Perfil

Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

Mensagem aos leitores

Benvindo ao universo dos leitores do Izidoro.
Você está convidado a tecer comentários sobre as matérias postadas, os quais serão publicados automaticamente e mantidos neste blog, mesmo que contenham opinião contrária à emitida pelo mantenedor, salvo opiniões extremamente ofensivas, que serão expurgadas, ao critério exclusivo do blogueiro.
Não serão aceitas mensagens destinadas a propaganda comercial ou de serviços, sem que previamente consultado o responsável pelo blog.



quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Los virus zombis despiertan de nuevo para convertir el mundo en una pesadilla


El calentamiento global no solo está derritiendo la capa de hielo, sino que, con ello, está despertando virus zombis que llevaban inactivos desde hace millones de años
Imagen del 'Pithovirus sibericum'.JULIA BARTOLI / CHANTAL ABERGEL / IGS / CNRS / AMU.

MONTERO GLEZ
31 AGO 2023 - 06:41 BRT


La reciente pandemia ha dejado a la gente temerosa. El temor es inevitable, como también lo es la sospecha ante la tos o el estornudo del que va en el asiento de al lado, ya sea en el cine o en el vagón de metro. Aunque haya cesado la alerta sanitaria, vamos a tardar lustros en superar los daños psicológicos del coronavirus. Todo dependerá de nuestra sensibilidad para achicar a los fantasmas del miedo. Borrar la huella no va a ser fácil. Hemos vivido sumidos en una novela distópica en la que se hace difícil pasar página.

En ese plan, el asalto del recuerdo nos lleva hasta la novela Parque Jurásico, donde su autor, Michael Crichton, ideó una trama a partir de un hecho biológico tan original como lo puede ser el rescate del ADN de dinosaurio a partir de la sangre de un mosquito conservado en ámbar durante millones de años. Algo que es científicamente imposible. Porque si en vez de ámbar hubiera sido hielo, Crichton hubiese andado más cerca de la ciencia y también de la realidad, ya que hubiese sido posible rescatar el código genético de la sangre congelada.

Esto es algo que resulta novelesco si atendemos a la pandemia reciente, pues, según parece, el permafrost (la capa de suelo congelada de las regiones polares) se está derritiendo con el calentamiento global y, con ello, está despertando virus zombis que llevaban inactivos desde hace millones de años. Se sabe que el más antiguo es el Pandoravirus, microorganismo infeccioso que pertenece a la familia de virus gigantes y que llega a ser hasta 10 veces más grande que un virus común, pero no tan grande como un primo suyo, el Pithovirus sibericum que, según parece, debido a su tamaño se deja ver con una lupa de aumento.
Hay que recordar el brote de ántrax ocurrido en 2016 en la tundra siberiana que mató a un buen número de renos y que acabó con la vida de un niño

Parece la trama de una película de serie B de esas que filmaba Roger Corman o que bien podría filmar Alex de la Iglesia. Con todo, puestos a ser realistas, hay que recordar el brote de ántrax ocurrido en 2016 en la tundra siberiana que mató a un buen número de renos y que acabó con la vida de un niño. El origen tuvo lugar en el permafrost derretido. Fue cuando, presuntamente, despertaron las antiguas esporas del Bacillus anthracis, cuerpos microscópicos celulares que habían permanecido dormidos en el cadáver congelado de algún reno que hubiese contraído la infección.

No es por ser alarmistas, pero, atendiendo a lo sufrido por el coronavirus, no se pueden descartar nuevas pandemias. Sobre todo si se trata de un virus zombi que revive para asustarnos y pone a prueba nuestro temor cada vez que alguien estornuda cerca y le decimos “Jesús” o “Salud”, y no precisamente se lo decimos por costumbre, sino por una superstición que viene de tiempos remotos; desde la antigua Grecia, cuando el estornudo era la señal de que algo había entrado en el cuerpo y por cada estornudo se nombraba a Zeus.

El cristianismo cambió el nombre a los dioses, pero el temor siguió manteniéndose. Lo demás ya es historia, sustancia de la que está hecho el tiempo cuando el tiempo ha dejado de pertenecernos.

El hacha de piedra es una sección donde Montero Glez, con voluntad de prosa, ejerce su asedio particular a la realidad científica para manifestar que ciencia y arte son formas complementarias de conocimiento.



Periodista y escritor. Entre sus novelas destacan títulos como 'Sed de champán', 'Pólvora negra' o 'Carne de sirena'.

Decisão do STF não autoriza guardas municipais a abordar e revistar pessoas



30 de agosto de 2023, 13h49



Ao confirmar que as guardas civis municipais (GCMs) fazem parte do Sistema de Segurança Pública (Susp), o Plenário do Supremo Tribunal Federal não autorizou os agentes dessas instituições a fazer abordagens e buscas pessoais, tampouco entrou em conflito com a decisão paradigma do Superior Tribunal de Justiça sobre o assunto.
Atuação das GCMs ainda é restrita às suas atribuições previstas na Constituição
Arquivo PMBC

No último ano, a 6ª Turma do STJ definiu que as guardas não podem exercer atribuições das polícias civis e militares. Também estipulou que os agentes municipais não podem abordar e revistar pessoas, a não ser em situações absolutamente excepcionais, quando tais medidas estiverem diretamente relacionadas à finalidade da corporação — que, segundo a Constituição, é a proteção de bens, serviços e instalações do município.

