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sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Os ultraortodoxos da tribo rebelde haredi inflamam Israel


Os choques dos religiosos com a polícia por desobedecerem as restrições da pandemia ameaçam o modelo de coexistência com a maioria laica do Estado judeuProtesto de ultraortodoxos contra o confinamento, na terça-feira, no bairro de Mea Shearim, em Jerusalém.AHMAD GHARABLI / AFP



JUAN CARLOS SANZ

Jerusalém - 28 JAN 2021 - 22:30
A praga assola os tementes a Deus em Israel

Israel tem um ardente problema interno. O modelo de coexistência entre a maioria judaica laica e religiosa moderada e a minoria ultraortodoxa foi quebrado durante a pandemia. Os haredis, que representam 13% da população do país, respondem por mais de um terço dos contágios, enquanto a taxa de infecções aumenta apesar da acelerada campanha de vacinação.


Basta dar alguns passos pelo bairro de Mea Shearim, feudo dos ultrarreligiosos no coração de Jerusalém, para constatar que muitos deles não usam máscara nem mantêm distância física. Suas yeshivas (escolas talmúdicas) e sinagogas estão lotadas em meio ao rigoroso confinamento geral. Nos últimos dias, a intervenção das forças de segurança para aplicar as restrições sanitárias desencadearam enfrentamentos sem precedentes na história recente, com queima e destruição de ônibus e paradas de bonde em sucessivas noites de distúrbios. Um policial teve que disparar para o alto ao ser rodeado por uma multidão de jovens em Bnei Brak, bastião dos religiosos na área metropolitana de Tel Aviv.

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“Se a estrutura de relações entre o Estado e a comunidade ultraortodoxa não mudar, Israel está fadado ao colapso”, prevê o colunista Ben-Dror Yemini, no jornal Yedioth Ahronoth. “A explosão de violência é apenas uma pequena parte da questão”, argumenta. “Os enormes subsídios estatais, a deficiente educação religiosa, os fugitivos do serviço militar ―esses são os problemas derivados da capitulação de uma maioria não confessional ante os líderes espirituais haredis.”

A disputa entre laicos e religiosos é tão antiga quanto o Estado de Israel. Desde a era fundacional de David Ben Gurion, em 1948, os estudantes das yeshivas ficaram isentos de servir no Exército. Além disso, o comércio, a hotelaria e o transporte público suspenderam suas atividades durante o shabat, o dia do descanso judaico. Década após década, o choque entre os dois estilos de vida gerou episódios de tensão. Há 73 anos, os ultraortodoxos eram pouco mais de 4% da população. Graças ao seu vertiginoso crescimento demográfico ―é comum ver famílias de sete ou oito filhos em seus distritos―, a previsão é que superem os 20% em 2040.

Nem todos os ultrarreligiosos judeus são iguais. Eles se agrupam em duas grandes correntes: a askenazita (centro-europeia), com ramos hassídico e lituano, e a sefardita, ou oriental. A primeira tem representação política através da União pela Torá e Judaísmo (UTJ), e a segunda pelo partido Shas. Ambas as forças se nutrem do disciplinado voto de seus adeptos e apoiam com suas cadeiras na Knesset (Parlamento) o Governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu desde 2015. Sua influência política avança paralelamente ao seu crescimento demográfico. Entre 2014 e 2018, esses partidos conseguiram duplicar os gastos estatais para seus centros de ensino, que não seguem os programas oficiais de educação e cujos alunos aprendem de cor as sagradas escrituras, praticamente sem receber aulas de matemática, ciência e inglês.

Os ultrarreligiosos sefarditas em geral cumprem as ordens do Ministério da Saúde e não têm se envolvido nos distúrbios, enquanto os askenazitas se transformaram, durante a pandemia, em um Estado à parte dentro de Israel. As seitas lituanas de Jerusalém, Bnei Brak e Beit Shemesh (centro do país) têm ignorado completamente as medidas mais elementares para conter a propagação do coronavírus. O debate para excluir seus partidos do poder na coalizão de Governo que surgir das eleições de 23 de março já começou em Israel.


Separação entre religião e Estado

“Há um confronto entre duas visões ideológicas dentro de um mesmo povo. Uma que reivindica a supremacia dos princípios democráticos universalmente reconhecidos e outra que os submete ao legado religioso em função da interpretação do rabino da vez”, afirma o analista político Daniel Kupervaser. “A solução para esse dilema, segundo as normas das democracias modernas, é separar a religião do Estado.” Em Israel, o rabinato ortodoxo mantém o monopólio legal sobre o casamento (reconhecido apenas sob o rito religioso), as conversões ao judaísmo (que dão direito à aquisição da nacionalidade) e aos cofres da kashrut (certificação de que um restaurante ou alimento é kasher, ou seja, preparado conforme a lei judaica).

As diretivas dos rebes (rabinos hassídicos) são seguidas com fé cega pelos setores haredis mais fanáticos, que participaram dos violentos incidentes do fim de semana passado. Enquanto líderes espirituais nonagenários definem o bem e o mal ante centenas de milhares de acólitos, uma maioria silenciosa dos tementes a Deus parece se integrar progressivamente à vida social e à atividade econômica de Israel. Grande parte dos homens ainda se dedica exclusivamente ao estudo das escrituras sagradas e à oração, enquanto as mulheres (com 75% de taxa de atividade laboral) são as que sustentam a economia familiar com empregos precários e assistências sociais.

“Os moradores de Bnei Brak são gente pacífica que observa a Torá e os mandamentos de Deus e obedece as leis”, dizia na última terça o deputado da UTJ Yaakov Asher, quando os restos do ônibus queimado em sua cidade ainda exalavam fumaça. “Os jovens que causaram os danos não nos representam.” A divisão entre os próprios haredis também despontou com a crise.

A expansão demográfica dos ultraortodoxos levou aos seus assentamentos nas colônias religiosas do território palestino da Cisjordânia, na busca de casas mais amplas para suas famílias. “Eles cruzam a fronteira da Linha Verde por motivos socioeconômicos, não ideológicos”, afirma o especialista em temas da ocupação Yehuda Shaul. “Hoje representam 40% dos [mais de 600.000] colonos da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental, após terem multiplicado sua presença a partir dos Acordos de Oslo de 1993”, completa o cofundador da ONG de militares veteranos Quebrando o Silêncio.

Até mesmo entre a centro-direita que apoia Netanyahu, os setores laicos de Israel já romperam com os ultrarreligiosos. Primeiro foi o ex-ministro Yair Lapid, que em 2013 promoveu uma reforma do serviço militar (obrigatório entre dois e três anos, para homens e mulheres maiores de 18 anos) a fim de alistar os jovens das yeshivas. Quando o centrista Lapid saiu do Governo e os partidos ultraortodoxos retornaram ao poder, o primeiro-ministro suspendeu a aplicação da norma sobre o recrutamento.


Fonte: https://brasil.elpais.com/internacional/2021-01-29/a-tribo-rebelde-haredi-inflama-israel.html

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“Erramos”: colunista do UOL faz a autocrítica da imprensa com a Lava Jato
- 29 de janeiro de 2021

Deltan Dallagnol e Sergio Moro
Imagem: Fabio Rodrigues Pozzebom/Antonio Cruz/Agência Brasil

O jornalista Chico Alves, do portal UOL, talvez seja o único colunista de um veículo da mídia corporativa que fez uma autocrítica aberta sobre a responsabilidade da imprensa na promoção da Operação Lava Jato sem nenhum contraponto significativo.

Fez isso em sua coluna publicada no portal nesta sexta-feira (29).

Ele escreve o seguinte:

“Desde que começou, há seis anos, a força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba, se apresentou como grupo de super-heróis decididos a varrer a corrupção do Brasil. Também o juiz escolhido para julgar os casos, Sergio Moro, se vendeu assim. Praticamente todas as instituições da República, a imprensa inclusive, avalizaram essa bravata.


