes


Decisão da multinacional General Mills fará o município de Nova Prata perder R$ 2 milhões da arrecadação anual

Ayrton Centeno
Brasil de Fato | Porto Alegre | 28 de Abril de 2021 às 08:45

Fechamento da unidade deixará 300 trabalhadores desempregados; para se instalar no município, a empresa recebeu isenções fiscais e a doação de dois terrenos pela prefeitura municipal - Reprodução: O Joio e o Trigo


No próximo 1º de maio, 300 trabalhadores do município de Nova Prata, na Serra Gaúcha, não terão o que festejar. Todos serão demitidos na véspera do Dia Internacional dos Trabalhadores, porque a principal empregadora do município, a Yoki, fechará definitivamente suas portas.

A decisão não passou por qualquer discussão com os empregados, os sindicatos ou a prefeitura, afirmam fontes ouvidas pela Brasil de Fato na região. Foi tomada milhares de quilômetros distante do Brasil, em Minneapolis, cidade sede da multinacional General Mills, que controla o grupo Yoki desde 2012.

“Da noite pro dia você tem 300 desempregados. São 300 famílias. Traz um baque social e a cidade toda sente muito porque vem a questão econômica”, resume José Modelski, diretor da Confederação Brasileira Democrática dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação (Contac-CUT). “A Yoki tem um faturamento que representa 10% da arrecadação municipal”, acentua o sindicalista.

“É um impacto local e regional”

Anderson Bolzan, secretário de Finanças e Desenvolvimento Econômico de Nova Prata, tem uma cifra mais precisa: “Em 2019, representou 14,84% do valor adicionado. Não é possível precisar o retorno em números absolutos, mas é algo aproximado a R$ 2 milhões/ano para o município”, informa.

O diretor da Contac-CUT adverte que as consequências vão além da cidade. “É um impacto importante em nível local e regional, com reflexos na cadeia produtiva, englobando fornecedores, prestadores de serviço e pequenos agricultores”, diz.

Uma decisão irreversível

Modelski conta que, na hora do anúncio, a Yoki não apresentou argumentos relacionados à Nova Prata ou aos trabalhadores. Apenas informou que o assunto estava resolvido e não havia possibilidade de alterar a ordem vinda da sede norte-americana, tomada há mais tempo e não executada apenas devido à pandemia.

“A decisão já havia sido tomada pelos acionistas nos Estados Unidos. Apesar de argumentarmos e tentarmos reverter, não houve a possibilidade”, lamenta Bolzan.

Para se instalar em Nova Prata, além de vantagens fiscais, a Yoki recebeu dois terrenos doados pelo município. Um deles com 70 mil metros quadrados e outro com 44 mil. As despesas de escrituração e registro de imóveis correram por conta do erário público.

“A empresa está colocando à venda suas instalações, mas a expectativa que a gente tem é que dificilmente outra indústria irá se instalar no local, gerando um número de empregos comparável à Yoki”, considera Modelski.

Transferência para Minas Gerais

A produção de pipocas realizada em Nova Prata será deslocada para a unidade de Pouso Alegre, em Minas Gerais. A transferência foi decidida como fator de “redução de custos e adequação da logística”.

Seria, diz Modelski, para continuar a produção “em unidade mais moderna, utilizando menos mão de obra e com o fornecimento de matéria-prima já planejado pela empresa”.

A General Mills chegou ao Brasil em 1997 vendendo o sorvete Häagen-Dazs. Expandiu-se para a produção de pipocas, temperos, caldos em pó, sucos, chás, refrigerantes e laticínios.

Em 2012, comprou o grupo Yoki Alimentos, tornando-se dona das marcas Yoki, Mais Vita e Kitano. Quatro anos depois, adquiriu a empresa e a marca Carolina para produzir iogurte, leite fermentado e bebidas lácteas.

A indústria da alimentação, ao contrário de outros ramos da economia, não registrou perdas consideráveis durante a pandemia. “Os frigoríficos continuam empregando e alguns trabalhadores da Yoki serão contratados pelo setor”, exemplifica o diretor da Contac-CUT. No Brasil, o setor de alimentação emprega cinco milhões de trabalhadores, dos quais 500 mil no Rio Grande do Sul.

Outro lado

Em resposta ao Brasil de Fato, a General Mills explica que “para ampliar a capacidade produtiva, otimizar sua cadeia operacional e oferecer melhor nível de serviços a todos os seus clientes no Brasil” está reestruturando parte das suas operações no país.

Os ajustes, diz a empresa, fazem parte de uma estratégia que prevê acelerar o crescimento dos seus negócios no Brasil, “um dos mercados prioritários para a organização”. A multinacional explica que está investindo em sua principal unidade fabril, localizada em Pouso Alegre/MG, para concentrar sua produção de pipoca, com acréscimo de 30% de capacidade produtiva para esta categoria.

Garante que os funcionários afetados pelo fechamento da unidade de Nova Prata/RS “estão recebendo toda a assistência nesse período de transição” e assegura estar empenhada em oferecer ”o melhor pacote de benefícios”, negociado junto ao sindicato da categoria.

