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quarta-feira, 30 de junho de 2021

Mas, o Coiso não ia garantir o gás a 35? - A LENHA OU A FOME


Sem dinheiro para comprar gás, moradores da periferia de Curitiba gastam horas catando madeira e voltam à era do fogão a lenha para poder cozinhar alimentos

FELIPPE ANÍBAL
24jun2021_08h10

Ivete e José Garcia Franco diante do fogão: “Se não for lenha não tem como fazer comida todo dia”, diz o aposentado - Fotos: Felippe Aníbal

Na casa do pedreiro Orlandir Ribeiro, um casebre de madeira na periferia de Curitiba, todos os sete moradores estão avisados: quem vir qualquer pedaço de madeira na rua tem que recolher e levar para casa, para transformar em lenha. Nas andanças pelo bairro, o filho mais velho, de 13 anos, é quem mais tem contribuído com a tarefa. Os pedaços de madeira são cortados, estocados e usados para alimentar o fogão a lenha instalado à esquerda da porta de entrada do domicílio. Ribeiro levou o utensílio para casa há três meses, recebido como pagamento por um serviço. Quando, na semana retrasada, o barraco onde a irmã dele vivia foi desmontado, a família se apressou para recolher as ripas e tábuas. E são elas que, desde então, mantêm em funcionamento o fogãozinho branco de duas bocas, solução encontrada pela família para fugir do peso do gás de cozinha no orçamento doméstico. Antes da lenha, a família dormiu algumas noites sem jantar, não por faltar comida, mas por não ter como cozinhar. Em outras ocasiões, recorreu ao fogão do vizinho para, em uma espécie de mutirão, preparar o arroz e feijão que tinha no armário.

Desde janeiro do ano passado, a família de Ribeiro mora no Complexo 29 de Outubro, uma área de ocupação irregular no bairro Caximba. A mulher dele, Marili Fátima dos Santos, aprendeu com a mãe a controlar o fogo de lenha. Adulta, precisou relembrar como administrar o tempo e a quantidade de madeira necessários para manter o calor da chama. A despeito de qualquer ideia romântica ou bucólica, cozinhar à lenha é tarefa exaustiva, que exige tempo e paciência. Sentada em uma cadeira, alimenta o fogo aos poucos, tentando controlar a temperatura. O feijão fica mais de duas horas no fogão, mas sem engrossar muito. Sem trabalho nem perspectiva, a dona de casa sabe que está distante o dia em que voltará a usar o gás liquefeito de petróleo (GLP). E já vai ensinando o filho mais velho, de 13 anos, a lidar com a lenha.

Na casa de madeira de cinco cômodos, além do casal, moram seus três filhos, uma irmã e uma sobrinha de Marili. O imóvel, coberto com telhas de cimento-amianto, foi comprado a prestação – sem documentos de escritura. Como eles têm que pagar as parcelas mensais de 500 reais da casa, pouco sobra para todo o resto. Nenhum dos adultos tem emprego fixo. Todos vivem dos “bicos” que Ribeiro faz como pedreiro e da assistência da sociedade civil ou do município. Mas com o dinheiro cada vez mais curto na pandemia, não havia como comprar gás para cozinhar o alimento recebido em doações. “Bem ou mal, comida sempre teve. A gente recebe bastante ajuda. Almoço, a gente pega na associação [de moradores]. Para a janta, tem a cesta [básica] que a gente sempre ganha e uma ou outra coisa que a gente compra. Mas, para o gás, não estava dando. Quase 100 reais um botijão… Comprar de que jeito?”, disse Marili. “Não dá pra comer arroz e feijão cru. É duro você ver a comida ali e não ter como cozinhar para os filhos, ter que ir dormir sem a janta… A lenha tem salvado a gente.”

No Caximba, cozinhar a lenha é a forma que muitos moradores encontraram para não passar fome depois que o preço do gás de cozinha chegou às alturas. O bairro fica a 11 km da Refinaria Getúlio Vargas (Repar), da Petrobras, no município vizinho de Araucária, responsável por 12% da produção nacional de derivados de petróleo e de onde sai todo dia GLP para os mercados do Sul e de Mato Grosso do Sul.
Marili Santos não sabe quando voltará a usar gás: “É duro você ver a comida ali e não ter como cozinhar para os filhos”

A vida real passa longe das promessas consecutivas do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que no primeiro ano da Presidência de Jair Bolsonaro o preço do botijão cairia pela metade. O botijão de 13 kg, que custava 69 reais, subiu para 85 reais. Só em 2021, a alta foi de 20,34%, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). Na segunda semana de junho, a Petrobras fez o 15º reajuste consecutivo no preço do GLP vendido às refinarias. No Paraná, o preço do botijão disparou de 71,57 reais, em agosto do ano passado, para 88,17 reais, agora, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP). Em Curitiba, o produto chega a ser vendido a 92 reais. A capital que tem o preço médio mais elevado é Macapá, no Amapá: 103,78 reais.

Aparte mais pobre do Caximba é a ocupação irregular do Complexo 29 de Outubro, uma área que começou a ser habitada desordenadamente em 2009, depois da desativação de um aterro sanitário que funcionou nos arredores por 21 anos. São sete vilas, todas num fundo de vale em que deságuam os rios Iguaçu e Barigui, ao longo do qual se estendem mais de 2 mil barracos de madeira ou residências de alvenaria. A maioria das ruas e vielas é de terra. Segundo um cadastramento da Companhia de Habitação Popular de Curitiba (Cohab), a renda familiar média é de 1,8 mil reais mensais. Ao longo do complexo, veem-se pontos com esgoto a céu aberto, valetas com despejo de lixo e muitas casas de palafita, o que fez com que, em 2018, em visita à comunidade, o apresentador Luciano Huck comparasse a ocupação à favela de Cité Soleil, em Porto Príncipe, no Haiti. A comunidade vive certa tensão desde o último abril, quando uma líder comunitária foi assassinada.

Durante a pandemia, o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do Caximba ampliou os atendimentos. Em maio, foram concedidos 893 auxílios de 70 reais em créditos para compras em armazéns mantidos pela prefeitura, com preços subsidiados. Antes da Covid-19, a média de concessões ficava entre 30 e 50 benefícios por mês. Até pelo Disk Solidariedade – um canal para efetivar e solicitar doações de roupas e móveis –, o Cras do Caximba já recebeu pedidos de moradores por fogões à lenha. Segundo a Cohab, de 1.178 famílias cadastradas na Vila 29 de Outubro – uma das comunidades do complexo –, 656 são consideradas de “alta vulnerabilidade social” e recebem o Bolsa Família. A prefeitura tem em execução um projeto-modelo para realocar 1,7 mil famílias do complexo no chamado Bairro Novo do Caximba. “São famílias em extrema vulnerabilidade social. O aumento do gás atinge essas pessoas de forma muito considerável, porque são famílias inteiras que vivem com pouquíssima renda”, observou a pedagoga e coordenadora do Cras do Caximba, Rosilda Aparecida Fernandes de Araújo. “Alguns nem têm o fogão a lenha, mas quando falta gás, improvisam um fogãozinho com tijolo”, acrescentou.

