Perfil

Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

Mensagem aos leitores

Benvindo ao universo dos leitores do Izidoro.
Você está convidado a tecer comentários sobre as matérias postadas, os quais serão publicados automaticamente e mantidos neste blog, mesmo que contenham opinião contrária à emitida pelo mantenedor, salvo opiniões extremamente ofensivas, que serão expurgadas, ao critério exclusivo do blogueiro.
Não serão aceitas mensagens destinadas a propaganda comercial ou de serviços, sem que previamente consultado o responsável pelo blog.



quinta-feira, 30 de julho de 2020

Sob Bolsonaro, Brasil tem rombo recorde e dívida se aproxima de 100% do PIB

A falta de rumo da política econômica adotada por Jair Bolsonaro e pelo ministro da Fazenda, Paulo Guedes, elevou a estimativa para o déficit primário deste ano para um rombo recorde de R$ 812,2 bilhões. Já a dívida bruta deve alcançar 94,7% do PIB 30 de julho de 2020, 12:04 h 
Atualizado em 30 de julho de 2020, 13:56 Isabel Versiani, Reuters 

- O governo estima que o setor público consolidado registrará um déficit primário de 812,2 bilhões de reais em 2020, o equivalente a 11,3% do Produto Interno Bruto, afirmou nesta quinta-feira o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues. 

Em apresentação em comissão do Congresso, Waldery disse que a expectativa é que o país chegue ao final do ano com uma dívida bruta de 94,7% do PIB e uma dívida líquida de 67,2% do PIB. As projeções levam em conta uma retração de 4,7% do PIB no ano e não consideram, no caso da dívida, uma eventual ação do Banco Central que impacte o indicador, como a venda de reservas internacionais, disse Waldery.


A POLÊMICA BATALHA PARA IMPEDIR SACRIFÍCIO DE CAVALO QUE GANHOU HABEAS CORPUS EM SP


A princípio, o mangalarga Franco seria sacrificado logo após o resultado do exame que diagnosticou doença grave, mas o proprietário do animal recorreu à Justiça para impedir sua morte 
Vinícius Lemos 30/07/2020 - 07:19 

 O cavalo Franco do Pec, da raça mangalarga, era considerado pelo seu dono como uma das apostas para futuras competições de equinos. No entanto, há três anos ele está recluso, corre o risco de ser sacrificado e não pode participar de disputas, após um exame apontar que ele tem uma doença grave. O diagnóstico, porém, é questionado pelo proprietário do animal. Segundo o exame, feito em setembro de 2017, Franco tem mormo, uma zoonose contagiosa que pode infectar outros bichos e humanos. Não há vacina ou cura para a enfermidade. 

Comumente, animais diagnosticados com a doença são sacrificados para evitar a propagação da mazela, que é causada pela bactéria Burkholderia mallei e afeta, principalmente, o sistema respiratório. A princípio, Franco seria sacrificado logo após o resultado do exame. No entanto, o proprietário do animal, o produtor rural Felipe Hamilton Loureiro, de 60 anos, recorreu à Justiça para impedir a morte do cavalo. Ele questionou o resultado do exame e disse que o equino não tem a doença, pois nunca havia apresentado sintomas e recebia assistência médica adequada para impedir que pudesse contrair uma mazela. 

A Justiça suspendeu o sacrifício de Franco, mas determinou que o animal ficasse recluso em um centro de treinamentos até que houvesse uma decisão sobre o seu futuro. Outros exames feitos no Brasil também atestaram que o animal tem mormo. No entanto, Loureiro pediu à Justiça que os materiais genéticos do cavalo fossem analisados em um laboratório da Alemanha, considerado por produtores de equinos como referência para tais exames. 

A defesa do produtor rural relata que o sangue do cavalo foi colhido por um veterinário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e encaminhado para a Alemanha. O exame no laboratório do país europeu apontou que o animal não tem a doença. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo questionou o resultado. 

Em 17 de junho, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) concedeu um inusitado habeas corpus — normalmente concedido a humanos — ao cavalo, para permitir que Franco deixe a reclusão em que vive há quase três anos

A HISTÓRIA DE FRANCO 

Dono de diversos cavalos, Loureiro conta que percebeu que Franco poderia ter destaque após o animal ganhar cerca de 20 competições entre equinos nos três primeiros anos de vida. "Ele venceu até competição nacional entre potros", diz o produtor rural. Produtor rural Felipe Hamilton Loureiro, de 60 anos, luta na Justiça para recuperar cavalo que está em isolamento há três anos 

Classificado pelo dono como um "reprodutor de alto valor genético" em razão de sua raça e de seu alto desempenho físico, Franco participava de diversas exposições agropecuárias. Em setembro de 2017, enquanto se preparava para um dos eventos nacionais mais importantes do ano, o animal passou por exames de rotina em um centro de treinamentos em São João da Boa Vista, no interior de São Paulo. 

Os resultados dos exames impediram Franco de participar de qualquer outra atividade, em razão do diagnóstico de mormo. 

"Não acreditei nesse exame. Um dos motivos que pode justificar esse falso positivo é que ele tinha tomado uma série de vacinas dias antes. O Franco não tem mormo. Ele sempre recebeu cuidados intensos, tinha feito exames meses antes que não apontaram nada e não tinha nenhum sintoma", diz Loureiro. 

A Defesa Agropecuária de São Paulo determina o imediato sacrifício de animais com mormo, para evitar a propagação da doença entre outros bichos. No entanto, Loureiro logo recorreu à Justiça. Ao determinar o isolamento de Franco no centro de treinamentos, o juiz de São João da Boa Vista, Heitor Siqueira Pinheiro, pediu novos exames. Todos os testes feitos no Brasil reafirmaram o diagnóstico da doença. A defesa de Loureiro argumentou que os diagnósticos no Brasil possuem métodos semelhantes para analisar os materiais genéticos e, por isso, os resultados sempre serão semelhantes. Desta forma, o advogado pediu que os materiais do cavalo fossem colhidos e encaminhados para um laboratório da Alemanha. "É um país considerado referência para teste de mormo, porque tem uma técnica apurada", diz o advogado Fernando Tardioli, responsável pela defesa do produtor rural. 

Em primeira instância, a defesa não conseguiu autorização para o teste fora do país. Então, protocolou pedido no Tribunal de Justiça de São Paulo. No início de 2020, o produtor rural conseguiu permissão para fazer o exame do cavalo na Alemanha. "O sangue do Franco foi recolhido, sob a supervisão de um fiscal do Ministério da Agricultura, e levado para a Alemanha. Tudo isso foi custeado pelo dono do animal e seguindo o protocolo apontado pela Justiça", afirma Tardioli. 

O resultado do exame na Alemanha deu negativo. "Já era esperado. O Franco não tem absolutamente nada, sempre esteve bem e vendendo saúde", afirma Loureiro. O produtor rural argumenta que manteve proximidade com o equino desde que ele foi isolado, mas nunca pegou qualquer doença do animal. "Nenhum animal que convivia com ele antes do isolamento pegou a doença. Não há nada que possa indicar que ele tem mormo", diz Loureiro. 

HABEAS CORPUS AO CAVALO 

O resultado do exame da Alemanha foi questionado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. A pasta disse à Justiça que devem prevalecer os resultados nacionais. A secretaria afirmou que Franco ficou sob cuidado de Loureiro desde que foi diagnosticado com a doença e disse que o produtor rural pode ter administrado "medicamentos que interferiram na resposta imunológica" do animal, que podem ter favorecido um resultado negativo. A defesa de Loureiro, porém, argumentou que fez todos os procedimentos indicados pela Justiça para que o exame no exterior fosse feito adequadamente e negou qualquer interferência no resultado. 

No Tribunal de Justiça de São Paulo, o relator do caso, desembargador Souza Meirelles, da 12ª Câmara de Direito Público, citou que a doença de mormo tem um "potencial realmente devastador" e disse que o quadro de Franco não evoluiu para a morte ao longo de quase três anos. O magistrado frisou ainda que não há relatos de animais ou até humanos, como o tratador do animal, que tenham sido infectados pela doença, que poderia ter sido transmitida pelo equino. Cavalo está em isolamento desde que foi diagnosticado com doença de mormo, que não tem cura e pode ser transmitida para outros animais e até para humanos 

O desembargador citou que "o sacrifício de animais representa um ciclo já ultrapassado no contexto do atual estágio moral e espiritual da civilização", por isso destacou que é fundamental haver rígido controle do judiciário sobre o sacrifício, que, segundo ele, deve ocorrer somente em casos "excepcionalíssimos", quando não houver alternativas terapêuticas. "A moderna formulação dogmática dos Direitos dos Animais (...), já consagra entrementes alguns direitos fundamentais igualmente intocáveis, como o direito à vida, à liberdade monitorada, conferindo-lhes tal dignidade existencial dentro da escala biológica que impede que figurem como receptáculos de atos de crueldade, ainda que para fins científicos ou sanitários", assinalou o desembargador.