Já na última sexta-feira (25/8), o Supremo declarou inconstitucionais todas as interpretações judiciais que não consideram as GCMs como integrantes do Susp. Segundo o defensor público Bruno Shimizu, que atuou no caso do STJ, "isso não significa que a atribuição das guardas tenha sido expandida pelo STF". Ou seja, a Corte não transformou as guardas em "polícias militares municipais".

O defensor explica que as atribuições das GCMs não eram objeto da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental debatida pelo Supremo: "O que o STF diz é que as guardas civis integram o sistema de segurança. Isso não quer dizer que os guardas possam sair abordando pessoas aleatoriamente pela rua, fazendo fishing expedition" — uma busca não específica de informações incriminatórias.


Da mesma forma, a criminalista Márcia Dinis ressalta: "O reconhecimento de que as guardas municipais também são órgãos de segurança pública não significa que possam atuar como policiais". Ela lembra que cada órgão de segurança pública possui atribuições e responsabilidades próprias. "Corpos de bombeiros militares e polícias civis, por exemplo, são órgãos de segurança pública com funções diferentes", aponta.

Já Shimizu destaca que a Polícia Rodoviária Federal, também prevista como órgão de segurança pública na Constituição, não pode, por exemplo, fazer diligências em uma região metropolitana, pois suas funções se restringem ao patrulhamento ostensivo de rodovias federais. O fato de fazer parte do sistema de segurança pública não atrai para nenhum órgão as atribuições dos demais. Em resumo, as GCMs não são polícias.

De acordo com o defensor, as implicações da decisão do STF dizem mais respeito a certos benefícios que podem ser estendidos aos guardas, a exemplo de direitos de progressão em carreira reservados a órgãos do Susp. O fato de integrar esse sistema também pode autorizar e facilitar o repasse de recursos federais às corporações.

Por outro lado, o também criminalista Aury Lopes Jr. vê o entendimento do STF com certa preocupação. Segundo ele, embora não haja autorização expressa para que os guardas atuem como policiais, há uma brecha para que isso aconteça no futuro:

"Se a Corte reconhece que as guardas municipais fazem parte do sistema público de segurança, ao lado da Polícia Civil, Federal e Militar, abre-se a porta para a equiparação de poderes, incluindo a busca pessoal e demais poderes vinculados aos policiais, na atuação de policiamento preventivo/repressivo", assinala. A grande repercussão gerada pela decisão pode levar juízes e tribunais a entender que as GCMs têm o direito de atuar como polícias.

STF x STJ
Shimizu diz que o julgamento da ADPF pelo Supremo "não muda em nada" o acórdão do STJ do último ano, que tratou dos limites de atuação das guardas civis. Isso porque em nenhum momento o relator do Recurso Especial, ministro Rogerio Schietti, disse que as GCMs não fazem parte do sistema de segurança pública.Julgamento do STF foi desempatado com voto do ministro Cristiano ZaninNelson Jr./SCO/STF

Pelo contrário: Schietti reconheceu que as guardas têm uma atribuição específica — "sui generis", nas palavras do ministro — de segurança. "Da mesma forma que os guardas municipais não são equiparáveis a policiais, também não são cidadãos comuns", assinalou ele, na ocasião.

"Se, por um lado, não podem realizar tudo o que é autorizado às polícias, por outro lado também não estão plenamente reduzidos à mera condição de 'qualquer do povo'; são servidores públicos dotados do importante poder-dever de proteger o patrimônio municipal, nele incluídos os seus bens, serviços e instalações", continuou.

Schietti apontou que, embora as GCMs não estejam no rol de órgãos de segurança pública trazido pelo artigo 144 da Constituição, suas funções estão descritas no § 8º do mesmo dispositivo, inserido dentro do capítulo que trata justamente da segurança pública. O magistrado apenas fez a ressalva de que tais corporações "devem se ater aos limites de suas competências".

O entendimento do STF sequer é novidade. A Corte Constitucional já tinha admitido a interpretação de que as GCMs fazem parte da segurança pública em diversos outros casos, como na decisão que definiu a competência da Justiça comum para julgar greves de guardas municipais celetistas; no acórdão que autorizou o porte de arma fora do serviço aos guardas de cidades pequenas; e no julgamento que negou o direito dos guardas à aposentadoria especial por exercício de atividade de risco.

As Defensorias e o Ministério Público não participaram como amicus curiae na ADPF analisada na última semana. Não houve interesse pelo caso, pois o resultado já era esperado.

Guardas x polícias
Por serem autoridades públicas, as guardas municipais podem ter poder de polícia — um conceito do Direito Administrativo que envolve a possibilidade de restrição dos direitos dos cidadãos. O mesmo ocorre com um guarda de trânsito que apreende um carro.

Mas o poder de polícia não é sinônimo de poder das polícias, que diz respeito ao monopólio do uso da força pelo ente estatal. As polícias têm essa prerrogativa, diferentemente das GCMs.