As pequenas chaminés dos fogões a lenha se multiplicam em todo o Caximba. Funcionário de uma loja de material de construção, José Graci dos Santos recolhe toda a madeira que encontra em canteiros de obras que visita a trabalho. Quando sobra tempo, aproveita o caminhão da empresa e leva o carregamento ao pai, o oleiro aposentado Pedro Francisco dos Santos, que mora a 11 km da loja, em um casebre de madeira. Com um machado ou um serrote, o velho Santos, de 69 anos, racha a madeira em ripas de 40 cm, que armazena em um caixote grande, na cozinha. Tem sido assim desde o fim de março do ano passado, quando foi obrigado a parar de fazer “bicos” como pedreiro ao sofrer um acidente de trabalho, deixando de ganhar um dinheirinho extra. Na última sexta-feira (18), no entanto, Santos estava havia mais de uma semana sem receber lenha. Coçava a cabeça, preocupado, ao olhar para a madeira que ainda restava. “Isso aqui só vai durar mais dois dias.” O fogão a gás continua instalado, mas com o botijão perto do fim. Não há dinheiro para comprar lenha, muito menos gás.

“Quando tive que parar com os bicos, cortei o gás. Se meu filho não vier [nos próximos dias], é torcer para o restinho de gás que ainda tem aí aguentar até ter mais lenha. Estamos desse jeito”, lamenta Santos. Sua única fonte de renda, a aposentadoria de um salário mínimo, está comprometida por empréstimos consignados. Os 680 reais que ele recebe por mês têm de manter a mulher, a neta, o marido dela e uma bisneta ainda crianças, que também moram sob seu teto. Dos adultos, ninguém tem renda fixa. Para alimentar a família no fogão a lenha, a mulher de Santos, Vera Lúcia, de 63 anos, se viu obrigada a mudar a rotina. Com a bisneta de um ano no colo, começa a preparar o almoço às 10 horas, com uma certa sensação de estar presa ao passado. Nunca consegue servir a mesa antes do meio-dia. A família mora em uma casa pertencente a uma olaria onde Santos trabalhou a vida inteira e que decretou falência no ano passado. No mesmo terreno amplo da empresa, há outras três residências, cujos moradores também abandonaram o GLP.
Vera Lúcia e a sensação de retrocesso: duas horas para cozinhar o almoço no fogão a lenha

“Aqui é só lenha. Parece os tempos em que eu era moça. Quando eu cheguei aqui, quarenta anos atrás, era na lenha. Agora, de novo. Naquela outra casa, tem sete pessoas. Também tiveram que parar com o gás”, disse Vera Lúcia, apontando para uma residência vizinha. “Virou normal. Tem que ter paciência, mas a gente vai vivendo como Deus manda”, resigna-se.

Moradores do Caximba há 48 anos, o aposentado José Garcia Franco, de 70 anos, e a mulher dele, Ivete Franco, de 69, têm recorrido ao fogão de lenha desde o ano passado. O casal se mantém com a aposentadoria de Franco, também mordida pelos empréstimos consignados: de um salário mínimo, ele põe a mão em 680 por mês. Ou seja, com o preço médio do gás de cozinha, o aposentado comprometeria 13% da renda familiar mensal se precisasse comprar um botijão. “Eu nunca imaginei que no fim da vida a gente fosse voltar a cozinhar a lenha por necessidade. O gás pesava muito para nós, porque tá louco de caro. Nunca pesou tanto. Gás, agora, é para uma coisinha ou outra, num caso de emergência”, disse José Franco. “[Cozinhar] à lenha é mais demorado. Mas a gente vai fazer o quê? Se acostuma. Se não for a lenha, não tem como fazer comida todo dia”, observou Ivete.

Segundo a FGV, o impacto que o gás exerce no orçamento das famílias pobres é mais que o dobro do sentido pelas pessoas que estão no topo da pirâmide de renda. Pelos dados da fundação, a compra do botijão compromete 2,18% do orçamento das famílias que ganham até 2,5 salários mínimos e 1,03% nas famílias que têm rendimento de até 33 salários.

Desde o ano passado, o Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro-PR/SC) tem feito edições pontuais da campanha “Gás a preço justo”, por meio das quais já doou 1,6 mil botijões a famílias carentes de comunidades de Curitiba e região metropolitana e entregou outros 450 botijões a preços subsidiados (a 40 reais). A categoria culpa pela alta do GLP a política de preços dos derivados de petróleo, atrelada ao dólar. “A gente tem visto várias pessoas que migram para lenha, para o álcool, que queimam materiais recicláveis em tijolinhos… A questão para eles é que eles não conseguem juntar o dinheiro para comprar o botijão. São pessoas que juntam 10 a 15 reais por dia, que ganham para comer”, disse o presidente do sindicato, Alexandro Guilherme Jorge.

O economista André Braz, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, explica que a escalada do preço do gás de cozinha está diretamente relacionada à variação cambial e, assim como outros derivados, à cotação do barril de petróleo no mercado internacional. Com as perspectivas de reaquecimento da economia global e busca internacional por investimentos, o especialista estima que haja aumento da demanda por energia, provocando novos reajustes. Além do gás de cozinha, o especialista alerta que outras fontes de energia – como a elétrica – vão pesar no bolso nos próximos meses, principalmente nas camadas mais pobres da população.

“O gás é só parte da história. A gente ainda não sabe a dimensão da crise hídrica, mas vai esse setor de energia como um todo, seja o botijão, seja a luz, vai ganhar um peso maior nas famílias em 2021 e 2022, trazendo grande desconforto às famílias de baixa renda. São gastos que não escolhem classe social, mas que têm um impacto muito maior para as famílias humildes”, observou Braz. “A saída seria pensar em matrizes energéticas com fontes mais baratas, como a eólica e a solar. Tem que pensar fora da caixa, mas tem que ser uma política de Estado, não de governo A ou B. Se a energia elétrica fosse mais baixa, famílias poderiam usar fornos elétricos e não a gás ou lenha”, exemplificou.

Na ocupação do 29 de outubro, Marili Santos não tem perspectivas de recorrer a outras fontes de energia, como o forno elétrico, embora ela não pague pela eletricidade – que é puxada a partir de um “gato”. A despeito das declarações recentes do ministro da Economia, Paulo Guedes, que sugeriu usar sobras de restaurante para alimentar os famintos, a dona de casa estima que não vá lhe faltar comida, mas que terá que continuar recorrendo à lenha. O fogão a gás mudou de lugar, para o cômodo ao lado, e está praticamente aposentado: só foi usado uma vez, em um dia em que a madeira estava úmida. Agora, com o frio que tem feito em Curitiba, a família tem se sentado à noite em torno do fogão a lenha que não só lhes garante o jantar como ajuda a aquecer a família. Enquanto lida com a lenha, Marili se recorda com saudade dos tempos em que era possível cozinhar com gás. Lembra que conseguia dar ao feijão o ponto que gosta. “O meu feijão fica muito bom, mas na lenha é difícil engrossar o caldo. Para a gente, o gás é uma coisa que ficou pra trás. Quando acabar o restinho do botijão, acho que não vamos poder comprar outro. Para a gente, gás virou um luxo. Engrossar o caldo do feijão virou luxo”, lamentou.

