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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA - "Caminhos e fronteiras"

Simplesmente espetacular. Um digno repositório de informações que prende o leitor, de modo impressionante.
Comprei-o hoje e já li quase a metade, tamanha a atração que está exercendo sobre a minha curiosidade.
Obra escrita em 1956,  relata crenças e crendices que envolvem animais silvestres bem conhecidos nossos, vítimas indefesas da medicina primitiva, da má fé de certos religiosos, dentre outros seres humanos impiedosos. 
São surpreendentes, por exemplo, as informações sobre  o uso de parte dos corpos de animais como a anta, a paca, a capivara, o gambá, o veado,  o jacaré, a anhuma, assim como de conhecidos exemplares da nossa flora, em misturas destinadas à cura de doenças, dentre outras incontáveis "tradições". 
Discorre ainda sobre métodos de caça e pesca, esta com uso de ervas tóxicas, por exemplo. 
E, no seu todo, serve para demonstrar como foi oportuno o surgimento da ecologia, com suas exigências de preservação, que acabaram por influenciar uma poderosa legislação repressora dos abusos que eram cometidos impunemente, de sorte a conservarmos o pouco que ainda resta dos reinos animal e vegetal, não destruído pela sanha predatória do ser humano "civilizado".  
Recomendo a obra em destaque, sem medo de errar, aos que ainda conseguem ler, posto que tal capacidade está a desaparecer, de maneira acelerada e assustadora, em face da preguiça mental reinante. 
Uma curiosidade sobre os mosquitos, em tempos pretéritos: noticia o eminente historiador  que eram tantos os insetos que os cavalos fugiam do campo, intrometiam-se pelas casas e colocavam as cabeças sobre os fogões, para se livrarem das picadas.

QUE NOJO!!! - A moral e o passado: o “rótulo” Bolsonaro cresce na América Latina


por Vinícius Mendes
22 de novembro de 2019


Da Argentina a Honduras, todos os países têm suas versões do presidente brasileiro – que o rodeiam não apenas no nome, mas também no fenômeno social

Quando o empresário coreano-boliviano Chi Hyun Chung irrompeu por uma das ruas que dão acesso à Praça Kantuta, na região do Pari, zona central de São Paulo, no final de setembro, ninguém o notou de imediato. A chuva fina que caía sobre a cidade naquele domingo havia afugentado a maioria dos frequentadores que, normalmente, lotam o local – principal reduto de lazer dos bolivianos que vivem na capital paulista – neste dia da semana. À boca pequena, se dizia que a visita num dia daquele era benéfica, porque não permitiria que ele aglomerasse muita gente ao seu redor. Quando, enfim, foi percebido, a praça se dividiu: uma parte das pessoas correu para pedir autógrafos, fazer vídeos ou tirar selfies com ele, enquanto outra passou a gritar o nome do então presidente da Bolívia, Evo Morales. De longe, enquanto eu via a aglomeração, uma conhecida surgiu correndo em minha direção gritando com um sorriso irônico: “Você viu o ‘Bolsonaro boliviano?’”. Naquela mesma semana, os jornais bolivianos Pagina Siete e Los Tiempos publicaram uma pesquisa de intenção de voto para as eleições do final de outubro com uma surpresa: o empresário asiático, candidato havia um mês, aparecia na quarta posição, com 3% das escolhas.

No final de outubro, depois da polêmica recontagem dos votos e o início da crise boliviana que se arrasta até agora, pouca gente percebeu que Chi, que concorreu pelo Partido Demócrata Cristiano (PDC), terminou as eleições com 8,78% dos votos totais. Em números reais, 539 mil eleitores queriam que ele fosse o presidente do país entre um universo de 6,1 milhões de pessoas. No Brasil, ele somou 16,72% dos votos – mais de 5 mil pessoas.

Em junho, quando o Pagina Siete e o Los Tiempos publicaram uma das primeiras pesquisas eleitorais, o nome de Chi Hyun Chung sequer aparecia entre os entrevistados. A polarização entre Evo Morales e o ex-presidente Carlos De Mesa era fragilmente desafiada pelo senador Óscar Órtiz, um empresário de Santa Cruz de la Sierra que despontava em terceiro lugar. Em um período de dois meses, no entanto, a campanha de Chi cresceu nas redes sociais principalmente por causa das polêmicas morais: no começo de setembro, ele disse – para desespero da entrevistadora do canal ATB – que as mulheres precisam ser educadas para evitar agressões dos homens. “Enquanto o homem fala uma vez, a mulher fala dez. Não é correto”, afirmou.

Segundo a Cepal, a Bolívia é o país com o maior índice de feminicídios da América do Sul, com dois assassinatos deste tipo registrados a cada 100 mil mulheres.

Dias antes, ele havia chamado a atenção da imprensa local ao afirmar que pessoas LGBT sofrem de um “complexo” e que necessitam de tratamentos psiquiátricos para “determinar se o problema que elas têm é oriundo de casa, que se arrastam do passado, ou se têm algum complexo por causa de uma violência sexual ou física na família”. 
 
Foi nessa mesma época que ele advertiu que a crença na Pachamama – a Mãe Terra, uma das principais deidades dos Andes sul-americanos até hoje – é uma “artimanha do Diabo”. Não tardou em ser chamado pela imprensa internacional, como o jornal espanhol El País, de “Bolsonaro boliviano”.

Pastor da Igreja Presbiteriana da Bolívia, de origem sul-coreana, Chi Hyun Chung, de 49 anos, era a última expressão de um setor que, dias depois, faria explodir uma crise política e social na Bolívia, e na qual ele mesmo seria atropelado por um outro candidato a “Bolsonaro”: o empresário Luis Fernando Camacho, presidente do Comitê Cívico Pró Santa Cruz, um dos bunkers históricos da oposição ao MAS, de Evo. Antes de entrar no antigo palácio presidencial, o Quemado, com uma bíblia nas mãos – imagem que rodou o mundo minutos depois de ser publicada em seu perfil –, ele passou dias tentando entrar em La Paz com o livro cristão e uma carta de renúncia ao então presidente. “Ele legitima sua posição autoritária com o discurso religioso no estilo Bolsonaro”, disse o sociólogo boliviano Julio Cordova à BBC.

Jeanine Añez, a autoproclamada presidente da Bolívia, teve o mesmo gesto: no dia em que jurou o cargo, saiu do palácio com uma Bíblia erguida. A agência France Presse, em um trabalho de checagem, mostrou tweets de Añez em 2013 afirmando que a festa do ano novo aimará, geralmente comemorado em junho, é um ritual satânico. Em outro, chama Evo de “pobre índio”.

Figuras como a de Chi Hyun Chung e Luis Fernando Camacho estão crescendo na América Latina à sombra de suas semelhanças com o presidente brasileiro, que lhes oferece as ambições políticas, os discursos desbocados e preconceituosos, uma visão de mundo binária e, principalmente, o rótulo do sobrenome, que entrega legitimidade ao mesmo tempo em que perpetua Bolsonaro como uma espécie de totem da direita conservadora da região, sem que ele trabalhe para ser essa liderança. Assim, o fenômeno social adquire os traços de um rosto que lhe cai bem. Compreender os “Bolsonaros latino-americanos” – e a maneira como eles assumem, felizes, o rótulo – a partir dessa perspectiva depende de duas posturas: a primeira é entendê-los como porta-vozes de setores específicos das diferentes sociedades latino-americanas que, ainda que muito parecidas entre si, guardam também suas próprias lutas no campo dos discursos e das demandas – Camacho, por exemplo, é o símbolo tanto de uma oposição conversadora amparada na moral, semelhante ao Brasil, como também expressa uma divisão fortíssima entre o Oriente boliviano, dito “branco”, e o Ocidente, no altiplano, dito “índio” – ou colla –, que rememora os tempos coloniais do país.
Assim, se não se pode falar em uma única direita conservadora na América Latina, pode-se pensar em um fio condutor de todos os discursos direitistas que se tornaram legítimos nos últimos anos nas sociedades e nas políticas institucionais. Ele se prende e cresce, ao meu ver, quando do choque entre as demandas sociais em disputa no centro do Ocidente – notadamente as pautas identitárias – e uma moralidade impregnada há muito tempo nas relações sociais neste lado do mundo. O crescimento do protestantismo pentecostal nas últimas décadas e sua carga conservadora foi só o elemento final dessa combustão. América Invertida (1943), de Joaquín Torres García

A segunda postura, interna à primeira, é levar em conta o passado – notadamente o militar. Isso se explica no exemplo de José Antonio Kast, chamado pela imprensa internacional de “Bolsonaro chileno” desde as eleições presidenciais de 2017, no Chile, por sua visão positiva da ditadura militar chilena, inclusive argumentando que a queda de Salvador Allende, presidente eleito em 1970 e deposto pelo Exército três anos depois, foi na verdade um “ato do povo”. Naquela campanha eleitoral, a sua frase mais impactante foi dizer que, se Augusto Pinochet, ditador do país entre 1973 e 1990, estivesse vivo, votaria nele. Na mesma época, afirmou ainda que a ditadura fez muitas coisas em prol dos direitos humanos no país. “Quando eu falo de melhorar a saúde, quando falo de melhorar a qualidade da educação, quando falo de melhorar a economia, também estou vendo a melhora da qualidade de vida das pessoas, que também são direitos humanos positivos.” Apesar das frases polêmicas, ele terminou a eleição, em que concorreu de forma independente, com 7,93% dos votos (523 mil escolhas entre 6,5 milhões de eleitores).