O constituinte rejeitou todas as propostas de criar polícias municipais. Para classificar as guardas municipais como polícias, seria preciso desconsiderar a regra do § 8º do artigo 144 da Constituição.Ministro Rogerio Schietti, do STJ, relatou acórdão paradigmático sobre o temaLucas Pricken/STJ

Assim, na prática, mesmo com o reconhecimento das GCMs como parte do sistema de segurança pública, o STJ ainda pode julgar ilegais eventuais ações policialescas desses órgãos.

A decisão da 6ª Turma no último ano foi proferida após notícias de cidades em que as GCMs assumiram o lugar da polícia, especialmente no estado de São Paulo. Em Holambra (SP), por exemplo, uma lei local alterou o nome da Guarda para Polícia Municipal.

Há um processo de militarização das GCMs. Também em 2022, a Guarda Metropolitana da capital paulista passou a ostentar fuzis e carabinas. Isso também ocorreu em cidades bem menores, como Arapongas (PR), de 125 mil habitantes

A Guarda Municipal de São Caetano do Sul (SP) chegou a montar uma espécie de Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), que já atuou até fora dos limites da cidade, com abordagens ostensivas e agressivas.

Já as atividades da Ronda Ostensiva Municipal (Romu) da GCM de Sorocaba (SP) precisaram ser suspensas pela Justiça, devido ao uso de tortura de suspeitos para obter informações sobre traficantes. Quatro agentes foram presos e condenados.

O inciso VII do artigo 129 da Constituição trata do controle externo da atividade policial, feito pelo MP. Mas as guardas municipais não estão inclusas neste dispositivo. Elas respondem apenas às suas corregedorias internas e ouvidorias.

Assim, se uma GCM atua como polícia — com rondas ostensivas, invasão de domicílios, investigações de denúncias anônimas etc. —, não há qualquer controle externo quanto a eventuais abusos. O MP só pode controlar o que uma Guarda faz se receber alguma denúncia de abuso, como aconteceu em Sorocaba.





José Higídio é repórter da revista Consultor Jurídico.

Revista Consultor Jurídico, 30 de agosto de 2023, 13h49

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

DOIDINHO PRA VER A "mugshot" DE BOLSONARO E SEUS FILHOS

Já estivemos mais longe de ter a satisfação de ver essa gente maldita encarcerada, por inumeráveis delitos cometidos, inclusive contra o que se convecionou rotular como democracia, regime que, na verdade, não passa de plutocracia.

Dizem que de outro maldito - TRUMP, o ianque "amigo da família Bolsonaro - já foi colhida a foto da cadeia que lá nos EUA é conhecida como MUGSHOT. 

sábado, 12 de agosto de 2023

ZEMA, SEU INFELIZ

O governador atual de Minas Gerais foi extremamente infeliz, em sua colocação no sentido de antepor os interesses do sul aos do nordeste brasileiro, numa pregação que beira ao separatismo, esquecendo-se, por falta de provável conhecimento histórico, que "o Brasil começou no nordeste"!

terça-feira, 1 de agosto de 2023

Assim os rentistas cobiçam as águas do mundo


Pesquisadores internacionais advertem: corporações querem envolver a ONU na privatização dos recursos hídricos do planeta. Iniciativa afronta movimentos sociais e indígenas – e tenta apropriar-se da ideia de “bem comum”

Por Léo HellerMeera KarunananthanMargreet ZwarteveenDavid HallMary Ann Manahane e Fatou Diouf

MAIS:
Num cenário decisivo para a defesa das águas brasileiras contra a privatização, o Observatório Nacional do Direito á Água e ao Saneamento (Ondas) passou a publicar semanalmente um boletim sobre o tema. A edição mais recente destaca a luta contra a venda da Sabesp, os esforços do grande poder econômico para financeirizar a água, a denúncia do Tribunal de Contas gaúcho contra a privatização da Corsan, a decisão do  STF que obriga o governo a abastecer a população de rua, os riscos de privatização da Cemig e Copasa e negação do direito à água aos indígenas do Amazonas, por negligência e ganância da Águas de Manaus, concessionária privada dos serviços. Leia na íntegra aqui.

Título Original:
Qua água a Conferência da ONU levará adiante: um direito humano fundamental ou uma mercadoria?




O engenheiro e professor Léo Heller, que foi relator especial da ONU para o Direito à Água publicou, em conjunto com cinco colaboradores internacionais, um texto de comentário na prestigiosa revista acadêmica The Lancet, com o título What water will the UN Conference carry forward: a fundamental human right or a commodity? No artigo, os autores advertem quanto ao risco de os desdobramentos da Conferência da ONU sobre Água, realizada em julho deste ano, adotarem uma visão neoliberal sobre os serviços de saneamento e os recursos hídricos, aprofundando desigualdades e criando novas hegemonias globais por parte do capital. O artigo original está disponível aqui:. O artigo foi traduzido pelo Observatório Nacional do Direito à Água e ao Saneamento (ONDAS), parceiro editorial de Outras Palavras..

_____________________

Em março de 2023, a primeira conferência global das Nações Unidas sobre a água em 46 anos atraiu 7.000 pessoas em Nova York. Realizado no meio da Agenda de Desenvolvimento Sustentável de 2030 e da Década de Ação pela Água da ONU1, o evento destaca os desafios críticos relacionados à água. Isso inclui 2 bilhões de pessoas sem acesso à água potável e mais de 3,6 bilhões sem acesso ao saneamento seguro; aumento da pressão sobre os recursos hídricos e ecossistemas, incluindo 80% das águas residuárias lançadas sem tratamento no meio ambiente; e um risco exacerbado de secas e inundações2. No entanto, divergências de longa data sobre a melhor forma de gerir o acesso à água e governar os recursos hídricos foram revividas, revelando um confronto de diferentes visões políticas e econômicas.