“Ciente da importância da fábrica na economia local, a General Mills comunicou a decisão aos produtores parceiros, e todos os acordos e compromissos serão cumpridos”, afiança.

Edição: Katia Marko

Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2021/04/28/yoki-fecha-as-portas-e-causa-baque-social-em-cidade-gaucha-de-27-mil-habitantes

AGRO É POP OU É PESTE?

 

Agronegócio traz "junção perfeita" para o surgimento de epidemias, diz infectologista

Epidemiologista evolutivo norte-americano explica as relações entre desmatamento, agronegócio e aparecimento de doenças

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O norte-americano Rob Wallace é autor de “Pandemia e Agronegócio” e coautor de “Dead Epidemiologists: On the Origins of Covid-19” - The European Graduate School

Não é de hoje que o epidemiologista evolutivo Rob Wallace alerta para a relação entre o agronegócio e o surgimento de patógenos mortais aos seres humanos. No livro “Big Farms Make Big Flu”, de 2016 – lançado no ano passado em português como “Pandemia e Agronegócio” –, ao analisar surtos do vírus influenza em fazendas de porcos e aves, o norte-americano comparou o vírus a furacões e escreveu, em tom quase premonitório, que “um Katrina de influenza poderia estar engrossando seus braços na fila das epidemiologias”. 

Três anos depois, a Covid-19 transformou em realidade as previsões de Wallace. Embora não tenha sido o influenza a varrer o mundo, ele explica que o aparecimento do coronavírus causador da doença, cuja origem possivelmente são morcegos, está intimamente relacionado ao atual modelo de produção de alimentos. “Na China e em outros lugares, a vida selvagem está sendo incluída no modelo industrial do agronegócio”, disse à Agência Pública. 

Por isso, ele vislumbra novas epidemias num futuro não tão distante. “É improvável que demore mais cem anos para que tenhamos uma nova pandemia realmente grave, como aconteceu a partir de 1918 [com a gripe espanhola]. É muito provável que tenhamos a Covid-22, a Covid-23”, afirma. No fim do ano passado, em parceria com outros pesquisadores, Wallace lançou um novo livro, “Dead Epidemiologists: On the Origins of Covid-19”, abordando esse e outros aspectos da pandemia.

Ex-consultor da FAO-ONU e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), o epidemiologista também critica os governos “neoliberais de direita” que adotaram “uma abordagem malthusiana” e apostaram na “imunidade de rebanho”, mas destaca que, ainda assim, o caso de Jair Bolsonaro é “único”: “A filosofia política genocida já ocorria muito antes do surgimento da Covid-19, portanto, de certa forma, não nos surpreendemos com ela. Mesmo assim é horrível, porque do que vale um governo que não consegue proteger sua população?”, questiona. 

Leia, abaixo, a íntegra da entrevista com o especialista.

O Brasil é visto neste momento como o epicentro da pandemia, com o número mais alto de mortes diárias no mundo. Além disso, novas cepas têm sido detectadas por aqui –  primeiro a P1, em Manaus, e agora outra variante, que combina 18 mutações, identificada por pesquisadores em Belo Horizonte. Você acredita que o Brasil é uma ameaça para todo o planeta no que diz respeito ao enfrentamento da pandemia?

O Brasil é apenas mais um dos países onde houve negligência, ela está em todos os lugares, em alguns mais do que em outros. Nos países onde a negligência foi adotada como política oficial, vimos surgir novas variantes: nos Estados Unidos, temos uma que apareceu na Califórnia; há o caso da Inglaterra, com a B117; a P1 no Brasil; além da cepa da África do Sul. Em sua maioria, esses são regimes neoliberais de direita.

No início do surto, o pensamento nesses lugares era: “O que vamos fazer? Imunidade do rebanho. Vamos deixar o vírus se espalhar e aí todo mundo vai ficar protegido por ter sido exposto.” Essa é uma abordagem malthusiana, porque permite que milhões de mortos sejam deixados pelo caminho, e também um completo fiasco, já que a resposta imune das pessoas à exposição ao vírus é diferente da resposta gerada pela vacinação – a vacina provoca uma resposta muito mais forte.

Por outro lado, há países politicamente bastante diferentes entre si – China, Islândia, Vietnã, Taiwan, Nova Zelândia, Austrália – que usaram a governança para seu fim básico: intervir para que uma grande pandemia não matasse seu próprio povo. É importante analisar a complexidade do contexto geral para perceber que, ainda assim, o Brasil é único, por ter como presidente um incompetente e fascista que vê o genocídio como parte de seu programa de governo.

A filosofia política genocida já ocorria muito antes do surgimento da Covid-19, portanto, de certa forma, não nos surpreendemos com ela. Mesmo assim é horrível, por que do que vale um governo que não consegue proteger sua população? Nós tiramos o Trump da presidência aqui, mas mais de 70 milhões de eleitores votaram em um homem que matou meio milhão de norte-americanos.