Segundo um informe produzido por uma comissão pública em 2011, vale dizer, a ditadura chilena deixou 40 mil vítimas entre mortos, desaparecidos e torturados entre 1973 e 1990.


Kast também defende a legalização da posse de armas e se coloca absolutamente contra qualquer tipo de aborto (“O único inocente em um abuso sexual é a criança que vai nascer”). Nas manifestações de outubro no Chile, ele manteve-se ao lado do presidente Sebastián Piñera, mas classificou todos os protestos como “atos terroristas” e, na mesma linha, chamou os manifestantes de “delinquentes”. Até 2016, ele era deputado pela Unión Demócrata Independiente (UDI), um partido de direita que foi de 11 cadeiras no parlamento em 1989 para 37 duas décadas depois. Atualmente, 30 das 155 cadeiras do Congresso chileno estão nas mãos da UDI, enquanto Kast trabalha em um novo partido, o Republicano, que vai disputar as próximas eleições, em 2020. O “Bolsonaro chileno” acredita que vai disputar o segundo turno pela primeira vez.

No caso dele, mais do que a moralidade e o aspecto religioso, o que existe é uma disputa intensa pela ressignificação de um passado que a produção acadêmica e a indústria cultural pareciam indicar que já estava consensualmente simbolizado: Kast é o porta-voz de uma parte da população que, quase três décadas depois, finalmente pode dizer publicamente que o período pinochetista foi bom, seja econômica, social ou moralmente. A ascensão dele é, assim, a ascensão de um discurso outrora tampado à fogo baixo. Então, o rótulo de “Bolsonaro chileno” lhe cabe: enquanto um se orgulha de ser o candidato de Pinochet, o outro trouxe de volta à vida um homem cuja fama está em ter sido responsável pelo desaparecimento e morte de cerca de sessenta pessoas durante o período militar brasileiro.

No Uruguai, o “Bolsonaro local”, o general do Exército Guido Manini Ríos, também faz parte dessa ressignificação da história: ele entrou em colisão com o atual presidente, Tabaré Vázquez, por criticar as punições aos militares que participaram da repressão na ditadura uruguaia (1973-185), dizendo que “seguir julgando o Exército pelo que aconteceu há quarenta anos é a mesma coisa que julgar o que os militares fizeram na Guerra do Paraguai”. Ele terminou a eleição de outubro com 10,88% dos votos (260 mil entre 2,4 milhões de eleitores), número insuficiente para disputar o segundo turno, mas semelhante à proporção de gente que, nos outros países, demonstrou apoio eleitoral ao discurso da direita conservadora. Em uma campanha que rodeou o aumento da violência, a solução que Manini deu foi “mão dura e bala” – leia-se armar a população e dar mais liberdade para a polícia atirar em suspeitos. Em tempo: o rótulo de “Bolsonaro uruguaio”, dado pela imprensa, foi prontamente admitido por ele, ao contrário de Luís Lacalle Pou, candidato da direita que vai disputar o segundo turno presidencial neste domingo, dia 24 de novembro.

A Argentina, por sua vez, se viu em uma espécie de briga pelo rótulo oferecido pelo presidente brasileiro, apesar de ambos ocuparem o mesmo espectro moral: de um lado Alfredo Olmedo, um ex-deputado que, entre as polêmicas, defendeu a construção de banheiros exclusivos para homossexuais em discotecas de Salta, seu reduto político. Em dezembro, ele viajou ao Brasil para se encontrar com Bolsonaro e encheu seus perfis nas redes sociais com fotos ao lado dele, voltando à Argentina se dizendo o “Bolsonaro argentino”. Do outro, o militar reformado Juan José Centurión, que critica o afastamento da sociedade atual dos “valores fundacionais da Argentina”, que ele centralizou no que chamou de “direito à vida” – sua campanha se amparou na crítica à legalização do aborto, que foi discutida no ano passado no país diante de uma grande atenção da imprensa internacional. Recentemente, ele disse em uma entrevista que se considera o equivalente argentino de Jair Bolsonaro. Saiu das urnas agora com 1,7% dos votos.

Eles não são os únicos que brigam pelo nome do totem: o senador Paraguayo “Payo” Cubas ficou conhecido no Paraguai pelos cintarazos (cintadas, literalmente) que desfere nos adversários políticos, além de reiterar que o seu país precisa de uma nova ditadura, que só não seja “tirana”. Da mesma forma que os demais, é chamado na imprensa local de “Bolsonaro paraguaio” – e ele gosta. Em Honduras, o presidente eleito em junho deste ano, Nayib Bukele, de 36 anos, também é chamado de “Bolsonaro” do seu país, mas por seu discurso antissistêmico.

Onde ainda não há Bolsonaros, há quem tema a aparição deles. “‘Ele’ já está na mente dos conservadores que, ante a delinquência crescente, pedem mais polícia e celebram quando ela mata um delinquente”, escreve um colunista do jornal Acento, da República Dominicana. “Os cidadãos devem se afastar dessa perigosa mensagem de que ‘todo político é mal’. Se chegar um Bolsonaro aqui, (…) será pela irresponsabilidade de incendiar e não reconstruir”, advertiu recentemente outro articulista, do El Telegrafo, do Equador. Nos jornais colombianos, salvadorenhos e guatemaltecos também se encontram pequenas versões locais (e temores de ascensões nacionais) do presidente brasileiro.

O fenômeno não é supérfluo: os partidos e os candidatos da direita conservadora latino-americana ainda crescem nos parlamentos, nas redes sociais, nos discursos em disputa e no imaginário de boa parte das populações – como se viu nas últimas eleições e eventos na região. É preciso, antes de tudo, entendê-los. E, então, partir para o combate.

Vinícius Mendes é jornalista, cientista social e mestrando do departamento de Sociologia da USP..
 
Fonte: https://diplomatique.org.br/a-moral-e-o-passado-o-rotulo-bolsonaro-cresce-na-america-latina/

POLUIÇÃO DO AR - Nova Deli é uma “câmara de gás” ao ar livre, denunciou Supremo Tribunal indiano


Desde Outubro que uma intensa nuvem negra paira sobre a capital indiana. 
Juízes dizem que a Índia se tornou uma “piada” mundial e que as pessoas vivem “pior” que no “Inferno”. “É melhor matá-las todas, arranjar explosivos e explodir tudo de uma vez”.


Ricardo Cabral Fernandes 26 de Novembro de 2019, 20:45




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O Supremo Tribunal indiano deliberou que o Governo federal e os executivos regionais dos estados vizinhos de Nova Deli terão de indemnizar os cidadãos se forem incapazes de acabar com a poluição que torna infernal a vida das pessoas. Em declarações incomuns, os juízes acusaram-nos de transformar a Índia num motivo de “piada” mundial por as pessoas estarem a viver numa “câmara de gás” gigante e ao ar livre. Mais vale “matá-las todas de uma vez”, afirmaram os magistrados.

“Porque são as pessoas obrigadas a viver numa câmara de gás? É melhor matá-las todas de uma vez, arranjar explosivos e explodir tudo de uma vez. Porque devem as pessoas sofrer desta maneira?”, questionou o juiz Arun Mishra, um dos dois magistrados responsáveis pelo caso. “Nova Deli tornou-se pior que o Inferno”, continuou o magistrado.

Desde Outubro que os 18 milhões de habitantes de Nova Deli, uma das cidades mais poluídas do mundo, sufocam sob uma nuvem gigante de fumo, fruto da poluição das gigantescas fábricas da cidade e de queimadas nos campos agrícolas, comuns por esta altura do ano. 
 
O nível de poluição atingiu valores recorde na capital e chegaram a ser 19 vezes superiores aos estipulados pela Organização Mundial de Saúde como saudáveis, diz o India Today. A BBC refere que o índice de qualidade do ar estava na segunda-feira em 339, quando os níveis saudáveis são entre 0 e 50. Esperava-se que as chuvas dos próximos dias limpassem o ar. 
 
17 anos de vida perdidos

Já foi necessário cancelar e desviar voos e quem se movimenta fica com os olhos a arder, tornando-se obrigatório usar máscaras – cinco milhões foram distribuídas no mês passado. E o mais provável é o aumento de casos de doenças respiratórias. Os habitantes de Nova Deli podem ter perdido 17 anos de esperança média de vida por causa dos níveis de poluição registados em Novembro, calculou a revista indiana.

“A poluição do ar é o quinto factor de risco para a mortalidade em todo o mundo. É responsável por mais mortes que a malnutrição, alcoolismo e inactividade física. Todos os anos, morrem mais pessoas por doenças relacionadas com a poluição do ar do que por ferimentos em acidentes rodoviários ou malária”, lê-se no relatório State of Global Air Report de 2019.