(…)

Das acusações do Ministério Público Federal e das sentenças de Moro resultaram mais de 155 condenações – em sua maioria, de figuras de destaque na República, como o ex-presidente Lula.

Há evidências de sobra de um gigantesco esquema de corrupção encravado na Petrobras. Segundo várias acusações e provas, no entanto, a força-tarefa da Lava Jato e o juiz Sergio Moro só chegaram a tal performance por meio de expedientes que estão fora dos manuais jurídicos: uso abusivo das delações premiadas, divulgação estratégica de dados sigilosos e parceria indevida entre acusadores e magistrado.

Essas reclamações passariam apenas como choro dos advogados de defesa, não fosse a atuação de hackers que invadiram ilegalmente o aplicativo de mensagens de Moro, Deltan Dallagnol e sua turma. O conteúdo das conversas veio a público em 2019, na série de reportagens conhecida como Vaza Jato, publicada pelo site The Intercept Brasil.

Os bate-papos confirmaram as acusações contra o juiz e os procuradores, revelando um indevido jogo combinado entre eles.

(…)

A não ser que achemos boa coisa fomentar o culto à personalidade, é preciso arrancar o ex-juiz e os procuradores do pedestal em que se instalaram. Seus admiradores precisam avaliar objetivamente as acusações e tirar conclusões desapaixonadas.

Isso vale tanto para o cidadão comum quanto para as instituições que inflaram a aura de perfeição.

Nós da imprensa tivemos papel fundamental no surgimento dessa lenda. Apesar de quase sempre avessos à autocrítica, é chegada a hora de dizer com todas as letras: erramos”.

Fonte: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/erramos-colunista-do-uol-faz-a-autocritica-da-imprensa-com-a-lava-jato/

TRF-4 nega pedido de liberdade a empresárias presas na operação alcatraz


29 de janeiro de 2021, 12h

O desembargador Luiz Carlos Canalli, da 7ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, negou um habeas corpus (HC) que pedia liberdade provisória para as empresárias Irene Minikovski Hahn e Paula Bianca Minikovski Coelho, presas em dezembro do ano passado durante a segunda fase da operação alcatraz. O despacho foi proferido na quarta-feira (27/1).

As empresárias são investigadas por participação no esquema de desvio de dinheiro do Fundo Nacional de Saúde, em Santa Catarina, por meio de fraudes em licitações firmadas com a Qualirede Consultoria Empresarial, que administra o plano de saúde dos servidores estaduais.

No HC impetrado na Corte, a defesa alegou que as prisões preventivas decretadas pelo juízo substituto da 1ª Vara Federal de Florianópolis não cumpriram os requisitos do Código de Processo Penal. E ainda: estão ancoradas em indícios genéricos de autoria e de suposto risco de ocultação de provas.

Contratos fraudados
No despacho denegatório, o desembargador Canalli afirmou que Irene, na condição de sócia da Qualirede, era uma das operadoras da organização criminosa, tendo participado de dois pregões presenciais promovidos pelo Estado de SC nos quais foram apurados indícios de direcionamento à empresa. De acordo com o relator do HC, a empresária foi a responsável pela assinatura desses contratos.

"Também restou apurado que Irene, como responsável pela empresa, procedeu ao desvio de valores oriundos do Governo Estadual mediante formalização de contratos fictícios, visando ao repasse de tais valores ao núcleo político da organização criminosa", reiterou Canalli.

O relator da operação alcatraz na 7ª Turma considerou que a paciente Paula participou diretamente da fraude dos pregões, tendo atuado como testemunha em um dos contratos. Segundo o desembargador, ainda foi apurado o envolvimento dela no uso de dinheiro proveniente de crimes na atividade econômica da Qualirede, além de ela ter sido apontada como a responsável pelos contatos para os repasses de recursos ao núcleo político investigado.

"Portanto, da mesma forma que a paciente Irene, verifica-se a existência de robustos indícios de autoria em relação à paciente Paula, além de prova suficiente da materialidade dos delitos de fraude à licitação, corrupção ativa e passiva, organização criminosa e lavagem de dinheiro, devendo prevalecer, neste momento processual, o princípio do in dubio pro societate e não o in dubio pro reo", ressaltou Canalli ao manter a prisão preventiva domiciliar que havia sido determinada pela primeira instância da Justiça Federal catarinense. Com informações da Assessoria de Imprensa do TRF-4.

Clique aqui para ler o despacho do desembargador do TRF-4

5001746-28.2021.4.04.0000/SC

Fonte: https://www.conjur.com.br/2021-jan-29/trf-nega-hc-empresarias-presas-operacao-alcatraz

Sobre Jurerê

O campo (ou restinga) onde estão situados o Jurerê Tradicional e o Jurerê Internacional era conhecido, em documentos antigos, como Campo da Ponta Grossa.

Biografando Mello Alvim, o historiador Henrique Boiteux (na obra Santa Catharina na Marinha - publicada em 1912) registrou : 

(...) recolheu-se o infatigavel engenheiro á capital, para dar inicio á medição, demarcação e levantamento da planta do campo de Ponta  Grossa a Cannavieiras, na ilha de Santa Catharina (...)

Ponta Grossa é onde o Jurerê Internacional termina, a oeste. Assim chamada ante a configuração do costão de grandes pedras, muito provavelmente.

Notar a grafia CANNAVIEIRAS.     

Sobre a minha terra (Canasvieiras), " ninho de açores" e de intrépidos marinheiros

Lendo Henrique Boiteux - Santa Catharina na Marinha (*),  deparei-me com o nome da antiga freguesia da nossa Ilha de Santa Catarina grafado como Cannavieiras.

O "n" dobrado não constitui novidade, mas a ausência do "s" (canna, em vez de cannas) é que me chamou a atenção.

Ocorre que em vários pontos da mesma obra tal grafia (Cannavieiras) foi repetida. Ademais, há um lugar no Estado da Bahia também conhecido como CANAVIEIRAS. 

Está aí um detalhe para ser investigado em outros documentos antigos.

Para homenagear os meus conterrâneos, transcrevo um trecho da obra de Boiteux, acima citada: 

Em Cannavieiras, no extremo norte da ilha de Santa Catharina, ninho de açores, donde sairam muitos para tripular corsários armados pelos federados americanos na guerra de seccessão, e ainda hoje saem para o serviço de praticagem da perigosa barra do Rio Grande, nasceu José Francisco Alves Serpa, a 13 de junho de 1822. Eram seus paes, o capitão Raulino Alves de Brito, pessoa de destaque na freguezia de Santo Antonio, e d. Anna Joaquina de Jesus. 

Desde menino nas lides da pesca da balêa e depois embarcado em baleeiras americanas que, de ida e de regresso da pesca desses cetaceos nos mares do sul, procuravam os ancoradouros de Santo Antonio, Sambaqui, Cannavieiras e Caieiras para refresco, e abastecimento, tornou-se Alves Serpa marinheiro provecto e depois, no mourejo, pela nossa costa, mais se affirmaram suas aptidões e qualidades de perfeito homem do mar (P. 11 da biografia de José Francisco Alves Serpa)

-=-=-=-=-

(*) - http://hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/OBRAS%20RARAS/1912%20-%20SANTA%20CATHARINA%20NA%20MARINHA.pdf

História de SC



Atenção historiadores.

Henrique Boiteux, biografando a figura do CORONEL DE ENGENHEIROS JOÃO DE SOUZA MELLO E ALVIM, na obra "Santa Catharina na Marinha" (1912), informou que o biografado tinha um tio cujo título era Visconde de JURUMIRIM. 

Acho que tem alguma relação com o vocábulo JURERÊ. 

Vejamos um dos primeiros historiadores do Brasil:

- FREI VICENTE DO SALVADOR - História do Brasil (1500-1627) - Cia Melhoramentos de SP/1954, p. 95: 

De um depoimento prestado em Sevilha a 9 de out. de 1549 (cópia na Bib. Nac.) consta que no ano anterior partiram dos Ilhéus um navio de Martim Vaz, de São Vicente um de Paschoal Fernandes, desceram para Jurumerim e na laguna de Viaçá aprisionaram cento e tantos homens e mulheres que estavam sendo doutrinados por um frade castelhano.