De um lado, atores poderosos, incluindo o Banco Mundial, a OCDE e a OMC, reafirmaram sua visão de que o financiamento privado desempenha um papel central na governança dos recursos hídricos e no fornecimento de serviços de água e saneamento3. A Comissão Global sobre a Economia da Água (GCEW), uma plataforma envolvendo indivíduos da academia, governos e agências internacionais, propôs uma abordagem fundamentalmente de mercado para enfrentar os desafios globais da água, introduzindo a noção de água como um bem comum global, em um relatório lançado na Conferência4. A GCEW afirmou que o subpreço da água deve cessar porque a cobrança incentiva o uso mais eficiente da água, gera receitas e permite que os recursos sejam investidos em sistemas de água, estendendo-os a toda a população, e que sejam mantidos e renovados, embora reconheça a necessidade de “subsídios ou transferências adequadamente direcionados para garantir que beneficiem as comunidades pobres e vulneráveis”.

Ao contrário do uso geral do conceito de bem comum como contraditório ao enclausuramento ao setor privado, o GCEW argumenta que os mecanismos de mercado são uma estratégia necessária para tratar a água como um bem comum global. Destacando a urgência de uma crise de escassez de água, a GCEW traça um caminho com a premissa de “aumentar os investimentos em água por meio de novas modalidades de parcerias público-privadas”, rotuladas como “parcerias justas de água”. O relatório da GCEW enfatiza os mecanismos de financiamento combinados, “recanalizando os subsídios internos ineficientes de hoje, alavancando os bancos multilaterais de desenvolvimento e as instituições financeiras de desenvolvimento e reunindo empresas privadas, bancos e investidores institucionais…”. Os retornos econômicos desses mecanismos, de acordo com a lógica da Comissão, “excederiam em muito os seus custos”.

Várias organizações internacionais, estados-membros e o secretário-geral da ONU, em seus comentários finais na Conferência, ecoaram tanto a noção de água da GCEW como um bem comum global quanto os mecanismos financeiros propostos. Acadêmicos envolvidos na comissão publicaram suas visões, de uma conceituação da água baseada no mercado como um bem comum global, em várias plataformas, incluindo um artigo em periódico, argumentando que “os economistas precisam valorizar a água como um bem que gera funções e serviços para o bem-estar humano”5.

O otimismo da GCEW quanto aos potenciais benefícios socioecológicos dos investimentos privados em água caminha apesar da evidência histórica cumulativa mostrando que os benefícios sociais, ambientais e de saúde pública da água e do saneamento, tanto no norte global quanto no sul global, não têm derivado de investimentos privados, mas de sistemas públicos e baseados na comunidade, e por meio de financiamento público6, o que foi reconhecido até mesmo pelo Banco Mundial7.

O entusiasmo pela participação do setor privado no financiamento e fornecimento de serviços de água também ignora o enorme corpo de pesquisa que documenta os resultados negativos desse modelo, incluindo o acesso inacessível a serviços por pessoas em situação de vulnerabilidade, a tendência de empresas privadas de maximizar lucros violando os padrões ambientais e a exclusão de assentamentos informais ou comunidades rurais8. Da mesma forma, o foco da GCEW na política de livre comércio como “uma ferramenta para o uso mais sustentável da água” ignora evidências há muito estabelecidas de que a liberalização da água tem efeitos sociais e ambientais prejudiciais9,10. Entre outros, especialistas em direitos humanos da ONU vêm repetidamente levantando preocupações sobre o risco incerto, mas caro, do uso de mecanismos de solução de conflitos financeiros entre investidores e estados, que têm o efeito de dissuadir os estados de adotar políticas sociais e ambientais que possam ser interpretadas como prejudiciais aos interesses comerciais11. A privatização dos serviços de água e outras utilidades também é reconhecida como um elemento importante nos determinantes comerciais da saúde, por meio de preços mais altos, piores práticas de emprego e má prestação de serviços12. Há ampla evidência em outros setores também de que o conceito de bem comum global tem sido usado para justificar parcerias globais com o setor privado, gerando conflitos sobre o papel das empresas privadas, aprofundando as desigualdades e enfraquecendo as comunidades locais, por exemplo, em relação a vacinas e pandemias13 e mudanças climáticas14.

Longe dos corredores do poder, uma visão muito diferente foi desenvolvida por indivíduos e comunidades na linha de frente das lutas pela justiça da água contra os danos do ajuste estrutural e do comércio desigual, que formularam a necessidade de novos modelos de multilateralismo enraizados na solidariedade e no cuidado, não no lucro. Isso inclui muitas organizações e indivíduos por trás do Water Justice Manifesto15 e do Transformative Water Pact16. Essas organizações não apenas desafiam a privatização, mercantilização ou financeirização da água em nível global, nacional ou local, mas oferecem alternativas para uma nova agenda. Essa agenda inclui a primazia dos direitos humanos à água e ao saneamento, o princípio da não discriminação, a propriedade, gestão e financiamento públicos da água, processos e instituições democráticas de tomada de decisão e equidade de gênero, no quadro da justiça ambiental, igualdade, e cuidado. Da mesma forma, 19 especialistas independentes em direitos humanos da ONU instaram a Conferência a colocar os detentores de direitos e os defensores da água no centro da tomada de decisões, enquadrando a água como um direito comum e humano, e não como uma mercadoria17.

