Entre 1940 e 1944, teve um papel fundamental na Resistência francesa. Passou o último ano da guerra presa em vários campos de concentração.
PÚBLICO 4 de Novembro de 2019, 10:07
Foto Yvette Lundy tinha 103 anos D.R.
Yvette Lundy, figura histórica da Resistência francesa e antiga prisioneira dos campos de concentração nazis, morreu no domingo aos 103 anos em Épernay, no norte de França.
Foi “sem fazer perguntas” que Lundy começou a passar documentos falsos aos fugitivos do regime nazi, em 1940, algo que descreveu como uma “burla honesta”. O seu cargo como secretária da Câmara Municipal da cidade de Gionges permitiu-lhe salvar a vida a judeus, prisioneiros de guerra e pessoas condenadas ao “trabalho obrigatório” na Alemanha.
Durante vários anos esta professora foi uma peça fundamental da rede Possum, um esforço conjunto franco-belga para salvar pilotos aliados que se despenhavam na França ocupada. A maioria escondia-se na quinta do seu irmão Georges, que acabaria por ser deportado e morrer em 1945.
Yvette, então com 28 anos, foi detida pela Gestapo em Junho de 1944 enquanto dava uma aula. Passou por vários campos até ser levada para Ravensbrück, reservado para mulheres e crianças, onde perdeu o nome e passou a ser identificada pelo número 47360, recorda a AFP.
Um dos episódios que costumava recordar foi a ordem para se despir em frente aos agentes das SS. “O corpo está nu e o cérebro de repente fica em farrapos. Sentes-te um buraco, um buraco cheio de vazio, e se olhares à tua volta vês mais vazio”, disse Lundy durante uma visita ao campo de concentração muitos anos depois.
Foi transferida para o campo de Buchenwald, o maior dentro do território alemão, até à sua libertação pelas forças aliadas, em Abril de 1945.
Yvette demorou a falar das suas memórias na Resistência e nos campos de concentração. Preferiu calar-se durante vários anos, perante a descrença de alguns familiares em relação ao que relatava, considerando-a “desorientada”. Foi só a partir de 1959 que começou a falar publicamente sobre aqueles tempos, sobretudo junto de estudantes franceses e também alemães, com o objectivo de contribuir para a compreensão dos horrores perpetrados pela Alemanha nazi, mas também para apoiar a reconciliação.
Lamentando a sua morte, o presidente da Câmara de Épernay, Franck Leroy, disse que Yvette Lundy é “um exemplo”. “Ela tinha também um olhar sobre a guerra e sobretudo sobre a reconciliação franco-alemã, que ela considerava extremamente importante”, afirmou.
A vida de Lundy serviu de inspiração para uma personagem do filme francês Korkoro, de 2009, que conta a fuga de uma família de ciganos aos nazis. Em 2017, a antiga resistente recebeu o título de Grande Oficial da Legião de Honra, uma das mais importantes condecorações civis de França.
PÚBLICO 4 de Novembro de 2019, 10:07
Foto Yvette Lundy tinha 103 anos D.R.
Yvette Lundy, figura histórica da Resistência francesa e antiga prisioneira dos campos de concentração nazis, morreu no domingo aos 103 anos em Épernay, no norte de França.
Foi “sem fazer perguntas” que Lundy começou a passar documentos falsos aos fugitivos do regime nazi, em 1940, algo que descreveu como uma “burla honesta”. O seu cargo como secretária da Câmara Municipal da cidade de Gionges permitiu-lhe salvar a vida a judeus, prisioneiros de guerra e pessoas condenadas ao “trabalho obrigatório” na Alemanha.
Durante vários anos esta professora foi uma peça fundamental da rede Possum, um esforço conjunto franco-belga para salvar pilotos aliados que se despenhavam na França ocupada. A maioria escondia-se na quinta do seu irmão Georges, que acabaria por ser deportado e morrer em 1945.
Yvette, então com 28 anos, foi detida pela Gestapo em Junho de 1944 enquanto dava uma aula. Passou por vários campos até ser levada para Ravensbrück, reservado para mulheres e crianças, onde perdeu o nome e passou a ser identificada pelo número 47360, recorda a AFP.
Um dos episódios que costumava recordar foi a ordem para se despir em frente aos agentes das SS. “O corpo está nu e o cérebro de repente fica em farrapos. Sentes-te um buraco, um buraco cheio de vazio, e se olhares à tua volta vês mais vazio”, disse Lundy durante uma visita ao campo de concentração muitos anos depois.
Foi transferida para o campo de Buchenwald, o maior dentro do território alemão, até à sua libertação pelas forças aliadas, em Abril de 1945.
Yvette demorou a falar das suas memórias na Resistência e nos campos de concentração. Preferiu calar-se durante vários anos, perante a descrença de alguns familiares em relação ao que relatava, considerando-a “desorientada”. Foi só a partir de 1959 que começou a falar publicamente sobre aqueles tempos, sobretudo junto de estudantes franceses e também alemães, com o objectivo de contribuir para a compreensão dos horrores perpetrados pela Alemanha nazi, mas também para apoiar a reconciliação.
Lamentando a sua morte, o presidente da Câmara de Épernay, Franck Leroy, disse que Yvette Lundy é “um exemplo”. “Ela tinha também um olhar sobre a guerra e sobretudo sobre a reconciliação franco-alemã, que ela considerava extremamente importante”, afirmou.
A vida de Lundy serviu de inspiração para uma personagem do filme francês Korkoro, de 2009, que conta a fuga de uma família de ciganos aos nazis. Em 2017, a antiga resistente recebeu o título de Grande Oficial da Legião de Honra, uma das mais importantes condecorações civis de França.
Fonte: https://www.publico.pt/2019/11/04/mundo/noticia/yvette-lundy-professora-passava-documentos-falsos-fugia-nazis-morreu-103-anos-1892342
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