MARMELADA A JATO - Moro orientou Deltan e consórcio manteve conversas clandestinas com EUA e Suíça



28 de janeiro de 2021, 21h20


Moro orienta procuradores sobre dados obtidos no sistema da Odebrecht

Mensagens trocadas entre Sergio Moro — então juiz titular da 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos casos da autodenominada "lava jato" — e Deltan Dallagnol — à época coordenador da "operação" — revelam que a condução de processos relacionados a Lula foi combinada entre acusação e julgador.

As mensagens foram anexadas em petição endereçada ao STF, no âmbito da reclamação 43.007, em que a defesa do ex-presidente pediu inicialmente acesso integral ao material apreendido pela chamada operação "spoofing". Os dados consistem em mensagens trocadas entre procuradores e juízes que participaram da "lava jato" e foram divulgadas pelo The Intercept Brasil na série de reportagens que ficou conhecida como "vaza jato". O relator do caso, ministro Ricardo Lewandowski, deferiu o pedido, embora a defesa tenha tido dificuldade para ter acesso ao material.

Nesta quinta-feira (28/1), Lewandowski decretou sigilo sobre a ação (reclamação 43.007), após pedido da defesa, que também anexou aos autos algumas mensagens analisadas por um perito judicial.

O site da Veja publicou alguns trechos dessas conversas. Os documentos revelados pela publicação mostram diálogos curtos entre o ex-juiz e o chefe da "lava jato". Em uma das mensagens — de 16 de fevereiro de 2016 —, Moro pergunta se a denúncia contra Lula seria "sólida" o suficiente.


"Profecia autorrealizável"
Em outra conversa, Moro cobra de Dallagnol manifestação do MPF em uma das ações:


No caso, trata-se da ação 5046159-54.2016.4.04.7000. O pedido de Moro foi feito às 18h57 de 14/9/16. A resposta de Dallagnol veio em seguida (às 19h08). E, às 19h41, o procurador afirmou que a manifestação estava sendo protocolada. Em consulta à movimentação do processo, tal manifestação foi protocolada, de fato, às 19h43. E, em 16/9, Moro profere decisão. Nela, o juiz afirma que Polícia Federal e MPF pediram "autorização para a condução coercitiva de parte dos investigados". O pleito foi então deferido, contra 13 pessoas.

Em outra mensagem, Deltan pede sigilo absoluto acerca de uma reunião secreta com representantes suíços. O procurador também pede que Moro limite o depoimento do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, apenas aos fatos pelos quais ele é acusado, para que ele não amplie benefícios penais sem se tornar um delator.

Para os advogados de Lula, "é possível desde já constatar, para além da escancarada ausência de equidistância que deveria haver entre juiz e partes, por exemplo: (1) a efetiva existência de troca de correspondência entre a "força-tarefa da lava jato" e outros países que participaram, direta ou indiretamente, do Acordo de Leniência da Odebrecht, como, por exemplo, autoridades dos Estados Unidos da América; (2) documentos e informações que configuram quebra da cadeia de custódia relacionados aos sistemas da Odebrecht; e (3) a busca selvagem e a lavagem de provas pelos órgãos de persecução, com a ciência e anuência do juízo de piso".
Deltan recomenda que juiz 'respire fundo' após pedido de oitiva de Tacla Duran por parte dos advogados do ex-presidente Lula

O procurador também tenta agendar um horário com o então juiz Sergio Moro para falar com ele sobre "apreensão de celulares".

Procurador e juiz também trocam confidências sobre a atuação da defesa do ex-presidente e as denúncias do advogado Rodrigo Tacla Durán de que um amigo de Moro lucraria intermediando acordos de delação premiada.


Moro também orienta o procurador sobre as informações obtidas pelos sistemas Droussy e Webday da Odebrecht. "Vcs [sic] vão ter que enviar isso a PF para fazer laudo pericial e depois produzir laudos específicos a cada acusação. Do contrário, vai ser difícil usar", ensinou o então juiz.


Defendem o ex-presidente os advogados Cristiano Zanin, Valeska Martins, Maria de Lourdes Lopes e Eliakin Tatsuo.


Revista Consultor Jurídico, 28 de janeiro de 2021, 21h20

Deputado Otoni de Paula é condenado a indenizar ministro Alexandre de Moares



28 de janeiro de 2021, 18h22

Por Rodrigo Haidar


Não se pode admitir que a liberdade de expressão legitime ataques ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. Tampouco deputados ou senadores podem se escudar na imunidade parlamentar para proferir ofensas a outras pessoas sem que suas manifestações guardem qualquer relação com a atividade que desenvolvem no Congresso Nacional.Deputado federal Otoni de Paulo (PSC-RJ)
Câmara dos Deputados

Com base nessas premissas, o juiz Guilherme Madeira Dezem, da 44ª Vara Cível de São Paulo, condenou o deputado federal Otoni de Paula (PSC-RJ) a pagar R$ 70 mil de indenização ao ministro Alexandre de Moares, do Supremo Tribunal Federal, pelos ataques feitos contra o juiz nas redes sociais. Nas postagens, em texto e vídeo, o deputado se refere ao ministro do Supremo com expressões como "lixo", "esgoto", "cabeça de ovo" e "cabeça de piroca". A decisão foi publicada nesta quinta-feira (28/01). O deputado ainda pode recorrer.

Em agosto do ano passado, Madeira Dezem já havia mandado que o deputado excluísse de seus perfis nas redes sociais as ofensas contra o ministro do Supremo. Na ocasião, o juiz determinou que os conteúdos fossem removidos no prazo de 24 horas, sob pena de multa diária de R$ 50 mil.

Na decisão desta quinta-feira, o magistrado registrou que o deputado federal ultrapassou as balizas que fixam os limites aceitáveis da manifestação do pensamento e a liberdade de expressão, "uma vez que humilha, ofende e ataca, diretamente, a honra e a imagem" do ministro. "O alegado exercício do direito de manifestação encontra limites do âmbito de proteção de outro direito individual, em outras palavras, não se pode admitir que a liberdade de expressão legitime ataques ao princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, como é o caso dos autos", decidiu o juiz.

Madeira Dezem enfrentou, na decisão, a discussão sobre a proteção conferida pela imunidade parlamentar. Para o juiz, o Estado deve ter cautela para não tolher manifestações de deputado e senadores. "Parlamentares são a manifestação concreta do resultado das eleições e bem por isso deve-se tomar muita cautela ao analisar suas manifestações", escreveu. Mas isso não significa liberdade para o cometimento indiscriminado de ofensas: "Ao mesmo tempo deve se acautelar para que a liberdade de expressão e a imunidade parlamentar não sejam utilizadas como escudo para práticas inadequadas. Neste caso foi ultrapassada a linha e cabe ao Poder Judiciário promover a correção do erro".

O juiz entendeu que a imunidade protege o parlamentar que, no exercício da função ou em razão dela, profere palavras, opiniões e votos relacionados com a atividade exercida. Ou seja, relacionadas com a atividade parlamentar, o que não pode justificar manifestações puramente ofensivas e proferidas no intuito de ofender a honra e a dignidade da pessoa humana. "Nesse sentido, além de as manifestações terem sido emitidas fora da casa legislativa, também se verifica ausência de conexão entre as manifestações proferidas pelo requerido com o exercício do mandato. Analisando os autos, não vislumbro conexão de manifestações como cabeça de piroca ou até mesmo cabeça de ovo, com a função exercida pelo requerido como deputado federal e pelo autor como ministro do Supremo Tribunal Federal", sentenciou.

O deputado federal Otoni de Paula também responde pelas ofensas na esfera penal. Ele foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República, em julho passado, pelos crimes de difamação e injúria contra Alexandre de Moraes. Para o vice-procurador-geral da República, Humberto Jacques de Medeiros, "as expressões intimidatórias utilizadas pelo denunciado escapam à proteção da imunidade parlamentar e atiçam seus seguidores nas redes sociais, de cujo contingente humano já decorreram investidas físicas contra o Congresso e o próprio Suprem"”.