O conceito de água como um bem comum global é sedutor, e muitas organizações da sociedade civil estão envolvidas ou afiliadas a projetos e redes que promovem a noção de água como um bem comum. No entanto, a tentativa de vincular o conceito a mecanismos baseados no mercado em um “ciclo global da água” obscurece as vastas desigualdades no acesso e controle da água em todo o planeta, cria dependência das decisões comerciais das finanças internacionais e empodera poucos autonomeados especialistas internacionais, difíceis de serem responsabilizados pelos impactos de sua formulação nos recursos hídricos locais e nos serviços. Esse processo enfraquece e deslegitima ainda mais os poderes de tomada de decisão e a expertise das comunidades diretamente afetadas. Embora a seca, as inundações e a poluição da água transcendam as fronteiras geográficas, as vulnerabilidades e os impactos desses problemas hídricos são distribuídos de forma desigual e vivenciados de forma diferenciada no nível local18, 19.

Como tal, algumas das soluções mais promissoras são aquelas desenvolvidas pelas comunidades na linha de frente, de acordo com contextos ecológicos, institucionais, econômicos e culturais específicos. Por exemplo, operadores comunitários de água em toda a América Latina desenvolveram um modelo alternativo de governança hídrica equitativa, sustentável e democrática. Além do fornecimento de água potável, os operadores comunitários de água muitas vezes protegem as bacias hidrográficas locais enfrentando poluidores de água em grande escala20.

Além disso, a mudança de escala da governança hídrica, do local para o global, prejudica os direitos dos povos indígenas, que estão historicamente ligados a territórios e bacias hidrográficas locais. Como mostram os estudos sobre clima e biodiversidade, esse deslocamento de escala nas estratégias de conservação ambiental de local para global por meio de esquemas de “conservação de fortalezas” minou o papel dos povos indígenas como guardiões tradicionais, frequentemente deslocando-os violentamente de suas próprias terras21. Povos indígenas então perdem o controle sobre seus territórios, interrompendo suas práticas culturais, meios de subsistência e conexões espirituais com a terra e a água. Da mesma forma, a noção de recursos hídricos globais governados por poderosos interesses financeiros prejudicaria ainda mais os povos indígenas engajados em lutas para estabelecer seus direitos coletivos sobre lagos, rios e aquíferos.

O fortalecimento dos sistemas locais não exclui a cooperação internacional. Ao contrário, a ‘diplomacia fluvial’ transfronteiriça em todo o mundo mostrou como a cooperação política, e não a transação de mercado, pode resolver demandas concorrentes e conflitos hídricos entre vários atores, especialmente no contexto da crise climática22. Na última década, parcerias públicas ou público-comunitárias entre operadores comunitários, sindicatos e concessionárias estatais em seis países diferentes da América Latina apoiaram a coordenação translocal e a capacitação por meio de um modelo solidário de conhecimento e compartilhamento de recursos, abordando preocupações comuns em um nível regional23. Como movimentos e estudiosas feministas negras vêm levantando, propostas para construir novas soluções que dependam e reforcem os sistemas responsáveis pela troca profundamente desigual de bens e danos ambientais não permitirão uma ação multilateral verdadeiramente transformadora24.

Os determinantes estruturais e comerciais das crises hídricas e seus efeitos na saúde são reais, mas não serão resolvidos pela reprodução de uma agenda neoliberal excludente e inefetiva em um novo formato sedutor. Em vez disso, pedimos cooperação internacional e solidariedade que abordem a assimetria de poder, as desigualdades e a inacessibilidade econômica, reconhecendo as especificidades locais, o papel fundamental das finanças públicas e a necessidade de colocar os direitos humanos no centro da agenda da água.