A situação apenas piorou e o Governo indiano declarou o estado de emergência. Ordenou a paragem de empreendimentos de construção civil e diminuição do número de carros a circular na cidade, retirando quatro milhões das estradas. As semanas foram passando e as medidas temporárias não foram mais que isso: não existe uma estratégia para o médio e longo prazo, acusa o Supremo Tribunal. A poluição na Índia já é pior que na China e das 30 cidades mais poluídas, 22 encontram-se no país do subcontinente indiano, diz a BBC.

Quanto vale uma vida?

Há anos que o Supremo Tribunal se dedica a alertar para a ameaça da poluição, mas sem grandes consequências práticas. No início deste mês avisou que as “pessoas não podiam ser abandonadas à morte”. E, agora, questiona o próprio modelo de desenvolvimento indiano, pilar da sua ascensão económica. “O Governo não consegue providenciar ar limpo e água potável aos seus cidadãos na capital do país. Qual é o objectivo de todo este desenvolvimento? Qual é o objectivo de se ser uma potência mundial?”, questionou o juiz Mishra.

“A vida não é assim tão barata na Índia e o [Governo] terá de pagar. Quanto vale a vida de uma pessoa?”, questionou o juiz. Se o tribunal ordenar o pagamento de indemnizações, terá de estipular um valor individual e é bem possível que os estados simplesmente não tenham verbas suficientes para as pagar.

O Supremo Tribunal considera os governos regionais dos estados do Punjab, Haryana, Deli e Uttar Pradesh responsáveis por se ter descontrolado a situação, exigindo-lhes medidas drásticas num espaço de dez dias. Caso contrário, terão de pagar uma indemnização a cada um dos seus habitantes, uma vez que os juízes consideram que os indianos têm o direito constitucional de viverem livres de poluição.

“A vida não é assim tão barata na Índia e o [Governo] terá de pagar. Quanto vale a vida de uma pessoa?”, questionou o juiz. Se o tribunal ordenar o pagamento de indemnizações, terá de estipular um valor individual e é bem possível que os estados simplesmente não tenham verbas suficientes para as pagar.
 
Por agora, o tribunal pediu às autoridades dos estados com maior poluição que lhe enviem detalhes sobre os níveis de poluição do ar e da água e quais os seus planos. E convocou os seus chefes de governo para que explicassem pessoalmente a situação.


As políticas de curto prazo do Governos central e dos executivos regionais deixaram milhões de indianos à mercê das consequências das alterações climáticas, diz o New York Times. De acordo com o Banco Mundial, metade dos 1,3 mil milhões de indianos verão as suas “condições de vida prejudicadas” até 2050. A época das monções é cada vez mais imprevisível, e em Setembro, o mês mais húmido do último século, as cheias mataram 1600 pessoas. Mas os longos períodos de seca, que ninguém sabe quando terminam, impedem e destroem culturas, o único meio de subsistência para milhões de indianos. E os rios, quando não são vítimas da seca, ficam poluídos com as descargas de tóxicos industriais.
tp.ocilbup@sednanref.odracir 
 
Fonte:https://www.publico.pt/2019/11/26/mundo/noticia/nova-deli-camara-gas-ar-livre-denunciou-supremo-tribunal-indiano-1895143

Combate às alterações climáticas é a nova estratégia para o crescimento da UE, diz Von der Leyen

Parlamento Europeu aprova a equipa de comissários constituída por Ursula Von der Leyen com 461 votos a favor, 157 contra e 89 abstenções. Novo executivo europeu inicia funções no próximo domingo.

A nova presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu esta quarta-feira no Parlamento Europeu proceder a uma “verdadeira transformação” da Europa nos próximos cinco anos, sustentada num novo Green Deal para o combate às alterações climáticas que será a “estratégia para o crescimento” e desenvolvimento económico, e a base para a promoção do emprego, da inovação e da liderança da União Europeia no palco global.
“A minha mensagem é simples. Estamos preparados. Se fizermos bem o nosso trabalho, a Europa de 2050 será o primeiro continente neutro em carbono, e o continente com o melhor equilíbrio entre mercado e social”, antecipou. “A tarefa não é fácil, mas inspiremo-nos no espírito optimista e voluntário que há trinta anos fez cair a Cortina de Ferro”, assinalou Ursula von der Leyen, que homenageou os “milhões de europeus” que hoje continuam “a querer fazer a diferença” nas suas vidas diárias.
“Nós também queremos fazer a diferença. Foi nesse espírito que construí a minha equipa, e que hoje vos peço a vossa confiança”, apelou ao plenário do Parlamento Europeu, no final do discurso em que apresentou os 26 comissários que designou para o seu colégio.
Com a promessa de apoio das três maiores famílias políticas do Parlamento Europeu, a aprovação estava garantida. Dos 707 eurodeputados presentes, 461 votaram a favor, 157 contra e 89 abstiveram-se: a alemã conseguiu o apoio de 61,6% dos eurodeputados, mais do que o seu antecessor, Jean-Claude Juncker obteve em 2014 (56,3%). A nova Comissão Europeia entrará em funções no dia 1 de Dezembro: “Vamos ao trabalho”, pediu Ursula von der Leyen, que na sua intervenção enumerou várias iniciativas que pretende desenvolver em conjunto ou colaboração com os eurodeputados.

"Crise existencial"

O “trabalho” tem uma direcção muito clara: Von der Leyen quer ver a União Europeia assumir a liderança mundial no combate às alterações climáticas, com a promoção de uma “transição geracional para a neutralidade carbónica, que terá de acontecer de uma forma justa e inclusiva ou não acontecerá”, precisou.
Para a próxima líder comunitária, não se pode perder nem mais um segundo na resposta à emergência climática. “Vemos Veneza debaixo de água, as florestas em Portugal a arder e as colheitas da Lituânia reduzidas a metade por causa da seca”, disse Von der Leyen, referindo-se a uma “crise existencial” que obriga a uma resposta imediata. 
“Quanto mais depressa nos mexermos, melhor será para os nossos cidadãos e as nossas empresas”, prosseguiu, repetindo que “o Green Deal vai permitir reduzir emissões e criar empregos, iniciar e desenvolver novas tecnologias e abrir novos mercados”. O objectivo de Von der Leyen é ter a União Europeia a fixar os “padrões globais” em termos de transição energética.
Von der Leyen reconhece que esta mudança vai exigir “um investimento maciço, a nível europeu e nacional, ao nível público e privado”, mas já delineou um roteiro. O plano passa pela conversão do Banco Europeu de Investimentos num banco verde e parceiro fundamental para p financiamento climático. E passa pelo desenho do novo quadro financeiro plurianual da União Europeia, que segundo a presidente da Comissão Europeia, não pode ser “um mero exercício de contabilidade”, mas precisa de ser “significativamente modernizado” para canalizar o investimento para as novas políticas que respondem aos principais desafios e às prioridades do executivo.
A futura comissária portuguesa, Elisa Ferreira, terá aí um papel fundamental, assinalou, que lhe entregou a pasta da Coesão e Reformas que o primeiro-ministro António Costa ambicionava. “Não há melhor pessoa do que ela” para “apoiar os Estados membros com os investimentos direccionados às reformas estruturais” e à transição para a nova economia verde, garantiu.
O pelouro de Elisa Ferreira engloba a política de coesão, com a gestão dos fundos estruturais que apoiam a convergência entre os países da UE e o desenvolvimento regional, mas terá novas responsabilidades, nomeadamente de construção e gestão de dois novos instrumentos financeiros: um fundo para a transição justa, que apoiará os esforços de reconversão energética das regiões mais dependentes de indústrias poluentes, e ainda o novo instrumento para a convergência e competitividade, vulgo orçamento da zona euro, que está a ser desenvolvido no Eurogrupo pela mão de Mário Centeno.
Ursula von der Leyen enumerou as tarefas e responsabilidades de cada um dos membros da sua equipa, e elogiou todos os comissários individualmente e em grupo. “Formámos uma equipa excepcional”, considerou, notando que os seus comissários vêm de diferentes culturas e gerações e diferentes famílias políticas. “Temos professores, agricultores, autarcas, ministros, médicos, diplomatas, engenheiros e empresários“, enumerou, e “quase, quase tantas mulheres como homens”, salientou.