Trump e sua filosofia derivam da própria história colonial e genocida dos EUA, que perdura até hoje e se manifesta no assassinato de indígenas e na escravização de pessoas negras. Vemos a mesma política no Brasil, de muitas maneiras. Portanto, de certa forma, os EUA e o Brasil são espelhos um do outro.


Segundo Wallace, as florestas “são como uma caixa que guarda alguns dos patógenos mais perigosos”; por isso, o desmatamento está diretamente ligado ao surgimento de novas doenças / Ibama

Você vê com preocupação o potencial de surgimento de novas variantes no Brasil, por conta da alta circulação do vírus?

Nosso grupo de pesquisa batizou a variante B117, que surgiu no Reino Unido, de “cepa BoJo”, em homenagem ao primeiro-ministro Boris Johnson. Isso tem um aspecto de sátira política, mas queremos chamar atenção para o fato de que o aparecimento de doenças não tem a ver só com o vírus.

Sim, é importante fazer análises moleculares e acompanhar as mutações, mas há uma razão bastante explícita pela qual as novas variantes surgiram em países negligentes: eles permitiram que o vírus circulasse. Em vez de imunidade de rebanho, tivemos a “multiplicidade de rebanho”, que é quando você permite que o vírus circule em meio às pessoas e faça experimentos com o sistema imunológico humano de forma a driblar a imunidade.

Certamente isso aconteceu no Brasil, onde a P1 emergiu mesmo com alguns esforços de promover o lockdown. Esses patógenos normalmente evoluem em um local e se espalham para o resto do mundo, superando as outras variantes. Portanto, a resposta é sim, isso é perigoso.

Em sua análise, no Brasil há locais com condições favoráveis ao aparecimento de um novo patógeno perigoso para os humanos, como aconteceu em Wuhan, na China? 

Com certeza. Muitos dos patógenos transmitidos por vetores se urbanizaram. Sei que o Zika tem a reputação de ser um patógeno urbanizado – foi da África para a Ásia e depois para o Brasil, principalmente nas cidades –, mas isso não significa que não tenha nada a ver com desmatamento, tem muito e em vários aspectos.

O primeiro deles é que o Zika teve alguns dos piores resultados clínicos, principalmente se co-infectado com dengue e febre amarela – é o que chamamos de ativação recíproca, quando as proteínas de um patógeno ativam as proteínas do outro. Nas duas últimas décadas, cientistas brasileiros têm mostrado que o desmatamento está impulsionando a disseminação de várias espécies de mosquitos que atuam como vetores de doenças, e alguns entomologistas brasileiros descrevem em detalhes como muitas dessas espécies estão chegando às áreas urbanas.

Em segundo lugar, a distinção entre urbano e rural não é mais o que era antes: há a propagação do continuum urbano para dentro da floresta a ponto de cidades estarem surgindo encravadas na floresta. Isso expande o circuito de produção e leva a uma simplificação da floresta em termos ecológicos.

Assim como o SARS-Cov-2, pesquisadores acreditam que os coronavírus causadores da SARS, cujo surto eclodiu em 2002, e da MERS, que apareceu em 2012, vieram de morcegos. Por que os morcegos estão envolvidos no surgimento de patógenos que conseguem quebrar a barreira de espécie e infectar humanos – processo conhecido como spill over?

Em condições normais, a maioria dos patógenos leva um tempo para passar de hospedeiro a hospedeiro, e isso deve ser um limite para o quão “durão” ele pode ser. As exceções a essa regra são os patógenos de animais como os morcegos, os únicos mamíferos que voam. O sistema imunológico dos morcegos tem que ser muito bom porque eles não podem se dar ao luxo de ficar doentes, já que um morcego que não voa é um morcego morto.

Os morcegos e seus patógenos, portanto, vivem numa espécie de guerra evolutiva, o problema é que, em humanos, esses patógenos causam danos consideráveis porque nós não estamos no mesmo nível. Quando a SARS surgiu em 2002, pesquisadores encontraram na floresta vários tipos de coronavírus parecidos com o SARS-Cov-1 [causador da SARS]. Tivemos três eventos terríveis de SARS nos últimos oito anos porque os coronavírus estão evoluindo a partir das defesas que os morcegos estão desenvolvendo contra eles.

Nós definitivamente não queremos entrar no meio dessa briga. Imagine só, a gente entra num bar e vê dois caras, um segurando uma garrafa quebrada e outro com uma arma. O que fazemos? Saímos do bar, não queremos ficar entre eles, certo? Mas é exatamente isso que estamos fazendo. 

Em que sentido estamos “entrando nessa briga”?

Quando vemos um morcego com uma arma na mão e o SARS com uma garrafa quebrada, nos afastamos. A mesma coisa com os mosquitos: queremos garantir que as pessoas não sejam picadas por eles dando-lhes moradia e saúde adequadas e o que mais for necessário. Só não queremos nos expor a potenciais danos com os quais não podemos lidar.

O que as florestas fazem é trabalhar para nós por conta própria. Em virtude de sua complexidade, elas são como uma caixa que guarda alguns dos patógenos mais perigosos e garante que eles não se espalhem para as comunidades ao redor. Ainda assim, às vezes acontece o spill over para comunidades indígenas ou pequenos agricultores que vivem ao seu redor.

