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terça-feira, 31 de outubro de 2023

Um STF para superior tranquilidade financista


1 de outubro de 2023
STF - Supremo Tribunal Federal (Valter Campanato/Agência Brasil)


Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Pedro Pinho*

Examinando os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) do Império e da República encontram-se até médicos, o que dizer então de políticos, chefes de polícia e tremendamente evangélico ou católico. Porém sente-se a falta do baiano Augusto Teixeira de Freitas, com a erudita e magnífica “Introdução” para “Consolidação das Leis Civis” (1857), dos prolíficos e profundos civilistas, o cearense Clóvis Beviláqua e o alagoano Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, também do saudoso professor Roberto Tavares de Lira, que, no entanto, se faz presente por seu colega penalista, Nelson Hungria Hoffbauer, ambos da Comissão Revisora do Projeto de Código Penal de 1940.
Também encontramos muitos pensadores da sociedade brasileira, exemplificados por Alberto de Seixas Martins Torres, Hermes Lima e Victor Nunes Leal, por juristas do porte de Eduardo Espínola, Francisco Manoel Xavier de Albuquerque, José Filadelfo de Barros e Azevedo, Orozimbo Nonato da Silva, Pedro Augusto Carneiro Lessa, Themístocles Brandão Cavalcanti e do tributarista Aliomar de Andrada Baleeiro.
E hoje? Que deserto de ideias! Todos rezando na cartilha do Consenso de Washington (1989) e adotando causas identitárias, preferindo agradar as finanças à lei, autorizando alienações da Petrobrás, como se subsidiárias não fossem departamentos, com personalidade jurídica própria apenas para flexibilidade administrativa. Mas quem dos onze ministros debateria questões administrativistas? Ou controvérsias civilistas? Ou penalistas? Ou constitucionalistas? Poucos talvez ainda ensaiassem discutir questões processuais, mas, certamente, sem a presença da pessoa ou da obra de Arnoldo Wald, Caio Mário da Silva Pereira, o que não dizer do professor Humberto Theodoro Júnior?
Leiam-se as palavras com que o estudioso e ativo Clóvis Beviláqua inicia a “Introdução” da sua “Teoria Geral do Direito Civil”, na 2ª edição, alertando, no prefácio, terem sidos “decorridos vinte anos da primeira, de 1908”:
“Por ciência do direito, pretendo significar, com Hermann Post (Allgemeine Rechtswissenschaft, 1891), a exposição sistematizada de todos os fenômenos da vida jurídica da humanidade e a determinação de suas causas. E, como a vida jurídica, por um lado, se manifesta sob a forma de leis e usos jurídicos, e, por outro, é operação da consciência individual, a ciência geral do direito é, ao mesmo tempo, sociologia e psicologia”.
Prossegue o jurista: “A feição sociológica é constituída pela história e pela legislação comparada ou, antes, pela legislação comparada operando no campo do passado e do presente”.
“A feição psíquica tem sido ainda muito pouco explorada de modo sistemático. Uma ou outra indagação, a que não falta profundeza, tem sido feita, mas sem vista de conjunto. Todavia é certo que os estudos de Kohler, na Alemanha, e de V. Miceli (Il diritto quale fenomeno di credenza collettiva, na Rivista Italiana di Sociologia, e Le fonte del diritto dal punto di vista psicosociale, Palermo, ambos de 1905), na Itália, mostram que, da orientação psicológica dos estudos jurídicos, devemos esperar a elucidação de muitos problemas e a remodelação de muitos conceitos”.
Mas será neste texto ou em Karl Larenz, que busca a subjetividade da “justiça” (Richtiges Rech. Grundzüge einer Rechtsethik, 1985), que define a ciência do direito, como segue, em “Methodenlehre der Rechtswissenschaft” (“Metodologia da Ciência do Direito”, na tradução de José de Souza e Brito e José António Veloso, para Fundação Calouste Gulbenkian, da 2ª edição (1969) do original, Lisboa, 1978), que se orientam, talvez sem saberem, os ministros?
“O que é a ciência do Direito?”, indaga Larenz. “É, de fato, uma “ciência”, quer dizer, uma atividade do espírito metodicamente dirigida à aquisição de conhecimentos – ou é apenas um saber organizado do que, numa certa comunidade jurídica, hic et nunc, é visto como “Direito”? 
Não será mesmo a hipótese de ser uma simples “técnica” ou “tecnologia”, um conjunto de instruções para resolver de maneira equitativa os casos jurídicos, de acordo com um certo número de regras a incluir máximas de ordem prática ou regras de convenção? 
Ou ainda: não será a ciência do Direito todas estas coisas ao mesmo tempo?”.
E prossegue Larenz: “a ciência do Direito é de fato uma ciência, na medida em que desenvolveu certos métodos que se dirigem a um conhecimento racionalmente comprovável. Conclusão a que não obstam nem a circunstância de ela nunca poder atingir o grau de “exatidão” que caracteriza a matemática e as ciências da natureza, nem a de muitos dos seus conhecimentos só terem uma validade circunscrita no tempo. 
A ciência do Direito tem a ver com o Direito, o que, porém, significa que tem a ver com um objeto que nós não conseguimos apreender a não ser na medida em que tomamos consciência do sentido, da significação, de certos atos e das suas objetivações – em leis, em decisões judiciais, em contratos, eventualmente. Trata-se, portanto, de uma ciência de “compreensão” que tem a ver com determinado “material”, nomeadamente com as normas e os institutos de certo Direito positivo”.
E, conclui, “se a ciência nos diz o que hic et nunc é direito, não está no entanto ao seu alcance fazer afirmações sobre o que é ou não justo em si mesmo”. Reprovado em epistemologia da ciência e do direito! Simples tautologia.
Xi Jin Ping, em 17/11/2012, diante do Birô Político do Comitê Central do 18º Congresso do Partido Comunista da China (PCCh), enunciou com muito mais objetividade e força a que serve o direito, ao tratar do socialismo com as características chinesas: “(este sistema) também integra organicamente o sistema democrático e a posição do povo como dono do país e a administração conforme a lei” (XJP, “A Governança da China”, Contraponto, RJ, 2019, I volume).
OS IMPÉRIOS DAS FINANÇAS
As finanças que dominaram o século XIX não eram apátridas, como as atuais, eram britânicas. Para isso se prepararam por muitos anos, séculos na verdade, pois temos duas datas muito significativas para observar sua ascensão.
A primeira foi em 1215, a Magna Carta, assinada por João Sem-Terra e referendada: seis vezes por Henrique III; três vezes por Eduardo I; catorze vezes por Eduardo III; seis vezes por Ricardo II; também seis vezes por Henrique IV; uma vez por Henrique V; e uma por Henrique VI (1422-1471). Por que tantas confirmações? 
Porque garantiam aos nobres o poder das terras, o poder fundiário, base do poder financeiro.
A segunda, em 1694, após a permissão para reingresso na Grã-Bretanha dos judeus, com a criação do Banco Central da Inglaterra, instituição privada de nobres e judeus, estes últimos para dotá-lo de tecnologia de ponta nesta nova forma de poder. Por que? Para que esta não fugisse para mãos holandesas, que criara seu Banco de Amsterdã em 1609, com os judeus que foram expulsos das cidades italianas (Veneza, Gênova, Nápoles, Sicília), da Espanha e de Portugal, e dinamizaram o comércio e as finanças dos Países Baixos, como comprovam as três guerras anglo-holandesas, entre 1652 e 1674.
A Inglaterra atravessa a Revolução Industrial, segunda metade do século XVIII, sem que surja a nova classe dos empreendedores, dos líderes industriais, na configuração do poder, como aconteceu nos Estados Unidos da América (EUA).
Pode-se identificar mais um momento, na construção do poder financeiro inglês, em 1814/1815, com o Congresso de Viena, reunindo as potências vencedoras da França bonapartista para redesenhar o mapa político da Europa, sob a direção do grande estadista austríaco Príncipe Klemens Wenzel von Metternich. A Grã-Bretanha foi, inicialmente, representada pelo Secretário dos Negócios Estrangeiros, o Visconde de Castlereagh. Após fevereiro de 1815, substituído por Arthur Wellesley, Duque de Wellington, e, ao fim, pelo Conde de Clancarty.
A astúcia dos representantes britânicos entregou à Inglaterra a estratégica Ilha de Malta, o Ceilão e a Colônia do Cabo, que lhe garantiu o controle das rotas marítimas, ao tempo que, consagrado o conceito de “fronteiras geográficas”, colocou a Europa continental em permanente estado belicoso que logo têm início, exemplificado por:
a) Guerras Liberais em Portugal entre 1828 e 1834;
b) Guerras da Independência Italiana, em 1848/1849, 1859, 1866, envolvendo, a princípio, os Reinos, Grão-Ducado e Estados na península e ilhas italianas e o Império Austríaco, logo se alargando para incluir a França e estados germânicos, ou seja, praticamente toda Europa, exceto a península ibérica e as nórdicas;
c) Guerra da Criméia, em 1853/1856, entre os Impérios Francês, Russo, Otomano, o Reino de Sardenha, sobrando até para o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda; e
d) Guerra Franco-Prussiana, em 1870/1871.
Além de todas as consequências da Unificação Alemã, entre 18 de agosto de 1866 e 18 de janeiro de 1871, que abalou os diversos sistemas: políticos, econômicos, bélicos e sobretudo culturais, entre os povos de falares alemão.
Tudo favoreceu o Reino Unido a ser, em 1920, o maior império em áreas descontínuas, ocupando 23,84% da superfície da Terra, superando até o Mongol, pelo século XIV, com 16,11%.
Entretanto, a antiga colônia, do outro lado do Atlântico, desenvolvia outro sistema de poder: o industrial. Não se deve iludir, tanto para o financeiro quanto para o industrial o Estado agia para a concentração de renda, sendo, apenas, no industrial mais alargada, pois necessitava de consumidores.
O primeiro confronto entre as finanças e a industrialização se deu no encerramento da I Grande Guerra (1914 – 1918), quando os EUA, já ao fim (1917), resolvem participar, e são decisivos para apressar o novo poder, assim como a Revolução Bolchevique (1918), na Rússia, por diferentes motivos. Porém ambas selam a derrota das finanças britânicas.
A II Grande Guerra, mais uma vez, e pelas mesmas forças, estadunidense e soviética, farão as finanças britânicas sofrerem nova derrota. Surge então a reação financista que levará às finanças apátridas ao poder, com as desregulações financeiras e dos direitos trabalhistas ao longo das décadas 1980/1990, e a proclamação da nova bíblia: financista, neoliberal, globalizante, o Consenso de Washington.
DIREITO COM AS FINANÇAS APÁTRIDAS
Entender as finanças apátridas não significa olhar para as finanças britânicas. Há, inclusive, conflito interno, entre as finanças denominadas tradicionais, que têm origem nas propriedades fundiárias e industriais, regulares diante dos Estados, e as marginais, fruto do que os Estados consideram ilícito, tais como: cultivo, produção e distribuição de drogas, assassinatos, prostituição de todos sexos e idades, chantagens e subornos, deturpação e desinformação no processo de divulgação de mensagens e crimes previstos em lei, e, no geral, a submissão dos Estados Nacionais.
O primeiro confronto, inconcluso, entre finanças tradicionais e marginais se deu na denominada “crise do subprime”, na verdade uma crise geral de insolvência, que levou quase três anos – 2008-2010 – para ser contida. Desde então, os especialistas nos mercados financeiros estão aguardando a conclusão desta crise, seja para verificar o vencedor da disputa, seja para conhecer a fórmula de lidar com centenas de trilhões de dólares estadunidenses sem lastro real, que inundam os fundos financeiros, papéis pintados, como já está a própria moeda dos EUA, com dívida superior a seus ativos.
Toda esta situação de corrupção e incertezas também recai na sociedade, que ainda sofre com o desemprego, a fome, a miséria, que só encontra soluções em discursos falaciosos ou esmolas.
Claro que são mazelas que não atingem a cúpula do poder judiciário, o STF como todas demais instâncias deste poder, não só pelas receitas, que recebem do Estado, como pelo nível de compreensão, que se espera terem, da situação nacional, na qual a maioria absoluta, quase a totalidade dos habitantes do Brasil, se encontra. E, se verdadeiras as notícias das agências, também se espalham pela Europa e pelos EUA.
“Estado é não apenas a legislação, mas, igualmente, o acatamento da legislação”, enunciou Álvaro García Linera (intelectual, professor e vice-presidente boliviano), em 2010, na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires.
Esperançoso com a primeira vitória eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva (2002), escreveu o professor José Luís Fiori, do Instituto de Economia Industrial da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no primeiro número da revista Margem Esquerda (maio de 2003, “Fios da meada”): “a grande novidade é a vitória de um partido de esquerda com um projeto popular e nacional de democratização do desenvolvimento, uma inovação histórica, em todos os sentidos. A viabilidade do projeto dependerá da sua capacidade de mobilizar o povo e construir uma vontade nacional, obrigando as elites a se voltarem para sua própria terra e sua própria gente. Se isto ocorrer, o Brasil passará a ter uma posição e um poder externo completamente diferente, independente do contexto mundial conservador e recessivo, até porque o mundo precisa urgentemente de um modelo substituto, na hora da morte da utopia da globalização”.
Em 1822 éramos, brasileiros, também uma esperança! José Bonifácio de Andrada e Silva nos apresentava o Projeto para o Brasil, libertário mas conservador, foi para o exílio e voltou esquecido. Os negros continuaram escravos, os índios assassinados, a quase totalidade do povo ignorante, analfabeta e a elite preconceituosa e burra.
2002 repetiu 180 anos depois nossa incapacidade de nos libertar. 
Lula foi para prisão e saiu pelo acordo de ignorar seus eleitores e manter as finanças tradicionais e apátridas no poder, de termos o Estado Nacional que não enfrenta o “mercado”, e, mais uma vez, “com o Supremo, com tudo” viveremos na escravidão da ignorância, do preconceito, da miséria e da violência.
O discurso de posse na presidência do STF pelo ministro Luís Roberto Barroso nos disse isso: identitarismo, no lugar da lei, e democracia sem povo.
*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado, pertenceu ao Corpo Permanente da Escola Superior de Guerra (ESG), é, atualmente, presidente da AEPET – Associação dos Engenheiros da Petrobrás. 01/10/2023.