Otoni de Paula é um dos alvos de inquérito que investiga o financiamento de atos antidemocráticos que pedem o fechamento do Congresso Nacional e do STF, além de intervenção militar. No bojo dessa investigação, teve o seu sigilo bancário quebrado por decisão do ministro Alexandre.


Rodrigo Haidar é repórter especial da revista Consultor Jurídico.

Revista Consultor Jurídico, 28 de janeiro de 2021, 18h22

domingo, 24 de janeiro de 2021

EUA estão 'saqueando' petróleo sírio para o 'enviar a Israel', declara ex-diplomata norte-americano


© AFP 2020 / Youssef Karwashan
08:33 24.01.2021(atualizado 09:03 24.01.2021)URL curta

Os EUA estão saqueando os recursos naturais da Síria para enviá-los para outros lugares, que se beneficiarão do roubo americano, declarou J. Michael Springmann, ex-diplomata dos EUA na Arábia Saudita.

"Os EUA estão movendo soldados do Iraque, que estão ocupando, para a Síria, que continuam a ocupar, para saquear o petróleo sírio da população do país e enviá-lo a outro lugar, provavelmente para a entidade do Apartheid [Israel] e outros lugares, que vão beneficiar do roubo norte-americano do petróleo sírio", comentou à Press TV.

Ao ser questionado sobre o envio de tropas dos EUA do Iraque à Síria, Springmann, que foi chefe do departamento americano de vistos na Arábia Saudita de 1987 a 1989, afirmou que este tipo de ação "é típica dos EUA e deveria ser mostrada em contraste com os 25.000 soldados que estavam em torno de Joe Biden durante a cerimônia de posse, há alguns dias".

Anteriormente, uma emissora síria relatou que, no dia 21 de janeiro, 200 soldados foram levados para as bases americanas na cidade de Al-Shaddadi a bordo de helicópteros.

A cidade fica cerca de 60 quilômetros ao sul da capital provincial síria Al-Hasakah, para onde a coalizão militar liderada pelos EUA havia enviado 40 caminhões carregados de armas e equipamentos logísticos.
© AP PHOTO / FELIPE DANA
Combatente das Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiado pelos EUA, perto da base do campo de petróleo de Al-Omar, leste da Síria (foto de arquivo)

Informações citadas pela agência de notícias síria SANA indicam que, posteriormente, as forças norte-americanas serão estacionadas no campo de petróleo de Omar e no campo de gás de Koniko, como parte do plano de Washington de assumir o controle sobre as reservas de petróleo da Síria.

Springmann também enfatizou o que descreveu como a "abordagem equivocada da política externa" dos EUA.
"Joe Biden é alguém em quem não se pode confiar. Nem mesmo seu próprio povo pode confiar nele. Os Estados Unidos da América têm forças que ocupam a Alemanha e o Japão 75 anos após a Segunda Guerra Mundial", afirmou.

O Pentágono segue alegando que as forças e equipamentos militares dos EUA estacionados no nordeste da Síria são uma medida para proteger os campos de petróleo da região e evitar que caiam nas mãos do Daesh (grupo terrorista proibido na Rússia e em outros países).
© SPUTNIK / MIKHAIL VOSKRESENSKY
Poço de petróleo nos arredores da cidade síria de Deir ez-Zor, na Síria

Em outubro de 2019, o então presidente Donald Trump afirmou que os EUA "guardarão o petróleo" no nordeste da Síria.

"Estamos guardando o petróleo [...] Queremos guardar o petróleo, US$ 45 milhões por mês [...] Devemos poder ficar com algum também, e o que pretendo fazer, talvez, é fazer um acordo com a ExxonMobil ou uma de nossas grandes empresas para ir até lá e fazê-lo corretamente", afirmou.

O embaixador da Síria na Organização das Nações Unidas (ONU), Bashar al-Jaafari, ressaltou que "as forças de ocupação dos EUA, na frente das Nações Unidas e da comunidade internacional, deram um novo passo para saquear os recursos naturais da Síria, incluindo o petróleo e gás, através da Delta Crescent Energy".

O jornal Politico informou no início de agosto de 2020 que a empresa americana Delta Crescent Energy LLC fez um acordo secreto com as autoridades curdas no nordeste da Síria para desenvolver e exportar o petróleo bruto da região.

Antes da guerra civil apoiada pelos EUA, iniciada em 2011 após protestos em todo o Oriente Médio, a Síria produzia aproximadamente 380.000 barris de petróleo por dia.

Fonte: https://br.sputniknews.com/oriente_medio_africa/2021012416833888-eua-estao-saqueando-petroleo-sirio-para-o-enviar-a-israel-declara-ex-diplomata-norte-americano/

1700 anos de vida judaica na Alemanha


 Em 2021, um jubileu significativo é celebrado na Alemanha. Uma nova exposição permanente no Museu Judaico de Berlim dá espaço a pluralidade de vozes em torno dos 1700 anos de vida judaica no que hoje é o território da Alemanha.

O fio condutor da exposição, de acordo com a diretora do museu, Hetty Berg, é "a relação dos judeus com a sociedade não judaica, esta dinâmica entre pertencimento e exclusão."

No ano 321, um judeu recebe pela primeira vez a permissão para ocupar um cargo oficial. Porém, durante séculos, os judeus em solo alemão eram apenas tolerados, muitas vezes excluídos - também da maioria das profissões. Na Idade Média, alguns enclaves prósperos foram criados sob a proteção dos bispos. Mesmo assim, seus residentes eram repetidamente afugentados, difamados e perseguidos. Sorte de quem era requisitado pelos príncipes como banqueiro e conselheiro financeiro. No século 17, os príncipes firmavam cartas de proteção a alguns judeus da corte - mas a relação de dependência permanecia.

No século 18, o Iluminismo deu a esperança de emancipação ao defender a liberdade religiosa, igualdade e direitos humanos a todos. Ao mesmo tempo, o filósofo Moisés Mendelssohn impulsiona a Haskalá, o iluminismo judaico, um movimento que promove um judaísmo moderno em diálogo com a cultura europeia. Esses acontecimentos levaram a um intenso intercâmbio de ideias entre escritores e filósofos judeus e não judeus sobre economia, ciência e cultura.

"Na Primeira Guerra Mundial, muitos judeus lutaram como soldados. E isso foi na época um sinal para os judeus de que eles realmente se tornaram parte da sociedade. Eles realmente se sentiram alemães", comenta Hetty Berg. Mas com a ascensão do regime nazista, os judeus foram sistematicamente excluídos da sociedade, marginalizados, perseguidos, forçados ao exílio e assassinados.

Antes de 1933, havia cerca de meio milhão de judeus na Alemanha, e depois de 1945, apenas poucos milhares. Uma ferida aberta na sociedade alemã até hoje.

"Acho que o Holocausto ainda é um ponto de referência muito importante na história judaica na Alemanha, em toda a Europa. Mas a novidade da atual exposição permanente é que o Holocausto não é mais apresentado como o fim de uma história. O mais importante é que as pessoas saibam mais sobre a vida judaica e os judeus. Porque muitos desses pensamentos preconceituosos vêm de uma lacuna de informação e conhecimento. Temos uma tarefa muito importante que é fazer com que os nossos visitantes tenham um encontro com essa cultura que desde a Idade Média faz parte do que hoje chamamos de cultura alemã", afirma a diretora do museu.