Porém, quando esses grupos estão ligados a uma longa cadeia periurbana, qualquer evento de spill over – cujas frequência e diversidade aumentaram – tem uma chance muito maior de chegar a uma cidade da região e, de lá, se propagar para o resto do mundo. Agora, é muito trabalhoso se tornar um vírus celebridade, nem todo mundo pode ser a Madonna ou o Justin Bieber. Você precisa experimentar muito antes de chegar à combinação que te permitirá abrir o cadeado e se tornar um patógeno celebridade.

Quando comunidades tradicionais e pequenos agricultores são forçados a deixar suas terras, basicamente elimina-se as pessoas que sabem manejar a floresta, preservar sua complexidade e cuidar dos serviços ecossistêmicos dos quais dependemos. E essas grupos provavelmente serão forçados a entrar no ciclo de migração, fazendo com que o corredor periurbano seja não apenas o meio pelo qual as mercadorias são transportadas, mas um caminho que as pessoas percorrem o tempo todo, de uma direção a outra, de forma que qualquer patógeno pode encontrar seu trajeto para a cidade. 


Celeiros “cheios de porcos e galinhas ajudam a selecionar as linhagens mais virulentas”, diz Wallace / Thiago Gomes/ SUSIPE

Esse processo tem a ver com o aumento da frequência de aparecimento de patógenos mais perigosos?

Antigamente, os patógenos diziam “levei 150 anos para me tornar uma celebridade”, e agora você tem essa estrela que saiu de um rincão da Amazônia e cinco anos depois já está na balada bebendo champanhe e se divertindo. Aumentamos a velocidade com que isso acontece e a diversidade dos patógenos que estão atingindo esse feito.

É improvável que demore mais cem anos para que tenhamos uma nova pandemia realmente grave, como aconteceu a partir de 1918 [com a gripe espanhola]. É muito provável que tenhamos a Covid-22, a Covid-23. Ou serão as próximas pandemias causadas pelos vírus influenza? Ou vai ser um vírus Nipah [que apareceu pela primeira vez na Malásia em 1998]? Muitos de nós estávamos de olho na peste suína africana, que saiu da África, atravessou a Eurásia e chegou à China em 2018, matando metade dos suínos chineses.

Não estamos vendo apenas novas celebridades emergindo um ano após o outro, estamos vendo várias aparecendo ao mesmo tempo. Muitos tipos de patógenos diferentes estão percorrendo esse caminho em vários lugares ao redor do mundo.

Especialistas têm discutido em que lugares do mundo há chances da próxima pandemia surgir – China, Índia, Brasil etc –, quase todos países do Sul Global. Isso dificulta a responsabilização de empresas e países ricos que incentivam o modelo de agronegócio e lucram com ele?

Podemos discutir porque os patógenos são a causa do surto. Aí podemos falar sobre a causa da causa, que é o desmatamento. Depois, temos que debater ainda a causa da causa da causa, que é como o desmatamento está sendo impulsionado e por quais motivos. Isso tem a ver com os circuitos de capital e as geografias relacionais, segundo as quais o que acontece de um lado do mundo influencia o que ocorre no outro.

O nosso grupo de pesquisa considera que lugares como Londres, Nova York e Hong Kong são os maiores focos mundiais de doenças porque é dessas cidades que parte o dinheiro responsável por promover o desmatamento que leva aos eventos de spill over, seja no Brasil, África ou China. 

Em seus livros, você explica que a agricultura industrial oferece os “meios exatos pelos quais patógenos desenvolvem os fenótipos mais virulentos e infecciosos”. O que isso significa?

O melhor jeito de facilitar o surgimento de um patógeno mortal é por meio do sistema industrial de criação de aves, suínos ou gado. Não estou dizendo que o agronegócio tem a intenção de fazer isso, mas é uma junção perfeita de circunstâncias que contribuem exatamente para o aparecimento desses patógenos. Explicando melhor: imagine que você é um vírus ocupando um hospedeiro.

Você não pode ser muito letal porque, se matar seu hospedeiro muito rapidemante, não consegue infectar o próximo. Você precisa se replicar somente até o ponto em que está pronto para passar ao seguinte hospedeiro, e para isso calcula mais ou menos quanto tempo demora normalmente para que ele apareça. 

Por isso as florestas, com sua complexidade, são tão importantes: num ambiente desse, é improvável que você encontre seu próximo hospedeiro tão rápido, isso demora um pouco [devido à biodiversidade]. Mas se você está num celeiro com 50 mil perus ou 250 mil galinhas apinhados e com o mesmo sistema imunológico, todos terão a imunidade deprimida pelas condições de aglomeração a que estão submetidos. Você, que é um vírus, olha e pensa “isso é ótimo, não tenho que me preocupar porque meu próximo hospedeiro está logo ao lado”.

O fato desses celeiros estarem cheios de porcos e galinhas ajuda a selecionar as linhagens mais virulentas. E não é apenas um celeiro, frequentemente eles são construídos perto um do outro, num mesmo lugar, para atender às necessidades da produção em escala.