Por considerar que não há comprovações seguras de que o animal possui a doença, o relator se baseou no exame feito na Alemanha e votou pela concessão de habeas corpus a Franco, para impedir que o animal seja sacrificado e para que ele possa deixar o isolamento. O voto foi acompanhado pelos outros dois desembargadores da 12ª Câmara de Direito Público. "É uma decisão inédita terem concedido um habeas corpus para um animal. Foi algo totalmente excepcional", diz o advogado Fernando Tardioli. 

Para Loureiro, que costuma visitar Franco a cada um ou dois meses, a decisão é uma vitória. Ele classifica como extremamente desgastante tudo o que vive em relação ao cavalo, hoje com seis anos, desde que o animal foi diagnosticado com mormo. "Eu crio cavalos porque gosto deles, está no sangue. Apendi com o meu avô, que era tropeiro. Não quero ver o Franco sacrificado", afirma à BBC News Brasil. 

Apesar da decisão favorável no Tribunal de Justiça, o fato não representou o início da vida em liberdade de Franco. Isso porque foi analisado apenas um recurso do caso, que tramita em primeira instância. A decisão sobre uma possível saída de Franco do isolamento cabe, neste momento, à comarca de São João da Boa Vista. A defesa de Franco protocolou pedido ao juiz para que libere o animal, com base na decisão do TJSP. No entanto, o magistrado solicitou novos exames no Brasil para que possa autorizar a liberdade do animal. Ele também pediu nova manifestação da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo sobre o assunto. Cavalo conseguiu habeas corpus no Tribunal de Justiça de São Paulo para que seja colocado em liberdade, mas ainda aguarda decisão da primeira instância 

"O juiz pediu novos exames no Brasil, mas pelo método adotado aqui e pelo fato de já ter dado tanto resultado positivo para a doença, é muito difícil que dê negativo agora. Até porque os laboratórios marcam os nomes dos cavalos. Como é uma doença sem cura, se der negativo agora vai ser uma forma de dizer que eles erraram e, consequentemente, trouxeram prejuízos aos donos do cavalo. Então, dificilmente teremos um resultado negativo por aqui", declara Tardioli. "Se o juiz não reconhecer o resultado da Alemanha, que confirmou que o cavalo não tem a doença, vamos recorrer novamente ao Tribunal de Justiça, pois não vamos permitir que o Franco seja sacrificado de maneira arbitrária", acrescenta o advogado. 

Em nota à BBC News Brasil, a Procuradoria Geral do Estado de São Paulo informa que impugnou o exame feito na Alemanha "com base na fundamentação técnica da Secretaria da Agricultura e Abastecimento e do Ministério da Agricultura", que aponta que há mais de 10 exames de Franco, feitos no Brasil, que deram positivo para mormo. "O único resultado negativo foi registrado na análise na Alemanha", diz a Procuradoria. Enquanto o caso segue na Justiça, Franco permanece isolado por tempo indeterminado no centro de treinamento. 

 Fonte: https://epoca.globo.com/brasil/a-polemica-batalha-para-impedir-sacrificio-de-cavalo-que-ganhou-habeas-corpus-em-sp-24558105

Lava Jato e o triplex da família Marinho em Paraty: entenda por que a Globo ataca Aras e defende a turma de Dallagnol

Publicado por Joaquim de Carvalho - 30 de julho de 2020 ​ ​ ​ 
Por Joaquim de Carvalho 

A defesa quase histérica que o Grupo Globo faz da Lava Jato é resultado do mau jornalismo que caracteriza a emissora há pelo menos 20 anos — no caso da TV, desde que Evandro Carlos de Andrade morreu e uma disputa interna deu poder na redação a burocratas que nunca haviam se destacado na profissão. Mas não só. A Globo é devedora da Lava Jato em pelo menos um caso, o dos papéis apreendidos no escritório da Mossack Fonseca em São Paulo, na mesma época que a matriz, no Panamá, era o centro de um escândalo internacional de lavagem de dinheiro. Manuscritos encontrados no escritório indicam que, por trás da empresa de fachada que tem a propriedade do triplex na praia de Santa Rita, em Paraty, está a família proprietária da Rede Globo. 
O nome que aparece é a de Paula Marinho, filha de João Roberto Marinho. Os papéis foram encontrados pela Polícia Federal ao cumprir mandado de busca e apreensão assinado pelo então titular da 13a. Vara Federal Criminal em Curitiba, Sergio Moro. 
Formalmente, era o Ministério Público Federal que buscava provas no caso do triplex do Guarujá, que a força-tarefa atribuía ao ex-presidente Lula. É que, naquele condomínio, o Solaris, algumas unidades estavam em nome de offshore administrada pela Mossack Fonseca. Formalmente, era o Ministério Público Federal que buscava as provas, mas, como já se suspeitava à época e se comprovou mais tarde, com os diálogos da Vaza Jato, era o próprio Moro quem orientava os procuradores na estratégia de acusação ao ex-presidente da república. 
Com os papéis em mãos, a Lava Jato constatou que a offshore proprietária de unidades no condomínio do Guarujá não tinha nenhuma relação com Lula, mas outros papéis apontavam para a propriedade do triplex de Paraty, alvo de uma investigação bem mais antiga, na Justiça Federal em Angra dos Reis. 
Um ano depois, quando realizei para o DCM uma série de reportagens sobre a morte do ex-ministro do STF Teori Zavascki, os papéis não tinham chegado a Angra dos Reis, e tudo indica que nunca chegará. 
Há dois processos na Justiça Federal em Angra dos Reis sobre o triplex, um civil, que tem o objetivo de demolir a mansão, já que foi erguida ilegalmente em área de proteção ambiental, e outro criminal. O problema é que, apesar da investigação começar em 2009, com o relato de um turista, até hoje não há no processo a prova que liga a mansão a seus reais proprietários, a família Marinho. 
A prova está nos papéis da Mossack Fonseca, mas a Lava Jato, até onde se sabe, não os encaminhou para o Ministério Público Federal em Angra dos Reis. Premiado em concurso internacional de arquitetura, o triplex de Paraty, com piscina construída na areia da praia, chamou a atenção de DS (ele pediu ao DCM que publicasse apenas suas iniciais), que é funcionário público da Justiça Federal em outra jurisdição. 
DS fazia um passeio de barco com outros turistas quando foi informado de que não poderiam se aproximar da praia de Santa Rita, onde fica a mansão, pois havia bóias que fecham acesso e seguranças armados que impedem qualquer aproximação. 
DS queria parar na praia, mas o condutor da escuna informou que não poderia. No passado mais distante, quando a área pertencia a Francisco William Munhoz e sua irmã, Elizabeth, o acesso era livre, mas, depois que “um membro da família do sr. Roberto Marinho” comprou o sítio, a praia e um pedaço de mar foram “privatizados”, como se diz em Paraty. 
Foi o que ele relatou no e-mail que enviou ao Ministério Público Federal. 
Disse mais: “Além do relato dessa pessoa (o condutor da escuna), que toda semana passa pelo local, por conta do trajeto rotineiro do passeio de escuna, pude ver tudo o que estou informando. Lamentavelmente não pude fotografar o local, pois minha câmera estava com defeito. Acredito que, por se tratar de propriedade de uma família com tanta influência e poder econômico, muitos jornalistas, políticos e autoridades locais tenham temor de investigar o caso, porém é sabido que a lei tem de ser igual para todos. Necessário se faz, ao meu ver, uma diligência ao local.” 
Fiscais do Instituto Chico Mendes, do Ministério Público Federal, estiveram no local meses depois, com a proteção da Polícia Federal, já que eram impedidos de entrar. O relato deles faz parte dos processos em Angra dos Reis, que não avançam, apesar da prova de ouro que a Lava Jato encontrou na Mossack Fonseca. 
Onze anos depois do relato do funcionário público DS, a mansão continua lá e os nomes da família Marinho só aparecem em seu relato inicial, a cópia do e-mail — que, a rigor, nem deveria estar lá, já que o funcionário público DS pediu aos procuradores anonimato, em razão do risco de perseguição. 
Nos documentos em cartório e no processo, aparecem registros de uma empresa brasileira, a Agropecuária Veine, controlada por uma empresa de Las Vagas, a Vaincre, por sua vez sob domínio de offshores abertas no Panamá pelo escritório Mossack Fonseca, sem identificação dos reais proprietários. 
Há o nome de dois procuradores, pessoas humildes, que foram indiciadas — uma delas nunca atendeu à intimação para comparecer em juízo, e também nunca foi alvo de mando de condução coercitiva, nesse caso justificável. 
São idosos, e um deles fez acordo de transação penal com o Ministério Público e afastou o risco de condenação. Sua parte no acordo foi entregar produtos de higiene a um asilo em Paraty. Quando se vê hoje na Globonews um batalhão de jornalistas escalados para desqualificar o relato do procurador-geral da república, Augusto Aras, sobre os desvios da Lava Jato, é impossível não lembrar a situação que vivi na Praia de Santa Rita, quando gravei um boletim enquanto, ao fundo, um segurança gritava e me mandava embora. Não fui, porque a praia é pública, apesar da piscina que foi construída ali. Nesse dia, a mansão estava sem seus proprietários, mas a imponência da construção não permitia esquecer que o local era de pessoas que se comportam como donos do Brasil, pessoas acima da lei. 
E, pelo que se vê na Lava Jato e também nos processos em Angra dos Reis, eles são tratados mesmo como se estivessem acima da lei. E recompensam seus serviçais, diretos e indiretos. Os empregados diretos são remunerados para defender os interesses dos patrões. Os indiretos usam o poder público de que desfrutam para blindá-los. Em troca, ao que parece, também são protegidos quando quem está no topo da hierarquia do Ministério Público quebra o silêncio e aponta a “caixa de segredos” da Lava Jato. Uma mão lava a outra, mas os empregados nunca poderão entrar na piscina em cuja margem estive, mas não entrei. Não porque não pudesse, já que a piscina está em área pública, mas para evitar o risco de levar um tiro.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