ReferênciasVision statement UN 2023 Water Conference. Available at: https://sdgs.un.org/sites/default/files/2021-11/Vision_Statement_UN2023_Water_Conference.pdf. Date accessed: June 12, 2023
UN Water Action Decade. Available at: https://wateractiondecade.org/about/. Date accessed: June 12, 2023
The roundtable on financing water. Available at: https://www.oecd.org/water/roundtable-on-financing-water.htm. Date accessed: April 07, 2023
Global Commission on the Economics of Water. Turning the tide: a call to collective action. Available at: https://watercommission.org/wp-content/uploads/2023/03/Turning-the-Tide-Report-Web.pdf. Date accessed: April 06, 2023
Rockström J, Mazzucato M, Andersen LS, Fahrländer SF, Gerten D. Why we need a new economics of water as a common good. Nature 2023; 615 (7954): 794–97. https://doi.org/10.1038/d41586-023-00800-z.
Hall D, Lobina E. Financing water and sanitation: public realities. PSIRU University of Greenwich 2012. Available at: https://www.world-psi.org/sites/default/files/documents/research/psiru_financing_water_sanitation.pdf. Date accessed: May 15, 2023
Foster V, Briceno-Garmendia, C. Africa’s infrastructure: a time for transformation. 2010. Africa Development Forum, World Bank. Available athttp://hdl.handle.net/10986/2692. Date accessed: April 28, 2023
Heller, L. Neoliberalism and privatization. In: Heller, L. The human rights to water and sanitation. Cambridge: Cambridge University Press. 2022
Bayliss K. The Financialization of Water. Review of Radical Political Economics 2014; 46 (3): 292–307
Dufour M. Trade Policy and Ecological Transition. Politics and Governance 2023; 11 (1):214-22. https://doi.org/10.17645/pag.v11i1.6174
Office of the High Commissioner for Human Rights. Investor-State dispute settlement undermines rule of law and democracy, UN expert tells Council of Europe. Available at https://www.ohchr.org/en/press-releases/2016/04/investor-state-dispute-settlement-undermines-rule-law-and-democracy-un. Date accessed: April 10, 2023
Mialon, M. An overview of the commercial determinants of health. Globalization and Health 2020; 16 (1): 74. https://doi.org/10.1186/s12992-020-00607-x.
Andrew F, Torreele E, Gray G, Ruxrungtham K, Rees H, Prasad S, Gomez C et al. The future of epidemic and pandemic vaccines to serve global public health needs. Vaccines 2023; 11 (3): 690
Sweeney S. Covid, Climate change: is the world ready for “global public goods”? New Labor Forum 2022; 31 (1): 85–90
The Peoples Water Forum. The Water Justice Manifesto. Available at: https://thepeopleswaterforum.org/2023/02/28/water-justice-manifesto. Date accessed: March 28, 2023
Boakye-Ansah A, Arbeláez-Trujillo AM, Asociación Interamericana Para La Defensa Del Ambiente, Both Ends, Convergence of Initiatives for Environmental Justice et al. The Transformative Water Pact. Available at https://transformativewaterpact.org/. Date accessed: March 28, 2023
Office of the High Commissioner for Human Rights. Water is a common good not a commodity: UN experts. Available at https://www.ohchr.org/en/statements-and-speeches/2023/03/water-common-good-not-commodity-un-experts. Date accessed: March 28, 2023
Gupta J, Pahl-Wostl C, Zondervan R. ‘Glocal’ water governance: a multi-level challenge in the Anthropocene. Current Opinion in Environmental Sustainability 2013, 5 (6): 573-580.
IPCC Sixth Assessment Report: Impacts, Adaptation, and Vulnerability, Chapter 4: Water. Available at: https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg2/chapter/chapter-4/. Date accessed: June 12, 2023
Environmental History Now. Defending water against a mine: hydrous sociality, environmental struggles, and popular consultations in Colombia. Available at: https://envhistnow.com/2023/02/17/defending-water-against-a-mine-hydrous-sociality-environmental-struggles-and-popular-consultations-in-colombia/. Date accessed: May 19 2023
Siurua, H. Nature above people: Rolston and ‘fortress’ conservation in the South. Ethics and the Environment 2006; 11:1, pp. 71–96. JSTOR, http://www.jstor.org/stable/40339115. Accessed May 19, 2023
Kittikhoun A, Schmeier S. (Eds.). River basin organizations in water diplomacy. Routledge. 2020. https://doi.org/10.4324/9780429266270
Montoya Rodríguez CA, Valencia Agudelo, GD. 2020. Gestión comunitaria del agua en América Latina. Conflictos sociales y cambios institucionales. In: Capítulos de Libros en Estudios Políticos. Available at: https://bibliotecadigital.udea.edu.co/bitstream/10495/30500/1/ValenciaGerman_MontoyaCamila_2021_GestionComunitariaAgua-325-345.pdf. Date accessed: May 19 2023
Davis AY, Dent G, Meiners ER, Richie B.. Abolition. Feminism. Now. Haymarket Books 2022

ABELHAS SEM FERRÃO E SEU PRECIOSO MEL


La miel de oro que salva vidas

En el Guainía, uno de los lugares más biodiversos del planeta, una química, un zootecnista y un biólogo lograron que los indígenas dejaran atrás los cultivos de coca y se enamoraran de las abejas sin aguijón. La miel que producen muestra que es posible polinizar el mundo y luchar contra las consecuencias del cambio climático
Un árbol joven rodeado de musgo blanco en un tramo de sabana cerca del Cerro Pajarito.

LUCA ZANETTI
ALEJANDRA DE VENGOECHEA

Todos escondemos en nuestra historia un momento que hubiéramos preferido no haber vivido. Y el de Fabio Pérez, quien a sus 39 años dirige la producción de una de las mieles más excepcionales del mundo porque la fabrican abejas diminutas —miden entre dos y ocho milímetros— y vulnerables —no tienen aguijón que las proteja—, ocurrió en Venezuela, al otro lado de la frontera con Colombia, donde la luz suele tener el reflejo de mil diamantes
.
En la tribu Meliponini se agrupan las “abejas sin aguijón”, con más de 120 especies en Colombia 
LUCA ZANETTI

Antes de confesar su mayor falla, Fabio, un hombre de huesos duros con una de esas sonrisas que tranquilizan eternamente, observa lo que nos rodea en la comunidad indígena de La Ceiba, ubicada cerca a Puerto Inírida, la capital de Guainía, a una hora en avión desde Bogotá, a un poco más de 45 minutos en lancha por el río Inírida.