sábado, 28 de outubro de 2023

Transporte de animais vivos: documentário retrata o sofrimento da prática e gera debate




Produção da "Mercy For Animals" conta a história de Elias, um boi que nadou mais de cinco horas para fugir do abate em São Sebastião (SP) e gerou debate na Alesp e na Câmara

POR JÚLIA MOTTA
Escrito em Blogs27/10/2023 · 19:25



Cartaz. Mercy for Animals


Um boi nadou cerca de dez quilômetros, por mais de cinco horas, entre o Porto de São Sebastião até a Praia das Cigarras, em São Paulo, para fugir do abate.

Essa é a história de “Elias, o boi que aprendeu a nadar”, contada em documentário pela ONG Mercy For Animals Brasil, lançado em agosto. O caso aconteceu em 2018 e movimentou moradores e autoridades na defesa pelo fim do transporte de animais vivos.

Após o lançamento, tanto a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) quanto a Câmara de São Sebastião promoveram debates sobre o tema. No dia 5 de setembro, ativistas em defesa dos direitos dos animais realizaram um seminário na Alesp, promovido pelo deputado Carlos Giannazi (PSOL) para discutir a proibição da atividade no Porto de São Sebastião.

Já nesta quinta-feira (26), a Câmara sediou o seminário “O Bem Estar Animal e o Transporte de Cargas Vivas (bois) no Porto de São Sebastião”. As discussões estão gerando polêmica entre os que são a favor do transporte e os ativistas que defendem o fim da crueldade animal.

Elias, o boi que aprendeu a nadar

Em 2018, no Porto de São Sebastião, pescadores avistaram um boi nadando. Elias, como foi apelidado, havia atravessado cerca de 10km para fugir do abate no terceiro município que mais exporta animais vivos por ano, cerca de 33 mil.

Esses animais são transportados em navios com duas vezes mais chances de naufragar e idade média de 30 anos de uso. Além do estresse causado pelos longos trajetos, os animais ficam confinados em espaços pequenos entre as próprias fezes, urina e vômito, e alguns morrem pelo caminho devido a doenças respiratórias.

O transporte de animais vivos também gera prejuízo para o turismo local, já que o município fica infestado pelo cheiro dos caminhões.

Todas essas informações são expostas no documentário “Elias, o boi que aprendeu a nadar”, com narração da atriz Laila Zaid e relato de moradores locais, ativistas, políticos e especialistas. 
A produção está disponível gratuitamente no YouTube da Mercy For Animals.

sexta-feira, 27 de outubro de 2023

La investigación del Defensor del Pueblo estima en 440.000 las víctimas de pederastia en la Iglesia española


El histórico informe sobre los abusos en el clero, muy duro con la institución, convierte a España en el país con la proyección oficial de víctimas más alta. Se basa en una encuesta a 8.000 personas que cifra los afectados en un 1,13% de la población. Recomienda que el Estado también asuma su indemnización

02:38

Las cinco claves de la investigación del Defensor del PuebloEl defensor del Pueblo, Ángel Gabilondo, tras entregar el informe a la presidenta del Congreso de los Diputados, Francina Armengol.Foto: SAMUEL SÁNCHEZ | Vídeo: EPV



EL PAÍS puso en marcha en 2018 una investigación de la pederastia en la Iglesia española y tiene una base de datos actualizada con todos los casos conocidos. Si conoce algún caso que no haya visto la luz, nos puede escribir a: abusos@elpais.es. Si es un caso en América Latina, la dirección es: abusosamerica@elpais.es.

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España pasa hoy de ser una excepción mundial entre los países católicos, sin casos de pederastia en la Iglesia reconocidos oficialmente, a ser el país con el cómputo de víctimas más alto del mundo: un 1,13% de la población adulta actual ha sufrido abusos en el ámbito religioso, según una encuesta a gran escala, la primera de este tipo en el país, que ha realizado el defensor del Pueblo, Ángel Gabilondo. El Defensor ha eludido hacer el cálculo en números redondos en su comparecencia en el Congreso, algo que tampoco figura en el informe. Pero, según los cálculos de EL PAÍS, ese 1,13% de los 38,9 millones de empadronados en España en 2022, de entre 18 y 90 años (franja de edad que abarca la encuesta), se corresponde con unas 440.000 personas. Más en concreto, de ese 1,13%, el 0,6%, unas 233.000 personas, afirma haber sufrido abusos de un sacerdote o religioso, y el resto, de laicos. Para la encuesta se ha entrevistado a más de 8.000 personas.

El estudio demoscópico es uno de los pilares de la investigación que Gabilondo ha presentado la mañana de este viernes en la Cámara baja, 18 meses después de que el Congreso se la encargara. El Defensor ha presentado su informe como un intento de arrojar luz sobre este problema oculto y ha criticado “el silencio de quienes pudieron hacer más para evitar” la pederastia.El defensor del Pueblo, Ángel Gabilondo, este viernes a su llegada al Congreso.SAMUEL SANCHEZ

Estas abrumadoras cifras, que superan las 330.000 víctimas que calculó Francia en 2021, suponen un vuelco histórico tras décadas de silenciamiento de los abusos y, desde que estalló el escándalo en otros países a partir de 2002, años de negación y encubrimiento de la Iglesia española. Hasta hace dos años afirmaba que conocía “cero o muy pocas” denuncias, en palabras del entonces portavoz de los obispos, Luis Argüello, en 2021. Ha sido el impacto de la investigación que emprendió EL PAÍS en 2018, que ha hecho aflorar las voces de cientos de víctimas, lo que finalmente forzó al Congreso en 2022 a querer saber la verdad de lo ocurrido. Hoy se ha dado el primer paso. Este diario ha colaborado en el trabajo de la comisión del Defensor, con todos sus datos disponibles, y Gabilondo ha resaltado este viernes que ha sido una de las fuentes de información del estudio. La otra, la propia Iglesia, por primera vez ha accedido a revelar datos propios, aunque incompletos y descoordinados: diócesis y órdenes admiten 1.104 casos y 1.430 víctimas (921 de órdenes y 509 de diócesis), unas cifras nuevas que son las más altas conocidas hasta ahora. Su primera admisión de cifras fue en abril de 2021 y solo ascendían a 220 casos.