A presidente prometeu constituir uma equipa executiva com o mesmo número de homens e mulheres e por pouco não conseguiu: com ela, serão 12 mulheres e 15 homens. “Fizemos progressos, mas precisamos de fazer mais”, notou, assegurando que o objectivo de paridade de género não se resume ao colégio de comissários mas será estendido aos seus respectivos gabinetes e a “todos os níveis” das estruturas da Comissão.
Mas a primeira Comissão “quase-quase” paritária será também a primeira a entrar em funções sem que um dos Estados membros esteja representado no colégio. Em campanha para ser reeleito primeiro-ministro do Reino Unido, o líder do Partido Conservador, Boris Johnson, resistiu a todos os apelos de Bruxelas para nomear um candidato a comissário — obrigando o executivo a tomar medidas para poder iniciar trabalho a 27 e não a 28.
A solução foi avançar com um processo de infracção contra o Reino Unido, por violação do artigo 17.º do Tratado de Lisboa que determina que colégio é composto por um comissário de cada Estado membro, indicado pelo respectivo governo nacional. “Como sabemos, há um membro da família quer quer deixar a nossa União. Nunca escondi que serei sempre uma remainer, mas respeitaremos sempre a decisão do povo britânico”, disse Von der Leyen, que prometeu preservar o “laço inquebrantável” com o Reino Unido e cooperar com o Governo de Londres “para encontrar soluções para os nossos desafios comuns”
 
Fonte: https://www.publico.pt/2019/11/27/mundo/noticia/combate-alteracoes-climaticas-sera-nova-estrategia-crescimento-europa-promete-von-der-leyen-1895246

Omar Shakir foi deportado de Israel por denunciar empresas como Airbnb: “Estão a intimidar os defensores dos direitos humanos"

26.11.2019 às 22h45


JACK GUEZ


É o diretor da ONG Human Rights Watch no Médio Oriente e foi expulso de Israel na segunda-feira por supostamente apoiar o boicote àquele país. “Isto acontece para bloquear o trabalho de organizações de direitos humanos mas teve o efeito oposto”



Hugo Tavares da Silva


Não é nada de novo na vida de Omar Shakir. O norte-americano, oriundo de uma família iraquiana, é o diretor da ONG Human Rights Watch (HRW) no Médio Oriente e foi expulso de Israel na segunda-feira. Shakir, que trocou as primeiras mensagens com o Expresso quando seguia no avião rumo à Europa, já havia sido barrado no Egipto, Síria e Bahrein. Seguem-se agora encontros com seis governos europeus e uma participação no Parlamento Europeu sobre a “sistemática repressão de Israel contra os palestinianos”.

Comecemos pelo início. Shakir, de 34 anos, descreve que investiga e denuncia temas variados que vão desde a expansão de colonatos ilegais às detenções e atos de tortura “arbitrários” por parte de Hamas e Governo de Benjamin Netanyahu, intervindo ainda em questões que dizem respeito a género, sexualidade e direitos das mulheres. “É um regime discriminatório contra os palestinianos, que restringe os seus movimentos e direitos”, resume ao Expresso.

Esta história começou em maio de 2018. O Ministério do Interior israelita deu ordem a este representante da Human Rights Watch para abandonar o país em 14 dias, por este supostamente apoiar o movimento BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), no fundo um boicote contra Israel, contava então o “The Guardian”. Israel aprovou uma lei, em 2017, que bania a entrada de estrangeiros que apoiassem esse boicote. Na altura, a ONG com sede em Nova Iorque dizia que aquele país procurava simplesmente fazer desaparecer os críticos e os registos sobre abusos relacionados com direitos humanos.

JACK GUEZ

Um ano antes, o visto de Shakir para entrar no país foi-lhe negado. “O Governo israelita tem tentado bloquear, nos últimos três anos, o trabalho da HRW”, explica agora ao Expresso. “Rejeitaram o visto alegando que a HRW era uma organização de propaganda e não de direitos humanos. O Governo reverteu essa medida mas rapidamente começou a investigar o meu estatuto. Diziam que aderimos ao boicote e queixavam-se particularmente do trabalho feito pela nossa organização nos colonatos ilegais em West Bank. Não tomámos posição relativamente ao [movimento] BDS, mas instámos as empresas a respeitarem os direitos humanos. Fui deportado por isso.”

Uma das empresas na mira da HRW foi a Airbnb. A ONG denunciou, em novembro, que aquela plataforma oferece alojamentos turísticos na Cisjordânia, um território ocupado desde 1967, discriminando os palestinianos. Cinco meses depois de várias queixas apresentadas na justiça norte-americana, conta este artigo do “El País”, a empresa com sede em São Francisco recuou e fez desaparecer os anúncios para alojamento local, que se localizavam nos colonatos ilegais construídos na região.

A decisão do Governo de Netanyahu esteve congelada graças à justiça do país e arrastou-se até 5 de novembro, altura em que o Supremo finalmente concordou com a deportação de Shakir, por este funcionário da HRW ter supostamente apoiado o tal boicote. De acordo com as autoridades israelitas, esta será a primeira deportação tendo como base a lei aprovada em 2017.


“Não vamos parar. E não seremos os últimos”, escreveu no Twitter o ativista. O tribunal deu 20 dias a Omar Shakir para abandonar o país. E assim foi: no dia 25 de novembro, na segunda-feira, aquele norte-americano com sangue iraquiano estava enfiado num avião para a Europa.

“Israel deportou-me no seguimento dos esforços para se imiscuir no trabalho das ONG”, continua a contar ao Expresso. “Não é só contra a HRW, é uma mensagem para as outras organizações: a liberdade de expressão em Israel, hoje, não inclui a defesa básica para os direitos dos palestinianos. A mensagem é: se conseguimos tirar daqui a HRW através do trabalho que faz, sendo que é um dos maiores grupos de direitos humanos, então conseguimos fazê-lo a ativistas israelitas e palestinianos. Isto acontece para bloquear o trabalho de organizações de direitos humanos mas teve o efeito oposto: apontou o foco para a agressão do Governo israelita contra essas organizações e abusos.”

AHMAD GHARABLI

E continua: “A minha deportação não é um caso isolado, acontece no contexto de um ataque sistemático contra o trabalho dos ativistas pelos direitos humanos, que nega a entrada de muitos outros ativistas internacionais. Estão a intimidar os defensores dos direitos humanos, restringem o acesso ao financiamento deles e até os proíbe de viajar e detêm-nos, sobretudo aos palestinianos. Nos últimos meses, um representante da Amnistia Internacional, um palestiniano, foi proibido de abandonar a zona ocupada do West Bank. Houve também raids recentemente em escritórios de grupos palestinianos, culminando na detenção de um investigador”.

Numa certa madrugada de setembro, soldados israelitas vasculharam os escritórios do grupo Addameer, em Ramallah, às duas da manhã. Não estava lá ninguém mas aquela investida serviu para confiscar milhares de dólares em equipamento e cinco computadores, contava então o “Times of Israel”. A Amnistia Internacional mencionou a intenção governativa de “esmagar o ativismo pacífico”. Aquela ONG já sofrera de raids semelhantes em 2012.

Omar Shakir diz que Israel leva já 53 anos de ocupação de um território que não lhe pertence. “[O regime] está definido por uma discriminação instituída, em que sistematicamente existem abusos aos direitos humanos, que continuam sem qualquer dúvida e que têm escalado de várias maneiras. Israel, na última década, impôs uma política de encerramento da Faixa de Gaza, enjaulando dois milhões de pessoas. Vemos a expansão contínua dos colonatos, algo que é um crime de guerra sob a 4.ª Convenção de Genebra”, explica.

ABBAS MOMANI

Shakir sofre agora o que sofrera em 2009, 2014 e 2017. No primeiro episódio foi-lhe negada a entrada na Síria, depois de por lá ter vivido e escrito alguns relatórios que incomodaram a governança de Bashar al-Assad. A seguir, o Egipto mostrou-lhe a porta da saída, depois de um relatório que empurrava para os militares a responsabilidade de um assassinato em massa de protestantes, na sequência do golpe de Estado. Há dois anos, quando pretendia entrar no Bahrein para exercer advocacia, em representação da HRW, ficou do lado de fora da fronteira.

Em conferência de imprensa, em Jerusalém, algumas horas antes do voo que o levaria para a Europa, Shakir acusou Israel de se juntar a um “grupo feio” de regimes autoritários. “Se os israelitas podem deportar sem consequências alguém que documenta abusos nos direitos, como é que alguma vez podemos parar esses abusos?”

Kenneth Roth, o diretor executivo da HRW, foi mais longe e deu nomes ao tal "grupo feio", acusando Israel de estar a entrar na mesma gaveta de países como Coreia do Norte, Venezuela, Cuba, Sudão e Irão, que tem todos algo em comum: deportaram os funcionários daquela ONG.

Amir Levy

"O mundo vê isto como um ataque ao movimento dos direitos humanos", disse Shakir momentos antes de embarcar e do derradeiro adeus a Israel. "Vamos continuar a mesma luta e um dia, espero, vão estar aqui a dar-me as boas-vindas quando for um dia melhor, quando os direitos de israelitas e palestinianos forem respeitados. Eu voltarei."

Aquele país do Médio Oriente vive momentos conturbados, já que, após as eleições de 17 de setembro, Netanyahu e o rival Benny Gantz falharam, na ausência de uma maioria, o acordo para a formação de um novo governo. Para além do impasse político, o primeiro-ministro israelita em funções foi acusado pelo Ministério Público de fraude, suborno e abuso de confiança em três casos de corrupção.
Fonte: https://expresso.pt/internacional/2019-11-26-Omar-Shakir-foi-deportado-de-Israel-por-denunciar-empresas-como-Airbnb-Estao-a-intimidar-os-defensores-dos-direitos-humanos-1

A tragédia das irmãs Mirabal: o assassinato que deu origem ao Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres


25.11.2019 às 17h15

As irmãs Mirabal, num monumento que as homenageia, na sua terra natal

RICARDO HERNANDEZ 
 
"Se me matam, levantarei os braços do túmulo e serei mais forte". 
 