*
No Paraná, 822 mil famílias usam lenha ou carvão para cozinhar – 51 mil em Curitiba. Em todo o país, segundo o levantamento mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2019, são 14 milhões de famílias, um quinto da população brasileira.

https://piaui.folha.uol.com.br/lenha-ou-fome/

Mantida a proibição de pesca em pontes que dão acesso à Florianópolis


29/06/2021


O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) manteve a proibição de pesca nas pontes Colombo Sales, Pedro Ivo Campos e Hercílio Luz, que dão acesso a cidade de Florianópolis. A 3ª Turma da Corte determinou a adoção de providências para impedir a prática, tendo em conta o perigo que a atividade pesqueira representa para o tráfego nesses locais. A decisão unânime foi proferida em sessão telepresencial de julgamento ocorrida no final de maio (25/5).

O Ministério Público Federal (MPF) ajuizou a ação contra a União, o Estado de Santa Catarina e o Município de Florianópolis, pedindo a proibição. Segundo o MPF, a pesca traz riscos à navegação e à integridade física de quem passa por baixo das pontes. O juízo da 6ª Vara Federal de Florianópolis decidiu pela proibição, e a União interpôs um recurso junto ao TRF4.

“A decisão que determina a execução de medidas de impedimento da pesca nos locais objeto da ação civil pública, na medida da competência de cada um dos réus, parece, de fato, estar prestigiando solução que melhor resguarda a integridade física tanto das pessoas envolvidas com a pesca, quanto daqueles que se valem do trecho para o tráfego, incluindo aí agentes públicos em serviço”, afirmou a desembargadora federal Marga Inge Barth Tessler, relatora do caso na Corte.

segunda-feira, 28 de junho de 2021

Pai de Henry desabafa sobre cassação de Jairinho: “Amém. Era um psicopata”



Por unanimidade, Conselho de Ética e Decoro da Câmara de Vereadores votou pela cassação de Jairinho. Plenário vota na quarta-feira (30/6)



28/06/2021 13:54,atualizado 28/06/2021 13:54
Reprodução redes sociais


Rio de Janeiro – “Amém. Descobrimos que o vereador era um psicopata. Espero que seja cassado”, afirmou Leniel Borel, pai de Henry Borel, de 4 anos, ao Metrópoles, sobre o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara de Vereadores ter votado, por unanimidade, pela cassação do médico e vereador Jairo Souza Santos, o Dr. Jairinho, (sem partido), nesta segunda-feira (28/6).

“Vivo um filme de terror com a morte do meu filho. Mas sei que ele está no céu e um dia vamos nos encontrar”, desabafou Leniel. Ele é assistente de acusação no processo sobre a morte do garoto, que ocorreu no dia 8 de março. Jairinho, padrasto de Henry, e Monique Medeiros, mãe do menino, estão presos acusados do crime.

Na quarta-feira (30/6), o plenário da Câmara vota pela primeira vez a cassação de um mandato de vereador. Para Jairinho ser cassado são necessários 34 votos dos 51 parlamentares. “Vou buscar por Justiça até o fim, a sociedade precisa disso”, avaliou Leniel.heres, dais quais duas investigações foram concluídas. Os casos vieram à tona após a morte de Henry. O Metrópoles ainda não conseguiu contato com o advogado de Jairinho, Berilo Matias da Silva Neto, que atua no processo de cassação.

Jairinho e Monique foram denunciados pelo Ministério Público por tortura e homicídio duplamente qualificado com emprego de tortura pela morte do menino Henry Borel. O casal alegou acidente doméstico, mas laudo apontou 23 lesões por agressão.

Fonte: https://www.metropoles.com/brasil/pai-de-henry-desabafa-sobre-cassacao-de-jairinho-amem-era-um-psicopata

ANTES DA COVAXIN, MILHÕES EM PRESERVATIVOS


Desde 2019, governo pagou a empresa investigada na CPI quase 100 milhões de reais por preservativos femininos

MARTA SALOMON
24jun2021_15h02

Ilustração de Carvall


Além de intermediar a compra de doses da vacina indiana Covaxin, a empresa Precisa Comercialização de Medicamentos tem outro negócio com o governo Bolsonaro: a venda de preservativos femininos. A empresa investigada pela CPI da Pandemia por suspeita de favorecimento recebeu um total de 96,1 milhões de reais entre janeiro de 2019 e maio de 2021 pela venda desses produtos ao Ministério da Saúde, segundo registros do Tesouro Nacional. Só neste ano, foram pagos 9,6 milhões de reais, de um contrato maior, com novos pagamentos a serem feitos.


Pelos preços registrados nos documentos do Tesouro Nacional, os 96,1 milhões pagos à Precisa, matriz e filial, seriam suficientes para adquirir cerca de 40 milhões de preservativos femininos. Isso é mais do que o total de preservativos distribuídos pela Secretaria de Vigilância em Saúde desde 2019: 32,5 milhões de unidades em látex ou em borracha nitrílica, como os comprados por meio da Precisa. A empresa não era a única fornecedora. Questionado pela piauí, o Ministério da Saúde não informou se todos os preservativos pagos à Precisa foram entregues.

Intermediar a venda de 20 milhões de doses da vacina indiana Covaxin ao governo Bolsonaro renderia à Precisa 1,614 bilhão de reais. A dose sairia por 80,70 reais, o maior custo entre as vacinas contratadas pelo governo. O dinheiro foi reservado no orçamento da União nos últimos dias da gestão do general Eduardo Pazuello, mediante a assinatura do contrato, mas não chegou a ser desembolsado. O negócio mudaria a escala de ganhos do empresário Francisco Emerson Maximiano, sócio administrador da Precisa, no atual governo.

Maximiano se aproximou do Ministério da Saúde em outubro de 2017, inicialmente por meio da Global Gestão em Saúde, outra empresa presidida por ele. Antes de a Precisa começar a vender preservativos ao ministério, a Global recebeu dos cofres públicos 19,9 milhões de reais por medicamentos de alto custo comprados sem licitação e que não teriam sido entregues, segundo investigação do Ministério Público Federal. A empresa é cobrada a devolver o dinheiro. Os pagamentos irregulares foram feitos em novembro de 2017, quando o ministro da Saúde era Ricardo Barros (Progressistas-PR), atual líder do governo na Câmara.


O depoimento de Francisco Emerson Maximiano à CPI da Pandemia foi adiado para a semana que vem. Ele terá de dar explicações sobre o contrato de importação da Covaxin e o pagamento antecipado que teria solicitado ao ministério por doses da vacina. O imunizante indiano só teve o uso emergencial autorizado pela Anvisa neste mês.

A página da Precisa na internet dá destaque à recente parceria com a indiana Bharat Biotech, que desenvolveu a Covaxin. A Precisa se apresenta como representante exclusiva do laboratório indiano no Brasil e tem como sócios Maximiano e a Global Gestão em Saúde.

Procurada pela piauí, a Global não respondeu como devolverá o dinheiro pago antecipadamente por medicamentos não entregues. Questionada sobre a entrega dos preservativos comprados pelo Ministério da Saúde, a Precisa também não respondeu.

Fonte: 

Inseticidas tóxicos são usados ilegalmente na alimentação de gado em Goiás

Criadores estão usando inseticidas para sal e ração do gado. A polícia investiga o caso

28 de junho de 2021, 08:55 h Atualizado em 28 de junho de 2021, 09:21
(Foto: Reprodução (Youtube))
 
247 - Inseticidas considerados extremamente tóxicos estão sendo vendidos e utilizados de forma ilegal na alimentação de bovinos em Goiás. Criadores estão usando os produtos Dimilin, TrulyMax e Copa, todos com o princípio ativo diflubenzurom, para sal e ração do gado. Foi o que apontaram vídeo e áudio publicados pelo site Metrópoles. A Polícia Civil de Goiás investiga o caso.