El 1,13% de las personas que han sufrido abusos en el ámbito religioso católico, según la encuesta realizada por la firma GAD3 para el Defensor, se divide en dos: un 0,6% fue a manos de sacerdotes o religiosos, y el resto, de laicos que trabajaban en sus instituciones. El estudio indica que ese 0,6% es “una cifra similar a la encontrada en estudios realizados en otros países”. En todo caso, es un dato enmarcado en unas cifras globales de abusos aún más graves: el sondeo revela que un 11,7% de las personas entrevistadas ha sido víctima de abuso sexual en la infancia o en la adolescencia, principalmente en el ámbito familiar. En total, la prevalencia es mayor en mujeres, un 17%, que en hombres, un 6%. En el ámbito religioso, ese dato se invierte, son los hombres quienes han sufrido más abusos: representan el 53,8% de las personas abusadas en el ámbito religioso, y el 64,6% de las que fueron agredidas sexualmente por un sacerdote o religioso.MÁS INFORMACIÓN
Especial: Cinco años para derribar un muro de silencio

El exhaustivo estudio tiene 779 páginas y se ha titulado Informe sobre los abusos sexuales en el ámbito de la Iglesia católica y el papel de los poderes públicos. Una respuesta necesaria. Es un trabajo muy meticuloso y durísimo con la Iglesia católica, a la que reprocha la falta de colaboración en la investigación, sobre todo de algunas diócesis, no tanto de las órdenes religiosas. “La respuesta de la Iglesia católica, al menos a nivel oficial, ha estado caracterizada durante mucho tiempo por la negación o la minimización del problema”, señala el informe. La propia respuesta de la Conferencia Episcopal Española (CEE) a la petición de información de la comisión de investigación “refleja todavía una actitud caracterizada por las cautelas y reticencias”. “Por encima de una declarada voluntad de colaboración, los datos han sido presentados de una forma que tiende a minimizar el fenómeno y a relegarlo a un aspecto marginal en el seno de la institución, enfatizando la dimensión social del problema y rehuyendo abordar los factores internos que pueden favorecer las dinámicas de abuso y de encubrimiento”, afirma.



Lugares donde se han registrado abusos en la Iglesia

Relación publicada por el Defensor a través de los casos que ha recibido
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Fuente: Defensor del pueblo


El documento alega que el “argumento defensivo de que la investigación debería extenderse a los abusos sexuales en otros ámbitos olvida o minimiza la relevancia social de la Iglesia y su poder en España, durante gran parte del siglo XX. Además, no transmite la impresión de que la Iglesia esté especialmente interesada en el conocimiento de los delitos”. En esta línea, constata que “se han detectado en algunos episcopados ciertas actitudes que indican una reticencia al reconocimiento y a la investigación de los casos de abusos”. Como ejemplo, cita la falta de atención a algunas denuncias cuando no se ha encontrado información en los archivos, “presumiendo de alguna manera que las personas denunciantes, a menudo adultos de más de 60 años, tienen un interés espurio, en vez de mostrar voluntad de investigar los casos”. En cuanto a los archivos diocesanos, la información “ha resultado ser excepcional y casi inexistente”, aunque muchas diócesis solo los han consultado, no los han revisado por completo.El defensor del Pueblo, Ángel Gabilondo, entregaba el informe a la presidenta del Congreso, Francina Armengol, este viernes en el Congreso.SAMUEL SÁNCHEZ

Uno de los puntos más relevantes del trabajo es que tampoco ahorra críticas a las instituciones, que “durante mucho tiempo han permanecido inactivas ante la realidad de los abusos sexuales y no han realizado los esfuerzos necesarios para proteger a los menores” en los centros educativos. Por ello, considera que el Estado, como supervisor, también tiene una responsabilidad en lo ocurrido y propone “la creación de un órgano especial de carácter temporal que tenga como finalidad la reparación de las víctimas (...) en aquellos casos en los que, por la prescripción del delito u otras causas, no se haya podido seguir un proceso penal”. Para ello, recomienda “la creación de un fondo estatal para el pago de las compensaciones”, en colaboración con la Iglesia.

“Los poderes públicos tienen la responsabilidad de garantizar que las víctimas de estos delitos puedan ver satisfecho el derecho a la justicia que reclaman”, mediante algún tipo de declaración pública en la que, “a partir de un principio de prueba presentado ante un órgano especial integrado por personas expertas e independientes, se haga constar que un hecho ha tenido lugar, se exprese su carácter injusto y se reconozca como víctimas a quienes han sufrido sus consecuencias, además de acordarse una reparación”. Entre las recomendaciones, el informe no incluye que se aplique una de las principales reclamaciones de las asociaciones de víctimas, la imprescriptibilidad de estos delitos. El estudio señala que no tendría efecto retroactivo y se centra en propuestas de reparación y reconocimiento del daño. También propone celebrar un acto público de reconocimiento a las víctimas.El defensor del Pueblo, Ángel Gabilondo, comparecía ante la prensa este viernes en el Congreso.

SAMUEL SÁNCHEZ

Como trasfondo del problema, el informe señala que “hay evidencia de que el clericalismo, fuertemente arraigado en el seno de la Iglesia católica, la sacralización de la figura del sacerdote como representante de Dios en la Tierra, la soledad de muchos clérigos y la asunción problemática de la sexualidad son factores que han podido propiciar” los abusos. Como factor de “riesgo específico”, indica que la investigación académica apunta “al celibato obligatorio, la práctica de la administración de la penitencia y cierta visión de la sexualidad”. “Durante mucho tiempo, la Iglesia católica ha percibido los abusos sexuales más como un pecado del abusador que como un daño causado a la persona abusada. Esta concepción ha sido superada, aunque solo recientemente”, señala el estudio.
8.013 entrevistas

La encuesta que está recogida en el informe se basa en 8.013 entrevistas, de las que 4.802 se realizaron por teléfono y 3.211 online. Se hicieron un total de 113.126 llamadas, en las que se llegó a contactar con 23.991 personas. Entre los encuestados que refirieron abusos, la mayor parte dijeron que ocurrieron en el ámbito familiar (34,1%), como siempre han señalado todos los estudios. Sigue la vía pública (17,7%), ámbito educativo no religioso (9,6%), ámbito social no familiar (9,5%), laboral (7,5%), internet (7,3%), ámbito educativo religioso (5,9%), ámbito religioso (4,6%), ocio (4%), deportivo (3%) y sanitario (2,6%). Es decir, reflexiona el estudio, sumando los porcentajes, “ello lleva a señalar que prácticamente un 6,6% de los abusos sexuales han ocurrido en establecimientos de carácter religioso”.

Un 6,1% de las personas abusadas sexualmente respondió que el abusador fue un sacerdote o religioso católico. Y además, un 29,3% de las víctimas indicaron que conocían, de forma directa, otras personas que habían sido abusadas por la misma persona. Más de la mitad de las víctimas en el ámbito religioso (51,9%) manifestaron tener conocimiento de otros casos de abusos cometidos por la misma persona.Ángel Gabilondo, con el informe que ha presentado este viernes en el Congreso.SAMUEL SANCHEZ

El informe explica que la comisión encargada de la investigación encomendó la encuesta porque “sin este dato es imposible poder expresar una voz, con una base empírica sólida, en el debate sobre el alcance del problema en España y sobre si la prevalencia es o no comparable a la que se ha detectado en otros países europeos”. El cuestionario consistió en 34 preguntas cerradas, 10 de ellas dirigidas a todas las personas encuestadas y el 24 restante solo a quienes indicaron experiencias de abuso sexual cuando eran menores.

El trabajo analiza el problema con la abundante información recabada por una unidad de escucha a las víctimas, que se entrevistó con 487 personas que se dirigieron al Defensor para aportar su testimonio. La mayoría, 334, fueron atendidas en persona. Este trabajo ha servido para conocer en profundidad la cuestión, pero el objetivo no era cuantificar víctimas una por una, tarea que se antojaba imposible. En todo caso, la comisión sí ha recopilado los números existentes a través de dos vías: los casos recogidos por la propia Iglesia católica, de diócesis, órdenes y la Conferencia Episcopal, “no siempre coincidentes entre ellos”; y la investigación de EL PAÍS. El informe no deja de señalar que estos datos “no representan más que una pequeña parte de una realidad mucho más extendida”.

Parte del interés, y el éxito, del trabajo estribaba en la colaboración de la Iglesia española, que hasta ahora siempre se ha negado a revelar lo que sabe sobre los abusos y los casos que conoce del pasado. Pero esa respuesta sigue pendiente, pues la información facilitada ha sido muy parcial. El Defensor ha usado tres vías para pedir datos: los de las 70 diócesis españolas, las 410 órdenes religiosas y los números globales de la CEE. Este organismo ha respondido con datos ya conocidos: las oficinas de atención creadas en 2019 recibieron hasta el 31 de diciembre de 2022 un total de 728 testimonios de abusos, con 927 víctimas. Las diócesis han admitido 318 casos. Las órdenes, 786. En total, 1.104. Este número no coincide con el global de la CEE y tampoco hay manera de saber si hay casos duplicados o son distintos. En todo caso, este dato es nuevo y supera los casos registrados en este momento por la base de datos de EL PAÍS, 1.036, con 2.206 víctimas. Otro problema es que las respuestas de la Iglesia solo han aportado datos anónimos, que imposibilitan cruzarlos con los obtenidos a través de EL PAÍS y los testimonios recogidos por el Defensor y obtener una cifra única.