La historia de Ida Laura Pfeiffer, la trotamundos



Por Javier Luzuriaga









A mediados del siglo XIX no se viajaba por placer. Era caro, azaroso, extremadamente incómodo y el peligro mortal nunca estaba lejos. Los hombres viajaban por negocios y las mujeres para acompañarlos o por razones de fuerza mayor. Ida Pfeiffer era viuda y nada la obligaba a hacerlo, pero en 1842 comenzó una serie impresionante de viajes por la pura pasión de conocer el mundo y sus maravillas.


Ida Laura Reyer nació en Viena, en 1797, en una familia de buena posición económica. De niña se vestía de varón y, según su propia evaluación, era más atrevida y arriesgada que sus cinco hermanos. Pero con la adolescencia, la forzaron a acatar los cánones de su tiempo y su clase social. Se casó a los 20 años, con un hombre 24 años mayor. Tuvo dos hijos, y el resto de su vida usó, como era costumbre, el apellido Pfeiffer de su marido. El matrimonio vivió gran parte del tiempo en ciudades diferentes, e Ida tuvo que trabajar en Viena dando lecciones de piano y dibujo porque las fortunas familiares tuvieron un declive pronunciado. Enviudó en 1838 y para 1842 sus hijos eran independientes. Por fin pudo hacer lo que quiso, y lo que quería era viajar.


A los 45 años, después de una vida convencional, donde por propia definición fue bastante desgraciada, se largó a conocer el mundo. Como concesión al que dirán, hizo un peregrinaje a Tierra Santa, un destino inobjetable para una respetable dama vienesa. No teniendo mucho dinero, viajaba de la manera más frugal posible, insensible a incomodidades o privaciones. Bajó por el Danubio, visitó Estambul, Líbano, Tierra Santa y se las ingenió para llegar hasta Damasco, volver por Egipto, ir a Suez en camello, cruzar a Sicilia y volver a Viena por Nápoles y Roma.

Un amigo editor la convenció de escribir sobre su viaje, aunque Ida lo publicó anónimamente, como “Viaje de una vienesa a Tierra Santa”. Tuvo un gran éxito, los relatos de viajes estaban de moda. Mucho más cómodo leer sobre regiones remotas desde un sillón que subirse a un camello o a un velero. Y hoy, sus relatos nos permiten el viaje imaginario a épocas y lugares que ya no existen.

El libro financió su siguiente viaje hasta Islandia cruzando el Atlántico Norte en velero, una navegación riesgosa e incómoda. Ida se quejaba tanto de la comida de a bordo como de la de Islandia. Aparte de las impresionantes bellezas naturales, sacó una mala impresión de los habitantes, su pobreza y las condiciones durísimas en las que vivían. Era implacable al evaluar lo que veía, y lo expresaba de forma sincera y hasta brutal. Un atractivo para sus relatos de viaje que los lectores apreciaban.

Publicó sus vivencias, ahora con su nombre, y otra vez tuvo éxito. Ya podía financiar una vuelta al mundo, aunque dijo que iba “solo” a Brasil para tranquilidad de sus allegados. Cruzó el Atlántico en velero, porque era mucho más barato que el viaje más rápido, cómodo y seguro en un barco a vapor.

En Río, cazaba insectos para vender a coleccionistas europeos y redondear el presupuesto. La belleza de la selva le impactó, pero no así la ciudad. Cadáveres de perros y gatos en descomposición vistos en una plaza confirmaron su impresión de que Río era sucia y caótica. En su libro, se perciben prejuicios de época, pero también una mirada directa y un criterio propio. Los negros le parecieron feos físicamente. Le sorprendió lo numerosos que eran, porque antes de viajar se informó muy poco, una de sus características como viajera. Pero Ida refutaba, por su observación directa, a los esclavistas que pintaban a los negros como inferiores, subhumanos, de menor inteligencia. Veía con sus propios ojos el dominio que tenían negros y mulatos de variados oficios y artes. Los consideraba tanto o más inteligentes y hábiles que los blancos. La falta de educación, según ella, era la principal diferencia entre unos y otros. Aborrecía la institución de la esclavitud.

Desde Río partió hacia Valparaíso, por el Cabo de Hornos, sin escalas. Otra navegación peligrosa en velero, pero llegaron sanos y salvos. En la siguiente etapa se propuso llegar hasta China, con escala en Tahití. Luego Ceylan, India y el Golfo Pérsico. En caravanas de camellos fue a Bagdad y, de allí, hasta Tabriz, en el actual Irán.
La creciente red diplomática del Imperio británico incluía allí a un cónsul que se sorprendió al ver una mujer occidental y quedó estupefacto al saber cómo había llegado. Ida volvió a través de Odessa, en Ucrania. La policía del Zar la trató como sospechosa y este país cristiano le pareció menos hospitalario que las tierras mahometanas que había atravesado antes. El viaje le llevó dos años y cinco meses.

Ya famosa, su tercer libro financió otra vuelta al mundo. Partió en 1851, a sus 54 años, yendo a Ciudad del Cabo con idea de explorar el interior, todavía desconocido y misterioso para los europeos. Pero esa expedición era demasiado costosa y siguió viaje hasta Malasia. Exploró el archipiélago durante meses, coleccionando mariposas, insectos y plantas para vender. Nada la amedrentaba. Desoyendo consejos de otros europeos se adentró en territorios de tribus hostiles. Una vez, rodeada de un grupo de presuntos caníbales, salió del paso chapurreando una frase del idioma local que había memorizado: “soy una mujer vieja y flaca, mala para comer”. Se rieron y la dejaron volver sana y salva.

Su último viaje fue a Madagascar. Por inconsciencia, se vio envuelta en un complot de europeos para destronar a Ranavalona, reina nativa que mantuvo a Madagascar orgullosamente independiente por años. Los conspiradores fueron deportados, obligados a viajar a pie hasta el puerto, por lugares infestados de malaria. Aunque sobrevivió, Ida llegó enferma a Viena, donde murió, a sus 61 años.

Intrépida aventurera, naturalista de campo, viajera incansable, Ida Pfeiffer fue un ejemplo de independencia, fuerza de voluntad y arrojo. Temeraria, no medía sus palabras ni callaba sus opiniones, llegó a lugares donde otros europeos no se atrevían a pisar.