Os agrotóxicos têm uso autorizado somente, por meio de pulverização, na agricultura, para controlar larvas e pragas.

O objetivo da utilização irregular seria o combate à chamada “mosca-do-chifre”. O parasita ataca os animais em locais de difícil alcance e suga o sangue dos animais. Porém a ingestão dessas substâncias pode prejudicar a saúde do animal e contaminar produtos que ele gera, como o leite e a carne.

Em agosto de 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fez a reclassificação toxicológica dos agrotóxicos no Brasil. De 702, 43 continuaram na categoria de extremamente tóxicos, a mais grave. O Dimilin e o TrulyMax seguiram nesse grupo.

Em uma das gravações, um vendedor ironizou a presença do símbolo de veneno na embalagem e disse: "esse veneno [que o povo fala] é só balela. Se não, eu não vendo o remédio".

O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO) reforçou que um produto sem o "registro para uso agrícola não deve ser aplicado para uso animal, ainda mais se tratando de ingestão".

Fonte: https://www.brasil247.com/regionais/brasilia/inseticidas-toxicos-sao-usados-ilegalmente-na-alimentacao-de-gado-em-goias

Empresa Precisa, intermediária da Covaxin, cresceu 6.000% no governo Bolsonaro


Intermediária na compra da vacina é ligada ao deputado Ricardo Barros (PP-PR) e teve acesso ao BNDES por meio de o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ)

28 de junho de 2021, 05:59 h Atualizado em 28 de junho de 2021, 06:55
(Foto: Reprodução)
 
247 – A empresa Precisa, atravessadora na compra da vacina indiana Covaxin, envolta por suspeitas de corrupção no Ministério da Saúde, disparou no governo de Jair Bolsonaro. "A Precisa Medicamentos teve um salto em seus negócios no governo do presidente Jair Bolsonaro. Antes dele, a firma havia assinado apenas um contrato, de R$ 27,4 milhões, para fornecer preservativos femininos ao Ministério da Saúde. Desde 2019, primeiro ano de Bolsonaro, a Precisa fechou ou intermediou acordos que somam R$ 1,67 bilhão. No atual governo, o empresário Francisco Maximiano, dono da Precisa, também ganhou acesso a ministérios, ao BNDES e à embaixada do Brasil na Índia", informam Vinícius Valfré, Julia Affonso, em reportagem publicada no Estado de S. Paulo.

"Foi o próprio filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o responsável por abrir as portas do BNDES ao empresário. Após a revista Veja revelar que o Zero Um intermediou uma reunião de Max, como é conhecido em Brasília, com o presidente do banco público, Gustavo Montezano, o senador admitiu ter 'amigos em comum' com o dono da Precisa", apontam os jornalistas. "Na sexta-feira passada, o deputado Luis Miranda (DEM-DF) afirmou à CPI da Covid no Senado que Bolsonaro atribuiu a Barros 'os rolos' envolvendo a compra da vacina Covaxin."

Fonte: https://www.brasil247.com/regionais/brasilia/empresa-precisa-intermediaria-da-covaxin-cresceu-6-000-no-governo-bolsonaro

quinta-feira, 24 de junho de 2021

TEM O DEDO DE BOLSONARO, TEM SUJEIRA - Madison Biotech, que tentou receber US$ 45 milhões antecipados pela Covaxin, é empresa de fachada, avalia CPI


De acordo com o vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), as informações colhidas pela comissão "apontam para que a Madison, usada pela Precisa para receber ilegalmente pagamento antecipado da venda da Covaxin, seja uma empresa de fachada"

24 de junho de 2021, 11:15 h Atualizado em 24 de junho de 2021, 12:58
Senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e a vacina Covaxin (Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado | Reprodução)
 
247 - Senadores da CPI da Covid acreditam que a Madison Biotech, empresa usada para tentar receber antecipadamente US$ 45 milhões da compra da Covaxin, seja uma empresa de fachada. Ela é sediada num endereço em que investigações internacionais já apontaram a existência de registros de 600 empresas de fachada, aproximadamente.

De acordo com o vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), "as informações que estamos colhendo apontam para que a Madison, usada pela Precisa para receber ilegalmente pagamento antecipado da venda da Covaxin, seja uma empresa de fachada". "No mesmo endereço dela, já foi denunciado que 600 empresas de fachada estão registradas", disse ao blog do Valdo Cruz.

Randolfe disse que a CPI vai levantar quem são os sócios da empresa, as transações financeiras dela e por quem foi criada em fevereiro do ano passado. "Essa mesma empresa está envolvida em irregularidades no Paraguai na venda da mesma vacina", afirmou o parlamentar.

A Comissão Parlamentar de Inquérito investiga a tentativa de aquisição da Covaxin pelo governo. A compra superfaturada do imunizante foi a única para a qual houve um intermediário e sem vínculo com a indústria de vacina, a empresa Precisa. O preço da compra foi 1.000% maior do que, seis meses antes, era anunciado pela fabricante.

Fonte: https://www.brasil247.com/brasil/madison-biotech-que-tentou-receber-u-45-milhoes-antecipados-pela-covaxin-e-empresa-de-fachada-avalia-cpi

Alexandre de Moraes manda prender Daniel Silveira por violação à tornozeleira

 

24 de junho de 2021, 16h20


Diante de repetidas violações ao monitoramento eletrônico imposto como substituição à prisão cautelar, o deputado Daniel Silveira deve retornar à prisão imediatamente. A ordem foi assinada nesta quinta-feira (24/6) pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Silveira violou monitoramento eletrônico e deve voltar à prisão
Maryanna Oliveira/Câmara dos Deputados

A decisão determina o retorno do parlamentar ao Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, onde esteve preso em fevereiro após divulgar um vídeo no qual atacava o STF e incitava a violência contra ministros da corte. Em março, a preventiva foi substituída por prisão domiciliar com monitoramento eletrônico.

Daniel Silveira praticou cerca de 30 violações apontadas pelos relatórios de monitoramento entre os dos meses de março e maio, demonstrando a falta de comprometimento com as medidas cautelares, entre elas o rompimento do lacre da tornozeleira, diversas descargas do aparelho e desrespeito à área de inclusão

O pedido de prisão foi feito pela Procuradoria-Geral da República em 5 de junho, por entender que diante das condutas daquele que deveria cumprir as medidas cautelares diversas da prisão, os fins intentados com sua decretação não estavam sendo alcançados.

O ministro Alexandre de Moraes inicialmente determinou abertura de inquérito para verificar essas violações, com imposição de fiança de R$ 100 mil, a qual não foi paga pelo deputado. Por isso, não vislumbra outras medidas aptas a cessar o periculum libertatis do denunciado (risco de deixa-lo em liberdade), o que indica a necessidade de restabelecimento da prisão.
Deputado chegou a ficar 1 dia e 19 horas com bateria da tornozeleira descarregada

Câmara dos Deputados

“Importante destacar que a possibilidade de restabelecimento da ordem de prisão foi expressamente consignada, tanto na decisão que inicialmente substituiu a prisão, como na decisão que estabeleceu a fiança”, destacou o ministro Alexandre de Moraes.

Em abril, a corte já havia aceitado denúncia contra o parlamentar por coação no curso do processo, incitação à animosidade entre as Forças Armadas e o Supremo e incitação à violência para impedir o livre exercício dos poderes da União.