Fonte: https://www.dw.com/pt-br/1700-anos-de-vida-judaica-na-alemanha/av-56303066

 

MORTE DOS ANIMAIS - Além de danos morais, zoológico deve pagar danos materiais por maus-tratos


24 de janeiro de 2021, 9h45


Por entender que houve omissão no acórdão, a 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (PR, SC e RS) aceitou parcialmente embargos de declaração para determinar a um zoológico catarinense o pagamento de indenização por dano material devido a maus-tratos e mortes de seus animais.Animais sofriam maus-tratos e eram deixados em condições irregulares Pixnio

O juiz federal convocado Sergio Renato Tejada Garcia, novo relator do processo no TRF-4, concordou que o acórdão original não poderia ter extinguido sem julgamento de mérito o pedido de indenização por danos materiais, já que "houve reconhecimento do fato gerador da morte de vários animais e de sua relação objetiva de causa e efeito no tocante à atividade desenvolvida pelos demandados".

O zoológico de Salete (SC) foi interditado em 2011 após a fuga de um elefante asiático. Durante vistoria, o Ibama encontrou diversos animais machucados e desnutridos e irregularidades no local. Além disso, o órgão constatou uma taxa de mortalidade superior a 75%. O abandono das espécies persistiu mesmo após a interdição.

O Ibama ajuizou ação civil pública, que culminou na condenação dos donos do estabelecimento ao pagamento de indenização por dano moral ambiental coletivo. O valor foi fixado em R$ 60 mil.

Embargos

Após o julgamento em segunda instância, o Ibama opôs embargos de declaração. O TRF-4 havia extinguido sem resolução de mérito o pedido inicial de danos materiais, por interpretar que eles seriam relativos às despesas de alimentação e sustento dos animais. A autarquia pediu o acréscimo da indenização, explicando que ela seria pela própria morte da fauna silvestre. Também foi pedido o aumento do valor do dano moral.

Os embargos foram parcialmente aceitos, apenas para fim de prequestionamento. O Ibama, então, recorreu ao Superior Tribunal de Justiça, que anulou o acórdão do julgamento dos embargos e determinou nova apreciação.

Por fim, o equívoco da decisão original foi reconhecido. O relator estipulou o pagamento de outros R$ 60 mil por danos materiais. Apesar disso, negou o aumento da indenização por dano moral, levando em conta que o valor original já sofrerá atualização monetária e acréscimo de juros.

Segundo a Advocacia-Geral da União, os valores atualizados para este mês de janeiro chegam a pouco menos de R$ 500 mil. Tais recursos devem ser aplicados pelo Ibama em projetos de preservação da fauna regional. Com informações da assessoria de imprensa da AGU.

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Processo 5002231-35.2012.4.04.7213


Fonte: https://www.conjur.com.br/2021-jan-24/zoologico-pagar-danos-materiais-morais-maus-tratos

sábado, 23 de janeiro de 2021

Pensando na cultura portuguesa na Ilha de SC e outros municípios litorâneos

Mais do que construir um mundo para o turismo, é necessário construir um mundo em que o turismo também tenha o seu lugar, mantendo vivo o que de mais genuíno possuímos (…) Lopes, S. A. (1999).

Fonte: http://www.portaldoconhecimento.gov.cv/bitstream/10961/4008/1/Na%20rota%20dos%20Judeus%20uma%20an%C3%A1lise%20hist%C3%B3rica%20e%20potencialidades.pdf

Penso que a nossa região, dê tendência cosmopolita, abriu mão, açodadamente e em grau comprometedor, dos costumes, tradições e características originarias, decorrentes da influência lusitana.

Por lei atávica, levamos a louvar o que é estranho, desmerecendo aquilo que dentre nós é nascido e praticado, cheio de pujança e merecedor de todos os encômios. O trecho em itálico foi reproduzido por MARIA CRISTINA SCOMAZZON e outros , autor da História Natural da Ilha de Santa Catarina  (Edit. INSULAR, Fpolis/2017, p. 21). O autor do mesmo trecho transcrito teria acentuado, ainda que tal   desdém é  nascido da ignorância (...). 

Diante de tal constatação, que me parece irrefutável, precisamos encetar a implementação de política pública de recuperação do açorianismo, sem que isso venha a implicar em xenofobia, em aversão, a outras culturas, obviamente.


Biden, Harris e suas famílias estão fazendo história judaica no novo governo dos EUA

20 de janeiro de 2021

Alguns fatos históricos são óbvios: Biden será a pessoa mais velha a ocupar a Casa Branca e Harris será a primeira mulher descendente do Sul da Ásia a servir como vice-presidente.

Os três filhos de Biden são casados com judeus, tornando o novo presidente avô de vários netos judeus. (A primeira esposa de Biden e sua filha morreram em um acidente de carro em 1972.)

O marido de Harris, Doug Emhoff, é judeu, e o casal celebra feriados judaicos juntos. O casamento em 2014 contou com a tradicional cerimônia judaica, e os dois filhos de Emhoff de seu primeiro casamento referem-se a Harris como “Momala” – uma mistura de Kamala com a palavra iidish “mamaleh”.

No Chanucá passado, Harris e Emhoff postaram um vídeo no Twitter do casal acendendo a menorá.

“Eu amo Chanucá porque realmente se trata de luz e de levar luz onde há escuridão”, disse Harris. “E é uma celebração de, sempre, tikkun olam (reparar o mundo), que é sobre lutar por justiça e por dignidade de todas as pessoas, e é sobre dedicação ao próximo”.

As famílias judias mistas que liderarão a nova administração dos Estados Unidos não são algo incomum – elas são emblemáticas na história dos judeus americanos.

A maioria dos judeus americanos se casa com parceiros de outras religiões – 58% de acordo com a pesquisa nacional mais recente, realizada em 2013 pelo Pew Research Center. No entanto, em vez de abandonarem o judaísmo, esses casais inter-religiosos estão cada vez mais criando seus filhos como judeus, ou celebrando tradições judaicas ao lado de outras religiões. Cerca de 45% dos judeus casados estão criando seus filhos na religião judaica, de acordo com o Pew, contra 28% em 1990.

Enquanto há meio século os judeus que se casaram com outras pessoas eram vistos como uma perda para a comunidade judaica, hoje as famílias inter-religiosas são parte integrante da comunidade judaica americana. No movimento reformista, a maior denominação religiosa judaica dos Estados Unidos, os rabinos costumam realizar casamentos inter-religiosos, pois muitas sinagogas têm não-judeus como membros e certos papéis rituais durante os serviços da sinagoga estão abertos a não-judeus.

O movimento Reconstrucionista, que é a menor das denominações judaicas liberais da América com cerca de 100 sinagogas afiliadas, fez história em 2015 quando retirou a proibição de aceitar estudantes filhos de casamentos mistos para a escola rabínica do movimento.

No movimento conservador, mais de um quarto de todas as casas incluem um membro da família não judeu, de acordo com a pesquisa do Pew. Mesmo entre muitos judeus ortodoxos, tornou-se mais comum ter uma abordagem acolhedora em relação aos casais inter-religiosos na esperança de que um cônjuge não judeu acabe se convertendo.

Da mesma forma, as atitudes predominantes dos americanos em geral em relação aos judeus se tornaram acolhedoras com o tempo. Nas décadas de 1950 e 60, grandes grupos de americanos desdenhavam os judeus de uma forma ou de outra: em 1958, apenas 62% dos americanos disseram que estariam dispostos a votar em um candidato político judeu mesmo que bem qualificado, em comparação com 91% em 2015, e uma pesquisa de 1964 revelou que 43% dos americanos responsabilizavam os judeus pela morte de Jesus, em comparação com 26% em 2004.

Embora 2019 tenha registrado o maior aumento em 40 anos de incidentes antissemitas nos Estados Unidos, é comum famílias com membros não judeus expressarem orgulho por seus parentes judeus.

Biden, que é católico, é um exemplo disso. “Eu sou o único católico irlandês que você conhece que teve seu sonho realizado porque sua filha se casou com um cirurgião judeu”, Biden brincou sobre seu genro judeu, Howard Kerin, em um evento político em Ohio em 2016.

Kerin, um médico, casou-se com a filha mais nova de Biden, Ashley, em uma cerimônia inter-religiosa em 2012 oficiada por um padre católico romano e um rabino reformista, Joseph M. Forman.