Especial: Diario de un cura pederasta

Pero además, destaca el informe, estos datos son muy incompletos. El documento es crítico con obispos que en algunos casos ni siquiera han contestado a los requerimientos de la comisión del Defensor del Pueblo: “Hay obispos que parecen haber decidido evitar el tema, que quieren pasar página, más preocupados por las consecuencias para la institución que por las que los abusos han tenido para las víctimas, lo cual les lleva a reconocer un mínimo de casos o ninguno, incluso pese a la existencia de indicios”. Ha sido “muy alto” el número de diócesis que manifestaron no haber recibido ninguna denuncia o comunicación de abusos, 20 de un total de 70, con el añadido de la de Vic, que nunca respondió. El documento destaca a tres diócesis que dieron una información completa desde el primer momento: Girona, Santiago de Compostela y Tarragona.
El defensor del Pueblo, Ángel Gabilondo, durante la rueda de prensa este viernes en el Congreso.
SAMUEL SANCHEZ

En las contestaciones, por otro lado, “no se deduce un criterio claro y compartido sobre los casos de abusos sexuales”. En cuanto al encubrimiento, las diócesis no han hecho comentarios, “ni siquiera de los que han sido señalados expresamente de una forma pública por parte de víctimas o de testimonios indirectos”. Tan solo un obispado ha señalado a un posible encubridor.

Pocas diócesis afirman haber pagado indemnizaciones. Sí las han reconocido, la mayoría en juicios civiles, las de Mallorca (30.000 euros), Tui-Vigo (44.000), Cartagena (47.000, 100.000 y 25.000) y Vitoria (5.000). El informe destaca la falta de datos en este apartado, “sobre todo si se compara con la información que proporcionaron las víctimas” que acudieron al Defensor, “que relataron muchos más casos de indemnizaciones por parte de las órdenes en comparación con las que han pagado las diócesis”.

FINALMENTE CRIARAM VERGONHA

Os três integrantes da 12ª Turma do TRF4, declararam suspeição para processos oriundos do grupo de Curitiba. São eles João Pedro Gebran Neto, Luiz Antonio Bonat e Gisele Lemke.

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Maine: suspeito de matar 22 pessoas é ex-militar, instrutor de tiro e está foragido


O número total de vítimas ainda pode aumentar; além dos mortos, há cerca de 80 feridos; polícia pede pra que ninguém saia de suas casas

POR JULINHO BITTENCOURT
Escrito em Global26/10/2023 · 06:51





O atirador do Maine. Redes Sociais/Vídeo/Montagem


O suspeito de matar 22 pessoas pelo menos e ferir cerca de outras 80 na noite desta quarta-feira (25), no estado do Maine (EUA) foi identificado pela polícia. Ele se chama Robert Card, é um instrutor de tiro que fazia parte do corpo de reserva do exército americano.

Ele foi afastado recentemente do cargo por apresentar problemas de saúde mental. A Força de Segurança do Maine informou que o suspeito relatou ouvir vozes, chegando a ser internado em um Centro de Saúde Mental ainda este ano, onde permaneceu por 2 semanas.

O atirador, que continua foragido, teria dirigido seu Subaru Outback branco até a cidade de Lisbon, onde abandonou o veículo, tomando um barco para seguir em fuga. As forças de segurança da cidade estão mobilizadas em uma busca intensa para localizá-lo e contê-lo. A polícia do estado do Maine emitiu um alerta à população, pedindo que todos permaneçam em suas residências com as portas trancadas até que a situação seja controlada.

As escolas públicas de Lewiston permanecerão fechadas nesta quinta-feira.

Os crimes

Os crimes aconteceram no Sparetime Recreation – uma pista de boliche e um restaurante dentro dela, o Schemengees Bar and Grille – além de um centro de distribuição do Walmart na cidade de Lewiston, a segunda maior do estado.

O Centro Médico do Maine informou em nota que reage a um "evento de vítimas em massa". O local foi fechado para atender aos feridos no massacre, um número sem precedentes na região, pelo qual o centro médico estaria operando para além de sua capacidade.

Trata-se do ataque mais mortal nos Estados Unidos desde maio de 2022, quando um atirador abriu fogo em uma escola primária em Uvalde, no Texas, matando 19 crianças e dois professores, de acordo com o Gun Violence Archive.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, por sua vez, foi informado sobre o ocorrido e está recebendo atualizações regulares sobre a situação em Lewiston, como informou uma autoridade do governo em Washington.

A governadora democrata Janet Mills também se manifestou a respeito do trágico evento, exortando as pessoas da área a seguirem as orientações das autoridades estaduais e locais. Ela se comprometeu a continuar monitorando a situação e manter contato próximo com os responsáveis pela segurança pública.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Guerra Israel-Hamas faz indústria bélica faturar R$ 11 trilhões; EUA têm 45% do mercado


Publicado por Charles Nisz
- Atualizado em 25 de outubro de 2023 às 15:38

Forças de Israel


Crescente aumento do poderio militar da China, um conflito entre Rússia e Ucrânia com mais de dois anos de duração e o recente ataque do Hamas a Israel e o revide do governo de Netanyahu. Como o personagem de Nicholas Cage em “O senhor das armas”, a indústria bélica esfrega as mãos. Em 2022, foram gastos R$ 11 trilhões em todo o mundo.

Levantamento feito pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, citado pelo jornal The New York Times, mostra um aumento da cifra de 23% neste ano – já descontada a inflação. Com o mundo assistindo grandes embates em dois locais do globo, o setor armamentista norte-americano opera a todo vapor.

“Mesmo antes de Israel responder ao ataque do Hamas, havia uma corrida global para a compra de armas letais. O aumento nas vendas também tem sido impulsionado pelo ritmo rápido da mudança tecnológica no combate à guerra, pressionando mesmo nações bem armadas a comprar novas gerações de equipamento para se manterem competitivas”, sublinha o NYT.

Em 2022, os Estados Unidos controlavam cerca de 45% das exportações mundiais de armas, quase cinco vezes mais do que qualquer outra nação. É o nível de domínio mais elevado desde os anos imediatamente seguintes ao colapso da União Soviética, de acordo com os dados. “Dez anos atrás, os EUA detinham apenas 34% do mercado”, compara o jornal norte-americano.

“O esforço para modernizar os arsenais militares também criou um dos esforços diplomáticos mais robustos desde a Segunda Guerra Mundial por parte do governo dos EUA para expandir as alianças militares”, diz o NYT. A ideia é roubar clientes da China e da Rússia.

Nações do Oriente Médio, de Israel à Arábia Saudita, continuam a ser grandes compradoras de armas americanas – a nova guerra deve aumentar as encomendas. “A intensa procura por poder de fogo militar também encorajou outras nações produtoras de armas, como a Turquia e a Coreia do Sul, a aumentarem as suas exportações”. Segundo o NYT, Polônia e Indonésia, potências regionais são alguns desses novos clientes.

“Vivemos num mundo muito frágil, onde existem muitos conflitos não resolvidos. Conflitos como Índia x Paquistão e Azerbaijão x Armênia podem escalar para uma guerra entre potências”, disse Michael Klare, membro do conselho da Associação de Controle de Armas, uma organização sem fins lucrativos.

Propostas recebidas pelos EUA ultrapassaram US$ 90,5 bilhões nos primeiros nove meses de 2023, contra uma média anual de cerca de US$ 65 bilhões na década anterior, de acordo com dados do Forum on the Arms Trade. Mas as vendas governamentais são apenas um terço do total. As vendas privadas são o dobro desse montante.

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/guerra-israel-hamas-faz-industria-belica-faturar-r-11-trilhoes-eua-tem-45-do-mercado/

BIBI E ALIADOS SÃO EUGENISTAS - Think tank ligado a Netanyahu defende “limpeza étnica em Gaza”, denuncia Fepal


Federação Árabe-Palestina do Brasil explica relatório do Instituto Misgav para a Segurança Nacional e Estratégia Sionista, que festejou “oportunidade rara e única para realocação final da população de Gaza”

POR RAPHAEL SANZ
Escrito em Global24/10/2023 · 18:58


Imagem panorâmica da destruição em Gaza. Foto cedida por Saher Madkour


A Federação Árabe-Palestina do Brasil (Fepal) usou suas redes sociais nesta terça-feira (24) para denunciar uma publicação do Instituto Misgav para a Segurança Nacional e Estratégia Sionista, um think tank ligado ao premiê de Israel Benjamin Netanyahu, que festeja a possibilidade de uma “limpeza étnica” na Faixa de Gaza.

O relatório que avalia a recente escalada no conflito entre o Estado de Israel e o povo palestino e foi compartilhado na rede Mondoweiss. A principal tese do documento aponta que Israel deve aproveitar o conflito para concretizar a expulsão dos mais de 2 milhões de palestinos da região.

Os avós que não querem ser explorados: 'Cuidar dos netos ocasionalmente é diferente de virar cuidador principal'




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Estresse, ansiedade, exaustão e insônia são os sintomas mais comuns entre avós após longos períodos cuidando dos netos

BBC News Mundo
24 outubro 2023

Ao passar perto de um parquinho, em qualquer tarde de um dia de semana, é possível ver uma cena típica: avós cuidando dos netos depois da escola.

O que a princípio pode parecer uma bela imagem, para alguns se tornou uma obrigação, com consequências até para a saúde.

Cayetana Campo deixou claro desde o início que não queria ser uma daquelas avós e comunicou isso aos quatro filhos, quando começaram a ter parceiros estáveis, ​​para evitar problemas futuros.


"Eu fui clara sobre isso. Tenho quatro filhos e se você faz com um tem que fazer com todos", explica em conversa com a BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC.



Para essa mulher de 71 anos, que vive entre Benavente (no norte de Espanha) e Madrid, uma coisa é ajudar os filhos quando surge um problema específico e outra é estar sempre com os netos.

"Se um dia eles não puderem e precisarem que eu vá buscar a criança na escola, tudo bem. Mas pegar o neto de manhã e ficar com ele o dia todo até os pais voltarem do trabalho definitivamente não é correto, porque eu tenho a minha vida e agora que me aposentei tenho tempo para fazer outras coisas", afirma.

"Tenho visto avós que vão buscar os netos de manhã, levam eles à escola, dão alimentação e às vezes até os filhos saem de férias e deixam os netos com eles", acrescenta sobre os idosos que passam a ser os principais cuidadores dos netos.

Embora admita que seus filhos gostariam de poder contar mais com ela, eles não reagiram mal. "Pra mim, essa de deixar o filho comigo e viver a vida, não é o certo. É por isso que eles têm filhos, certo? Para que eles possam cuidar deles."

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Cayetana tem quatro filhos (dois homens e duas mulheres) e seis netos

Ela critica a crença que muitos carregam de que "você pode ter filhos, porque os avós irão cuidar deles".