Así justificaron Ayuso, Moreno, Mañueco y Almeida gobernar sin ser los más votados en 2019 | EL PAÍS



Bajo la sombra de tilos y magnolias dormitan 195 cajas de madera de 25x25 centímetros pintadas en verde y azul. Se intuye un tesoro adentro, en este lugar de la Amazonía que hace pocos años estaba forrado de coca, ese arbusto que ha convertido a Colombia en el primer productor mundial de cocaína. Fabio retira con delicadeza la tapa de una caja racional, como él las llama, un nombre poco poético una vez se entiende lo que ocurre dentro: miles de abejas hacen lo que tienen que hacer desde que aparecieron en el Cretáceo Inferior, hace 145 millones de años, cuando se separaron los continentes y se formaron las primeras aves: colectan el néctar de las flores, lo transforman y lo almacenan para producir una miel líquida, dorada, olorosa a frutas, entre impecables construcciones geométricas estructuradas por hexágonos. Y polinizan.Las meliponas, conocidas como "angelitas", son abejas con aguijón reducido por motivos evolutivos.LUCA ZANETTI

Dependemos de ellas para vivir… digo y rompo ese respeto de cristal que surge entre ellas y nosotros los que las fumigamos con pesticidas, las quemamos, las sacamos de los nidos de los árboles cuando deforestamos masivamente para reemplazar selva por ganadería o agricultura extensiva”


Fabio responde sin términos medios.

“Son el ser vivo más importante del planeta. La agricultura del mundo depende en un 70% de las 20.000 especies de abejas que existen. Sin la polinización no podrían reproducirse las plantas de las que se alimentan millones de animales. Sin abejas, la fauna pronto desaparecería”.

¿Cómo sabe lo que sabe? Es indígena del Guainía, uno de los lugares con mayor índice de pobreza de Colombia: 46,5% frente al 12,2% en todo el país, según los datos publicados en 2022 por el Departamento Administrativo Nacional de Estadística (Dane). Aquí, en el quinto departamento más extenso de Colombia —casi dos veces Suiza— y el de menor densidad poblacional —53.000 habitantes, 70% indígenas— las personas escasamente llegan a quinto de primaria. Viven de la pesca, de una que otra venta de artesanía, de la minería ilegal, de la coca.
Niños indígenas piaroa juegan en un árbol de mango.LUCA ZANETTI

Pero en 2007 desembarcaron en La Ceiba Alexandra Torres, profesora de química de la Universidad de Pamplona (Norte de Santander); su marido, el zootecnista alemán Wolfgang Hoffman, especialista en abejas, y el biólogo Fernando Carrillo, director de la Fundación Aroma Verde, una agencia especializada en turismo de naturaleza. Llevaban bajo el brazo un proyecto que buscaba generar desarrollo sostenible, lo que en términos prácticos significaba enseñarles a los indígenas cómo vivir en la naturaleza con un producto legal: las abejas. Sería rentable: venderían lo producido a los turistas que llegaran a visitarlos, y útil para el mundo: 50 cajas racionales o unidad productiva, como la llaman, polinizan 1.256 hectáreas de bosque.

Gracias a la empresa suiza Ricola, que se interesó por esta forma de cambiar conciencias y financió el proyecto con 40 mil dólares, durante cuatro años estos tres científicos les mostraron a los habitantes de La Ceiba cómo se extraían las colmenas de los troncos, se instalaban en pequeñas cajas de madera y se multiplicaban. El resultado fue mágico: poco a poco las abejas polinizaron —se calcula que una abeja poliniza 2.000 metros lineales de bosque— y aparecieron por toda La Ceiba árboles de mangos, de açai, de arazá. La miel empezó a extraerse con pequeñas jeringas que llenaban frascos de 130 mililitros, la cantidad exacta para transportar en los aviones. Los turistas quedaron tan impactados con la Ruta de la Miel, como la bautizaron, que el producto se vendió en un abrir y cerrar de ojos.

“Es un proyecto que genera oportunidades, sostenibilidad”, explica Fernando, para quien la conservación de la naturaleza se convirtió en su razón de vivir desde hace poco más de una década, cuando llegó al Guainía con su esposa y sus dos hijos, convencido de que “ser un tornillo fuera del sistema”, como él llama a esa decisión de seguir la voz del corazón, era lo que valía la pena. “El turismo ha sido el vehículo para que un proyecto como el de las abejas funcione”, agrega. En efecto, cada vez que un turista viaja con Aroma Verde, seis dólares del total que paga se va en mantener el proyecto de las abejas
.
Abejas en la reserva La Ceiba en Guainía.
LUCA ZANETTI

Por eso Fabio ya no se preocupa por cultivar coca. Trabaja con siete especies de abejas sin aguijón, de las 120 que existen en Colombia. Conscientes de su enorme fragilidad por la deforestación salvaje de la Amazonía —según estudios recientes, las abejas meliponas han desaparecido en todo el mundo hasta en un 30%—, los indígenas organizaron la Asociación de meliponicultores de Guainía, Asomegua, dirigida por Fabio e integrada por 34 familias que producen más de 1.153 frascos de miel al año. Les ha ido tan bien que exportaron conocimiento a otras comunidades como la de Morroco, no muy lejos de La Ceiba, donde ya hay 47 cajas racionales.