“Uma ketubá foi assinada. A cerimônia ocorreu sob uma linda huppah, feita de ramos naturais com uma cobertura de pano”, disse Forman, rabino de uma congregação de Nova Jersey, Or Chadash, ao Forward, referindo-se ao contrato de casamento tradicional e ao dossel de casamento. “A cerimônia de casamento começou com o tradicional baruch haba e incluiu a bênção sacerdotal e a sheva brachot. O noivo pisou em um copo no final”.

O filho de Biden, Beau, que morreu de câncer em 2015, também se casou com uma judia: Hallie Olivere, cuja mãe judia Biden conhecia desde sua infância. Em um evento de 2015 em Delaware, Biden brincou que ele tinha uma queda pela mãe de Olivere quando criança.

“Eu era o garoto católico. Ela era a garota judia. Eu ainda tentei. Não cheguei a lugar nenhum”, disse Biden.

O segundo filho de Biden, Hunter, recentemente se casou pela segunda vez – desta vez com Melissa Cohen, uma documentarista judia da África do Sul. Poucos dias após o encontro, Hunter Biden fez uma tatuagem “Shalom” para combinar com a que Cohen tinha. O casal teve seu primeiro filho, nascido em Los Angeles, em março passado. Isso elevou o número de netos de Biden com pais judeus para três, somando-se aos dois filhos de Beau e Hallie.

Biden não é o primeiro presidente dos Estados Unidos com filho casado com judeu – essa distinção pertence a Donald Trump, cuja filha Ivanka foi convertida por um rabino ortodoxo antes de se casar com seu marido judeu, Jared Kushner, em 2009. O casal está criando seus três filhos como judeus, observam regularmente o Shabat, frequentam sinagogas ortodoxas e enviam seus filhos para a escola judaica.

Chelsea Clinton, a única filha do ex-presidente americano Bill Clinton e de Hillary Rodham Clinton, casou-se com um judeu, Marc Mezvinsky, em 2010, uma década depois que seu pai deixou o cargo. A cerimônia inter-religiosa foi co-oficiada por um rabino e um ministro e incluiu uma huppah e a recitação do sheva brachot, as sete bênçãos do casamento. O casal tem três filhos.

Chelsea Clinton se identifica como metodista, mas se tornou uma crítica declarada do antissemitismo. Respondendo há dois anos a um comentário online que escreveu que ela “nem mesmo é judia, ela é apenas feia”, Clinton respondeu: “Oi Adam – você está certo, eu não sou judia. Já que você me acha feia, fique à vontade para nunca mais olhar para mim. Chamar um judeu de feio é uma forma de antissemitismo com séculos de idade, então, da próxima vez, vá direto para o feio e deixe o resto de fora. Obrigado”.

Depois que a congressista Ilhan Omar, uma das três muçulmanos no Congresso, afirmou em fevereiro de 2019 que AIPAC, o grupo de lobby pró-Israel, paga políticos para apoiar o Estado judeu, Clinton tuitou: “Devemos acolher todos os funcionários eleitos, independentemente do partido, e todos as figuras públicas para não incorrer em antissemitismo”.

O presidente Barack Obama não tem laços de família com judeus, mas muitos de seus conselheiros e assessores próximos na Casa Branca eram judeus. Tanto assim que Obama acabou realizando um Seder privado a cada Pessach durante seus oito anos na Casa Branca.

Quando Harris tomar posse como vice-presidente, será a primeira vez que um judeu viverá em uma das duas principais residências oficiais dos EUA: o Observatório Naval dos Estados Unidos, residência oficial do vice-presidente.

Há outra história judaica americana que Harris e Emhoff personificam: o casal inter-racial. Um número crescente de judeus americanos está se casando fora de sua cultura – incluindo brancos e judeus de diferentes etnias que representam algo entre 6% e 15% dos judeus americanos.

Claro, com Harris prestes a se tornar a primeira vice-presidente mulher da América, a maior parte da atenção em torno de Emhoff não será sobre ele ser judeu, mas o fato de ser o primeiro “Segundo Cavalheiro” da América – o título que ele escolheu como alternativa à designação tradicional, segunda-dama.

Fonte: https://www.conib.org.br/biden-harris-e-suas-familias-estao-fazendo-historia-judaica-no-novo-governo-dos-eua/

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

O que Bolsonaro colocou de milicos, Biden coloca de judeus, nas respectivos equipes de governo


Embora o governo brasileiro também tenha m sus quadros diversos cidadãos da etnia judaica, acho que nem chega perto do novo governo ianque.

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MUNDO FORWARD
Em número suficiente para um ‘minyan’, judeus ocupam posições-chave no futuro gabinete de Biden
20 de janeiro de 2021

Enquanto o presidente eleito Joe Biden anunciava suas escolhas para o gabinete, circulou no Twitter a comparação de que o número de judeus no novo governo seria suficiente para um minyan.

Isso porque pelo menos 10 judeus proeminentes foram nomeados para posições-chave. São eles: Ronald Klain (chefe de gabinete); Anthony Blinken (Secretário de Estado); Janet Yellen (Tesouro); Merrick Garland (procurador-geral); Alejandro Mayorkas (Segurança Interna) e Avril Haines (Diretora de Inteligência Nacional). Em outro escalão estão: Wendy Sherman (vice-secretária de Estado); Eric Lander (consultor de Ciência e Tecnologia); Ann Neuberger (vice-Conselheira de Segurança Nacional); e David Cohen (vice-diretor da CIA).

Além disso, há Doug Emhoff, o marido judeu da vice-presidente eleita Kamala Harris.

É uma “declaração notável sobre o lugar dos judeus nesta sociedade”, disse Jason Isaacson, chefe de política e diretor de assuntos políticos do Comitê Judaico Americano em Washington. Em meio ao aumento do antissemitismo e seu papel na base do cerco ao Capitólio em 6 de janeiro, Isaacson acrescentou, o fato de que tantos judeus conhecidos e engajados servirão nos mais altos escalões da administração “e ninguém fala sobre isso e não é uma questão que diz muito sobre o quanto a sociedade americana progrediu”.

Após a posse de Biden nesta quarta-feira, a maioria desses cidadãos terá que ser confirmada pelo Senado dos Estados Unidos.

Nascido e criado em Indianápolis, Klain, 59, disse em entrevista ao New York Times em 2007, que quando se casou com sua esposa não judia, Monica Medina, eles concordaram que seus três filhos – Daniel, Hannah e Michael – seriam criados como judeus, mas que a família também comemoraria o Natal.

Formado pela Harvard Law School, Klain primeiro serviu como chefe de gabinete do ex-vice-presidente Al Gore e mais tarde como chefe de gabinete de Biden durante seu primeiro mandato como vice-presidente. Em 2014, ele foi nomeado coordenador da resposta ao ebola do presidente Barack Obama.

Klain – um usuário ativo do Twitter – desempenhou um papel fundamental na elaboração do plano de Biden para lidar com Covid-19 durante a campanha presidencial. Tevi Troy, historiador e autor de “Fight House”, um livro sobre rivalidades na Avenida Pensilvânia, 1600, apontou que vários judeus precederam Klain no papel. Josh Bolten foi o chefe de gabinete do presidente George W. Bush de 2006 a 2009, seguido por Rahm Emanuel e Jack Lew, que serviram ao presidente Barack Obama.

Embora nenhum dos dois carregasse o título, Jared Kushner e Stephen Miller foram talvez os assessores mais próximos e influentes do presidente Trump ao longo de seu mandato.