Como o agronegócio tem muito poder político, eu costumo dizer que esses vírus têm os melhores advogados do mundo trabalhando para eles, porque esses advogados estão protegendo um modelo de negócio de sofrer intervenções. Mas podemos seguir colocando a culpa no vírus, nos pequenos agricultores ou na China.


Incêndio na Amazônia, em Novo Progresso (PA), em agosto de 2019. A floresta queima para dar lugar ao agronegócio / João LAET / AFP

Segundo especialistas, o SARS-Cov-2 se espalhou por meio do comércio de animais selvagens na China. Que semelhanças esse tipo de comércio tem com o agronegócio mais tradicional?

Nós estávamos preocupados com sopa de morcego, mas não se trata apenas do animal, é mais sobre como ele está sendo integrado a um determinado modo de produção. Na China e em outros lugares, a vida selvagem está sendo incluída no modelo industrial do agronegócio. Parte do dinheiro que sustenta o agronegócio está começando a custear esse setor mais formalizado.

Como estamos caminhando a passos largos para a destruição da Terra e de seus animais, o que sobra deles se torna cada vez mais valioso, e de repente se transforma em mais um meio de ganhar dinheiro. Resumindo, os animais selvagens estão se tornando menos selvagens de duas maneiras: ao serem integrados à agricultura industrial e ao serem expulsos das florestas por conta de sua fragmentação.

Por isso, cada vez mais estão sendo selecionados animais que consigam sobreviver nessas novas paisagens periurbanas. É o que acontece nos Estados Unidos com os gansos da neve: eles costumavam passar o verão nas terras úmidas do Golfo do México, que foram destruídas para dar lugar a shoppings centers.

Enquanto outros animais não resistem e morrem, os gansos agora passam o verão nas fazendas do norte do país, aumentando a interface com a criação de aves e o spill over do vírus influenza. O capital industrial está desconectando todas essas ecologias. As ecologias estão sempre mudando, mas agora elas estão sendo desplugadas e reconectadas de forma a permitir que patógenos anteriormente marginalizados surjam em todos os lugares ao mesmo tempo. 
 

Considerando que o agronegócio é uma força política e econômica muito importante em vários países – no Brasil, representa 26% do PIB –, há maneiras de ao menos diminuir o risco epidemiológico relacionado a essa atividade?

Existem maneiras muito práticas de intervir, como a engenharia reversa. Primeiro, é preciso introduzir a agrobiodiversidade, que atuará como uma espécie de corta-fogo imunológico. Isso quer dizer que, numa mesma fazenda, deve-se criar diferentes raças de animais, porque aí, se um porco ficar doente, é improvável que o patógeno passe para as cabras ou galinhas.

Dessa forma, o agricultor consegue sobreviver economicamente e não favorece o surgimento de novas doenças, porque não haverá a densidade necessária para suportar um patógeno tão mortal. Não significa o fim da doença, só significa que uma doença não vai acabar com tudo. A segunda coisa é permitir que os animais se reproduzam de maneira natural para que aqueles que sobreviveram a surtos epidemiológicos transmitam sua imunidade à próxima geração.

Em outras palavras, reintroduzir as leis de Darwin como um serviço ecossistêmico a favor da agricultura. Muitos pequenos produtores já fazem isso, e esse é o melhor jeito de alimentar o mundo e ao mesmo tempo protegê-lo do estrago que esses patógenos podem causar. Existe um processo de descampezinação, mas devemos pegar o sentido contrário, precisamos de mais camponeses.

Isso confunde as mentes progressistas porque elas aceitam as premissas da produção industrial e pensam que a única coisa que se tem a fazer é socializar os meios de produção, quando na realidade a riqueza depende do trabalho e da terra. Precisamos de terra no sentido de uma fonte regenerativa dos meios pelos quais sobrevivemos como espécie, e os animais não humanos e todos os outros seres devem ser incluídos na noção do que é uma visão progressista. 

Você disse em outras entrevistas que a vacina “pode ser uma distração das medidas necessárias para evitar que os patógenos continuem a se expandir”. Por quê?

Quando se trata de derrotar a Covid-19, precisamos vacinar todo mundo para evitar que as variantes surjam. O problema é o foco unicamente no aspecto emergencial do surto como forma de desviar a atenção de suas razões estruturais.

Ao dizermos “temos uma vacina, o problema está resolvido”, deixamos de lado todas as discussões sobre a causa da causa da causa, que não só nos trouxe a esta pandemia e a todos os diferentes surtos ocorridos no século XXI, como também nos levará àqueles que ainda estão por vir.

Obviamente, precisamos tomar medidas de emergência, elas são importantes: a vida das pessoas está em jogo e precisamos de vacinas, antivirais e atendimento de saúde, mas as razões pelas quais tudo isso não está disponível para todos estão estreitamente ligadas aos motivos pelos quais as doenças surgem. 

Acredita que os modos de vida dos povos indígenas e tradicionais oferecem uma alternativa a esse sistema?