Fuentes: 

*Javier Luzuriaga es soci@ de Página/12 y fisico jubilado del Centro Atómico Bariloche- Instituto Balseiro.

EM USA, o numero de mortes por Coronavid-19 chega aos 150.000

Nada como um governo bem capitalista e fã da cloroquina, que pouco se importa com a saúde pública, né?  


Novas preocupações sobre grandes reuniões, com o número de mortes por coronavírus nos EUA ultrapassando 150.000

Com os casos de coronavírus surgindo nos EUA, há novas preocupações sobre grandes reuniões que ocorrem em várias cidades sem distanciamento social ou máscaras, incluindo um concerto lotado em Nova York.

terça-feira, 28 de julho de 2020

Mais um pústula candidatando-se - Racha de MDB e DEM com o Centrão aponta articulação em torno de Doria em 2022



O PSDB deve apoiar o nome defendido por DEM e MDB para a Presidência da Câmara de Deputados e, em troca, o MDB e DEM realizarão alianças com os tucanos em São Paulo nas eleições de 2020 e 2022, segundo matéria da Folha de S. Paulo
28 de julho de 2020, 15:50 h Atualizado em 28 de julho de 2020, 17:01

(Foto: Gilberto Marques/Governo do Estado de São Paulo)


247 - O racha do DEM e do MDB com um setor do Centrão na Câmara dos Deputados “vai além da disputa pela presidência da Casa”, informa reportagem da Folha de S. Paulo. A matéria aponta no sentido da construção da candidatura de João Doria (PSDB), ou outro político da chamada centro-direita, para as eleições presidenciais de 2022. Essa candidatura serviria para colocar a direita de volta ao poder, divergindo com o petismo e o bolsonarismo.

Outro nome para a candidatura é Luciano Huck, apresentador da Rede Globo.Mas Doria continua sendo o principal nome deste grupo, na medida em que ganhou capital político ao se contrapor, inicialmente, à política de ingerência do governo de Jair Bolsonaro frente à pandemia do coronavírus.

Apesar do líder do DEM, deputado Efraim Filho, dizer que o racha com um setor de Centrão não tem relação com a sucessão de Maia na presidência da Câmara, a matéria da Folha aponta que o atual presidente da Casa “passou a trabalhar contra o favorito do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para sua cadeira, Arthur Lira (Progressistas-AL)”. 

O principal nome que aparece como concorrente a Lira é o deputado Baleia Rossi (MDB-SP). “Seja como for, o candidato de Maia para sua sucessão quase certamente terá o apoio de Doria e do PSDB”, informou o artigo.

Maia e Rossi se reuniram com o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, sucessor de Doria, no mês de junho. Segundo a Folha, nesta reunião se articulou a vice prefeitura na chapa de Covas com o MDB e o vice de Doria nas eleições presidenciais de 2022 com o DEM, através de Rodrigo Garcia.

Cloroquina: operação abafa



Deputado federal (PT-MG)

"Há fortes indícios de, no mínimo, improbidade administrativa por parte de Jair Bolsonaro e sua insistência na cloroquina. Por isso é inaceitável a posição do STJ e da Procuradoria-Geral da República (PGR), que teimam na omissão", escreve o deputado Rogério Correia. "Charlatanismo é coisa séria e grave, passível de punição"
28 de julho de 2020, 10:42 h Atualizado em 28 de julho de 2020, 11:21

Fachada do STJ e Bolsonaro mostrando caixa de cloroquina (Foto: Reprodução | ABr)


Há algo de muito estranho no assunto “cloroquina” e “governo Bolsonaro”. Não se trata apenas do desatino ilegal cometido pelo presidente da República ao se portar como garoto propaganda de um remédio de eficácia não comprovada. Claro, isso é sério, pois pode até matar, tendo em vista os conhecidos efeitos colaterais de medicamentos usados sem acompanhamento médico.

Mas há fortes indícios de, no mínimo, improbidade administrativa por parte de Jair Bolsonaro e sua insistência na cloroquina. Por isso é inaceitável a posição do STJ e da Procuradoria-Geral da República (PGR), que teimam na omissão. Há mais de duas semanas enviei, como parlamentar, pedido de apuração sobre a fabricação em massa de cloroquina por parte do setor público. Até o momento, sequer satisfação recebi sobre o fato.

É o próprio Jair Bolsonaro quem desperta as desconfianças. Foi ele quem informou que o Exército brasileiro produziria o medicamento, obviamente em parceria com algum laboratório (qual laboratório? E pertencente a quem?).

Mesmo Donald Trump (de quem Bolsonaro quer fazer acreditar ser “amigo”), que inaugurou mundialmente a irresponsabilidade do merchandising da cloroquina, já desistiu da empreitada. Pragmaticamente, até porque não anda bem das pernas em popularidade entre seus compatriotas, Trump prioriza agora a compra de vacinas contra a covid-19. Largou de lado a xaropada da hidroxicloroquina. Mandou o que tinha lá para o Brasil.

Técnicos que estão assessorando o Ministério da Saúde alertam para um estoque parado de mais de 4 milhões de comprimidos de cloroquina. Por que uma quantidade tão absurda? E por que o estoque está parado?

Através da Comissão Externa criada na Câmara para acompanhar as ações preventivas ao coronavírus, enviamos também documento oficial pedindo informações ao ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva. Por que o Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx) saiu de uma produção de até 250 mil comprimidos em dois anos (para consumo interno no combate à malária, doença esta sim comprovadamente combatida pela cloroquina) para 1 milhão por semana? Quais laboratórios estão atuando em parceria? Qual o gasto público? Como está sendo feita a distribuição?

Como já dá para imaginar, nenhuma dessas questões foi respondida, sequer em documento enviado ao Congresso.

Parece haver uma espécie de “operação abafa” sobre o assunto. Fiz duas convocações, ao ministro da Saúde e ao ministro da Defesa, para falarem sobre o assunto no Congresso. Nenhuma delas vai a votação.

Nossa representação na PGR continua também ignorada solenemente. Por que sequer a abertura de uma investigação é decidida? E o STJ, que ganhou a mídia nos últimos dias para soltar o Queiroz e livrar sua mulher? Por que também ignora nossa representação?

Tudo muito estranho. Charlatanismo é coisa séria e grave, passível de punição. Corrupção também. Omitir-se em relação a desvios, apenas para bajular o momentâneo dono do poder, é da mesma forma condenável.

A má notícia para PGR, STJ, Ministério da Saúde, governo em geral: não vamos desistir, pelo contrário. Aguardem para em breve novas medidas. Veremos até onde vai o constrangimento dessa turma...

Sindicatos convocam manifestação nacional no Chile contra o governo


Santiago do Chile, 28 de julho (Prensa Latina) A Central Unitária de Trabalhadores (CUT) do Chile convocou hoje uma manifestacão nacional para sexta-feira, coincidindo com as contas públicas que o presidente Sebastián Piñera prestará ao país.

A maior organização sindical exigiu em declarações claras do presidente que o custo da atual crise de saúde, econômica e social não devesse mais ser suportado pelos trabalhadores.

Nesse sentido, a CUT exigiu do presidente medidas que garantissem aumento de impostos sobre grandes fortunas, para dispor de recursos que mitigassem o impacto sofrido pelos setores mais vulneráveis e como primeiro passo para superar as enormes desigualdades do país.

Também exige uma falta de confinamento segura e controlada para evitar contratempos no confronto com o Covid-19, e medidas econômicas concretas para garantir a recuperação pós-pandemia e garantir o emprego e a renda dos trabalhadores, e não apenas subsídios às empresas.

Ele também exige do presidente medidas para que o Plebiscito Constitucional de 25 de outubro seja realizado com garantias aos cidadãos e nesse sentido garanta agora medidas sanitárias, para não se arrepender de um surto da doença que põe em causa a celebração dessa importante convocação.

A declaração da CUT critica o governo por 'seu perfil anti-trabalhador e falta de diálogo com atores sociais' e sublinha que a resposta às demandas do surto social no ano passado foram a repressão e a busca de acordos de cúpula sem legitimidade social .

Ele acrescenta que, em meio à pandemia, as injustiças e as desigualdades continuam se aprofundando, fazendo com que o peso da crise caia na grande maioria.


Por fim, chama seus afiliados a 'um dia de ações de protesto para 31 de julho às 21:00, horário local, cuja expressão principal é um Cacerolazo Nacional e a colocação de bandeiras negras nas casas'.