Foto: Kevin Lamarque, Reuters

Via CONFDRAÇÃO ISRAELITA DO BRASIL/CONIB
https://www.conib.org.br/em-numero-suficiente-para-um-minyan-judeus-ocupam-posicoes-chave-no-futuro-gabinete-de-biden/

Quem é pior: corruptor ou corrupto (corrompido)


Julgamento de bilionário que contratou Moro abre janela inédita para a pilhagem da África no século 21
Tribunal de Genebra condenou nesta sexta, 22, Benjamin Steinmetz, acusado de subornar mulher de ditador para explorar mina de ferro na República da Guiné depois negociada com a brasileira Vale
O magnata do diamante, Beny Steinmetz, chega para o julgamento no qual é réu em Genebra.FABRICE COFFRINI / AFP



Uma montanha de minérios, o ditador doente da República da Guiné e suas quatro esposas, supostas propinas, contas secretas na Suíça, um bilionário do ramo de diamantes, a gigante brasileira Vale, o ex-juiz e ex-ministro de Jair Bolsonaro Sergio Moro e uma pobreza profunda. Numa sala do Tribunal de Genebra, situado no coração do bairro medieval da cidade suíça, todos esses elementos se cruzaram no julgamento do magnata Benjamin Steinmetz, que se revelou um mergulho na dimensão da pilhagem das riquezas naturais do continente mais pobre do mundo. O caso foi julgado nesta sexta, 22 e o bilionário israelense, de 64 anos, repleto de controvérsias e herdeiro de uma família de negociadores de diamantes, foi condenado por “corrupção de funcionários públicos estrangeiros”, num dos raros julgamentos de um cidadão de fora da Suíça, tido como o caso mais emblemático do setor de mineração em décadas. O esquema teria organizado a transferência de pelo menos 8,5 milhões de dólares de 2006 a 2012 para garantir o direito de explorar a mina de ferro Simandou, na República da Guiné.

Oficialmente, Steinmetz, conhecido com Beny, pagou 165 milhões de dólares ao Governo local pela concessão do que seria uma espécie de “Carajás Africana”. Mas, 18 meses depois, sua empresa causou indignação de membros do Governo do país africano ao fechar um acordo privado de parceria com a brasileira Vale, no valor de 2,5 bilhões de dólares, para explorar exatamente a mesma área.

Com o negócio, era como se tivesse - ganhado na loteria. Quase sozinho. De acordo com a promotoria pública de Genebra, o executivo se envolveu em um “pacto de corrupção” com o ex-presidente da Guiné, Lansana Conté, que esteve no poder de 1984 a 2008, e sua quarta esposa, Mamadie Touré, em parte através de contas bancárias suíças e empresas de fachada.

Nesta sexta, a Justiça suíça condenou Beny a cinco anos de prisão e determinou uma multa de 50 milhões de francos suíços, o equivalente a 308 milhões de reais, por corrupção dos servidores públicos e também por falsificação de documentos. O bilionário avisou que vai recorrer da sentença. Mas sua história rocambolesca mostrou um bastidor do mundo da mineração pouco conhecido pelos reles mortais.

A meta do suborno praticado por Beny era a de retirar a mina das mãos do conglomerado anglo-australiano Rio Tinto, uma concorrente mundial da Vale, e garantir que a Beny Steinmetz Group Resources (BSGR) ficasse com uma das maiores reservas de minério de ferro do mundo. A acusação aponta que, em 2008, a BSGR se aproveitou das últimas horas de vida do ditador Conté para obter a concessão dos blocos 1 e 2 da jazida de minério de ferro. No julgamento iniciado no começo deste mês, enquanto pela janela da sala do tribunal via-se a neve cair, a declaração de Steinmetz e o próprio julgamento ofereciam frestas a um mundo subterrâneo pouco acessível. No fundo, uma visão de uma tragédia geológica e sociológica.

Simandou possui mais de 2 bilhões de toneladas de minério de ferro de alto grau. Para especialistas, a descoberta teria a possibilidade de mudar o destino de uma nação. De fato, a pequena Guiné já era o local da maior reserva provada de bauxita, além de minas de ouro, diamante e urânio, sem contar o petróleo em suas costas. Ainda assim, a Guiné continua sendo um dos países mais pobres do mundo: 70% de sua população vive em favelas, apenas uma minoria da população tem acesso aos serviços de saneamento e metade sequer tem água potável.

A história revelada na corte mostra que a montanha de ferro está permeada por uma sucessão de acusações e pagamentos suspeitos, golpes e traições. E que, enquanto enriqueceu alguns, deixou milhões na miséria absoluta.
Traições, Moro e disputa com a Vale

Com perfil de Indiana Jones de terno, grisalho, olhos azuis profundos, um certo bronzeado, apesar do frio de oito graus negativos, Benjamin Steinmetz era apresentado por seus advogados como uma espécie de salvador da África. Ele admitiu que o ganho para sua empresa foi grande com o acordo com a Vale pela mina de Simandou. “Mas o maior ganho é para o país, pois existem impostos, royalties. Muda tudo”, disse. “Era um sonho para a Guiné”, disse.

Não à toa a Vale, que agora trava guerra judicial com o bilionário, foi outro nome que ecoou nas audiências em Genebra. Diante das revelações de corrupção nos últimos anos contra Beny, a gigante brasileira entrou com um processo no Tribunal de Arbitragem Internacional, em Londres, contra seu ex-parceiro israelense. A mineradora venceu o processo em 2019 e Steinmetz foi obrigado a pagar 2,2 bilhões de dólares em indenização. O tribunal londrino apontou que o empresário omitiu informações da Vale ao ingressar na sociedade, entre elas o pagamento de propinas na Guiné.

No início da semana, ao ser questionado pela promotoria de Genebra em plena audiência sobre sua derrota diante do caso apresentado pela Vale, Steinmetz fez questão de dizer que sua batalha não havia terminado contra os brasileiros. “Existem novas coisas que vão sair e mostrar que a Vale mentiu durante o processo [em Londres]”, disse. Ele avisou que vai recorrer da sentença desta sexta.

De fato, Beny não desistiu da batalha. Ele contratou, no ano passado, os serviços do ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro para ter mais munição contra a gigante brasileira. Em um parecer, Moro argumentou que a Vale não teria o direito de receber o dinheiro solicitado pelo tribunal londrino. Segundo o ex-juiz, se confirmada a apuração, “os executivos da Vale S/A teriam, em tese, prestado afirmações falsas e ocultado fraudulentamente do mercado e de seus acionistas as reais condições do negócio celebrado com a BSGR acerca dos direitos de exploração sobre Simandou e sobre os motivos da rescisão posterior”. 
Procurada, a empresa brasileira repetiu: “A Vale reitera que recebeu das cortes arbitral e judicial em Londres e nos Estados Unidos a permissão para prosseguir com a execução da sentença arbitral de 2 bilhões de dólares contra a BSGR”, declarou.

Durante o julgamento, o empresário foi questionado se, em 2008, já sabia que iria obter a concessão da montanha de ferro para revendê-la à Vale. Ele garantiu que não, e explicou que, antes da Vale, investidores chineses chegaram a ser contactados. Steinmetz também insistiu que, ao adquirir a concessão, não sabia com exatidão a dimensão do que existia na região. Steinmetz explicou que, inicialmente, a empresa brasileira queria ficar com 100% de seu projeto, o que foi recusado. Sua meta era de manter pelo menos 51% das ações na parceria. “Mas a Vale exigiu 51% para ela”, disse. “Ninguém sabia quanto valia.”

A juíza do caso, Alexandra Banna, também questionou sobre o motivo pelo qual um Governo de um país pobre aceitaria vender a concessão por 165 milhões de dólares em um projeto que, logo depois, valeria 2,5 bilhões. “É assim no mundo”, respondeu o empresário. Ele ainda explicou que é “comum” que empresas menores façam um trabalho de risco e, depois, para a exploração total, busquem parceiros. “É muito comum. Quase todos são assim”, disse.Símbolo da Vale em Nova York.BRENDAN MCDERMID / REUTERS

A história dos “Carajás Africana” é intrincada e cheia de idas e vindas. Em 2008, já doente e em seus últimos dias de vida, o ditador Conté retirou parte da concessão da área, então nas mãos da Rio Tinto, alegando que a empresa havia desrespeitado prazos de desenvolvimento. O direito iria para BSGR, de Steinmetz, no dia 9 de dezembro de 2008.