Não quero fetichizar ou colocar ninguém num pedestal, mas as populações indígenas entendem como produzir alimentos, como mantê-los, como pensar nosso lugar no mundo. Eles estão tentando nos apontar um caminho e, de alguma forma, estão nos chamando de volta à Terra, porque partimos dela.

Quando o Elon Musk coloca uma nave no espaço, isso representa, de fato, o que fizemos: deixamos para trás nosso planeta e os povos indígenas. Eles têm o direito de estar incrivelmente bravos com o que fizemos, mas muitos deles, de alguma forma, conseguem nos oferecer perdão em seus corações, nos chamando de volta à Terra e dizendo “vamos nos unir novamente ao planeta”.

Não é que as culturas ao redor do mundo não tenham cometido erros, houve civilizações que colapsaram por razões ecológicas, mas os erros foram específicos, relacionados a uma paisagem particular. Já nós, o sistema capitalista, fizemos a versão global disso, constituímos a falha de julgamento como diretriz primária, como princípio – vamos destruir coisas e nos orgulhamos disso.

Somos deuses caminhando sobre a terra da qual dependemos e estamos destruindo. O capitalismo gosta muito de enaltecer a engenhosidade da humanidade. Mas o Elon Musk nos levando a Marte não tem nada a ver com salvar a humanidade, é sobre o fim da humanidade. 

 Fonte: https://www.brasildefato.com.br/2021/04/29/agronegocio-traz-juncao-perfeita-para-o-surgimento-de-epidemias-diz-infectologista

SURTO PSICÓTICO POR EFEITO DE MACONHA GARANTE ABSOLVIÇÃO A CRIMINOSO

AP PHOTO/MICHEL EULER
MUNDO MUNDO CNAAN LIPHSHIZ, JTA/TIMES OF ISRAEL
Para a comunidade judaica da França, o caso Halimi representa um divisor de águas na história dos judeus franceses
28 de abril de 2021


Mais de 20.000 membros da comunidade judaica francesa participaram da grande manifestação de protesto neste domingo em Paris para demonstrar sua indignação contra a decisão da Corte de Apelações de inocentar o assassino da judia Sarah Halimi. 
Outras manifestações foram realizadas no domingo em Israel, EUA e Reino Unido em protesto contra a decisão da justiça francesa, que decidiu inocentar o assassino de Halimi, o muçulmano Kobili Traore, de 27 anos, por ele ter fumado maconha antes de cometer o crime.
Os eventos judaicos franceses costumam terminar muitas vezes com o canto da Marselhesa – o hino nacional francês. Mas na manifestação de domingo – evento que teve a maior participação da comunidade judaica francesa em pelo menos uma década – o sentimento era de revolta e incerteza sobre o futuro dos judeus na França.
O protesto, que teve ramificações em outras cidades como Tel Aviv, Miami, Londres e Haia, foi desencadeado pela decisão de 14 de abril da Corte de Apelações francesa no caso Halimi.
Sarah Halimi, de 65 anos, foi assinada em 2017 por seu vizinho, Kobili Traoré, que invadiu seu apartamento, a espancou e depois atirou-a pela janela. O caso chocou a França.
Desde então, Traoré está internado num hospital psiquiátrico. A Corte de Apelações confirmou sentença de tribunais inferiores que consideraram que Traoré não poderia ser responsabilizado pelo crime porque estava sob surto psicótico pelo efeito da maconha.
Na manifestação de domingo, muitos viram o episódio como a gota d’água no relacionamento tenso entre os judeus da França e seu sistema de justiça, e em sua posição tênue em um país conhecido por suas altas taxas de incidentes antissemitas.
Alguns manifestantes seguraram cartazes com os dizeres “estupefaciente”, a palavra francesa que também pode se referir a “droga”. Outros carregavam faixas com frases contra o antissemitismo.
Cartazes diziam “Na França, a vida de uma judia vale menos do que a de um cachorro, referindo-se a outro caso ocorrido em 2017 em que um homem que jogou um cachorro pela janela não conseguiu convencer os juízes de que estava completamente sob efeito de drogas.
“Digo isso com tristeza: estamos chegando a um ponto grave”, disse Joel Mergui, presidente da Consistoire, o órgão do judaísmo francês responsável por oferecer serviços religiosos ortodoxos. “Sim, gritem sua fúria!”, disse ele falando em um microfone montado num palco. “Essa foi uma decisão que é um divisor de águas, uma mancha negra na confiança dos judeus franceses em seu país”.
Allyana Levy, 20, uma estudante de Paris no meio da multidão e líder de um grupo juvenil judaico, admitiu que não tinha certeza sobre seu futuro na França.
“Às vezes penso em ficar aqui, mas agora, depois do caso de Sarah Halimi, não tenho tanta certeza”, disse ela. “Quando tenho medo de andar na rua porque sou mulher, porque sou judia, fica difícil. Minhas sobrinhas em Israel se sentem seguras a qualquer hora da noite. Então começo a pensar nessa possibilidade”.
Levy mora no 11º distrito de Paris, onde fica a rua tranquila onde Halimi morava. Antes um bairro de imigrantes pobres, seus açougues halal e mesquitas agora funcionam ao lado de bares elegantes e lojas de produtos orgânicos – o que tornou o distrito um local preferido para estudantes e famílias jovens.