Indica também que a CUT apresentará sua avaliação e posição em relação ao equilíbrio feito pelo Presidente SebastiaÌün PinÌ?era em sua Conta Pública e concordará com as organizações sindicais amigas, os passos a seguir.

oda/rc/jcfl

Na Bolívia, milhares de pessoas tomam as ruas e exigem eleições para garantir a saúde e a democracia


Prensa, 28-07-2020

Reportes en redes sociales de las ciudades de Sucre, Potosí, La Paz, El Alto, Villazón, Santa Cruz, Cochabamba, Trinidad, Cobija, Riberalta, el Trópico de cochabambino, muestran que millones de bolivianas y bolivianos marchan a la Cabeza de la Central Obrera Boliviana (Cob) exigiendo recuperar la democracia para garantizar salud, economía.

El máximo ejecutivo de la Cob, Juan Carlos Guarachi, durante la marcha dijo a los periodistas que el Gobierno interno, hasta la fecha, “no ha respondido a ninguna de las demandas de los sectores en todo el país como el pliego petitorio, a las demandas del sector salud, educación, mineros, fabriles, campesinos, productores agrícolas, transporte y otros”.

“¡El pueblo quiere elecciones ya!, no al golpe de Estado, ¡Fuera Áñez!” son algunas de las pancartas que llevan estas frases, los sectores sociales se movilizan en diferentes puntos de Bolivia exigiendo al Tribunal Supremo Electoral (TSE) el cumplimiento de la fecha de las elecciones previstas para el 06 de septiembre.

Los videos revelan que la ciudad de El Alto, protagoniza la marcha más multitudinaria del país convocando a miles de personas desde muy temprano a sectores como juntas vecinales, maestros, fabriles, campesinos, mineros, comerciantes, sector informal, clase media, ayllus del norte potosino, comunidades de ponchos rojos de varias regiones del Altiplano inundaron diferentes calles y avenidas.

“Bolivia marcha, recuperemos la democracia”, esa es nuestra consigna dijo uno de los dirigentes, que de manera disciplina ordena a sus bases prepararse para la marcha. Todos en fila y cumpliendo con las medidas de bioseguridad para evitar contagios.

Estandartes, pancartas, banners que identificaban a los sectores y los estribillos pidiendo a Añez cumplir con las demandas de los sectores afectados por la crisis económica, social y educativa.
Se observa la presencia de comunidades rurales mostrando los multicolores de su vestimenta, ponchos, polleras, chicotes que acompañan la protesta en esta movilización que tiene previsto recorrer La Portada, el Cementerio, Pérez Velasco, El Prado y otros lugares.

La Central Obrera Boliviana (COB), en pasados días, protesto para exigir al Gobierno transitorio el cumplimiento de una agenda de 13 puntos, entre los que se contempla el uso del dióxido de cloro, el rechazo del Decreto Supremo 4272 de reactivación económica y la abrogación del decreto 4260 referida a la educación virtual y el cumplimiento a la fecha de las elecciones que fue postergada de manera unilateral por el TSE.

'Doutor é quem tem doutorado': os médicos e advogados que preferem não ser chamados de doutores


Vinícius LemosDe Cuiabá para a BBC News Brasil

14 novembro 2019


Direito de imagemARQUIVO PESSOALImage caption'
É um título que deve ser usado somente no ambiente acadêmico', diz a ginecologista Melania Amorim, que tem doutorado

Melania Amorim é ginecologista e obstetra. Um fato que faz parte da rotina da profissão a incomoda: o termo doutora, utilizado pelos pacientes que são atendidos por ela em um hospital público de Campina Grande (PB).

"Doutor é quem tem doutorado", diz ela — que tem doutorado —, à BBC News Brasil. Ela explica: "Ainda assim, é um título que deve ser usado somente no ambiente acadêmico".

Para ela, a palavra doutor carrega uma hierarquia que afasta médico e paciente. "Parece que o médico é sempre o detentor do saber, o todo poderoso, enquanto o paciente não sabe nada e vai se submeter passivamente àquelas orientações. Penso que isso não se admite mais na atualidade, em que a gente acredita em uma medicina baseada na humanização do cuidado", declara.

Logo no início das consultas, ela costuma explicar brevemente aos pacientes que não precisa ser chamada de doutora e pede que a chamem somente de Melania. "Os pacientes ficam meio atônitos quando toco nesse assunto e nem sempre entendem. Por isso, a gente tem que explicar com muito carinho e cuidado."

Nem sempre o pedido da profissional é atendido, pois, segundo ela, a tradição de utilizar o termo para denominar os médicos faz com que muitos pacientes não consigam.


"Eu não vou fazer uma confusão enorme com os pacientes, porque eles já vêm de determinada cultura, com determinados saberes populares. Se a pessoa continuar chamando de doutor, tudo bem. De todo modo, é importante fazer a defesa do fim do uso do doutor e explicar sobre o assunto para tentar construir uma nova cultura", declara a médica.

Ela conta que poucos médicos pedem para não ser chamados de doutores. "Eu diria que a minoria aderiu a isso, porque a maioria não participa dessa discussão, apesar de ser um tema meio antigo", afirma.

Melania admite que é um assunto polêmico e discutir sobre ele é arrumar problemas dentro da própria classe médica. Mas ela acredita que o número de profissionais que queiram deixar de ser "doutores" para os pacientes pode aumentar com o passar dos anos.

Outra área na qual é comum que os profissionais sejam chamados de doutores, mesmo sem doutorado, é o Direito. No segmento, também há profissionais que pedem para não ser chamados dessa forma, como a promotora de Justiça Maísa Oliveira, que atua na Defesa da Cidadania de Olinda (PE).Direito de imagem PRISCILLA BUHR/AMCSImage caption
A promotora de Justiça Maísa Oliveira, que atua na Defesa da Cidadania de Olinda (PE): 'Acho que o respeito pode ser expressado de outras formas, sem a utilização desse termo'

Maísa, cuja área de atuação tem contato direto com a população na busca por melhorias na prestação de serviços, afirma que tem uma relação conflitante com o fato de ser chamada de doutora. "Não sou doutora, porque não fiz doutorado. Mesmo que tivesse feito, não faria questão de ser chamada assim. Acho que o respeito pode ser expressado de outras formas, sem a utilização desse termo", diz.

No Brasil, em áreas como a Saúde e o Direito, outros diversos profissionais também são chamados de doutores — alguns, por preferência, até ostentam o título em cartões de visita ou nas redes sociais — e outros por hábito da população.

O tema desperta discussões. Especialistas afirmam que devido à tradição, não é errado chamar médicos e advogados de doutores. Porém, frisam que não pode haver imposição para o uso do termo, pois na legislação brasileira não há nenhuma norma que determine que qualquer profissional sem título de doutorado seja chamado de doutor.

Um dos principais argumentos para que os advogados sejam chamados de doutores é uma lei promulgada no Brasil há quase 200 anos. Porém, estudiosos questionam a validade desse decreto (entenda abaixo).

Principais entidades relacionadas a advogados e a médicos, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) não possuem posicionamento oficial sobre o tema polêmico.
A origem do termo

O título de doutor foi formalizado por meio das primeiras universidades criadas no mundo, no fim do século XI, na Europa. Na época, o termo era relacionado a doutores em Teologia ou Filosofia, que eram os professores que, após estudos, eram considerados aptos a ensinar.

"Mais tarde, a Universidade de Bolonha (Itália), passa a formar também estudiosos do Direito Romano, que eram os legistas e recebiam o título de Doutor em Leis, que também passaram a ser professores. Eles ainda se tornaram funcionários nas cortes europeias para estudar e redigir leis e outros documentos importantes", explica a professora de História e pesquisadora Tania Bessone, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

A partir de então, o título de doutor passou a se popularizar em todo o mundo. No Brasil, se tornou muito comum por meio das primeiras escolas de Medicina, no início do século XIX. "Na época, os médicos defendiam uma tese ao fim do curso e recebiam o título de doutor. Esse hábito de chamar de doutor surgiu nesse período, inspirado nos modelos de faculdades de outros países", comenta Melania.

Assim como no Brasil, o costume de chamar médicos de doutores permanece em outros países. Porém, Melania afirma que é importante frisar que há distinções nas formações acadêmicas. "Nos Estados Unidos, por exemplo, há um sistema diferente. Os estudantes fazem o college (iniciação ao ensino superior) antes do curso de Medicina. O médico, quando se forma, recebe o Medical Doctor (MD), que é um grau", explica.