"Eu tinha quatro filhos e trabalhava, e eles (os avós) não cuidavam deles para mim. Eles cuidavam quando podiam."

"Na minha época pode ter havido uma avó que poderia ter feito mais, mas em geral foi como o que aconteceu comigo: os avós não estavam lá o tempo todo como estão agora. Agora há avós que os estão criando."

Cayetana teve o primeiro filho aos 23 anos e o quarto aos 41 anos. "Já fiquei ocupada por um bom tempo", diz ela, que tem seis netos.

Ao longo da vida, a mulher sempre teve outras ocupações, além da maternidade: trabalhou com o pai na pastelaria da família e depois com o marido em um açougue.

Longe do que muitos possam imaginar, ela tem um relacionamento muito bom com os netos, com quem passa bons momentos.

"Temos uma relação avó-netos. Curtimos juntos, é para isso que servem os avós", afirma Cayetana ao contar como divide o seu tempo entre ajudar o filho na sua loja em Benavente, algo que adora, e passear com as amigas.

"Em Madri faço ginástica de manhã no Parque do Retiro e à tarde ou fico em casa fazendo coisas ou encontro as amigas para ir ao teatro ou dar um passeio", detalha.

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Ela gosta de aproveitar o tempo livre para passear com as amigas, ir ao teatro ou simplesmente sair para tomar uma bebida

Ela tem muitas amigas que, assim como ela, se recusam a cuidar dos netos o tempo todo, mas também conhece avós que cuidam dos netos em tempo integral, porque senão os filhos vão ficar bravos com eles.

"Cuidam um pouco como uma obrigação e isso não pode acontecer", comenta.

"Conversando com as pessoas você percebe que sempre tem alguém explorado."

Medo do que vão dizer

Mas nem todos têm a força de Cayetana. Estabelecer limites nem sempre é fácil e movidos pelo sentimento de culpa, muitos avós acabam imersos num turbilhão de escolas, atividades extracurriculares, refeições, férias e outras atividades, quase sem tempo para mais nada.

“Eles se sentem culpados por não quererem cuidar tanto dos netos”, explica à BBC News Mundo o psicólogo Ángel Rull sobre as pessoas que ele atende.

“Eles chegam como se houvesse algo de errado com eles por não querer cuidar dos netos, por imporem limites, por precisarem de um pouco mais de espaço, de poder viajar”.

“E é aí que a gente realmente se reestrutura para que eles saibam que o que eles sentem é normal, mas que socialmente não falamos tanto sobre isso, porque somos tradicionalmente obrigados a cuidar do silêncio, do ‘minha obrigação é cuidar de você e não posso reclamar disso’”, pontua, sobre um tema que continua tabu, como pôde constatar a BBC News Mundo ao procurar avós que decidiram estabelecer limites.

Sempre houve avós que se recusaram a estar o tempo todo com os netos, mas quando questionados se estariam dispostos a contar isso publicamente, a maioria recusou. O medo do que as pessoas vão dizer continua a ter um grande peso. Uma coisa é comentar sobre o tema confidencialmente e outra é contar ao mundo.

“É muito difícil para eles dizerem: ‘Bom, eu não cuido dos meus netos’, porque parece que dizer isso é como dizer que não quer contribuir com a família”, afirma José Augusto García Navarro, presidente da Sociedade Espanhola de Geriatria e Gerontologia.

Manuel Sánchez Pérez, presidente da Sociedade Espanhola de Psicogeriatria, enxerga a situação da mesma forma:

“O avô muito autônomo, que faz a vida, que viaja, que não quer começar a assumir aquela função de cuidar dos filhos, ainda é visto culturalmente como um avô, digamos, egoísta. Um avô que prioriza o próprio conforto, o próprio bem-estar e que, um pouco, deixa os filhos à margem. É uma avaliação injusta em muitos casos.”

“As pessoas que optam por esse tipo de posição estão defendendo o seu direito a uma velhice digna e saudável, e a poder usufruir do tempo extra que o não ter de trabalhar lhes proporciona, e isso é perfeitamente legítimo”, acrescenta.

Os especialistas insistem que a melhor alternativa é encontrar um meio caminho, em que as pessoas mais velhas possam desfrutar da autonomia, do seu tempo e da saúde que possuem e também possam, de forma razoável, ser um ponto de apoio para os seus filhos. Porém, em muitas situações não há esse equilíbrio.

A síndrome do avô explorado

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O conceito de família e a devoção a ela que existe nos países mediterrânicos e latino-americanos, dizem especialistas, faz com que haja um maior número de avós dedicados quase exclusivamente aos netos

Na Europa, um em cada quatro avós cuida dos netos e faz isso, em média, sete horas por dia, porcentagem que aumenta nos períodos de férias, segundo a Pesquisa de Saúde, Envelhecimento e Aposentadoria realizada no continente.

A dificuldade de conciliar vida profissional e familiar devido à escassez de creches públicas e aos longos horários, à precariedade laboral, bem como à falta de recursos econômicos de muitas famílias e ao aumento da esperança de vida, que em 2020 era de 82,2 anos em Espanha, segundo dados oficiais, fez dos avós um fator fundamental no cuidado das crianças, chegando ao extremo em alguns casos.

“A síndrome do avô explorado é aquela obrigação moral, aquela pressão que os avós sentem para cuidar dos netos, que pode vir imposta diretamente pelos filhos ou porque enxergam que os filhos realmente precisam de ajuda, porque estão em situação de precariedade no trabalho. ou numa situação de necessidade de conciliação impossível com os empregos que ocupam”, explica García Navarro.

Essa necessidade de as famílias contarem com os avós na criação dos filhos não é algo novo, mas, segundo Sánchez Pérez, é uma situação que “embora sempre tenha ocorrido, é cada vez mais observada.”

“Constatou-se que uma percentagem significativa de idosos pode passar entre 6 ou 7 horas por dia, o que é quase um dia útil de qualquer outro trabalho, cuidando dos netos. E de fato a proporção, segundo diversos estudos realizados, de avós que fazem isso voluntariamente ou por prazer ou porque decidem, é muito pequena. Apenas 1 em cada 9 que fazem com essa intensidade faz por prazer, por decisão própria”, detalha.


“Agora há mais casos, porque há mais jovens que têm empregos mais precários e com conciliação mais difícil, embora a lei tente garantir a conciliação, na prática nem sempre isso acontece. Além disso, o seu poder de compra é menor e isso os impede de receber apoio. Acho que isso acontece claramente por esses dois motivos”, explica García Navarro.

Entretanto, Rull destaca que algo importante é que agora estamos conscientes do problema. “Nas últimas décadas nem sequer pensávamos que os avós pudessem estar sofrendo com isso. Agora vemos que existe sofrimento e é por isso que tentamos estabelecer limites.”

Isso acontece, sobretudo, nos países mediterrânicos e na América Latina. “Nesses países existe mais o sentimento de que somos todos uma família e que todos devem contribuir em qualquer idade”, afirma García Navarro.

Os efeitos na saúde

“Essa obrigação moral de cuidar dos netos muitas vezes acaba resultando em uma situação de maior estresse do ponto de vista psicológico que pode ter repercussões reais como a ansiedade. Em alguns casos pode levar à insônia e, principalmente, àquela sensação de cansaço e sobrecarga”, acrescenta.

A insônia e a fadiga intensa podem causar efeitos colaterais, como erros de direção ou falhas de memória devido ao estresse e à ansiedade. Além disso, se o idoso tiver doença cardíaca isquêmica, pode ter maior propensão a sofrer um ataque cardíaco.

“A saúde física deles está sempre deteriorada porque uma pessoa de uma certa idade sofre mais cansaço, mais dores ou doenças, que pioram. E depois a nível psicológico aparece com muita frequência a frustração, a raiva, a culpa, a tristeza , ansiedade e o estresse. Normalmente são emoções que variam entre a tristeza e a raiva”, afirma o psicólogo Rull.


“A nível psicológico seria próximo do que se conhece como síndrome de burnout, quando se fica sobrecarregado por uma tarefa com pouca gratificação”, explica Sánchez Pérez, ao mesmo tempo que insiste em ter em conta que existe uma grande diversidade de pessoas com mais de 65 anos de idade.

Como não cair nessa

A Sociedade Espanhola de Geriatria e Gerontologia (SEGG) recomenda cuidar da comunicação com as crianças para informá-las sobre quaisquer problemas que possam surgir, tendo espaço e tempo próprios, conhecendo as condições de saúde de cada uma e até onde podem ir, e a maioria o mais importante é aprender a dizer “não” aos seus filhos.

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Doenças como depressão, diabetes e hipertensão podem ser agravadas por esse excesso de trabalho

“É importante que você aponte seus limites desde o primeiro momento e os deixe claros desde o início. Diga: 'Vou poder ficar com os netos um dia por semana, que será terça-feira', por exemplo, ou 'todos os dias das 10 às 12, mas depois não', porque aí sempre virão exceções e você muitas vezes terá que cobrir essas exceções, mas faça um acordo muito bom com seus filhos. Diga: ‘Sim, quero ou não quero, mas se quero são nessas condições’”, explica o presidente da SEGG.

“É importante também que você entenda que não está fazendo nada de errado ao fazer isso, mas sim está fazendo uma coisa muito boa para todos, porque quando estão sobrecarregados também cuidam mal do neto. Não há nada de negativo em estabelecer limites”, afirma.

Fonte: BBC

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Senhores da guerra: as empresas que lucram com o conflito entre Israel e Palestina


Fabricantes de armas dos EUA , que abastecem as Forças de Defesa de Israel, firmaram contratos vultosos antes da guerra e veem ações dispararem em semelhante proporção às mortes de crianças e inocentes

Escrito em Economia19/10/2023 · 12:02


James Taiclet (D), Presidente e CEO da Lockheed Martin, apresenta aeronave ao Ministério da Defesa de Israel. Ministério da Defesa de Israel

Em publicação nas redes sociais na terça-feira (17), o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, afirmou que "a única coisa que precisa entrar em Gaza são centenas de toneladas de explosivos da Força Aérea, nem um grama de ajuda humanitária".