Foi assim que a ativista Minerva Mirabal, da República Dominicana, respondeu aos que a advertiram de que o regime iria acabar por matá-la.


O aviso tornou-se um facto concreto pouco depois. Corria o dia 25 de novembro de 1960, quando o seu corpo foi encontrado no fundo de um barranco, no interior de um jipe, junto com os corpos das suas irmãs, Patria e Maria Teresa, além do motorista Rufino de la Cruz. 
E desde então as irmãs Mirabal converteram-se num símbolo mundial da luta da mulher. Assim, a cada 25 de novembro, a força de Minerva, Patria e María Teresa faz-se sentir, sobretudo desde que as Nações Unidas o declararam Dia Internacional da Não-Violência Contra a Mulher, em sua homenagem.

Conhecidas como "Las Mariposas" (as borboletas), as mulheres nascidas numa família rica da província dominicana de Salcedo (hoje curiosamente chamada de Hermanas Mirabal) tinham formação universitária, maridos, filhos e cerca de uma década de ativismo político na época em que foram mortas. Duas delas, Minerva e María Teresa, tinham mesmo passado pela prisão em várias ocasiões. Uma quarta irmã, Adela "Dedé" Mirabal, que morreu em 2014, teve um papel menos ativo e conseguiu salvar-se.

Naquele fatídico 25 de novembro, funcionários da polícia secreta intercetaram o veículo que transportava as irmãs numa estrada da província de Salcedo, no norte do país. As mulheres tinham sido enforcadas e depois espancadas para que, quando o veículo caísse do precipício, a morte parecesse resultado de um acidente de carro. Tinham entre 26 e 36 anos e 5 filhos

Hoje Minerva, Patria e María Teresa são um símbolo da República Dominicana. Além disso, desde 1981 a data das suas mortes tornou-se também, em toda a América Latina, um dia para marcar a luta das mulheres contra a violência. E, desde 1999, que a ONU transformou o dia numa data comemorativa internacional. Segundo as contas daquela instituição, em todo o mundo, a violência dentro da própria casa é a principal causa de lesões sofridas por mulheres entre os 15 e 44 anos. 
 
Fonte: http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2019-11-25-A-tragedia-das-irmasMirabal-o-assassinato-que-deu-origem-ao-Dia-Internacional-pela-Eliminacao-da-Violencia-contra-as-Mulheres

Os entes queridos e uma cerveja: o que podemos todos aprender com esta foto do leito de morte


  26.11.2019 às 11h46





Está lá tudo o que este avozinho americano queria para os seus últimos dias – e esse consolo confortou outro meio mundo, que acabou por tornar a imagem viral



Chamava-se Norbert Schemm, vivia em Appleton, no Wisconsin, e tinha 87 anos e um desejo muito particular para se despedir da vida: estar rodeado dos seus entes queridos, enquanto bebia uma cerveja. Assim, conversaram, riram e até tiraram fotos, que Tom, o filho, partilhou com o resto da famíla, pelo Whatsapp. Horas depois, Norbert morreu, e o neto decidiu homenageá-lo, publicando a foto no Twitter. E nem queria acreditar na quantidade de estranhos que se confortaram com aquela imagem de um leito de morte - e que ali deixaram qualquer coisa como mais de 4 mil comentários e perto de 320 mil ‘gostos’.

“O meu avô foi uma pessoa relativamente saudável ao longo da vida, mas naquele domingo, no hospital, os médicos sentiram que estava a pouco tempo do fim. No dia seguinte, ele fez questão de chamar os netos e de nos contar o que se passava. A foto, essa, foi tirada na terça-feira, à noite. A morte, provocada por um cancro no colón, chegou na manhã seguinte”, disse Adam, o neto que partilhou a foto.

“Agora, quando olho para o seu ar de felicidade naquele momento, sinto um conforto enorme”, confessou o autor da imagem, aludindo ainda ao facto de o avô estar a sorrir.

É verdade que, num primeiro momento, Adam estava muito hesitante em publicar a foto nas redes, devido ao contexto – um pouco agridoce, convenhamos –, mas acabou por fazê-lo, considerando que não se deve ter vergonha de partilhar momentos bonitos.

“A verdade é que isto nos ajudou com a nossa dor. É reconfortante ver que estavam a seu lado naquelas circunstâncias”, acrescentou, reconhecendo que agora estavam todos a ver até onde aquela preciosa fotografia já tinha chegado, e a adorar o facto de tantos já a terem partilhado.

"É como se tivesse provocado um sentido de comunidade, e este é claramente um momento em que todas as pessoas se identificam. Os comentários foram todos muito gentis. Havia até fotos de pessoas a brindar com garrafas de cerveja em sua homenagem.”



Ben Riggs, de Indianapolis, por exemplo, foi um dos muitos utilizadores da rede que se sentiu impelido a reagir àquele tweet – e publicou uma fotografia do seu avô, Leon, de 86 anos, também a desfrutar de um charuto e uma cerveja, nos seus últimos dias.

"Nunca apago fotos do meu telefone. Mal vi aquela imagem, isso trouxe-me de volta um certo sentimento. Antes, não sabia que ver outra pessoa experimentar a última felicidade, antes da morte, podia ser tão bom", disse, citado pela BBC.

Segundo Ben, o avô sofria de Alzheimer e a memória tinha altos e baixos – nada que impedisse que ele e o pai concordassem que era importante cumprir o seu último desejo antes de morrer. “Embora nunca consideremos que a morte chega na hora certa, é importante tentar encontrar um lado positivo”, assinalou.

Assim, na noite em que o avô morreu, Ben, os irmãos e o pai juntaram-se para marcar aquela “passagem” e celebrar a vida. E tiraram outra foto. Inesperadamente Mike, o pai de Ben, morreria no dia a seguir, de insuficiência cardíaca. O consolo, mais uma vez, chegou em formato pixelizado.
 
Fonte: http://visao.sapo.pt/actualidade/sociedade/2019-11-26-Os-entes-queridos-e-uma-cerveja-o-que-podemos-todos-aprender-com-esta-foto-do-leito-de-morte

VIRÁ PARA O BRASIL? - Rápida e silenciosa: Kalashnikov apresenta protótipo de sua moto elétrica


© Sputnik /
Defesa
O protótipo da nova moto russa, que pode atingir até 100 quilômetros por hora e andar oito horas sem recarga, foi apresentado ao público.
Em fevereiro deste ano, foi anunciado que os engenheiros da fabricante russa Kalashnikov estavam elaborando uma nova moto elétrica. No fim de semana passado, o protótipo da moto foi apresentado pela primeira vez no Fórum de Navegação Profissional, na cidade russa de Yaroslavl.
Dona de uma potência de 50 quilowatts, a moto elétrica Izh pode atingir 100 quilômetros por hora. A bateria de lítio de reserva é capaz de proporcionar oito horas de percurso após uma recarga.
A nova moto pode funcionar a temperaturas de 0º a 40º C.
Segundo o gerente de projetos da fabricante russa, Grigory Novikov, as vantagens da moto elétrica Izh são muitas. Além de ser ecológica, não faz barulho nenhum.
A moto da Kalashnikov pertence à família de veículos de duas rodas Café Racer, que engloba veículos para viagens rápidas a distâncias curtas. Motos deste tipo são mais leves e rápidas do que a maioria das motos de produção em série.
De acordo com os criadores do modelo, a Izh é destinada a percursos interessantes e rápidos.
Café Racer engloba motos de corrida de curto percurso e com manobras. O termo surgiu no Reino Unido quando motociclistas apostavam corridas entre cafés. Na competição, era necessário chegar ao ponto final sem deixar que a canção acabasse. É por isso que as motos da família Café Racer são mais leves e rápidas.
Atualmente, o consórcio russo Kalashnikov está desenvolvendo motos elétricas tanto para civis como para militares.

Fonte: https://br.sputniknews.com/defesa/2019112614821535-rapida-e-silenciosa-kalashnikov-apresenta-prototipo-de-sua-moto-eletrica-video/

As noites das facas longas ou sobre como os sabujos fardados servem aos seus donos



26.11.2019



As noites das facas longas

Para reprimir e matar índios, o Exército boliviano prescindiu de decretos, bastou apenas obedecer o que o ódio racial e classista ordenava. Em cinco dias, já há mais de 18 mortos e 120 feridos a bala; todos indígenas



Por Álvaro García Linera


Como uma espessa névoa noturna, o ódio percorre ferozmente os bairros das classes médias urbanas tradicionais da Bolívia. Seus olhos transbordam de raiva. Não gritam, cospem; não reivindicam, impõem. Seus cânticos não são de esperança nem de irmandade, são de desprezo e discriminação contra os índios. Montam em suas motos, sobem em suas picapes, se agrupam em suas fraternidades carnavalescas e em universidades privadas e saem à caça de índios sublevados que se atreveram a tomar-lhes o poder.