Violações

Segundo a PGR, Daniel Silveira rompeu o lacre da tornozeleira quatro vezes e em cinco oportunidades abandonou a área limite a que estava autorizado transitar. O deputado também faltou ao agendamento na central de manutenção por mais de uma vez.

Além disso, deixou a bateria acabar por 22 vezes – duas delas por mais de um dia, chegando ao máximo de 1 dia e 19 horas sem monitoramento. O ministro Alexandre ressaltou que as violações ocorreram mesmo após a decisão que estabeleceu a fiança, no que entendeu como “total desrespeito à Justiça”.

A defesa apontou que os rompimentos não foram intencionais, que a bateria foi recarregada dentro do período de tolerância, e que as violações de área decorrem da ida do parlamentar o à central de manutenção.

 é correspondente da revista Consultor Jurídico em Brasília.

Revista Consultor Jurídico, 24 de junho de 2021, 16h20

Vice-ministro: EUA realizam ciberataques contra sistema de energia da Venezuela para ameaçar o país


AMÉRICAS

Nesta quarta-feira (23), o vice-ministro da Defesa da Venezuela, almirante Alexander Velásquez Bastidas, disse que os EUA atacam a rede de energia elétrica do país para intimidar a nação e viabilizar o tráfico de drogas.

"Os Estados Unidos da América realizam ciberataques para ameaçar o país [e] para permitir o tráfico de drogas e o comércio de drogas. Vocês sabem que o sistema de energia elétrica do país é vulnerável a tais ataques", disse Velásquez Bastidas na Conferência de Segurança Internacional de Moscou.

Em março de 2019, Venezuela foi atingida por dois apagões massivos. Ambos os casos foram provocados por incidentes na maior usina hidrelétrica do país, tendo sido atribuídos a ataques cibernéticos e "impacto mecânico". O ministro da Comunicação e Informação da Venezuela informou que os suspeitos foram detectados. Eles são residentes dos EUA, Espanha e Colômbia e os pedidos para sua captura foram enviados para a Interpol.

Recentemente, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que Moscou vai continuar ajudando a Venezuela a aumentar sua capacidade de defesa.

"Continuamos as negociações sobre o fornecimento de novos lotes de um ou outro tipo de arma de acordo com os desejos que nossos amigos venezuelanos nos transmitem com base em sua avaliação das necessidades de suas Forças Armadas e de segurança", acrescentou o chefe da diplomacia russa.

Lavrov também criticou as sanções impostas a Caracas como "ilegítimas", observando que Moscou continuará sua cooperação com o país sul-americano para benefício de ambos os lados.


Fonte: https://br.sputniknews.com/americas/2021062417694435-vice-ministro-eua-realizam-ciberataques-contra-sistema-de-energia-da-venezuela-para-ameacar-o-pais/

Está confirmado: "não vale um pequi roído" - STJ tranca inquérito por outdoors com mensagem contra Bolsonaro em Palmas

 

Por 

O Direito Penal é uma importante ferramenta conferida à sociedade, mas que deve ser acionado situações extremas, que denotem grave violação aos valores mais importantes compartilhados socialmente. Não deve servir, jamais, de mordaça nem tampouco instrumento de perseguições políticas aos que pensam diversamente do governo eleito.

Outdoor instalado em Palmas apontava que o presidente "não vale um pequi roído"
Acervo Tiago Costa Rodrigues

Com esse entendimento, a 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça deu provimento a Habeas Corpus para trancar o inquérito aberto a pedido do então ministro da Justiça, Andre Mendonça, contra o responsável por financiar outdoors na cidade de Palmas (TO) com mensagens contra o presidente Jair Bolsonaro.

O investigado arrecadou verba através de vaquinha para instalar na capital do estado imagens do presidente com a mensagem “Cabra à toa não vale um pequi roído. Palmas quer impeachment já!”.

Relator na 3ª Seção, o ministro Ribeiro Dantas explicou que a proteção da honra do homem público não é idêntica àquela destinada ao particular, pois ao aceitar a militância política, resigna-se com maior exposição e escrutínio de sua vida e personalidade, bem como de seus atos.

Inquérito foi um dos muitos pedidos pelo então ministro da Justiça, André Mendonça
Marcello Casal JrAgência Brasil

Assim, nessa hipótese, não basta criticar o indivíduo o sua gestão da coisa pública para ocorrer o crime. É necessário ter a intenção de ofende-lo.

“No caso concreto, as críticas restringiram-se à analise politica e subjetiva da gestão empregada pelo presidente, que, da mesma forma que é objeto de elogios para alguns, é alvo de críticas para outros. Por isso não estão demonstradas nos autos todas elementares do delito, notadamente o especial fim de agir”, concluiu o ministro.

Em outubro de 2020, um simpatizante de Bolsonaro já havia apresentado queixa-crime que pedia a investigação pela Lei de Segurança Nacional também pelos outdoors. A Polícia Federal iniciou as apurações, mas a Corregedoria Regional da PF e o Ministério Público Federal arquivaram o caso em outubro. Foi então que Mendonça pediu o inquérito.

Essa foi uma das muitas oportunidades em que o hoje Advogado-Geral da União usou a Lei de Segurança Nacional para embasar pedido de investigação contra desafetos políticos do presidente Bolsonaro. Como mostrou a ConJur, o uso desmedido da LSN reacendeu o debate  sobre a reforma da mesma no Congresso, ações no Supremo Tribunal Federal e pedido para que a Procuradoria-Geral da República averigue abuso de autoridade.

 é correspondente da revista Consultor Jurídico em Brasília.

Revista Consultor Jurídico, 23 de junho de 2021, 14h52

quarta-feira, 23 de junho de 2021

TJSC confirma pena a PM que agrediu com chute no rosto e por trás suspeito baleado


A 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC), em matéria sob a relatoria do desembargador Ernani Guetten de Almeida, confirmou nesta terça-feira (22/6) a condenação de policial militar pelo crime de lesão corporal, por agredir suspeito baleado e que não oferecia risco, conforme o vídeo de câmeras de segurança, com um chute no rosto. Com a violência da agressão, que foi cometida por trás, o suspeito desmaiou no meio-fio sob o viaduto da BR-101, km 202, no bairro Areias, em São José.

Na primeira hora da madrugada de 3 de fevereiro de 2017, segundo a denúncia do Ministério Público, oito jovens estavam em um veículo e não obedeceram à ordem de parar de uma viatura policial. A perseguição teve início no bairro Monte Cristo, em Florianópolis, e seguiu até o município vizinho. Tudo porque o motorista estava com o limite superior ao permitido e não queria ter o automóvel apreendido, conforme os depoimentos.

Em determinado momento, os policiais atiraram contra o veículo e atingiram quatro ocupantes do carro em fuga - três mulheres e um homem -, além de um dos pneus. Como o motorista não atendia o pedido dos caronas para parar, uma das passageiras se jogou do automóvel em movimento. Quando o veículo parou por causa do pneu furado, o motorista continuou a fuga a pé. Os ocupantes desceram e, quando o jovem sentou no meio-fio, com três tiros na perna, recebeu um chute “bem forte”, de acordo com testemunha, e desmaiou. A abordagem foi flagrada pelas câmeras de monitoramento da via marginal da BR-101.