Membro do partido de extrema direita Otzma Yehudit (Poder Judeu), Ben-Gvir foi alçado ao cargo após as eleições parlamentares de novembro de 2022, quando a legenda extremista se uniu ao governo de coalizão fascista de Benjamin Netanyahu.

Armamentista radical, contumaz propagador de ódio contra os árabes e crítico do que considerava uma frouxidão do governo Netanyahu na ação contra a Palestina, Ben-Gvir promoveu um levante para distribuir armas à população israelense, especialmente entre os colonos que vivem em assentamentos próximos a Gaza e à Cisjordânia.

Ben-Gvir é apenas uma face da crescente fascistização do governo Netanyahu. Com mais de 15 anos no comando do Estado sionista de Israel (divididos em dois mandatos), o premiê radicalizou ainda mais após ser alvo de uma série de denúncias de corrupção.

Ao mesmo tempo, o governo israelense alimenta a também crescente sanha da indústria de armas, que mesmo durante a pandemia, em 2020, registrou crescimento de 1,3%, segundo o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri).

Em 2022, com a Guerra na Ucrânia, a indústria bélica mundial voltou a bater novo recorde, pelo oitavo ano seguido, crescendo 3,7%, com negócios que chegaram a US$ 2,24 trilhões - maior que o PIB projetado pelo FMI ao Brasil para 2023, de US$ 2,13 milhões, o que colocaria o país na nona economia do mundo.

Principal parceiro de Israel, os EUA lideram com folga o ranking, com orçamento de US$ 877 bilhões, sendo responsáveis por 39% dos gastos globais com a indústria bélica. Na segunda posição, a China, em termos comparativos, gastou no período US$ 292 bilhões.
Senhores da guerra

O abraço caloroso de Joe Biden em Benjamin Netanyahu ao desembarcar em Tel-Aviv na quarta-feira (18) selou um acordo de cavalheiros que alimenta a ganância das principais empresas de armamentos do mundo sobre os corpos de mais de 5 mil pessoas já mortas - segundo a contagem desta quinta-feira (19) - no mais recente conflito em Gaza.

Dos 5.187 cadáveres que alimentam a indústria da guerra, 3.785 são de palestinos, em grande parte crianças e mulheres. Mas a sanha dos senhores da guerra continua e os "negócios" podem ser expandidos caso o conflito se alastre para o Líbano e o Irã - como sinalizou os EUA ao vetarem no Conselho de Segurança da ONU a resolução brasileira para uma pausa humanitária em Gaza.

Por trás da aliança sórdida entre Biden e Netanyahu, cinco empresas dos EUA lucram com a guerra na Palestina - parte delas controladas pelo movimento sionista internacional, que governa Israel.

Lockheed Martin, RTX (Raytheon Technologies), Northrop Grumman, Boeing e General Dynamics dividem com a chinesa Aviation Industry Corporation of China o topo das empresas que mais lucram com a indústria militar pelo mundo.


Sozinhas ou em parceria com empresas israelenses, elas consomem quase a totalidade do orçamento militar de Israel, que investiu US$ 23,4 bilhões na máquina de guerra, o equivalente a 4,5% do PIB do país em 2022.

Além disso, em 2023 o governo sionista já recebeu outros US$ 3,8 bilhões dos EUA para compra de armamentos - e requisitou após o início dos ataques a Gaza outros US$ 10 bilhões. O dinheiro "investido" retorna quase sempre para as gigantes da indústria da guerra estadunidenses.
Arsenal descomunal

As Forças de Defesa de Israel (IDF) têm um arsenal descomunal, ainda mais quando comparado aos palestinos, que sofrem boicote da indústria e só conseguem armamentos de forma clandestina, por meio de apoios de governos, como o do Irã.

Israel conta com cerca de 170 mil soldados na ativa, além de 360 mil reservistas - todos os cidadãos são obrigados a prestarem serviço militar, de dois anos para as mulheres e três para os homens. O número é praticamente 10 vezes maior que o que se estima para a Al-Qassam, braço armado do Hamas, que teria entre 15 e 20 mil soldados.

No entanto, a maior força israelense se concentra na tecnologia e nos equipamentos de guerra fornecidos, sobretudo, pelas gigantes estadunidenses.

As Forças de Israel contam com 2,2 mil tanques, 600 aeronaves - incluindo caças - e 67 navios de guerra. A capacidade aérea do Exército sionista reúne pelo menos 27 caças F-35 de quinta geração e 175 F-15 e F-16 ativos.

Embora não seja admitido pelo governo, os israelenses também teriam cerca de 90 ogivas nucleares em seu aparato militar.

Além disso, os EUA estacionaram nos últimos dias dois porta-aviões - "USS Gerald Ford" e "USS Eisenhower" - no mar Mediterrâneo, em clara provocação ao Irã e ao grupo libanês Hezbollah. Para a escolta dos navios, foram enviados destroiers, cruzadores, submarinos e outras embarcações de combate.
Indústria da guerra

Uma das mais lucrativas do mundo, a indústria da guerra registrou altos ganhos em negócios com Israel nos últimos meses, gerando lucro para os investidores e acionistas na Bolsa de Nova York.

Com a guerra na Ucrânia, no ano passado as cinco principais empresas de armas dos EUA superaram os índices de Wall Street. As ações da Lockheed Martin, Raytheon, Boeing, Northrop Grumman e General Dynamics valorizaram 12,78% após o início da guerra entre Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky.

Antes do início do conflito no Oriente Médio, as empresas também já firmaram contratos com EUA e Israel.

A Boeing, que fabrica os caças F-15 vendeu em 2020, US$ 2,4 bilhões para Israel por meio do Departamento de Estado dos EUA. Em fevereiro de 2021, a gigante da aeronáutica firmou outro contrato diretamente com o Ministério de Defesa de Israel no valor de US$ 9 bilhões. A Boeing também fabrica as bombas GBU-39 e GBU-31, que são usadas para atacar os alvos em Gaza.

Fabricante dos mísseis usados para armar os aviões F-15 e F-35, a RTX (Raytheon Technologies) viu as ações subirem 4% desde o início dos bombardeios pelas forças israelenses. Em 2021, a RTX fechou um contrato de US$ 237 milhões com o Exército dos EUA para fornecer sensores de radiofrequência para detectar a presença de drones.

A Raytheon também é parceira da Rafael Advanced Defense e da Israel Aerospace Industries, empresas bélicas de Israel, no desenvolvimento do chamado Domo de Ferro, sistema de defesa aéreo para interceptar e destruir mísseis de curto alcance e bombas de artilharia que são usados pelo Hamas.

Outra parceira da Rafael Defense é a Lockheed Martin, que tem contrato para construir um sistema de navegação a laser de armas usados em aviões de guerra F-16.

Maior empresa de armamento do mundo, a Lockheed Martin ainda tem parceira com a outra gigante Northrop Grumman para fabricar o F-35. A Northrop, que também fabrica satélites, viu as ações subirem 10,6% após o início do conflito na Palestina.

Já a General Diynamics, que entre outros fabrica as bombas Mark 84, além de tanques, navios e equipamentos de comunicação, viu as ações dispararem 8,1% após os ataques de Israel a Gaza.

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Perseguição, espionagem, ameaças e medo na General Motors durante a ditadura

 

É O PETRÓLEO !!! - O terrorismo de Israel contra o povo palestino

Há muito me fazia essa pergunta: qual o verdadeiro propósito dos sionistas, quando massacram os palestinos e tomam seus territórios?
Desconfiava que o verdadeiro motivo não era religioso, nem qualquer outro senão econômico, como em todos os demais conflitos. 
O edital abaixo confirma o que eu pensava. 
A "guerra"  entre os dois povos  que disputam aquele território não foge à regra, embora se diga que a disputa é por lugares santos, mesquitas e coisas do gênero. 
Como religião não passa de ganancioso comércio, até pode-se pensar que dá tudo na mesma.
Outro motivo subjacente - não se pode desconsiderar fato tão relevante -  é o interesse da indústria de armamentos, que domina a política israelense e norte-americana, bem como a de vários países da Europa, dentre eles a Alemanha, a França e a Inglaterra.

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18 de outubro de 2023


Israel mata crianças todos os dias em Gaza e segue impune. Foto: ATS


Há décadas, Israel adota uma política de guerras e operações militares com o objetivo de expulsar os palestinos de suas terras. Esta política esbarra na coragem dos palestinos, um povo que ama sua terra, que quer continuar vivendo em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém e que luta para ter seu direito respeitado.

Luiz Falcão | Comitê Central do PCR e diretor de redação do JAV

EDITORIAL – Sob o pretexto de responder ao ataque de 07 de outubro do movimento islâmico Hamas, que vitimou 1.300 israelenses, o governo de Israel despeja toneladas de bombas sobre 2,3 milhões de palestinos que vivem na Faixa de Gaza, causando a morte de 2.750 civis (até o fechamento desta edição). Além dos bombardeios, Israel impede o fornecimento de água e de eletricidade, a entrada de alimentos, de remédios, e ameaça invadir o território palestino com 200 mil soldados.

Mas, apesar de a máquina de propaganda do governo israelense, apoiada pelos grandes meios de comunicação da burguesia mundial, apresentar sistematicamente o povo israelense como vítima e os palestinos como os agressores, os fatos se encarregam de desmascarar essa mentira. Vejamos.

Nos últimos 23 anos de conflito, morreram 2.600 israelenses e 13.000 palestinos. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o número de feridos em Gaza, Cisjordânia e Israel, nos últimos 15 anos, são os seguintes: 126.000 palestinos e 6.100 israelenses.

Vale dizer ainda que até as imagens divulgadas por Israel foram colocadas sob suspeita pelo seu maior aliado, os Estados Unidos: poucas horas depois de o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmar que nunca pensou em ver imagens de crianças sendo decapitadas, o porta-voz da Casa Branca reuniu a imprensa e afirmou que nem o presidente dos EUA nem nenhum funcionário viu ou poderia confirmar se a informação divulgada por Israel era verdadeira ou não.
A ocupação do território palestino por Israel

Em 1947, o Reino Unido propôs dividir a Palestina em dois Estados, um judeu e um árabe, com Jerusalém sendo uma cidade comum. Um ano depois, foi criado o Estado de Israel. Em 1967, durante a guerra dos seis dias, Israel invadiu a Península do Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e as Colinas de Golã. Após o fim da Guerra, Israel multiplicou por três o tamanho de seu território, tomando posse de terras férteis e de novas fontes de água.