Já em relação aos advogados, Otávio Luiz Rodrigues, professor de Direito da Universidade de São Paulo (USP), afirma que é incomum que as pessoas usem termos equivalentes ao doutor em outros países para identificar tais profissionais. "Eles são chamados de conselheiros, licenciados (que seria algo como bacharel em português) ou diretamente de advogados", detalha.
O decreto de Dom Pedro 1º

No centro da discussão de advogados brasileiros que afirmam que devem ser chamados de doutores está um decreto assinado por Dom Pedro 1º em 1827. No documento, o então imperador definiu que aqueles que concluíssem os cursos de ciências jurídicas ou sociais no Brasil poderiam ser considerados doutores. Assim, o uso do termo doutor se tornou cada vez mais popular.

A queda do império, as mudanças na legislação do país e todas as alterações no Brasil desde 1827 não são considerados argumentos válidos para muitos que defendem que advogados ainda são, oficialmente, doutores. Isso porque justificam que o decreto de Dom Pedro 1º nunca foi revogado.

Segundo Otávio Rodrigues, no entanto, o decreto não tem validade atualmente. "Não houve revogação expressa do decreto. Mas pelas legislações posteriores, que trataram de títulos acadêmicos, o título de doutor passou a ser concedido somente a pessoas que possuem doutorado."

"Eles não possuem prerrogativa para serem chamados assim. É apenas uma questão de tradição, de um costume linguístico que não foi abandonado", declara o professor de Direito.

O tema é polêmico até mesmo entre as instituições que representam as categorias. A OAB afirma que não há posicionamento do Conselho Federal da entidade sobre o tema.

Já o Conselho Federal de Medicina (CFM) justifica que o "tratamento doutor com relação ao médico resulta de uma tradição cultural". A entidade afirma que a decisão de chamar um médico de doutor depende do tipo de relação estabelecida entre o profissional e o paciente e "pode variar em função do grau de proximidade, do tempo de convívio e da diferença de idade" entre eles.

O CFM afirma que não há uma imposição para o uso do termo, mas também não há uma restrição. "Tudo deve acontecer dentro de um ambiente de respeito e cordialidade", conclui nota encaminhada à BBC News Brasil, assinada pelo vice-presidente da entidade, Donizetti Giamberardino.
'Não sou doutor'Direito de imagemARQUIVO PESSOALImage caption
Aviso serve também como uma forma de 'quebrar o gelo' no atendimento, diz o defensor público Renan Reis

Os profissionais que comumente são chamados de doutores e não querem ser definidos assim dizem que é complicado explicar a questão ao público.

"Prezados, o nome do defensor público é Renan. Não é doutor. Não é excelência. Não é senhor. É, simplesmente, Renan", diz um papel colado na porta da sala do defensor público Renan Reis, que atua em Codó (MA). Segundo ele, foi uma medida tomada para demonstrar que não existe relação de hierarquia entre ele e as pessoas que atende.

"Esse aviso serve também como uma forma de 'quebrar o gelo' no atendimento, porque as pessoas já chegam perguntando por que não quero ser chamado de doutor. Explico que estamos ali para ajudar, que somos iguais. Percebo que isso deixa a pessoa mais à vontade para contar seu caso", comenta o defensor público.

Para tentar humanizar o atendimento àqueles que o procuram, passou a usar roupas mais leves. Ele deixou de lado o terno, pois acredita que, assim como a retirada do "doutor", a mudança da vestimenta também colabora para melhorar o diálogo com o público que o procura.

"Durante os atendimentos, utilizo roupas mais casuais, como calça jeans e camisa polo, ou mesmo camiseta da própria Defensoria. Isso gera maior conexão com as pessoas", comenta.

Três anos atrás, Renan viu sua postura de inovar no atendimento ao público repercutir na internet. Isso porque uma fotografia com o aviso que consta na porta da sala dele viralizou nas redes sociais.Direito de imagemARQUIVO PESSOALImage caption
Para tentar humanizar o atendimento àqueles que o procuram, Renan deixou de lado o terno que usava, pois acredita que, assim como a retirada do 'doutor', diz Renan

"Recebi inúmeras mensagens de pessoas compartilhando o aviso. Ao mesmo tempo em que achei interessante a repercussão, gerou um bom debate", conta. Ele revela que ficou surpreso ao notar que muitas pessoas defendem o uso do termo "doutor" no cotidiano.

"Fiquei um pouco desapontado de, em pleno século 21, ainda termos tantas formalidades que criam barreiras no relacionamento entre as pessoas."

Diferente de Renan, a promotora Maísa Oliveira, apesar de não querer ser chamada de doutora, não costuma pedir para que não a chamem dessa forma. "Penso que corrigir as pessoas ou pedir que me chamem de outro modo pode gerar constrangimento. Então, não me importo em ser chamada assim. Mas sempre me apresento apenas com o meu nome. Em ambiente profissional, também cito o meu cargo, o que faz, em muitos casos, com que as pessoas logo me chamem de doutora."

"Deixo a pessoa à vontade para me chamar como achar melhor. Já me chamaram de tantas formas... 'dona promotora', por exemplo, acho que foi o mais curioso de todos. Penso que o ambiente jurídico já gera tensão nas pessoas, porque elas buscam a Justiça quando precisam solucionar um problema, por isso já chegam angustiadas e preocupadas. Não acho que a maneira de tratar, desde que com respeito, seja uma grande questão. E eu também gosto muito do meu nome, então não há desrespeito algum em me chamar somente por ele", completa Maísa.

A promotora, que conta ter seguido carreira no Ministério Público por se identificar com a atuação social do órgão, considera que muitos profissionais da área de Direito querem ser chamados de doutores por acreditarem que seja uma forma de "distinção social".

"Acredito que (a função de advogado) é uma profissão historicamente valorizada como de um status superior, como Medicina ou Engenharia. Mas hoje em dia isso não faz mais sentido. Quando pensamos na importância do conjunto de saberes da humanidade, que precisam se comunicar e se complementar, acaba perdendo o sentido valorizar mais este ou aquele profissional", diz Maísa.
'Não existe certo ou errado'

O cirurgião Rodrigo Cabral acredita que não existe um modo correto ou errado de chamar um médico. "Não tenho problema em ser chamado de doutor, apesar de não ter doutorado. Mas, do fundo do meu coração, prefiro que me chamem pelo meu nome ou sobrenome. Nem todos que chamam de doutor sabem o seu nome. O respeito não está no termo doutor, mas no carinho do reconhecimento. Afinal, sou Rodrigo Cabral desde que nasci e me tornei médico há apenas 17 anos", diz.

Ele avalia que o fato de muitos médicos pedirem para ser chamados de doutores ou se definirem desta forma pode parecer egocentrismo. "Existe um status que acompanha cada formalização de tratamento. Isso não me incomoda, por isso não preciso ser chamado de doutor. Nascemos do pó e ao pó voltaremos", afirma o médico, que atua em São Paulo (SP).

A endoscopista Giuliana Florenzano também não faz questão de ser chamada de doutora. Ela justifica que seu objetivo ao cursar medicina foi cuidar das pessoas e, por isso, considera fundamental estabelecer uma relação confiança com os pacientes. Para isso, pede para ser chamada de Giu.

"Não me incomodo em ser chamada de doutora no consultório, porque sei que é uma questão cultural. Mas prefiro que me chamem de Giu. Mesmo que tivesse feito doutorado não exigiria ser chamada de doutora", diz a médica.Direito de imagemARQUIVO PESSOALImage captionGiuliana se incomoda quando é chamada de doutora fora do consultório, em Taubaté

Giuliana comenta que o principal incômodo referente ao termo doutora surge quando é chamada assim fora do consultório. "Como moro em cidade pequena, me chamam assim mesmo fora do trabalho, como na farmácia ou na portaria da minha casa", relata a médica, que mora em Taubaté (SP). Ela conta que precisa pedir várias vezes até que as pessoas se acostumem a chamá-la de Giu.

"Acredito que muitos médicos querem ser chamados de doutores porque se sentem respeitados assim. Para muitos, é uma forma de reconhecimento. Mas eu acredito que existem dois itens que podem dar respeito ao médico: conhecimento técnico e bom atendimento. Sendo assim, ser chamada de doutora não me soa importante", declara Giuliana.
Lembrete em faixa na colação de grau

Para alguns profissionais, a crença de que não precisam ser chamados de doutores surgiu durante a universidade ou logo no início da carreira. Durante a colação de grau do advogado Davi de Sousa Oliveira, em janeiro de 2018, dois amigos levaram uma faixa com a mensagem: "Parabéns, Davi! Mas lembre-se: doutor é quem tem doutorado".