Condenado por lesão corporal à pena de três meses de detenção, em regime inicial aberto, o policial recebeu, nos termos do Código de Processo Penal Militar, a suspensão da pena pelo prazo de dois anos, condicionada à prestação de serviços à comunidade. Inconformado, o militar recorreu ao TJSC. Ele pleiteou a absolvição, com a alegação de que agiu "sob o manto da legítima defesa e do estrito cumprimento de dever legal".

O relator destacou que o PM estava armado e o número de agentes policiais, considerando os que chegaram para oferecer retaguarda, era superior ao número de ocupantes do carro. A decisão foi unânime. “Logo, na hipótese, não é possível cogitar legítima defesa, uma vez que inexiste comprovação de injusta agressão, atual ou iminente, ao apelante ou a terceiro, nem de que foram utilizados os meios necessários para repeli-la, pressupostos esses para o reconhecimento da excludente de ilicitude almejada. Da mesma forma, também descabe o reconhecimento do estrito cumprimento de dever legal, porquanto nenhuma norma jurídica legitima a atuação policial realizada nos moldes como a do apelante, que, como visto, agrediu injustificadamente o ofendido (nome da vítima) e se utilizou de violência de forma abusiva”, anotou o relator em seu voto (Autos n. 0002365-12.2017.8.24.0091).


QUATRAGEM - Uma dança pitoresca, da qual nunca vira alguém falar

 A quatragem é a dança pitoresca dos nossos camponeses, dança favorita do roceiro em seus dias de festa, e que faz as delicias do tropeiro nos serões do rancho após as fadigas da jornada. 

Dança vistosa e variegada, entremeada de cantares e tangeres, cantiga maviosa, já freneticamente sapateada ao ruído de palmas, adufes e tambores. Sem ter o desgarre e desenvoltura do batuque brutal, não é também arrastada e enfadonha como a quadrilha de salão; ora salta e brinca estrepitosa e alegre, ora se requebra em mórbidas e compassadas evoluções. 

Como o próprio nome indica, forma-se de um grupo de quatro pessoas. A música é desempenhada pelos dançantes que além de uma garganta bem limpa e afinada, devem ter nas mãos ao menos uma viola e um adufe. 

Há uma quantidade incalculável de coplas para acompanhar esta dança, e a musa popular cada dia engendra novas. São pela maior parte toscas e mesmo burlescas e extravagantes; todavia algumas há impregnadas dessa maviosa e singela poesia, que só a natureza sabe inspirar. -  BERNARDO GUIMARÃES -  Trecho de O seminarista.

segunda-feira, 21 de junho de 2021

O QUE É UM BOFEDAL?

 BOFEDAL (Ver BANHADO, CHARCO)

Antiga técnica indígena para uso de água ajuda Peru a enfrentar seca

  • Erica Gies

  • BBC Future

'Bofedal' nos Andes

CRÉDITO,

ERICA GIES

Legenda da foto,

No alto dos Andes, uma área pantanosa chamada 'bofedal' ajuda a reter a água o ano todo e a abastecer vilarejos localizados mais abaixo, incluindo Lima, durante a estação de seca

 

Antes da pandemia de covid-19, no inverno austral, dirigi ao norte de Lima, subindo o altiplano peruano até o vilarejo de Huamantanga.

Estava acompanhado de cientistas que estudam o uso de uma técnica de 1,4 mil anos por agricultores locais para ampliar a disponibilidade de água na longa estação de seca.

Em nosso caminho pelo estreito Vale do Rio Chillón, uma pequena faixa de plantações verdes em meio a muralhas de rochas fulvas, cruzamos o rio e começamos a subir uma estrada de terra íngreme de pista única à beira da encosta de uma montanha.

A cerca de 3.500 m, chegamos a um platô com campos de abacates, lúpulo, batata e feijão e, finalmente, ao vilarejo, onde construções de dois andares de tijolos de barro e concreto ladeavam ruas estreitas de terra. Burros, cavalos, vacas, cães e pessoas zanzavam por ali.

A Cordilheira dos Andes é um dos seis lugares do mundo em que surgiram civilizações complexas, motivadas pela precipitação sazonal, que provou ser um catalisador para inovações hídricas repetidas vezes.

As pessoas nutriam conhecimentos profundos sobre a água e o subsolo, implementando estratégias que ainda surpreendem — e alguns ainda usam.

Hoje, os peruanos modernos estão implantando novamente esse conhecimento antigo e protegendo ecossistemas naturais, como áreas úmidas em alta altitude, para ajudar o país a se adaptar às mudanças climáticas.

É um dos primeiros esforços do mundo para integrar a natureza à gestão de recursos hídricos em escala nacional.

O Peru está entre os países com maior insegurança hídrica do mundo. A capital Lima, onde vive um terço da população do país, se estende por uma planície desértica plana e tem apenas 13 mm de precipitação por ano.

Para sustentar a população, conta com três rios que nascem nos Andes, que se erguem atrás da cidade, atingindo 5.000 m em apenas 150 quilômetros.

Os moradores de Lima não estão sozinhos na dependência de água das montanhas. Estima-se que 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo podem depender da água que flui das montanhas até 2050, em comparação com 200 milhões na década de 1960.

A escassez de água no Peru está piorando como resultado da mudança climática. Como muitos testemunharam, as geleiras das montanhas derreteram e a estação das chuvas diminuiu para apenas alguns meses.

Já a companhia de água de Lima, Sedapal, só consegue abastecer os clientes 21 horas por dia — e Ivan Lucich, presidente da Superintendência Nacional de Serviços de Saneamento (Sunass), diz esperar um declínio ainda maior nos próximos anos.

Um relatório de 2019 do Banco Mundial que avaliou os riscos de seca no Peru concluiu que as estratégias atuais da capital para administrar a seca — barragens, reservatórios, armazenamento subterrâneo — serão insuficientes já em 2030.

Vários anos atrás, desesperados por segurança hídrica, os líderes do país fizeram algo radical: aprovaram uma série de leis nacionais exigindo que as concessionárias de água investissem um percentual das contas de seus clientes em "infraestrutura natural".

Cavalo na vila de Huamantanga

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No vilarejo andino de Huamantanga, os moradores ainda usam um antigo sistema de canais, conhecido como 'amunas', para armazenar a água da estação chuvosa no subsolo

 

Estes fundos — chamados Mecanismos de Retribuição por Serviços Ecossistêmicos (MRSE) — são destinados a intervenções hídricas baseadas na natureza, como restaurar antigos sistemas humanos que trabalham com a natureza, proteger áreas úmidas e florestas em altas altitudes ou introduzir pastoreio rotativo para proteger as pastagens.

Antes, era considerado uso indevido de dinheiro público se as concessionárias investissem na bacia hidrográfica. Agora é exigido.

À medida que a mudança climática provoca alterações na água em todo o mundo, as estruturas convencionais de controle hídrico estão deixando cada vez mais a desejar.

Essas intervenções humanas tendem a confinar a água e acelerar o processo, eliminando as etapas naturais quando a água fica estagnada no solo. As soluções baseadas na natureza, por outro lado, abrem espaço e tempo para essas fases lentas.

Ao pesquisar para meu próximo livro sobre o assunto, passei a pensar nestas soluções como "slow water" ("águas lentas").

Assim como no movimento slow food ("comida lenta"), as abordagens "slow water" são feitas sob medida: trabalham com paisagens, climas e culturas locais, em vez de tentar controlá-los ou mudá-los.

