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segunda-feira, 13 de julho de 2020

Justiça Militar manda soltar PMs presos suspeitos de espancar homem na Zona Norte de SP


Decisão de soltura de todos os policiais militares envolvidos em ocorrência no Jaçanã é do juiz Enio Luiz Rossetto, da 3ª Auditoria Militar de São Paulo; caso completa um mês nesta segunda-feira (13).


Por Léo Arcoverde, Globo News — São Paulo

12/07/2020 22h13 Atualizado há 9 horas






Policiais que agrediram rapaz na Zona Norte são afastados pela Corregedoria

A Justiça Militar de São Paulo mudou de entendimento e determinou a soltura dos oito policiais militares presos sob a acusação de espancar um homem numa comunidade no Jaçanã, Zona Norte de São Paulo, na madrugada de 13 de junho deste ano. O caso veio à tona após a divulgação de vídeo da agressão nas redes sociais (veja acima). O crime é investigado pela Corregedoria da Polícia Militar (PM) e pelo Ministério Público Estadual (MPE).

A decisão é desta sexta-feira (10) mas ainda não foi publicada pela Justiça Militar. A reportagem não teve acesso à íntegra do documento. A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça Militar (TJM), todavia, confirma a decisão. De acordo com a Secretaria Estadual da Segurança Pública, todos os PMs acusados desse crime já deixaram o presídio militar Romão Gomes, localizado na Zona Norte de São Paulo. Eles estavam presos desde 15 de junho.

De acordo com o Tribunal de Justiça Militar, o juiz revogou a prisão preventiva dos policiais a pedido da defesa dos PMs. “O magistrado entendeu, como temos sustentado desde o início, que não era o caso de acautelar preventivamente os policiais”, disse o advogado Fernando Capano, que defende quatro dos oito policiais militares.

Segundo o Tribunal de Justiça Militar, o magistrado revogou a prisão preventiva após o Ministério Público Estadual solicitar novas investigações por parte da Corregedoria da Polícia Militar.

A soltura desses policiais representa uma reviravolta no caso, uma vez, que, semanas atrás, a mesma Justiça Militar negou um habeas corpus em que a defesa dos policiais pedia a libertação do grupo. A primeira decisão foi de outro juiz, Marcos Fernando Theodoro Pinheiro.

Indiciamento

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, nove PMs foram indiciados por participação nesse caso. Entre os crimes atribuídos aos policiais, estão lesão corporal, abuso de autoridade e prevaricação.

Inicialmente a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça Militar (TJM) havia informado ao G1 que o pedido de liberdade, feito por habeas corpus, havia sigo negado para os oito PMs, mas depois se corrigiu. E informou que o pedido foi negado para quatro dos oito policiais. A informação foi alterada às 11h15 de 27 de junho.

O advogado Fernando Capano, que defende os quatro PMs que tiveram o pedido liminar negado, disse à reportagem que o TJM vai julgar depois o mérito do habeas corpus.

Entendo que não há critérios para a prisão preventiva. Eles não têm de responder presos, mas soltos”, falou o advogado Capano, que atua na defesa do 1º tenente Wagner dos Santos, e dos soldados Francisco Xavier de Freitas Neto, Caio William Bruno Lopes e Bruno Ferreira de Jesus.

O advogado Cleiton Leal Guedes, que defende os outros quatro PMs que ainda não entraram com pedido de liberdade, falou ao G1 que estuda o caso.

"No momento oportuno vamos pedir [a liberdade] sim", disse o advogado Guedes, que faz a defesa do 3º sargento João Alberto Busnardo, e dos soldados Igor Alvarenga Quizzeppi da Silva, Eduardo Xavier de Souza e Maycon Vinícius Santos da Silva.

Agressão

O grupo formado por seis soldados, um sargento e um tenente é investigado pelo crime de agressão contra o pizzaiolo Weslei da Fonseca Guimarães, de 27 anos, sendo que alguns teriam agido diretamente, e outros presenciado, sendo coautores devido a omissão.

O caso ainda em apuração ocorreu na Rua das Flores. Um vídeo gravado com câmera de celular por uma testemunha registrou quando o homem, já rendido e no chão, era cercado pelos policiais e agredido com tapas e golpes de cassetete, antes de ser arrastado escadaria acima e enfrentar uma nova sessão de espancamento.

Uma testemunha relatou que a agressão ocorreu por volta das 3 horas, quando o rapaz estava fumando cigarro e bebendo com amigos na calçada. Em seguida, um tumulto foi iniciado pela polícia para dispersão dos amigos. Após a correria, apenas Weslei teria permanecido no local. Ele foi agredido, teria revidado e então acabou cercado pelos demais agentes.

Ao tomar conhecimento do episódio, a Polícia Militar afastou das ruas os oito PMs da Força Tática do 43º Batalhão, e a Corregedoria pediu na Justiça para que os suspeitos aguardassem presos a conclusão do inquérito a fim de garantir as investigações, a “ordem pública”, e também devido a “periculosidade dos agentes”.

O Ministério Público Militar foi consultado sobre o pedido, opinou favoravelmente e a Justiça Militar determinou a prisão de todos.

A Justiça informou que aguardava outras provas, como o exame de corpo de delito, mas comunicou que as imagens já anexadas ao inquérito comprovam uma série de agressões praticadas pelos policiais militares. “Ali se observa quantidade e intensidade de golpes de cassetete e tapas ou socos contra a vítima. Bem provável que tenha resultado lesões”, diz a decisão judicial.

"De tudo o que foi apurado até aqui, observa-se que – nem de longe – os investigados agiram sob o manto das excludentes da legítima defesa ou do estrito cumprimento do dever. Por ora, a liberdade dos investigados abala a credibilidade da instituição policial militar e gera sentimento de impunidade perante as dezenas de milhares de homens e mulheres fardados, armados e treinados pelo Estado. A violência deve ser contida, também, pelo exemplo", justificou o juiz Marcos Fernando Theodoro Pinheiro em sua decisão.

O que dizem os 8 PMs

Soldado Bruno Ferreira de Jesus: admitiu que “se exaltou e desferiu dois golpes de cassetete".
Soldado Maycon Vinícius Santos da Silva: admitiu que arrastou o homem escadaria acima e assumiu ter dado um tapa.
Soldado Eduardo Xavier de Souza: disse que entrou em luta corporal com o homem, embora as imagens não mostrem o momento.
1º tenente Wagner dos Santos e soldados Igor Alvarenga Quizzeppi da Silva e Caio William Bruno Lopes: não aparecem nas imagens realizando agressões, mas assistindo aos golpes;
3º sargento João Alberto Busnardo: não aparece nas imagens, entretanto, uma testemunha relatou que o grupo de amigos se abrigou em sua casa em meio à correria, e o sargento, portando uma calibre 12 e arrombando o portão, ordenou que todos se apresentassem;
Soldado Francisco Xavier de Freitas Neto: não aparece nas imagens, mas foi quem inicialmente abordou a vítima e apresentou um boletim de ocorrência informando que Weslei fugiu. "Depreende-se que tinha conhecimento das agressões e, ao se omitir, aderiu à conduta dos demais", na visão do juiz Marcos Fernando Theodoro Pinheiro.
Fonte: G1

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