"Eu vi essa faixa quando fui chamado ao palco para pegar o canudo e eles a levantaram. Achei engraçado, mas segurei o riso naquele momento. A intenção deles era me constranger. Mas eles sabem que nunca fiz questão de ser chamado de doutor, porque não acho necessário", diz o advogado, que se formou em Palmas (TO), na Universidade Estadual do Tocantins, e hoje mora em Blumenau (SC).

Hoje, atua na área cível e trabalhista e costuma pedir para que os clientes o chamem diretamente pelo seu nome. "Quando o cliente tem que chamar o advogado de doutor, cria-se uma barreira. Alguns entendem como uma forma de respeito, mas eu vejo como um distanciamento", declara.

"Os clientes mais jovens preferem chamar pelo nome diretamente. Já os mais velhos têm mais dificuldade e, mesmo que eu diga que não é necessário, continuam me chamando de doutor", conta.
Discussão relevante

Melania acredita que a discussão sobre o uso do termo doutor é um tema importante. Ela revela que passou a se questionar sobre o tema ainda na faculdade, quando um professor falou sobre o distanciamento gerado ao chamar um médico desta forma.

"Esse meu professor dizia que nossa principal função era corresponder aos anseios da população tão pobre e oprimida", diz.

"Não é uma batalha formal. O que me irrita, é quando a pessoa força isso de ser doutor para reproduzir essa hierarquia em uma relação que vem se mantendo há muito tempo, na qual o paciente está em uma posição submissa", afirma.

Ela é professora na Universidade Federal de Campina Grande e costuma comentar sobre o assunto com os alunos. "Explico isso para meus alunos e para os meus residentes, porque acho que como formadora de opinião, posso mudar a mentalidade de vários. Mas a resistência dos 'doutores' já formados é bastante grande, porque sempre vêm com a história de que estudaram e sofreram muito e fazem questão de serem chamados assim."

A médica cita que o termo também está presente nas ruas e é usado, principalmente, pelos mais pobres para definir os que consideram como superiores. "A população é muito subserviente por toda uma questão que remete à escravatura. São séculos e séculos de opressão que as elites vêm exercendo sobre a população. Por isso, as pessoas que estão em posições de servir nas ruas ou nas praças, como flanelinha, o frentista ou o garçom, vão chamar de doutor com a maior naturalidade do mundo", declara Melania.

UMA MULHER ESPECIAL E INUSTIÇADA - Jeanne Baret, a primeira mulher a circum-navegar o mundo, no século XVIII, por seu amor à botânica

Aventureira francesa descobriu mais de 6.000 espécies de plantas em uma expedição, mas viajava vestida como homem, pois as mulheres eram proibidas de embarcar
Jeanne Baret, segundo uma gravura da época.




Jeanne Baret representa a máxima expressão da simplicidade, do conhecimento, da aventura e também do erro. Criada num ambiente rural e analfabeto do centro da França, se tornou uma especialista em plantas e em suas propriedades curativas.

Nasceu na pequena localidade de La Comelle, num dia como hoje, 27 de julho, 280 anos atrás, em 1740. Seus pais eram humildes camponeses que trabalhavam na sua pequena propriedade e também cuidavam das terras e do gado de latifundiários locais. Eles a ensinaram a identificar as plantas por suas propriedades curativas, e assim Jeanne virou uma especialista ― uma camponesa educada em medicina botânica.

Com a morte dos pais, deixou o campo e começou a trabalhar como tutora do filho de Philibert Commerson, um famoso naturalista e botânico. A mudança de vida lhe permitiu continuar ampliando seus conhecimentos de botânica e a transformou em ajudante e amante de Commerson, com quem começou a viajar pela Europa.

A importância de se chamar Bougainville

Poucos anos depois, ainda sendo ela muito jovem, Commerson foi nomeado botânico do rei Luis XVI. Sua fama foi crescendo, e a jovem Jeanne continuou aprendendo. Uma nova guinada em sua já novelesca vida ocorreu quando o botânico sueco Carl Linnaeus, que concebeu o sistema usado ainda hoje pela ciência para nomear organismos vivos, recomendou Commerson como botânico para uma viagem ao redor do mundo, patrocinada pelo Governo francês para buscar territórios desconhecidos, e que zarpou em 1766 sob o comando de Louis de Bougainville.

Commerson queria que Baret viajasse com ele e o ajudasse a identificar e compilar espécies de plantas devido ao seu vasto conhecimento botânico, mas naquele momento as mulheres eram proibidas de navegar a bordo de navios da Marinha francesa. Baret e Commerson pensaram num plano, que consistiu em disfarçá-la como um rapaz, a quem chamaram Jean, envolvendo seus seios com ataduras e vestindo-a com roupa larga para ocultar seu gênero.

Alcançado o objetivo, durante a viagem Baret teve que realizar trabalhos árduos, como qualquer outro integrante da expedição, incluído o transporte das pesadas e incômodas prensas de madeira, usadas para preservar os espécimes botânicos. A viagem teve escalas em lugares paradisíacos como Terra do Fogo, Taiti e ilhas Mauricio, onde a jovem Baret participou, ao lado de Commerson, na coleta de mais de 6.000 espécimes vegetais.

Em muitos momentos da viagem, Commerson teve problemas de saúde e foi Baret quem assumiu as funções de botânico-chefe. Ela fez algumas das coletas mais notáveis da expedição, embora o reconhecimento sempre tenha sido para o titular do posto. De fato, Jeanne provavelmente merece o mérito da maior descoberta, a Bougainvillea brasiliensis, uma trepadeira com flores brilhantes e belas, nativa da América do Sul.

Entretanto, nem tudo na expedição foi o clichê “de vento em popa”, já que, após dois anos de viagem, em 1768, a verdadeira identidade de Baret foi descoberta por uma tribo nativa no Taiti. Àquela altura, porém, já havia impressionado por seu trabalho físico como um membro qualquer da tripulação, e tão grande tinha sido a contribuição ao seu campo pelo material recolhido, que Bougainville, o comandante da expedição, decidiu não processá-la nem detê-la.

Em troca, ela e Commerson foram obrigados a abandonar a expedição na colônia francesa da ilha Mauricio, no Índico, onde Commerson morreu em 1773 em decorrência dos seus graves problemas de saúde. Sozinha e sem recursos, Jeanne abriu um cabaré em Port Louis para ganhar a vida, e lá conheceu um oficial naval francês, Jean Dubernat, com quem se casou em 17 de maio de 1774. O casal regressou à França, completando assim a volta ao mundo em 1776, uma década após a partida.

Jeanne Baret chegou a Paris com uma coleção de mais de 6.000 espécies vegetais, e o próprio rei Luis XVI a felicitou e lhe concedeu uma renda vitalícia. Entretanto, apesar da façanha, sua figura rapidamente caiu no esquecimento.

Assim como ocorreu com outras francesas modernas que também foram pioneiras em diversas especialidades, Jeanne Baret viveu numa sociedade onde os homens exerciam seu poder sem pensar duas vezes, e as mulheres eram excluídas dos registros históricos. Baret foi muito capaz como botânica, mas talvez também fosse analfabeta, por isso sua história só se conservou através do testemunho de homens como Commerson e Bougainville, que escreveram sobre ela junto aos registros do diário de navegação e botânica.

O príncipe de Nassau-Siegen, um nobre que também participou da expedição de Bougainville, foi outra das pessoas que escreveram sobre os feitos de Baret. “Quero lhe dar todo o crédito por sua valentia”, destacou em suas memórias. “Ela se atreveu a enfrentar a tensão, os perigos e tudo o que aconteceu que alguém poderia esperar de maneira realista numa viagem dessas. Acredito que sua aventura deveria ser incluída em uma história de mulheres famosas.”

Durante a viagem, Commerson dedicou à sua assistente um arbusto da família Meliaceae, a Baretia bonnafidia. Entretanto, a planta mais tarde mudaria seu nome pelo de Turraea heterophylla, que seria sinônimo da Turraea floribunda. Desde aquela época, só as plantas descobertas por Commerson continuam sendo reconhecidas pela taxonomia.