No caso de Santa Cruz, organizam hordas motorizadas 4×4 com porrete na mão para aterrorizar os índios, que são chamados de collas e que vivem na periferia e nos mercados. Cantam refrãos sobre a necessidade de matar collas, e se cruza seu caminho alguma mulher de pollera a espancam ameaçam e a expulsam de seu território. 
Em Cochabamba, organizam comboios para impor a supremacia racial na zona sul, onde vivem as classes necessitadas, e investir, como se fosse um destacamento de cavalaria, contra milhares de mulheres camponesas indefesas que marcham pedindo paz. Levam consigo tacos de beisebol, correntes, granadas de gás, alguns exibem armas de fogo. A mulher é sua vítima preferida, agarram uma prefeita de um povoado camponês, humilham-na, arrastam-na pela rua, batem nela, urinam nela quando cai ao solo, cortam-lhe o cabelo, ameaçam linchá-la e, quando percebem que são filmados, decidem lançar-lhe tinta vermelha, simbolizando o que farão com seu sangue.

Em La Paz, suspeitam de suas empregadas e não falam quando elas trazem comida à mesa. No fundo, as temem, mas também as desprezam. Mais tarde, saem às ruas a gritar, insultam Evo e nele todos estes índios que ousaram construir uma democracia intercultural com igualdade. Quando são muitos arrastam a wiphala, a bandeira indígena, cospem nela, pisam, cortam, queimam. É uma raiva visceral que se descarrega sobre este símbolo dos índios, símbolo este que quiseram extinguir da face da terra junto com todos os que se reconhecem nele.

O ódio racial é a linguagem política desta classe média tradicional. De nada servem seus títulos acadêmicos, viagens e fé; porque afinal tudo se dilui frente aos antepassados. No fundo, a estirpe imaginada é mais forte e parece colada à linguagem espontânea da pele que odeia, dos gestos viscerais e de sua moral corrompida.

Tudo explodiu no domingo, 20 de outubro, quando Evo Morales ganhou as eleições com mais de 10 pontos de diferença sobre o segundo, entretanto sem a imensa vantagem de antes, nem com 51% dos votos. Foi o sinal que as forças regressivas encobertas estavam esperando, desde o timorato candidato opositor liberal, as forças políticas ultraconservadoras, a OEA e a inefável classe média tradicional.

Evo havia ganhado novamente, mas já não possuía 60% do eleitorado, logo, estava mais debilitado e tinham que ir pra cima dele. O perdedor não reconheceu sua derrota. A OEA falou de eleições limpas, porém de uma vitória minguada, e pediu um segundo turno, aconselhando contrariar a constituição que assinala que, se um candidato tem mais de 40% dos votos e mais de 10 pontos de diferença sobre o segundo, é o candidato eleito.

E a classe média lançou-se à caçada dos índios. Na noite de segunda-feira, 21 de outubro, queimaram cinco dos nove órgãos eleitorais, inclusive cédulas de votação. A cidade de Santa Cruz decretou uma parada cívica, que articulou os habitantes das zonas centrais da cidade, ramificando-a pelas zonas residenciais de La Paz e Cochabamba. E, assim, desatou-se o terror.

Grupos paramilitares começaram a assediar instituições, queimar sedes sindicais, incendiar os domicílios de candidatos e líderes políticos do partido do governo. No final, até o próprio domicílio privado do presidente seria saqueado. Noutros lugares, as famílias, inclusive os filhos, foram sequestrados e ameaçados de serem açoitados e queimados, caso seu pai ministro ou dirigente sindical não renunciasse a seu cargo. Desatou-se uma extensa noite das facas longas e o fascismo açulava os ouvidos.

Quando as forças populares mobilizadas para resistir a este golpe civil começaram a retomar o controle territorial das cidades com a presença de operários, mineiros, camponeses, indígenas e colonos urbanos e o balanço da correlação de forças estava inclinando-se para o lado das forças populares, veio o motim policial.

Os policiais haviam mostrado durante semanas uma indolência e inépcia para proteger as pessoas humildes quando eram atacadas e perseguidas por bandos fascistóides. Contudo, a partir de 25 de outubro, com o desconhecimento do comando civil, muitos deles mostrariam uma extraordinária habilidade para agredir, deter, torturar e matar manifestantes populares. Claro, antes havia de conter os filhos da classe média, e supostamente não tinham capacidade, agora que se tratava de reprimir índios revoltosos, a implantação, a prepotência e a sanha repressiva foram monumentais.

O mesmo aconteceu com as Forças Armadas. Durante toda nossa gestão do governo, nunca permitimos que saíssem para reprimir manifestações civis, nem durante o primeiro golpe de estado cívico de 2008. Agora, em plena convulsão e sem que alguém perguntasse nada, disseram que não possuíam elementos antidistúrbios, que dispunham de apenas 8 balas por integrante e que para fazerem-se presentes na rua de maneira dissuasiva requeria-se um decreto presidencial.

Não obstante, não duvidaram em pedir-impor ao presidente Evo sua renúncia, rompendo a ordem constitucional. Fizeram o possível para tentar sequestrá-lo quando se dirigia e estava no Chapare [província do departamento de Cochabamba]; e, quando se consumou o golpe, saíram às ruas disparando milhares de balas, militarizando as cidades, assassinando camponeses. Tudo sem decreto presidencial. Claro, para proteger o índio, requeria-se decreto. Para reprimir e matar índios, bastava apenas obedecer o que o ódio racial e classista ordenava. Em cinco dias, já há mais de 18 mortos e 120 feridos a bala; por suposto, todos indígenas.

A pergunta que todos devemos responder é como essa classe média tradicional pôde inculcar tanto ódio e ressentimento no povo, levando-a a abraçar um fascismo racializado, centrado no índio como inimigo? Como fez para irradiar suas frustrações de classe na polícia e nas Forças Armadas e ser a base social desta fascistização, desta regressão estatal e degeneração moral?

Foi o rechaço à igualdade, isto é, o rechaço aos fundamentos mesmos de uma democracia substancial. Nos 14 anos de governo, os movimentos sociais tiveram como característica principal o processo de nivelamento social, redução abrupta da extrema pobreza (de 38 a 15%), ampliação de direitos para todos (acesso universal à saúde, à educação e à proteção social), indianização do Estado (mais de 50% dos funcionários da administração pública têm uma identidade indígena, uma nova narrativa nacional em torno do tronco indígena), redução das desigualdades econômicas (queda de 130 a 45 a diferença de renda entre os mais ricos e os mais pobres ), ou seja, a sistemática democratização da riqueza, do acesso aos bens públicos, às oportunidades e ao poder estatal.

A economia cresceu de 9 bilhões de dólares a 42 bilhões, ampliaram-se o mercado e a poupança internos, o que possibilitou a muitas pessoas vir a possuir sua casa própria e melhorarem sua atividade laboral. Com isso, permitiu-se que, em uma década, o percentual de pessoas da chamada classe média, medida em renda, passasse de 35% a 60%, a maior parte proveniente de setores populares, indígenas.

Trata-se de um processo de democratização dos bens sociais mediante a construção da igualdade material, mas que inevitavelmente conduziu a uma rápida desvalorização dos capitais econômicos, educativos e políticos possuídos pelas classes médias tradicionais. Se antes um sobrenome notável, ou o monopólio dos saberes legítimos, ou o conjunto de vínculos de parentesco próprios das classes médias tradicionais permitia-lhes aceder a postos na administração pública, obter créditos, licitações de obras ou bolsas, hoje a quantidade de pessoas que disputam o mesmo posto ou oportunidade não apenas duplicou-se, reduzindo à metade as possibilidades de aceder a esses bens; além disso, os arrivistas, a nova classe média de origem popular indígena possui um conjunto de novos capitais (idioma indígena, vínculos sindicais) de maior valor e reconhecimento estatal para lutar pelos bens públicos disponíveis.

Trata-se, portanto, do colapso do que era característico da sociedade colonial: a "etnicidade" como capital, ou seja, do fundamento imaginado da superioridade histórica da classe média sobre as classes subalternas, porque aqui na Bolívia a classe social só é compreensível e se visibiliza sob a forma de hierarquias raciais. Que os filhos desta classe média tenham sido a tropa de choque da insurgência reacionária é o grito violento de uma nova geração que vê como a herança do sobrenome e da pele se desvanece ante a força da democratização dos bens.

Ainda que agitem bandeiras da democracia entendida como voto, na verdade se rebelaram contra a democracia entendida como igualdade e distribuição de riquezas. Devido a isso, o excesso de ódio, o emprego desmedido de violência, pois a supremacia racial é algo irracional; se vive como impulso primário do corpo, como tatuagem da história colonial na pele. Daí que o fascismo não seja apenas a expressão de uma revolução fracassada, mas, paradoxalmente, também em sociedades pós-coloniais, o êxito de uma democratização material alcançada.

Por isso, não surpreende que, enquanto os índios recolhem os corpos de cerca de uma vintena de mortos a bala, seus assassinos materiais e morais narram que o fizeram para salvaguardar a democracia. Mas, na verdade, sabem que o que fizeram foi proteger o privilégio de casta e de sobrenome.

Contudo, o ódio racial só destrói. Não é um horizonte, não é mais que uma primitiva vingança de uma classe histórica e moralmente decadente que demonstra que, por trás de cada liberal medíocre, se esconde um golpista experimentado.