Em 2008 e 2009, o governo israelense lançou a Operação Chumbo Fundido, afirmando ser uma resposta a foguetes lançados pelo Hamas. Resultado da Operação: 1.922 palestinos mortos e 45 israelenses.

Até hoje, Israel ocupa parte importante da Faixa de Gaza, da Cisjordânia e as Colinas de Golã. A parte da Faixa de Gaza onde estão mais de dois milhões de palestinos tem somente 41 km de extensão. Israel também vem ocupando a Cisjordânia com o financiamento de 430 mil colonos distribuídos em 132 assentamentos.

Como vemos, há décadas, Israel adota uma política de guerras e operações militares com o objetivo de expulsar os palestinos de suas terras. Esta política esbarra na coragem dos palestinos, um povo que ama sua terra, que quer continuar vivendo em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém e que luta para ter seu direito respeitado.

Em outras palavras, todos aqueles que condenaram veementemente o ataque do Hamas a Israel, se não quiserem ser chamados de hipócritas, têm o dever humanitário de denunciar os covardes e criminosos ataques de Israel contra o povo palestino.

As riquezas das terras palestinas

Mas qual o objetivo do terrorismo de Israel contra o povo palestino? 

Apesar de as imagens na TV mostrarem prédios, escolas e hospitais destruídos, a Palestina é uma região com importantes riquezas naturais. Essa conclusão foi revelada pelo documento O custo econômico da Ocupação do Povo palestino: O Potencial não realizado de Petróleo e Gás Natural, divulgado pela Unctad, órgão das Nações Unidas sobre o Comércio e Desenvolvimento, em setembro de 2021. O estudo da Unctad mostrou que estes recursos estão localizados na Area C da Cisjordânia e na costa do Mediterrâneo, ao longo da Faixa de Gaza. Precisamente na Bacia do Levante foram identificadas reservas de gás natural de 122 trilhões de pés cúbicos, enquanto a quantidade de petróleo pode atingir 1,7 bilhão de barris. A exploração desses recursos pode representar uma fortuna de 524 bilhões de dólares.

Eis a questão: os monopólios capitalistas da burguesia israelense, que controlam e dominam os sucessivos governos do país, querem se apossar das terras palestinas para explorarem essas riquezas. Por isso, defendem o genocídio do povo palestino, mesmo sabendo que a ampla maioria do povo de Israel quer a paz, e não a guerra. De fato, uma pesquisa publicada, no último dia 13 de outubro, pelo importante jornal judeu Jerusalem Post revelou que, de cada cinco israelenses, quatro culpam o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pelo ataque do Hamas e querem sua renúncia.

Tem mais. Aliadas às grandes corporações norte-americanas, as companhias israelenses também pretendem desencadear novas guerras para aumentar seu poderio econômico no Oriente Médio, como mostram as frequentes ameaças de Israel de bombardear o Irã. A justificativa para essa política belicista é sempre a mesma: se Israel não ampliar suas fronteiras, novos atentados acontecerão contra o povo israelense.

Os fatos, porém, mostram o contrário: o militarizado Estado de Israel não é indestrutível nem invencível e o seu endeusado sistema de inteligência, à frente o Mossad, é vulnerável.

Ademais, como mostrou a derrota dos EUA no Vietnã e a vitória da União Soviética sobre o nazismo, os impérios, por mais armas destrutivas que tenham e por mais treinados que sejam seus exércitos, acabam derrotados.

Na verdade, qualquer povo que oprime outro povo e nega a este o direito de viver em paz, nunca será um povo livre, tampouco alcançará sua própria paz.

Editorial publicado na edição nº 281 do Jornal A Verdade.


https://averdade.org.br/2023/10/o-terrorismo-de-israel-contra-o-povo-palestino/

NOSSO PRESIDENTE NÃO TEM CULHÕES PARA CRITICAR OS SIONISTAS?

Não se iludam os palestinos: só chega na presidência do Brasil, como dos EUA e de muitos outros países do Ocidente, quem lambe a mão dos sionistas.
Se afrontá-los, é derrubado, pela velha imprensa e pelo Judiciário, onde os judeus exercem todo o seu poder.
Lula sabe muito bem disso e o PT tem em seus quadros notórios judeus, que influenciam as decisões de Lula e seu ministério. O presidente do Brasil só "faz média" com os palestinos por pura vaidade, querendo parecer um líder muito influente a nível internacional. 
Admiro algumas políticas sociais de Lula, mas a suposta neutralidade do Brasil - se depender do governo atual - é falsa. 

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Hamas à Fórum: “ação do dia 7 foi ato de defesa”; “estamos chocados com o Brasil, esperávamos mais"

Basem Naim, presidente da Comissão de Relações Exteriores de Gaza e líder do Hamas, falou com exclusividade à TV Fórum na madrugada desta quarta-feira (18), na primeira entrevista à mídia brasileira desde o início da guerra. “Nós estamos esperando novos massacres em outros hospitais”
POR MAURO LOPES
Escrito em Política18/10/2023 · 19:03





Basem Naim, dirigente de Gaza e do Hamas, e Mauro Lopes. Reprodução


Basem Naim, médico, é presidente da Comissão de Relações Exteriores de Gaza e um dos integrantes do Comitê de Relações Exteriores do Hamas. Ele falou com exclusividade à TV Fórum na madrugada desta quarta-feira (18). Foi a primeira entrevista concedida por um dirigente de Gaza e do Hamas à mídia brasileira desde a ação palestina de 7 de outubro. Suas declarações são de alto impacto.

O médico não revelou de onde concedeu a entrevista, pelos evidentes riscos à sua vida, mas aparentemente estava em algum lugar de Gaza. Eu tive a oportunidade de entrevistar o doutor Naim em maio de 2021, na agressão anterior de Israel contra os palestinos, que resultou em mais de 200 mortos.
Algumas das declarações de Basem Naim, antes de apresentar, logo abaixo, a íntegra da entrevista:

“Qualquer povo em lugar sob ocupação tem o direito de resistir a ela, com o uso de todos os meios, de todas as ferramentas, incluindo a resistência armada”

“Muitos grupos de resistência situados na Faixa de Gaza participaram [da ação contra Israel], como o Hamas, a Jihad Islâmica, a FPLP (Frente Popular para a Libertação da Palestina) e outros grupos”

“Eu acho que qualquer um, no nosso caso, em nossa situação, iria tentar quebrar as paredes dessa prisão, para se livrar dessa prisão. Portanto, foi um ato de defesa. Nós defendemos nossa vida, nossos filhos e nosso futuro. O dia 7 não foi uma agressão”

“O comandante superior da Brigadas al-Qassam [braço armado do Hamas] orientou a todos: “não machuque civis, não mate civis”. Mas nós temos que lembrar que há bases militares, campos militares construídos dentro dos kibutzim”

“Se olharmos para o atual governo de Israel, os próprios israelenses, até alguns membros do próprio governo, que descreveram ministros como Bezalel e Ben-Gvir como terroristas”

“Nós estamos esperando novos massacres em outros hospitais”

“Nós esperamos apoio dos países árabes, dos países islâmicos, dos países ao redor do mundo, de todas as pessoas livres ao redor do mundo, para parar esse genocídio”

“O Brasil é um grande país, um país influente, o Brasil é amigo da Palestina, um amigo do povo palestino, e agora o Brasil é o chefe do Conselho de Segurança, é membro dos Brics, nós pensamos que o Brasil pode fazer muito para parar essa loucura”

“Eu tenho que dizer que, infelizmente, nós estamos chocados e surpresos pela posição brasileira. Estávamos esperando mais, uma posição totalmente diferente. Nós estávamos esperando alguém falar sobre soluções políticas”

Essas e outras declarações muito fortes e informações inéditas e revelações impressionantes estão na entrevista, cuja íntegra você lê a seguir:

Fórum - O senhor é o presidente da Comissão de Relações Exteriores de Gaza, função equivalente à de um ministro das Relações Exteriores. Quais são as atribuições dessa comissão e as suas especificamente? E com quantos países e organizações Gaza se relaciona?

Basem Naim - Obrigado por me convidar a conversar com sua audiência. Eu sou o presidente da Comissão de Relações Exteriores de Gaza. Esta é uma organização situada e baseada em Gaza. Estamos em contato com a maioria dos países do mundo e a maioria dos centros de pesquisa no campo de relações políticas e internacionais na Europa, na América Latina, no oeste da Ásia, nos países árabes e islâmicos e na África.

P - O Hamas é acusado de ser um grupo terrorista por Israel, Estados Unidos e outros países com o apoio dos grandes grupos de mídia. O Hamas é um grupo terrorista?

R - Muito obrigado novamente por esta pergunta muito importante, porque infelizmente os países ocidentais, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, estão definindo o que é um terrorista e o que não é um terrorista. Acredito que a lei internacional é muito clara aqui. Qualquer povo em lugar sob ocupação tem o direito de resistir a ela, com o uso de todos os meios, de todas as ferramentas, incluindo a resistência armada. Portanto, é muito importante diferenciar o povo palestino, que está se defendendo, resistindo à ocupação, procurando viver livre e digno, como todas as outras pessoas, e alguns grupos aqui ou lá que estão atacando civis. Nós somos lutadores da liberdade. Nós estamos lutando pelos nossos direitos humanos, para sermos livres e vivermos em uma vida digna e dando ao nosso povo o direito de retornar para suas casas e vilas.

P - Além do Hamas, que outras forças palestinas participaram da ofensiva contra Israel no dia 7 de outubro?

R - Muitos grupos de resistência situados na Faixa de Gaza participaram, como o Hamas, a Jihad Islâmica, a FPLP [Frente Popular para a Libertação da Palestina] e outros grupos.

Reforço que a Faixa de Gaza é cercada por essas forças armadas israelenses, à beira das nossas fronteiras. Por mais de 17 anos eles estão sufocando 2 ,3 milhões de palestinos, e transformaram a Faixa de Gaza em uma das maiores prisões de fogo aberto.