AP Photo/Michel Euler

Fonte: https://www.conib.org.br/para-a-comunidade-judaica-da-franca-o-caso-halimi-representa-um-divisor-de-aguas-na-historia-dos-judeus-franceses/

CERCA DE 40 MORTOS, COMO REULTADO DE FESTIVAL RELIGIOSO

Um tumulto em um festival religioso em Israel deixou dezenas de mortos nesta sexta-feira (30) (horário local), informaram veículos de imprensa israelenses. Jornais do país como o "Haaretz" e o "The Times of Israel", citando fontes médicas oficiais, falam de 38 a 44 vítimas. Mais de 100 se feriram.






Cerca de 100 mil pessoas participavam da celebração Lag B'Omer — a maioria, judeus da linha ortodoxa — no maior evento desde o controle da pandemia do coronavírus em Israel (saiba mais no fim da reportagem). As primeiras informações diziam que uma arquibancada de metal desabou, mas órgãos de saúde israelenses informaram que as vítimas morreram pisoteadas após um tumulto.

Fonte: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/04/29/tumulto-em-festival-religioso-em-israel-deixa-mortos.ghtml

quinta-feira, 29 de abril de 2021

MÉTODOS ARCAICOS DA RAFUAGEM BOLSONARISTA - Pilha foi espancado e torturado na prisão

A recepção de Pilha foi realizada com crueldade. Ele recebeu chutes, pontapés e murros enquanto ficava no chão sentado com as mãos na cabeça. Enquanto Pilha estava praticamente desmaiado, o agente que o agredia e falava de Bolsonaro

Por Renato Rovai 29 abr 2021 - 18:09



Rodrigo Pilha, preso no dia 18 de março por estender uma faixa chamando o presidente Jair Bolsonaro de genocida, foi espancado e torturado na prisão e tem dormido no chão desde quando foi privado de sua liberdade. Ou seja, há exatos 41 dias.

Durante os últimos dias o blogue conversou com diversas pessoas que têm proximidade com Pilha que não pode dar entrevistas e confirmou a informação que já havia sido publicada sem maiores detalhes num tuíte por Guga Noblat.


Enquanto esteve na Polícia Federal prestando depoimento, Pilha foi tratado de forma respeitosa, mas ao chegar no Centro de Detenção Provisória II, área conhecida como Covidão, em Brasília, alguns agentes já o esperavam perguntando quem era o petista.

A recepção de Pilha foi realizada com crueldade. Ele recebeu chutes, pontapés e murros enquanto ficava no chão sentado com as mãos na cabeça. Enquanto Pilha estava praticamente desmaiado, o agente que o agredia, e do qual a família e advogados têm a identificação, perguntava se ele com 43 anos não tinha vergonha de ser um vagabundo petista. E dizia que Bolsonaro tinha vindo para que gente como ele tomasse vergonha na cara.

Na cela, Pilha foi recebido pelos outros presidiários com solidariedade e respeito. Mas durante à noite esses mesmos agentes foram fazer uma blitz na cela e deixaram todos pelados e os agrediram a todos com chutes e pontapés. Com Pilha, foram mais cruéis. Esparramaram um saco de sabão em pó na sua cabeça, jogaram água e depois o sufocaram com um balde. Todos foram avisados que estavam sendo agredidos por culpa de Pilha. Do petista que não era bem-vindo na cadeia.

A tentativa dos agentes que se diziam bolsonaristas de estimular a violência dos colegas de cela contra Pilha não deu resultado. Pelo contrário, Pilha ficou 22 dias só com uma bermuda, uma cueca e uma camiseta que lhe foram doados por colegas de cela. Não lhe foi oferecida nenhuma roupa.


Como também ficou sem contato com a família neste período inicial, era na camaradagem com outros presos que Pilha conseguia comer uma bolacha, uma fruta ou outros produtos que podem ser comprados.

Atualmente, Pilha está trabalhando por 6 horas todos os dias e com isso consegue ficar fora do presídio das 14h30 às 20h30. Mas tem que voltar para a cela todas as noites, onde convive com outros colegas, com baratas e escorpiões, por exemplo. Seus advogados estão tentando conseguir progressão de pena com base em leituras e cursos, mas têm tido dificuldade.

Sem essa progressão, Pilha permanecerá como preso político até o dia 4 de julho e sua vida continuará em risco até esta data.




Jornalista, mestre em Comunicação pela ECA/USP e doutor pela UFABC. Mantém o Blog do Rovai. É editor da Fórum.

Fonte: https://revistaforum.com.br/noticias/exclusivo-pilha-foi-espancado-e-torturado-na-prisao/

O quadro eleitoral que se avizinha

Berros, palavrões, xingamentos, eleitores assanhados agarrando-se. E por esses votos insignificantes diversos militares me haviam torcido o focinho. Estupidez. -  GRACILIANO RAMOS - Memórias do cárcere.

"Todo mundo sabe"...