Álvaro García Linera é vice-presidente da Bolívia no exílio.

Tradução de  Fernando Lima das Neves publicada originalmente em A Terra é Redonda
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Pelo-Mundo/As-noites-das-facas-longas/6/45886

Quem são os brasileiros?




26.11.2019 | Fonte de informações:
Pravda.ru

 
 
Quem são os brasileiros?

O que significa realmente ser brasileiro?

Como nós gostaríamos que o mundo inteiro nos visse?

Hospitaleiros, alegres, generosos?

Walt Disney, naquele esforço americano para cooptar os latinos durante a Segunda Guerra, nos idealizou na figura do Zé Carioca.

E de que brasileiros estaríamos falando?

Para cariocas, paulistas, baianos e gaúchos, valem os mesmos qualificativos?

O brasileiro é um homem cordial, disse Sérgio Buarque de Holanda em sua obra Raízes do Brasil de 1936.

Mesmo para aqueles que nunca leram esse livro e sabem apenas que Sérgio foi o pai do Chico Buarque, estaria pronta a definição de brasileiro e não se fala mais nisso.

Somos pessoas cordiais, é claro, com inúmeras exceções.

Aí surgiram os críticos, que leram o livro, para explicar que cordialidade, para Buarque de Holanda, significa a dificuldade de cumprir os ritos sociais que sejam rigidamente formais e não pessoais e afetivos e de separar, a partir de uma racionalização destes espaços, o público e o privado.

Roberto DaMatta "traduz" essa interpretação da seguinte maneira:

"Consiste, então, a cordialidade dos gestos largos, deste espírito aparentemente folgazão, que têm como marca o uso exagerado dos diminutivos, visando, justamente, a quebra da formalidade da relação que deve estar se estabelecendo, para que esta passe a se tornar uma relação de "amigos", para que passe a imperar a máxima, dito popular que se torna regra de conduta e 'verdade' sociológica: "Aos inimigos, a lei; aos amigos, tudo!"

Um político em Brasília, que não leu o livro, mas compreendeu o espírito da coisa, diria que praticamos com grande sucesso o chamado "jeitinho brasileiro" para resolver os problemas.

Seriam assim todos os brasileiros?

Luiz Carlos Miele, que morreu em outubro de 2015, certamente era um representante dessa categoria. O tipo de que fala DaMatta, alegre, folgazão, de uma cordialidade feita de gestos largos.

Um grande artista, uma grande perda

Mas seriam realmente assim todos os brasileiros?

Coincidentemente, morreu no mesmo dia que Miele, alguém que definitivamente não era assim, o Coronel Brilhante Ustra.

Um verdadeiro criminoso, digno de figurar naquela lista de nazistas que se sentaram no banco dos réus em Nuremberg.

Talvez até por conta do famoso "jeitinho brasileiro", Ustra morreu numa cama de hospital aos 83 anos, sem pagar pelos crimes de tortura e assassinato, tantas vezes acusado pelos seus hediondos feitos como comandante do DOI-CODI, em São Paulo.

Será que para nós brasileiros só nos resta escolher um destes dois caminhos tão opostos - a cordialidade visível no descompromisso com a ética, tão comum em nossos políticos - ou o autoritarismo selvagem que foi moda no Brasil durante o regime militar e que agora parece querer voltar de vez?

Ou já está na hora de criarmos uma nova imagem para os brasileiros?

Marino Boeira, é jornalista, formado em História pela UFRGS

Mulher é morta por vara de javalis nos EUA


26 novembro 2019

Javali selvagem (foto de arquivo)
Uma mulher no Estado americano do Texas foi morta por um bando de javalis.

Christine Rollins, de 59 anos, foi atacada em Anahuac, a leste da cidade de Houston, perto da casa onde trabalhava como cuidadora de uma idosa de 84 anos.

Brian Hawthorne, xerife do Condado de Chambers, disse a repórteres na segunda-feira (25/11) que, "em meus 35 anos (de trabalho), foi uma das piores coisas que já vi".

A vítima foi encontrada pela idosa com que trabalhava após não aparecer para o serviço, no domingo.

"Não há dúvida para mim de que eram muitos animais, e podemos dizer isso por causa dos tamanhos distintos das mordidas", disse o xerife. Segundo ele, os cães da idosa parecem ter afugentado os javalis antes que ela descobrisse o corpo da cuidadora. 
Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-50566593

SUJEITINHO CALHORDA, COMO JÁ SABÍAMOS, ALIÁS - Governo Bolsonaro vai taxar as grandes… fortunas? Não, as grandes pobrezas




Vivemos tempos duros, nos quais uma onda mundial tenta reverter as grandes reformas democráticas que tornaram o mundo menos desigualO presidente Jair Bolsonaro ao lado do filho, o senador Flávio Bolsonaro, em lançamento de seu partido, Aliança Pelo Brasil. EVARISTO SA (AFP)


Juan Arias
26 Nov 2019 - 20:31 BRT

O título desta coluna não tenta ser uma provocação, e sim a descrição de uma dura realidade. Vi a feliz frase sobre “taxar as grandes pobrezas” numa lúcida análise de Eliane Cantanhêde no jornal O Estado de S. Paulo. As reformas que o governo de extrema direita está realizando deveriam, de fato, ter começado com os olhos postos nas franjas mais frágeis da sociedade, e não ao contrário. Assim, em vez de ter começado, por exemplo, taxando as grandes fortunas, os grandes bancos, os grandes dividendos, as grandes heranças, os escandalosos privilégios dos políticos e das corporações, que levaram a política no mundo todo a se arrastar desprestigiada pelo chão, decidiram ampliar ainda mais as grandes pobrezas, cobrando imposto até sobre o seguro-desemprego. Esquecendo-se de que só uma política social assegura o exercício pleno da democracia, com a soberania do povo. O contrário conduz aos tempos sombrios da escravidão.


Sim, o governo Jair Bolsonaro está levando a cabo reformas que, começando pela previdenciária e continuando com mudanças trabalhistas —carteira verde-amarela ou taxar o seguro-desemprego—, castiga os grandes bolsões de pobreza e miséria que juntos representam a maioria dos 210 milhões de brasileiros. O novo projeto das aposentadorias deveria ter começado por levar em conta aqueles milhões de trabalhadores que durante toda uma vida realizaram os trabalhos mais duros, nas fábricas, no campo, em todos os setores menos remunerados. Justamente esses milhões que trabalharam duro durante mais de 30 anos e que, quando chegar sua vez de um justo descanso, terão que sobreviver com uma pensão de fome; eles que, ganhando um salário mínimo, não conseguiram economizar nem acumular capital, porque mal tinham como chegar ao fim do mês sem se endividar.

Ao contrário, quem já ao longo da vida goza de um trabalho bem remunerado chega à aposentadoria com um acúmulo de bens que dá e sobra para poder viver sem aposentadoria e com tranquilidade. Sim, são as grandes pobrezas que estão sendo castigadas e humilhadas para que os privilegiados de sempre possam continuar desfrutando e sem apertos na hora da aposentadoria.

A quem culpar por essa tragédia social em que os mais frágeis serão novamente os bodes expiatórios do capitalismo brutal que vai deixando rios de dor e injustiças pelo caminho? Ao governo ultraliberal de Bolsonaro? Não. Antes da sua chegada, uma esquerda distraída e culpada, que passou 13 anos no poder e com o consenso de até 80% da população em alguns momentos, teve a oportunidade de realizar essas mesmas reformas, mas com o coração voltado para os mais frágeis. Reformas com forte conteúdo social, começando pela base de uma pirâmide de trabalhadores que cada vez se amplia mais, enquanto continua enriquecendo as grandes fortunas que são a minoria da população.

Essa esquerda que neste momento só soube dizer não às reformas da ultradireita, sem apresentar alternativas sociais, não foi capaz de realizar as grandes reforma com forte conteúdo social. Nem a trabalhista nem a política nem a do Estado, ainda que tenha feito algumas mudanças na Previdência. E não porque faltasse a esses governos consenso popular ou força no Congresso, já que governou com os partidos mais fortes. Foi, entretanto, incapaz de instaurar governos social-democratas, de centro-esquerda, em vez de sair de braços dados com a grande direita do dinheiro. Ainda me lembro de ter escutado o então presidente Lula dizer numa reunião com banqueiros em São Paulo: “Vocês nunca antes tinham ganhado tanto como comigo”. Triste recorde que humilha os pobres que devem pagar juros absurdos para poder sobreviver.

Agora, quando essa direita tomou o poder e é ela que faz essas reformas com o coração posto naqueles que menos precisam delas, de pouco serve derramar lágrimas de carpideira. Já é tarde. A esquerda não terá mais força para suscitar um movimento de rebeldia. Perdeu o trem, adormecida que estava sobre os louros de um consenso impressionante, que não soube aproveitar.