Também fornecem vários outros benefícios, incluindo armazenamento de carbono e habitat para plantas e animais ameaçados.

Por essas razões, a conservação de áreas úmidas, planícies aluviais e florestas montanhosas para a gestão de recursos hídricos é um movimento que cresce em todo o mundo, inclusive entre instituições como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Banco Mundial.

Mas a maioria dos projetos até agora são pequenos e desconectados, então as pessoas tendem a considerá-los como recursos secundários interessantes, em vez de uma ferramenta fundamental.

É semelhante à visão de longa data em relação à energia solar e eólica que está rapidamente se tornando ultrapassada: são boas, mas acreditava-se que não eram capazes de desempenhar um papel importante no que se refere a atender nossas demandas energéticas.

O programa nacional do Peru, no entanto, tem o potencial de demonstrar quão eficazes as soluções "slow water" podem ser, quando implementadas na escala das bacias hidrográficas.

No entanto, apesar das políticas inovadoras do país, colocá-las em prática tem sido um processo lento, em parte devido à alta rotatividade no governo — incluindo cinco presidentes em cinco anos.

Outro grande obstáculo, e que a maioria dos países enfrenta, é superar as práticas arraigadas no setor hídrico para tentar algo novo.

Em 2018, a Global Affairs Canada e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional se comprometeram a investir US$ 27,5 milhões (R$ 140 milhões) em cinco anos para ajudar o Peru a tirar do papel seu programa inovador.

O dinheiro foi para a Forest Trends, uma ONG que trabalha em soluções naturais para a água no Peru desde 2012.

Seu diretor executivo, Fernando Moimy, defende há muito tempo a ideia, primeiro no governo como ex-chefe da Sunass, depois por meio da Forest Trends.

A iniciativa da ONG, chamada Infraestrutura Natural para Segurança Hídrica, visa fornecer conhecimento técnico, afirma Gena Gammie, diretora adjunta do projeto.

Flor da planta Distichia muscoides

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A Distichia muscoides, com suas pequenas flores alpinas, é uma planta dominante nas áreas úmidas dos 'bofedales' que ajudam a paisagem a reter água

 

Agora a iniciativa está ganhando força. Quarenta das 50 concessionárias de água do país estão coletando fundos MRSE — e arrecadaram mais de US$ 30 milhões.

A Sunass espera que sejam angariados pelo menos US$ 43 milhões até 2024. Esse dinheiro está sendo investido em mais de 60 projetos em todo o país.

Entre os apoiados pela Sedapal, serviço de abastecimento de água de Lima, estão projetos que fortalecem uma antiga técnica de armazenamento de água e protegem os raros bofedales, áreas úmidas de alta altitude.

'Semear' água

Foi isso que me levou à viagem pelas montanhas peruanas ao norte de Lima, até o vilarejo de Huamantanga, junto a cientistas que estão estudando as antigas técnicas de gerenciamento de água da região.

As pessoas que vivem aqui são camponeses: membros de um coletivo agrícola. Elas usam canais de água chamados amunas — palavra em quechua que significa "reter" — para desviar o fluxo dos córregos das montanhas na estação chuvosa e direcioná-lo para bacias de infiltração naturais.

A estratégia, inventada por um antigo povo chamado Huari, ainda é praticada aqui e em alguns outros vilarejos andinos.

Como a água se move mais lentamente no subsolo à medida que atravessa o cascalho e o solo, ela emerge encosta abaixo dos mananciais meses depois, quando os camponeses a coletam para regar suas plantações.

Como grande parte da irrigação penetra no solo e acaba voltando aos rios que abastecem Lima, revitalizar as amunas abandonadas espalhadas pelas montanhas poderia prolongar a água na estação de seca para os moradores das cidades também. Daí o interesse da Sedapal.

Na praça principal de Huamantanga, em frente a uma igreja católica, conheci Katya Perez, pesquisadora social da ONG Condesan, que estuda como as pessoas interagem com os sistemas de água.

Ela estabeleceu uma relação com os camponeses aqui, reunindo seus conhecimentos e tradições para manter as amunas.

Por exemplo, eles realizam cerimônias de limpeza e bênção dos canais, porque sabem que a remoção anual de lodo permite que continuem funcionando bem.

As amunas ficam acima da vila, a cerca de 4.500 m, então alugamos cavalos dos moradores e cavalgamos pela puna ensolarada, vegetação local repleta de pequenos arbustos e pés de tremoços com flores roxas.

As montanhas se acumulam uma atrás da outra em um aparente infinito, e um pássaro gigante — possivelmente um condor andino — paira sobre nós. Finalmente, avisto uma amuna.

Construída com a disposição cuidadosa de rochas, tem cerca de 60 centímetros de largura e alguns metros de profundidade, serpenteando pelos contornos sinuosos das colinas.

Áreas pantanosas nos Andes

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Os 'bofedales' têm plantas de baixo crescimento e bem adaptadas às condições locais de 'verão todos os dias e inverno todas as noites'

 

É julho, meados da estação de seca, e a amuna está quase sem água, tendo levado seu tesouro hídrico para uma depressão rochosa em forma de tigela, onde se infiltrou no solo.

A camponesa Lucila Castillo Flores, uma senhora de saia e chapéu, compara o que acontece aqui a "semear" água.

"Se semearmos a água, podemos colher a água", diz Flores.

"Mas se não semearmos a água, teremos problemas."

Pouco antes do desvio para a amuna, os pesquisadores instalaram uma pequena barragem, uma placa de metal colocada verticalmente no córrego com um entalhe em forma de V.

Ferramenta clássica para monitorar a vazão da água, esta barragem cria um pequeno lago, elevando o nível da água para que passe pelo "V" mesmo quando está baixo, explicou um dos cientistas, o engenheiro hídrico Boris Ochoa-Tocachi, diretor-executivo da empresa de consultoria ambiental ATUK, com sede no Equador, e consultor da Forest Trends.

A altura da água é medida com um transdutor de pressão, um instrumento submerso no lago formado pela barragem. Quanto maior o peso no sensor, significa mais água.

Os dados coletados aqui serviram de base para um estudo sobre as amunas que fez parte da tese de Ochoa-Tocachi na universidade Imperial College, em Londres, publicada na Nature Sustainability em 2019.

Montados de volta nos cavalos, descemos parte da montanha e paramos em um manancial abastecido por amunas. Aqui, a água que estava viajando pela rocha e pelo solo brotou em um córrego borbulhante.

"Você está vendo, é realmente muita água em comparação com o fluxo que vimos na barragem", diz Ochoa-Tocachi, com óbvia satisfação.

Uma das coisas mais marcantes sobre as amunas é que os camponeses sabem qual canal abastece qual manancial, o que significa que eles entendem o caminho que a água segue no subsolo.

As entrevistas de Perez com a população local documentaram esse conhecimento, que foi transmitido de geração para geração.

Pesquisador Boris Ochoa-Tocachi

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O pesquisador Boris Ochoa-Tocachi parado sobre uma 'amuna', agora com pouca água, após ter enviado seu fluxo para as bacias de infiltração

Os urbanistas tendem a não levar em consideração o conhecimento dos povos rurais e indígenas, diz Ochoa-Tocachi, mas os pesquisadores foram capazes de confirmar as informações deles, classificadas como "muito precisas", ao adicionar rastreadores aos fluxos das amunas e, na sequência, usar detectores sensíveis para monitorar o surgimento dessas moléculas nos mananciais.