É usando as expressões do título desta postagem que se forma a maioria dos juízos "justos" dos adeptos do conservadorismo rançoso contra os supostos "comunistas ladrões e terroristas".

Se a mídia conservadora proclamou, não há o que argumentar, muito menos discutir. Quem discorda deve calar-se, para não ser mal interpretado, porque não se admite contraditório, esboço de qualquer defesa, mesmo com base em provas que contrariem as conclusões que convêm às classes dominantes. 

Ponto final. "Todo mundo sabe" e contra as "evidências" apresentadas pelos acusadores, contra a aparência de culpa, não adianta espernear. Se as provas são frágeis, meros adminículos, que não ensejam senão débeis presunções, o magistrado, para não deixar escapar o acusado, vale-se da literatura, o que a digna  ministra Rosa Weber, aparentada do Aécio, o todo poderoso e intocável tucano das Minas Gerais, já sacramentou, em processo contra a "esquerdalha", claro. 

A apuração desapaixonada dos fatos não importa aos julgadores, dentre eles a opinião pública. O que vale é inviabilizar candidaturas desses comunas desgraçados, que ousam lutar por melhor distribuição de renda e justiça social. 

A economia tem é que render muito para os investidores externos, de sorte que se atraia capitais, com promessas de rendimentos bem superiores aos que ganham em outros países. O Brasil quer ser maior, em oportunidades para os capitalistas, que os EUA e que se calem os comunistas, senão uma quartelada torna a por tudo nos "eixos". 

"Devido processo legal" é pura bobagem que advogados comunistas, metidos a defender essa ignomínia de "direitos humanos", inventaram para embaralhar o andamento da "justiça". 

Portanto, basta o "todo mundo sabe" para fundamentar a sentença condenatória de qualquer esquerdista. A opinião pública formada pelos jornalistas imparciais da Globo, Record, Bandeirantes e pelo  irrepreensível Sílvio Santos, é que deve prevalecer. O resto é baboseira travestida de "direito à ampla defesa". É o poderoso  "mercado", que não pode ser contrariado, que o exige. Viva Moloc, que exige sacrifício de crianças, com as quais os governos petistas cismaram de gastar dinheiro que poderiam destinar aos banqueiros, distribuindo merendas. Afinal, irão morrer de fome, naturalmente e esses comunistas nojentos não têm direito de ficar pregando fraternidade, solidariedade e outras baboseiras, para mudar o destino dessa pobreza imprestável, peso morto das nações que almejam prosperar. 

Falar em soberania popular é pura utopia. População sem emprego não é soberana. Soberanos são os banqueiros e o resto deve comer na mão deles. Todo mundo sabe que  se eles estiverem descontentes, auferindo lucros apenas razoáveis e não estratosféricos, moverão seus recursos para outros países mais condescendentes aos justos  anseios dos seus acionistas.

Todo mundo sabe que a população de toda a terra deve ser escrava dos financistas. É o "sistema financeiro" que manda em todos os governos, na justiça, na mídia, na vida particular de qualquer cidadão. E não se admite o menor questionamento, nem mesmo revisão da alegada dívida pública. O consumidor individual pode revisar - em termos - a dívida alegada pelo rentista, mas as instituições públicas tomadoras de empréstimos não podem ousar tal revisão. Seria muita ousadia duvidar da honra e honestidade dos banqueiros. Revisionista é raça maldita. Já não basta querer revisar a história do Holocausto, ainda quer ficar bisbilhotando na história das dívidas. 

Todo mundo sabe que os banqueiros seriam incapazes de exagerar suas pretensões, no que diz respeito a spread e juros. Rentista é gente impoluta, incapaz de cometer qualquer desatino, muito menos de almejar lucros exorbitantes. 

Os crimes contra a humanidade são apurados por um Tribunal Penal Internacional, mas que ninguém ouse acusar os banqueiros de crimes e fraudes, naquela proba Corte, porque são intocáveis. 

Todo mundo sabe e nenhuma Corte tem direito de se meter nesses assuntos tão $en$íveis. Não é à toa que, sem o aval dos rentistas ninguém chega, no Brasil, por exemplo, a ministro do STJ ou do STF. É requisito primordial ter o DNA (sefardita ou asquenasita) do povo eleito, ou nada feito. Não há prova disto, mas é lícita tal ilação, pois assim parece e o diz  literatura comunista. Fato público e notório não enseja discussão. O que todo mundo sabe não admite opinião em contrário. 

E, por falar em "todo mundo sabe",  se você quer saber mais sobre como funciona uma justiça "imparcial", pode ler a obra de GRACILIANO RAMOS intitulada Memórias do Cárcere. Nela, lá no capítulo 22, foi mencionada uma peça de teatro, ensaiada na cadeia, por presos políticos, que é uma preciosidade. O "juiz" foi o preso "Aporelly" (*), famoso pela sua capacidade de ironizar. O resto você saberá se tiver gosto por leitura. 

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(*) Fernando Apparicio Brinkerhoff Torelly (Rio Grande RS 1895 - Rio de Janeiro RJ 1971). Jornalista, humorista, poeta, o "Barão de Itararé".