Em um período semelhante de 14 anos, na Espanha, o governo socialista de Felipe González, com apoio do rei Juan Carlos, teve tempo de transformar um país arruinado, despedaçado após 40 anos de dura ditadura franquista. Encontraram um país que precisava ser reconstruído política, jurídica e socialmente após décadas de pobreza material e cultural, em que tinham sido abolidas todas as liberdades modernas e os direitos mais elementares. E o fizeram com as grandes reforma progressistas que devolveram ao país os direitos sindicais, de liberdade de expressão, de divórcio, de gênero e do aborto. Essas grandes reformas que colocam um país na rota da modernidade e que a esquerda brasileira não soube concluir quando tinha força para isso.

Vivemos tempos duros, nos quais uma onda mundial tenta reverter as grandes reformas democráticas que tornaram o mundo menos desigual e lhe permitiram viver os ares de uma democracia séria e segura, sem a qual não existem reformas possíveis. E nestes momentos quem mais sofrerá com essa tentativa de volta à escuridão política e social serão sem dúvida os párias de sempre, que, por sua vez, sustentam com seu trabalho as colunas do mundo.

Se os políticos de esquerda e de direita encasquetarem em não querer olhar para essas massas de trabalhadores que a sociedade do consumo abandonou na pobreza; se não forem capazes de abrir os olhos a essas tremendas injustiças sociais que aumentam com os problemas dos milhões de migrantes que percorrem o mundo como uma sombra e um alarme, então é possível que pela primeira vez o mundo, que sempre foi melhor em seu presente que em seu passado, porque as conquistas da ciência e a tecnologia lhe abriam espaços novos de liberdade, acabe nos fazendo suspirar pelo passado, numa grave miragem perversa.

O Brasil se reduz cada vez mais a essa nova trindade apresentada simbolicamente pelo novo partido criado por Bolsonaro, de Deus, violência e caça às bruxas comunistas, que já não existem mais porque, além de tudo, se aburguesaram. A esses milhões que se entregaram nas mãos de Bolsonaro agitando a bandeira de Jesus com a Bíblia na mão seria preciso recordar a dura passagem do evangelho em que Jesus grita: “Atam cargas pesadas e as colocam sobre os ombros dos mais fracos que sois incapazes de suportar” (Mt, 23, 4ss).

Que leiam, sim, os evangelhos, mas para entender que o cristianismo foi, em seus primórdios, revolucionário e em defesa dos mais necessitados. Que o profeta de Nazaré, perante as multidões famintas, necessitadas e sem poder que lhe seguiam, exclamou: “Tenho compaixão por esta gente”. E é essa compaixão por quem é abandonado no caminho por ser diferente é a única coisa que pode mais uma vez salvar este mundo atormentado e cada dia mais injusto. Quem se atreverá a apostar nessa utopia sem a qual a realidade nos levará ao inferno da violência e do desprezo pelos valores do único humanismo que pode nos salvar? Todo o resto são inúteis atalhos sem saída.

Cabe aqui um recado ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que justificou a alusão feita ao famigerado decreto AI-5 por temer protestos como o que sacodem o resto da América Latina. Ministro, troque o medo pela compaixão proposta por Nazaré. Deixe-se guiar pelas vozes e os sentimentos certos. Pode valorizar os mascarados agressivos dos protestos do Chile, ou prestar atenção na música do cantor Victor Jara que os jovens chilenos têm cantado durante os atos: “o direito de viver em paz”, buscando dignidade por um novo pacto social que corrija as mesmas injustiças de taxar a grande pobreza, herdada de Pinochet.

Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/11/26/politica/1574781301_313597.html

A CANALHA DO RAMO FINANCEIRO SEMPRE GULOSA E APROVEITADORA


Consumidor e Ordem Econômica
21 de Novembro de 2019 às 15h30
MPF e MP/SC atuam contra descontos indevidos em benefícios previdenciários





Reunião objetiva coordenar ações conjuntas das duas instituições


Foto: Ascom/MPF/SC
Membros do Ministério Público Federal (MPF) e do Ministério Público Estadual de Santa Catarina (MP/SC) se reuniram, nessa quarta-feira (20), para tratar de assuntos relativos às representações contra descontos indevidos em benefícios previdenciários que vêm sendo protocoladas no MPF e também no MP Estadual.


Na reunião, estiveram presentes o procurador da República Carlos Augusto de Amorim Dutra e a promotora de Justiça Analú Librelato Longo, que atuam na área de defesa dos direitos do consumidor. O objetivo do encontro, segundo o procurador, é coordenar ações conjuntas entre MPF e MP/SC contra os empréstimos e outros tipos de descontos que são impropriamente debitados de aposentadorias e demais benefícios da Previdência Social.


Os órgãos da Previdência Social já foram questionados a respeito dos descontos indevidos e estão tomando as medidas que se fazem necessárias, entre outras, a exigência de que qualquer desconto seja precedido de autorização expressa do aposentado ou pensionista. Além disso, está sendo feito levantamento das irregularidades nas financeiras e bancos.

Denunciados pelo MPF em Chapecó (SC), sete são condenados por irregularidades na construção de cisternas

Além das condenações por peculato, inexigibilidade fraudulenta de licitação e uso de documentos falsos, réus terão de devolver R$ 3,2 milhões corrigidos desde 2012
Arte com imagem de fundo da deusa da Justiça, Temis, segurando uma balança. Em cima da imagem está escrito a palavra decisão
Arte: Secom/PGR
A Justiça Federal em Chapecó (SC) condenou sete pessoas por crimes ocorridos em projeto de construção irregular de cisternas na região oeste catarinense. Foram condenados André Barreto Bornhausen, Olívia Barreto Bornhausen e Melimar Marquesi (a 3 anos e 6 meses de reclusão em regime inicial semi-aberto), Roberto Franchini (6 anos e 6 meses em regime inicial fechado), Rodrigo Mello da Rosa (5 anos e 4 meses de detenção e 4 anos e 8 meses de reclusão, em regime inicial fechado) e Alexandro dos Santos (2 anos e 11 meses de reclusão, em regime semi-aberto). Eles foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF).
Condenados pelo crime de peculato, Olívia Barreto Bornhausen, André Barreto Bornhausen, Ivalmor Piaia, Melimar Marquesi, Roberto Franchini e Rodrigo Mello da Rosa - estes dois também condenados pelo crime de inexigibilidade fraudulenta de licitação - ainda terão de devolver R$ 3,2 milhões, acrescidos de atualização monetária e juros de mora, a ser suportado solidariamente, para reparação dos danos causados. A partir de representação recebida da Câmara de Vereadores de Xanxerê (SC) no fim de 2014, o MPF instaurou inquérito civil para apurar denúncia de irregularidades na construção de cisternas para captação e abastecimento de água em municípios do oeste catarinense, com recursos da União.
Conforme ficou apurado em inquérito civil em 2012, a Secretaria de Estado da Assistência Social, Trabalho e Habitação assinou convênio com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), no âmbito do Programa "Água para Todos", de mais de R$ 12 milhões para a "construção de cisternas de alambrado, e capacitação da população beneficiada com o objetivo de viabilizar o acesso aos recursos hídricos para consumo da população rural do oeste e extremo-oeste catarinense que sofre os efeitos da estiagem". Para construção das cisternas foi contratada, por inexigibilidade de licitação, a Cooperativa de Profissionais em Serviços Públicos e Privados de Santa Catarina (Coopesc).

Irregularidades - Auditoria realizada posteriormente pela Diretoria de Auditoria-Geral da Secretaria de Estado da Fazenda revelou diversas irregularidades no projeto, entre elas a inadequação desse modelo de construção de cisternas; ilegalidade da contratação da cooperativa por inexigibilidade de licitação; desperdício de materiais; falta de capacidade técnica da cooperativa contratada para realização das obras; serviços de terraplenagem e transporte de materiais, que eram obrigação da cooperativa, foram realizados pelas prefeituras dos municípios atendidos; e a utilização de notas fiscais de empresas paralisadas para justificar o recebimento de valores.

Das 437 cisternas analisadas pela auditoria estadual, apenas uma havia sido concluída e estava em funcionamento, armazenando água. 
Depois da auditoria, a execução do convênio foi suspensa. Contudo, mesmo com todas as irregularidades apontadas, cerca de R$ 3,2 milhões foram pagos à Coopesc.  

As investigações do MPF, com o apoio do Ministério Público de Contas de Santa Catarina, revelaram que a cooperativa sequer utilizou cooperados na construção das cisternas, terceirizando a execução das obras para um empreiteiro que, por solicitação da cooperativa, emitiu notas fiscais de empresas já há muito paralisadas. 

A quebra de sigilo bancário dos envolvidos demonstrou ainda que expressiva parcela dos recursos foi destinada aos dirigentes da cooperativa, seus familiares e empresa gerida por um dos dirigentes. Foi apurado ainda que mais de R$ 200 mil foram destinados aos sócios da empresa DMAS Participações, que pertencem a uma tradicional família da política catarinense.

Os réus, conforme sentença da juíza federal Priscilla Mielke Wickert Piva, poderão apelar em liberdade. Além disso, em virtude do novo entendimento adotado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) nas Ações Diretas de Constitucionalidade 43, 44 e 54, havendo a confirmação da condenação pelas instâncias superiores, os acusados somente começarão a cumprir as penas com o trânsito em julgado da sentença condenatória, ou seja, quando não houver mais nenhum recurso cabível.

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