Embora Baret não tenha recebido menções por suas descobertas naquele momento, finalmente teve o reconhecimento que merecia quando uma nova espécie sul-americana da família da batata e do tomate, a Solanum baretiae, foi batizada em sua homenagem, em 2012.

Jeanne Baret morreu em 5 de agosto de 1807, aos 67 anos, na pequena comuna de Saint-Aulaye, na região da Nova Aquitânia, com o único reconhecimento público de ter sido a amante do naturalista e botânico Philibert Commerson. Foi preciso que se passassem dois séculos para que o reconhecimento mundial da sua façanha de circum-navegar o mundo e das suas descobertas lhe valesse a justa fama que nunca teve em vida. Foi a publicação do livro O Segredo de Jeanne Baret (2010), da escritora Glynis Ridley, que tirou do anonimato a vida aventureira e o legado de uma grande mulher da ciência.

O PAÍS VAI VIRAR UM STAND DE TIRO



Registro de novas armas no Brasil explode em 2020 em meio à alta de homicídios
Alta na emissão de documentos pela PF para posse de novos armamentos foi de 205% no primeiro semestre, reflexo das novas regras sob Bolsonaro. No DF, aumento foi de mais de 1.400%


Um empregado de uma fábrica de armas em São Leopoldo, RS.D. VARA / REUTERS

O número de registros de novas armas de fogo concedidos pela Polícia Federal explodiu em todo o país. A chamada posse de arma é um documento emitido pelas autoridades e permite que, caso cumpram alguns requisitos legais, as pessoas possam ter em suas casas pistolas e revólveres. Quando comparado o primeiro semestre de 2020 com o mesmo período do ano passado, houve um aumento de 205% no total de novos registros emitidos pela PF: foram 24.236 em 2019 ante 73.996 agora. Este crescimento se deve, de acordo com pesquisadores, às portarias e decretos assinados pelo presidente Jair Bolsonaro, que tinha como uma de suas principais promessas de campanha flexibilizar o acesso às armas de fogo. Na prática o mandatário desfigurou o Estatuto do Desarmamento, conjunto de leis voltadas ao controle de armas e responsável por salvar mais de 160.000 vidas, segundo estudos.


Junto com o aumento no número de registros, também ocorreu um aumento na violência letal. Os números preocupam: de acordo com levantamento do Monitor da Violência, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o Núcleo de Estudos da Violência da USP e com o portal G1, houve um aumento de 7% nos homicídios no país nos cinco primeiros meses do ano, puxada principalmente pelos Estados do Nordeste. A pesquisa sobre os homicídios, que utiliza dados oficiais das Secretarias de Segurança Estaduais e do DF, é a mais recente com abrangência nacional. As mortes violentas passaram de 18.120 para 19.382 no período de janeiro a maio. Chama a atenção o fato de que este aumento das mortes em 2020 ocorreu após queda histórica dos homicídios em 2019 (o menor número registrado desde 2007, quando o fórum começou a coletar os dados), que chegou a ser comemorada pelo então ministro da Justiça Sérgio Moro.


A relação entre aumento de armas e aumento da violência não é estranha para quem estuda segurança pública. “De um ponto de vista amplo, pesquisas apontam que a cada 1% a mais de armas na população temos um aumento de 2% dos homicídios, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada”, afirma Isabel Seixas de Figueiredo, consultora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. “Mas não é possível cravar nesse caso que existe uma relação entre o aumento no número de armas registradas e homicídios, porque é um fenômeno ainda recente, e o homicídio é um fenômeno multicausal”, diz. Ela alerta ainda para o fato de que estas armas compradas e registradas legalmente podem acabar indo para as mãos do crime organizado: “Entre 30% e 40% das armas apreendidas pela polícia com criminosos foram compradas originalmente por pessoas sem ligação com o crime, e que depois venderam este armamento ou foram roubadas”.

Gabriel Sampaio, coordenador do Programa de Enfrentamento à Violência Institucional da Conectas, concorda com Figueiredo. “Pesquisadores e a sociedade civil organizada sempre falaram que com a flexibilização do Estatuto havia potencial para o aumento de mortes violentas. Isso era dito baseado em dados. Essa relação entre armas e violência já era conhecida há muitos anos, antes das políticas públicas do Governo Bolsonaro para o setor”, afirma . Ele destaca, no entanto, que os dados são novos e ainda precisam ser analisados com mais profundidade. Mas segundo Sampaio, existe um “indicativo” de que o aumento dos homicídios no primeiro semestre de 2020 pode estar ligado ao maior acesso às armas.

O aumento vertiginoso no número de novas armas de fogo registradas em tão pouco tempo também acende um alerta amarelo. “A celeridade administrativa na concessão da posse de armas deixa dúvidas se a avaliação do perfil de quem pede o registro está sendo feita com o devido critério. Esse crescimento mostra ou que estão alocando muitos recursos humanos para analisar estes pedidos, ou então a análise não está sendo feita de forma criteriosa”, diz Sampaio. Antes das mudanças feitas pelo Governo, quem solicitava a posse de arma precisava comprovar a “efetiva necessidade” para tanto, e a decisão final sobre concessão ou não do registro cabia ao delegado da PF. O presidente sempre criticou este ponto, uma vez que no seu entendimento deixava a questão à critério da “subjetividade” da polícia. Este ponto foi alterado via decretos e portarias para facilitar a comprovação da necessidade sem grandes percalços.
Registro de armas cresce em todos os Estados

Todos os Estados brasileiros e o Distrito Federal registraram alta no número de registros de novas armas. No DF o crescimento foi o maior registrado: variação de 1.429% no número de documentos concedidos pelas autoridades. De 235 no primeiro semestre de 2019 para 3.595 no mesmo período deste ano. Apesar do grande aumento de armas, os homicídios tiveram queda no distrito que abriga Brasília. O Rio de Janeiro ficou em segundo lugar no crescimento da concessão de posse de armas, com um aumento de 860%, de 653 para 6.275. O Estado também registrou redução dos homicídios no período. A Bahia vem logo atrás, com variação de 620% nos registros: de 835 para 6.015, e alta dos homicídios. O único Estado com crescimento de apenas um dígito foi a Paraíba: 9%. De 976 para 1.064.

O número de novos registros de armas de fogo, no entanto, pode ser ainda maior tendo em vista que existe uma categoria de posse específica para colecionadores, atiradores esportivos e caçadores (denominada CACs). A autorização para eles é concedida pelo Exército, e não entra nos dados da PF. “Isso é relevante, porque os CACs foram uma das categorias mais beneficiadas pelo Governo Bolsonaro com ampliação no número de armas permitidas por pessoa, bem como a ampliação dos calibres permitidos”, diz Felippe Angeli, gerente do Instituto Sou Paz. Sobre o aumento dos homicídios, ele faz coro com Sampaio e Figueiredo: “É um fenômeno multifatorial. Mas quando se fala de segurança pública, o que se vive hoje é o que você vê no retrovisor, e o que visualizamos é o começo do Governo Bolsonaro, com a desregulamentação do controle de armas”.

Além de afrouxar as regras para facilitar o acesso às armas, o Governo Bolsonaro também tem enfraquecido a regulamentação para rastrear a circulação de armas e munições. Em abril, Bolsonaro anunciou, via Twitter, a revogação de três portarias do Exército com regras para marcação, controle e rastreamento de armas e munições, outro passo amplamente criticado por especialistas. A oposição questionou o Supremo Tribunal Federal a respeito, e ainda espera um pronunciamento do tribunal. Em outro movimento que acendeu alarme, na semana passada, o ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, revogou trechos de uma portaria de sua pasta que obrigava que determinados armamentos de porte dos agentes da Força Nacional tivessem elementos de identificação sigilosa, um passo a mais para o rastreio, caso os dados mais básicos fossem violados.

A reportagem entrou em contato com o Planalto pedindo um comentário sobre o aumento no número dos homicídios e no número de novas armas registradas pela PF, mas não obteve resposta até o momento. A PF informou que “embora tenha havido um aumento na demanda de registros nos anos de 2019 e 2020, o efetivo da Polícia Federal tem conseguido atuar a contento nos processos relacionados ao controle de armas de fogo”. Quanto à declaração de “efetiva necessidade” por parte do solicitante, o órgão informou que cumpre o determinado na lei (alterada por Bolsonaro) onde consta que “presume-se a veracidade dos fatos e das circunstâncias afirmadas na declaração de efetiva necessidade”.