“Las abejas me salvaron”, reflexiona Fabio. “Era un indígena que supuestamente conocía la naturaleza, la protegía. Qué poca coherencia la mía. Me curaron el alma. Mi mayor falla ha sido destrozar el medioambiente”.

Lo hizo en el parque nacional Yarama, Venezuela, donde trabajó como minero en 2004. Le decían que para producir suficiente oro para hacer un solo anillo era necesario desechar 20 toneladas de roca y tierra. “Así que arrasé con hectáreas de bosque prístino”.

Si el verbo arrasar pudiera conjugarse en imágenes, significa ver secarse un caño de aguas frescas y cristalinas donde antes Fabio se bañaba y pescaba bocachicos. Significa entender cómo un bosque tupido puede volverse arena blanca que se cuela entre los dedos. Significa, sobre todo, sentir que los animales tienen emociones cuando se tumba un árbol, salen disparados cuatro huevos blancos y verdes con tucanes diminutos que fallecen al instante, y sus padres vuelan despavoridos sin entender por qué los humanos hacen lo que hacen. “No puedo creer que yo haya sido eso”, se lamenta.
¿Cómo unas abejas derrotaron la codicia y transformaron seres humanos?

Después de Brasil, Colombia es el segundo país más biodiverso del mundo. Y Guainía, que en lengua yuri significa “territorio de muchas aguas”, es una joya. Frente a La Ceiba, por ejemplo, está una de las mayores concentraciones de agua dulce del planeta. Ahí confluyen los ríos Inírida, Guaviare y Atabapo, y forman la Estrella Fluvial de Oriente, un nicho biológico tan exuberante que en 2014 fue considerado por la Unesco como un humedal de importancia internacional especialmente como hábitat de aves acuáticas.
A orillas del río Inírida, los cerros rocosos de Mavicure ("mavi": punta de cerbatana, y "cura", el veneno aplicado al dardo).

“El Atabapo es especialmente delicioso”, escribió el científico y explorador alemán Alexander Von Humbolt, quien en 1800 vino hasta aquí para ver cómo estos tres ríos desembocaban en el Orinoco, el tercero más caudaloso después del Amazonas y el Congo.

Humboldt —biografiado por la historiadora Andrea Wulf en su libro La invención de la naturaleza— bautizó esta esquina como la octava maravilla del mundo, en donde los arcoíris “bailan en un juego del escondite”, las hojas “se despliegan para saludar al sol naciente” y las flores “dan vueltas dentro y fuera de la luz parpadeante”.

Lo es. Guainía hace parte del Escudo Guayanés, una de las formaciones geológicas más antiguas del planeta. De forma irregular, esta estructura sufrió tal levantamiento que dio origen a cerros y mesetas elevadas y de pendientes verticales, conocidas como tepuyes. “Es un espectáculo no apto para cardíacos”, diría Andrés Hurtado, reconocido fotógrafo de naturaleza, al describir los tres cerros —Mavecuri, Mono y Pajarito— que se elevan en uno de los recodos del río Inírida y quedaron inmortalizados en El abrazo de la serpiente, la primera película colombiana en ser nominada a los premios Oscar, en 2015.

Desde esas imágenes el turismo se cuadruplicó: de 400 visitantes que Aroma Verde recibió en 2019, pasó a 1.800 en 2022. “Aquí me doy cuenta de lo diminuto que soy en el universo. Me siento humilde, agradecido”, nos diría un turista de 28 años que se gana la vida como disk jockey. “Se me había olvidado lo que era tener tiempo para observar el atardecer en silencio”, agregaría otra. Es un mundo tan antiguo, tan poco intervenido, tan inocente —en las montañas de granito retoñan flores blancas que huelen a sagrado, el murmullo de los ríos apacigua almas atormentadas— que es en Guainía donde se siente que sí es posible convivir sin rabia, en paz. Y las abejas están poniendo su cuota de enseñanza.

El comercio de combustible de contrabando barato de Venezuela a Colombia se detuvo recientemente debido a la reducción de la producción venezolana. Como consecuencia, los viajes por el río Orinoco se habían vuelto mucho más caros.

LUCA ZANETTI

Enseñan, por ejemplo, a que todo funcionaría mejor si se trabajara en conjunto. “Cada una de ellas está dispuesta a desempeñar el papel que se les asignó dentro de la colmena. Su sociedad es como un reloj: lleva un ritmo preciso para poder alcanzar los objetivos”, explicaría el biólogo Rodulfo Ospina, a la cabeza de una colección única en el mundo: el laboratorio de abejas de la Universidad Nacional, donde están archivadas y catalogadas 40.000 ejemplares de abejas.

La colmena, sin embargo, tiene una debilidad: sus propios habitantes. Por naturaleza, está hecha de cera que soporta hasta los 37ºC. Ante la amenaza de que se derrita, las abejas obreras se empapan de agua y mantienen fresca la cera. “Son las mismas abejas quienes trabajan por mantenerla viva”, agrega Ospina.

La lección de todo esto es simple: uno existe para los demás. No al revés.

Fonte: EL PAIS