Menos de 15 dias depois, Conté morreu e militares tomaram o poder. A turbulência continuaria e, no ano seguinte, o chefe do novo Governo seria obrigado a fugir depois de uma tentativa de assassinato. Nada disso muda os planos estrangeiros de exploração.Dois anos depois, a Vale compra de Steinmetz 51% da BSGR, uma transação de 2,5 bilhões de dólares, com pagamento antecipado de 500 milhões de dólares ao israelense. A Vale teria gasto outros 700 milhões de dólares para preparar a mina para exploração.

Naquele mesmo ano, a Rio Tinto fecharia um acordo com a estatal chinesa Chinalco por mais de um bilhão de dólares para explorar o restante da região que permaneceu sob seu controle. Meses depois, a empresa pagaria 700 milhões de dólares ao Governo local para encerrar problemas jamais esclarecidos.

O que parecia ser o início de uma nova era para um dos países mais pobres do mundo logo chegaria ao fim. Em 2012, a Vale anunciou que estava desistindo da exploração, alegando o desabamento dos preços internacionais de minérios em um momento de profunda crise econômica internacional. Mas o maior golpe viria em 2014, quando o novo Governo da Guiné revelou, após uma auditoria, que a troca do controle sobre a montanha de ferro havia sido obtida por meio de um esquema de corrupção.
“Eu posso te dar muito dinheiro”

Agora, sete anos depois, em uma corte longe do país africano, os detalhes sobre essa acusação são apresentadas. Depoimentos de Mamadie Touré, esposa do ditador, indicaram que Steinmetz ofereceu dinheiro ao presidente. “Eu posso te dar muito dinheiro”, teria dito o empresário ao ditador.

Doente e fraco, porém, o presidente respondeu ao empresário de uma forma inesperada. “Eu não preciso de dinheiro. Olhe a sua volta”, afirmou, numa referência ao luxo no qual vivia. Conté tomou o poder em 1984 depois de um golpe militar e da morte de Sékou Touré, um outro ditador que havia transformado a ex-colônia francesa em um campo de reeducação stalinista. Touré ficaria conhecido por, em 1958, ter alertado Charles De Gaulle que preferiria viver na pobreza, mas sob liberdade.

Ao longo de décadas, Conté acumulou uma fortuna incompatível com a pobreza de seus cidadãos. Sua aparente recusa pelo suborno do magnata, porém, não significa que ele não aceitaria o dinheiro. O presidente teria indicado que daria a concessão para a BSGR com a condição de que o empresário prestasse ajuda para sua última mulher. “Eu farei por ela. Não por você”, teria dito o ditador ao empresário.

Ainda segundo a promotoria, ministros que foram contrários à manobra do Governo para transferir a concessão da Rio Tinto para Steinmetz acabaram sendo demitidos. Naquele momento, ficava evidente que Conté não tinha um controle sobre o país e nem sobre a gestão de suas concessões. Parte da influência sobre as decisões políticas passava, segundo a acusação, pelas esposas. Cada uma delas, porém, tinha sua função no Governo. O que nenhum dos atores envolvidos no processo imaginaria é que seria justamente a subornada que ameaçaria se transformar em um risco.

De acordo com a promotoria de Genebra, ao saber do acordo entre o empresário e a Vale pelo valor de 2,5 bilhões de dólares, a quarta esposa de Conté se rebelou. Ela havia recebido inicialmente apenas 4 milhões de dólares em propinas. Mas quando Steinmetz vendeu a concessão para os brasileiros, ela “entendeu que foi enganada” e que mina valia muito mais.

A já então viúva do ditador chegou a ensaiar levar o caso à Justiça. Mas a promotoria afirma que, para que desistisse, houve um acordo para que Touré recebesse mais dinheiro. Ela acabou ganhando o dobro.

Durante o julgamento em Genebra, o empresário negou as acusações de corrupção, alegou que Touré “mentia”, colocou questões sobre a veracidade de documentos e disse desconhecer todas as provas de e-mails apresentadas diante da corte. Frédéric Cilins, um dos intermediários Steinmetz e também acusado de corrupção, disse ao tribunal que a esposa do ditador cometia sacrifícios de animais e que apelava às “forças espirituais”. Segundo ele, num encontro que manteve com a mulher, ele foi levado até uma casa modesta por onde galinhas perambulavam pelo jardim.

Um dos reais obstáculos foi o fato de que nenhuma das dez testemunhas chamadas para o processo compareceram ao tribunal. Ao ser questionado pela juíza Alexandra Banna, Steinmetz admitiu: na África, é “recorrente” a “chantagem e a extorsão”. Segundo a acusação, as informações de centenas de páginas de documentos revelam um esquema altamente sofisticado. Em sua intervenção, o promotor Yves Bertossa foi claro sobre o que ele considerada como uma abundância de provas na forma de e-mails e transferências bancárias: “Temos tudo”. “Mas é a corrupção mágica. Ninguém pagou”, ironizou.

Entre os indícios, o promotor apontou como Touré esteve no jantar para marcar o acordo, cercada pela guarda presidencial. Além disso, a mulher teria um passaporte diplomático. “Porque ela teria isso se ela fosse criadora de galinhas?”, questionou o promotor. Num dos documentos, os envolvidos no negócio ainda falam sobre a necessidade de garantir que o “açúcar” chegasse à “Lady”. Para a promotoria, essa seria mais uma referência ao suborno para Touré.

Outro fator que pesa a favor da acusação é a prisão de Cilins nos EUA. A detenção num aeroporto da Flórida ocorreu depois que o executivo foi grampeado oferecendo dinheiro para Mamadie Touré para que ela destruísse qualquer documento que pudesse significar uma prova dos subornos. Se não bastasse, a própria esposa de Conté, para evitar um período longo de prisão nos EUA, optou por fechar um acordo e colaborar com as investigações e passou a gravar suas conversas com aqueles que tinham feito os depósitos a ela.
A mesma realidade da Europa há cem anos

De uma maneira irônica e trágica, porém, tanto a promotoria como o acusado têm a mesma opinião sobre o resultado do escândalo: hoje, é a população local da Guiné que continua em uma pobreza extrema. A montanha de ferro continua sem ser explorada e o futuro ficou uma vez mais adiado para a população local.

Para Beny, o que existiu com a morte do ditador Conté foi uma perseguição política contra ele. “Não queriam nossa empresa lá”, afirmou o israelense. “Eles vão ficar pobres, como estão agora. É uma tragédia o que ocorreu. Se a mina tivesse sido explorada, iria gerar quatro vezes o PIB do país. Dez anos depois, não há nada. O projeto parou por corrupção. Não minha. Mas de outras pessoas”, disse, sem dar explicações.Propaganda eleitoral da campanha de reeleição do presidente da República da Guiné, Alpha Condé, na capital do país, Conacri, em outubro de 2020. SADAK SOUICI / ZUMA PRESS / CONT / EUROPA PRESS

O promotor Bertossa, porém, insistiu que o que Beny fez foi desprezar as instituições de um país pobre. “Em 2005, quando a mina estava sob o controle da Rio Tinto, a população não recebeu nada. Em 2010, com BSGR, ela continua sem nada”, apontou. Mas o benefício ficou com a esposa do ditador e a empresa, que revendeu a concessão por 2,5 bilhões de dólares. “Eles foram os únicos a ficar com milhões. Isso não se faz”, disse. “Estamos em um dos países mais pobres do mundo, com um presidente doente, um país que sofria greves. Um país vulnerável e é nessa situação que a concessão é dada”, completa o promotor.

Seja qual for o destino de Beny, da esposa do ditador ou dos demais intermediários, a história revela como mais de uma década de combate à pobreza foi simplesmente desperdiçada, aprofundando o desespero de uma geração da Guiné. Sozinha, a montanha de ferro teria financiado o equivalente a 40 anos do Orçamento do país no setor da saúde. Isso num país onde a expectativa de vida é de apenas 57 anos. A mesma realidade da Europa há cem anos.