Esta descoberta "nos surpreendeu", afirma Ochoa-Tocachi.

"Isso mostra que podemos usar o conhecimento nativo para complementar a ciência moderna e fornecer soluções para os problemas atuais."

Ele e os coautores do estudo analisaram modelos de como revitalizar as várias amunas abandonadas espalhadas pelo altiplano andino poderia aumentar o abastecimento de água para Lima, que já está cerca de 5% abaixo — um déficit de aproximadamente 43 milhões de metros cúbicos.

Concentrando-se apenas na maior bacia hidrográfica das três que abastecem Lima, eles calcularam um desvio de cerca de 35% dos fluxos de água para as amunas na estação chuvosa, deixando o resto no rio para nutrir a vida aquática.

Eles partiram do pressuposto que metade da água desviada também iria para o meio ambiente, nas profundezas do subsolo ou liberadas na atmosfera por meio de plantas.

No entanto, o que restou foram 99 milhões de metros cúbicos — mais do que o dobro do que Lima precisa.

Eles também mostraram que a água desviada passa entre duas semanas a oito meses no subsolo, com um atraso médio de 45 dias.

Diminuir a velocidade dessa água aumentaria o fluxo dos rios no início da estação de seca em 33%, adiando a necessidade de Lima recorrer a seus reservatórios.

Como os engenheiros que tomam decisões sobre projetos hídricos exigem dados concretos como estes para implementar projetos, esta pesquisa é fundamental para mudar a forma como gerenciamos a água. Ela traduz a eficácia dos projetos "slow water" para a língua que os engenheiros falam.

Água emergindo nos Andes

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Esta barragem mede quanta água está fluindo para a 'amuna', enquanto mais abaixo, a água que emerge da fonte subterrânea também é monitorada

 

Incentivada pelas descobertas, a Sedapal planeja investir US$ 3 milhões no fortalecimento de 12 amunas acima de Huamantanga, construindo mais duas e revitalizando as pastagens vizinhas, conta Oscar Angulo, coordenador de água e saneamento para investimento em infraestrutura natural da Forest Trends.

Áreas encharcadas

A Sedapal e outras concessionárias de água no Peru também estão investindo em ecossistemas naturais.

Saindo de Lima novamente, desta vez rumo ao nordeste ao longo do Rio Rimac, acompanhei um grupo de especialistas regionais em água a uma turfeira tropical rara de alta altitude chamada bofedal, que são áreas pantanosas.

Exclusivos dos Andes, os bofedales são dominados por plantas bem adaptadas às condições tropicais de montanha de "verão todos os dias e inverno todas as noites", prosperando sob o sol intenso, ventos fortes, um período breve de semeadura, congelamento diário e neve sazonal.

As plantas de baixo crescimento, firmes, mas esponjosas, são pontilhadas com pequenas flores em forma de estrela e entremeadas com pequenas poças de água.

As turfeiras, incluindo os bofedales, têm uma porcentagem maior de matéria orgânica do que outros solos, o que as torna excepcionalmente boas em reter água.

Lucila Castillo Flores

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Lucila Castillo Flores, fotografada aqui em sua casa, explica como as pessoas da comunidade mantêm as 'amunas' para fornecer água durante o ano

 

Embora as turfeiras cubram apenas 3% da área terrestre, elas armazenam 10% de toda a água doce (e 30% do carbono no solo) do mundo.

Na paisagem íngreme da Cordilheira dos Andes, os bofedales reduzem o escoamento da água, evitando inundações e deslizamentos de terra.

À medida que as geleiras que antes armazenavam água derretem, os bofedales desempenham um papel ainda mais importante na retenção de água para abastecimento na estação de seca.

Por permanecerem verdes o ano todo, os bofedales também são focos de biodiversidade, sendo frequentados por pássaros e mamíferos, incluindo veados, pumas, raposas andinas, gatos-dos-pampas, vicunhas e guanacos, ancestrais selvagens das domesticadas alpacas e lhamas.

Depois de horas dirigindo em direção às nuvens, chegamos a um ponto a cerca de 4.500 m de altitude, onde o vale se ampliou, exibindo um lago sazonal e um bofedal. Mas algo estava terrivelmente errado.

Quadrados de solo de 1,5 m de comprimento e 30 cm de profundidade haviam sido retalhados em um padrão quadriculado por caçadores de turfa para vender aos viveiros de plantas em Lima.

Esta turfa, depositada ao longo de milênios, foi destruída em poucos minutos. Os fragmentos restantes, recém-expostos, cheiravam a decomposição devido à oxidação da matéria orgânica.

Área pantanosa nos Andes

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Este bofedal acima da cidade andina de Carampoma foi atacado por caçadores de turfa

Nos deparamos com a superfície irregular do vale, com nossos passos levantando poeira vermelha.

Mas em março, as autoridades percorreram a longa estrada até o vilarejo local, Carampoma, para a cerimônia de lançamento do investimento de US$ 850 mil da Sedapal para restaurar a área devastada e proteger os bofedales saudáveis ​​que restaram.

O programa vai trabalhar em parceria com a comunidade para afastar a pastagem das áreas afetadas e introduzir a vigilância dos bofedales.

O Peru tem leis para proteger as áreas úmidas, mas a aplicação da legislação é um tanto turva.

Para esclarecer a situação, a Forest Trends está se reunindo com autoridades e desenvolvendo um manual para as comunidades, para que a população local saiba o que fazer (como tirar fotos e obter coordenadas de GPS) e quais autoridades notificar, diz Angulo.

Para restaurar as áreas úmidas danificadas, as pessoas vão reintroduzir plantas colhidas cuidadosamente de um local próximo e garantir o fluxo de água para nutri-las.

Os cientistas não sabem quanto tempo vai demorar para restaurar a turfa, mas Angulo espera que a natureza possa começar a se recuperar por conta própria rapidamente com um pouco de ajuda.

Em todos esses projetos, os benefícios para a comunidade local são vitais, explica Angulo, então eles estão motivados a manter as práticas de gestão da terra e da água que, em última instância, beneficiam a bacia hidrográfica como um todo.

Sem isso, "dois a três anos depois, não será sustentável", afirma.

Buracos no solo feitos por caçadores de turfas

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Quando os caçadores de turfa cortam fragmentos do 'bofedal', as plantas vizinhas secam e morrem

 

Embora cada país tenha questões hídricas, paisagens e culturas únicas, outros lugares podem aprender com a experiência do Peru.

Os europeus que dependem dos Alpes e os asiáticos que contam com os Himalaias para obter água também estão perdendo suas geleiras para as mudanças climáticas e vão precisar de novas maneiras de captar água das cheias para proteger casas e negócios e armazenar água para uso posterior.

A atividade humana que degrada a capacidade da terra de reter água pode ser revertida, seja o desmatamento nas montanhas do Quênia ou o sobrepastoreio no oeste dos Estados Unidos.

Expandir as soluções "slow water" pelas bacias hidrográficas tem uma curva de aprendizado íngreme, mas a seriedade da crise climática exige uma ação rápida.

"Não temos todas as informações que adoraríamos ter hoje para tomar as melhores decisões possíveis. Mas podemos tomar boas decisões", diz Gammie, acrescentando que o monitoramento científico está permitindo que eles "aprendam e aprimorem à medida que avançam".

O financiamento para esta reportagem foi fornecido pela National Geographic Society.


Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-57443837