Eu acho que qualquer um, no nosso caso, em nossa situação, iria tentar quebrar as paredes dessa prisão, para se livrar dessa prisão. Portanto, foi um ato de defesa. Nós defendemos nossa vida, nossos filhos e nosso futuro. O dia 7 não foi uma agressão.

P - Como o senhor explica os ataques a civis, especialmente a festa (rave) que acontecia no Kibbutz Reim, situado perto de Gaza, a seis quilômetros, e que teve 260 mortes?

R - Veja, desde o início desse ato de defesa, as instruções para os lutadores eram claras. O comandante superior da Brigadas al-Qassam [braço armado do Hamas] orientou a todos: “não machuque civis, não mate civis”. Mas nós temos que lembrar que há bases militares, campos militares construídos dentro dos kibutzim, estão no meio dos kibutzim.

Segundo, nós temos muitas provas que alguns israelenses, e isso também foi pela mídia de Israel, que algumas pessoas foram mortas por fogo israelense, porque eles acreditam na doutrina Aníbal. A doutrina Aníbal significa que qualquer israelense que tenha sido capturado ou se tornado hostil, o Exército se dá o direito de matá-lo, de matá-lo junto com o seu captor. [Nota minha: a doutrina Aníbal é uma regra não escrita mas amplamente conhecida em Israel segundo a qual qualquer comandante israelense pode tomar uma decisão sem constrangimentos para frustrar um sequestro, mesmo que coloque em risco a vida do sequestrado ou de civis da região. A regra é considerada detestável mesmo entre integrantes das Forças Armadas de Israel, especialmente os de baixa patente, e afirma taxativamente que a missão é evitar que os sequestradores fujam com as vítimas, mesmo que isso possa custar a vida dos soldados israelenses capturados].

A terceira coisa é que, no momento em que, de repente, tudo colapsou e caiu e as fronteiras abriram com a ação palestina, houve um caos. Mas eu posso enviar muitos vídeos mostrando que nossos lutadores ajudaram os civis a voltar para suas casas. Os israelenses, entretanto, falaram de bebês envenenados e degolados, mas não têm como mostrar uma foto ou um vídeo de um bebê envenenado.

Eles falaram de mulheres envenenadas. Isso não foi provado em nenhum momento. Foi uma narrativa feita pelas mídias israelenses, pelos políticos israelenses, para interromper a nossa narrativa de que nós somos um povo sob ocupação e que nossas ações são para defender nosso povo.

E deixe-me lhe dizer algo. Uma semana antes do 7 de outubro, Israel matou sete crianças dentro de Gaza. Só em 2023, 253 palestinos foram mortos em checkpoints na Cisjordânia. Nós estamos sofrendo quase todos os dias massacres em Gaza, na Cisjordânia, em Jerusalém. Essa é a história diária das agressões israelenses contra nosso povo.

É possível lembrar de muitos massacres durante a história dessa ocupação. Foram milhares em 2021, em 2014, milhares e milhares.

E ontem (dia 17), nós vimos como eles atacaram o Hospital Baptista Al-Ahli. Este é um hospital associado à Igreja Batista. Mataram 500 civis inocentes que procuravam refúgio dentro do hospital, incluindo mulheres, crianças e velhos.

O mundo pode ver claramente. Todos os dias, em 24 horas, acontecem pelo menos quatro ou cinco massacres contra nossas famílias, sem nem dar a elas nenhum sinal de alerta.

Portanto, não é nossa intenção, não são nossos planos, de fazer mal ou atacar os civis.

P - Como é que o senhor e o governo de Gaza, não apenas o Hamas, qualificam o governo de Israel? Forças democráticas e de esquerda cada vez mais consideram o regime israelense como um regime de apartheid e genocida. O governo de Gaza e o Hamas concordam com isso?

R - Não é sobre o Hamas concordar ou não concordar. Até o B'Tselem, que é uma organização israelense [Centro de informações israelense para os direitos humanos nos territórios ocupados] descreveram Israel como um regime apartheid, como um governo racista.

E isso é provado por todas as leis e regras e ação no campo. Eles estão dividindo palestinos, eles estão matando palestinos, eles estão roubando nossas terras, nossas casas, nossas vilas... De novo, isso não é o nosso julgamento, isso é o julgamento da comunidade internacional, especialmente do B'Tselem e outros grupos de direitos humanos.

Se olharmos para o atual governo de Israel, eu posso enviar muitos vídeos onde os próprios israelenses, até alguns membros do próprio governo, que descreveram ministros como Bezalel e Ben-Gvir como terroristas [Bezalel Smotrich é o ministro das Finanças de Israel; Itamar Ben-Gvir é o ministro da Segurança Nacional].

Há apenas alguns anos, eles estavam sentados nos tribunais israelenses como terroristas. Eles ainda estão na lista de terroristas dentro de Israel e nos EUA. Esses ministros, no último mês, antes da ação de 7 de outubro, convocaram israelenses para destruir cidades palestinas, para matar palestinos. Smotrich disse recentemente que os palestinos têm três escolhas: deixar o país ou serem mortos ou viver como escravos aqui, sob o controle israelense.

Ben-Gvir disse que todos os prisioneiros palestinos devem ser executados. Eu acho que não precisamos ter muitas provas mais para mostrar o quão racista e fascista é esse governo.

E qual é a situação agora?

Não há comida, não há comunicação. A cada dia, você está ouvindo as notícias, ou assistindo as notícias de massacres. Mais de 60 famílias palestinas foram totalmente erradicadas do registro civil. Não sobrou ninguém.

Eles estão atacando prédios de três, cinco, seis andares com 60, 70 pessoas, sem nenhuma prova. Desde o início da agressão israelense contra a Faixa e Gaza, mais de 300 palestinos morrem todos os dias.

Todos eles são civis, são mulheres, crianças e velhos. A água está cortada, a eletricidade está cortada, não há combustível, e eles não estão permitindo a ninguém ajudar ou abrir as fronteiras para trazer alguma ajuda humanitária.

Eles disseram para as pessoas descerem do norte para o sul da Faixa de Gaza, que seria mais seguro. Mas, no caminho para o sul, eles atacaram os comboios e apenas em um dos casos mataram 70 palestinos [leia aqui reportagem da Fórum sobre o ataque com o vídeo].

E agora? Ontem (dia 17), eles entraram em contato com o Hospital Baptista, um dos mais antigos na Faixa de Gaza, um hospital cristão, disseram que as pessoas tinham que sair. O que poderíamos fazer? Nós não podíamos sair do hospital, e deixar centenas de pacientes nas UTI, crianças, mulheres, pessoas machucadas. Deixar todas e sair do hospital?

Nós não podíamos fazer isso. A administração do hospital recebeu uma resposta dos mediadores dizendo que tudo bem, que os hospital não seria atacado. E, de repente, depois de algumas horas, eles atacaram um míssil americano, que causou a morte de mais cerca de 500 palestinos e o número pode dobrar, porque muitos estão seriamente machucados e é impossível salvar as vidas deles. Muitas das infraestruturas e acomodações do hospital foram destruídas. E tem mais: eles também ordenaram que mais cinco hospitais fossem evacuados.

Nós estamos esperando novos massacres em outros hospitais. Eles atacaram prédios da ONU, escolas da ONU e instalações da ONU. Eles estão se comportando de uma forma tão louca, sem limites, porque eles tiveram uma luz verde, a luz verde mais verde do Oeste, em particular dos Estados Unidos, para destruir a Faixa Gaza, matar o máximo possível ou empurrar o resto das pessoas para deixar a região. Esse é o plano. Nós estamos esperando o pior. É muito, muito sério, e nós não podemos aceitar esse apoio contínuo do regime apartheid.

P - O que vocês esperam como reação popular ao ataque? Algumas horas depois de noticiado o ataque ao hospital, milhares de pessoas tomaram as ruas no Oriente Médio, Europa e América do Norte. O Hezbollah convocou uma rebelião e um “dia de raiva”...

R - Isso é a luta palestina pela liberdade. O povo palestino está lutando e lutando pela sua liberdade e dignidade, pela sua própria independência. Mas, ao mesmo tempo, nós estamos convidando, pedindo o apoio de qualquer pessoa, de qualquer país, porque as pessoas têm que ficar do lado correto da história, no caminho da justiça. Ninguém pode aceitar essa agressão contínua por mais de 75 anos contra nosso povo.

Nós esperamos apoio dos países árabes, dos países islâmicos, dos países ao redor do mundo, de todas as pessoas livres ao redor do mundo, para parar esse genocídio, para parar essa agressão e para ajudar nosso povo a alcançar seus objetivos e direitos.

P - E como é que o senhor vê o papel do Brasil que está neste momento na presidência do Conselho de Segurança da ONU?

R - O Brasil é um grande país, um país influente, o Brasil é amigo da Palestina, um amigo do povo palestino, e agora o Brasil é o chefe do Conselho de Segurança, é membro dos Brics, nós pensamos que o Brasil pode fazer muito para parar essa loucura, para parar essa agressão, e para ter um papel central em iniciar um processo político.

Eu tenho que dizer que, infelizmente, nós estamos chocados e surpresos pela posição brasileira. Estávamos esperando mais, uma posição totalmente diferente. Nós estávamos esperando alguém falar sobre soluções políticas.

Nós estávamos esperando, porque não é um conflito entre Hamas e Israel. Não é um conflito entre Gaza e Israel. É um conflito entre palestinos que estão sob ocupação estrangeira e os ocupantes israelitas. E nós estamos procurando nossos direitos políticos como pessoas, para vivermos em dignidade em nosso Estado independente, para vivermos livremente, para termos nossa soberania, para garantir um futuro melhor para nossos filhos.

Portanto, nós esperamos que pelo menos alguns países tenham um pensamento racional ou pensamento de equilíbrio para exigir uma imediata paralisação desta agressão, desta ronda de confrontação e iniciar um processo de equilíbrio e de justiça política.

P - Doutor Naim, há chance efetiva de os brasileiros retidos em Gaza, aprisionados em Gaza, retornarem ao Brasil? Por que a fronteira do Egito não foi aberta ainda?

R - Isso é muito simples, porque os israelitas fecharam as fronteiras e disseram aos egípcios que não é permitido abrir as fronteiras de novo. Os egípcios tentaram repetidamente enviar ajuda humanitária e as fronteiras foram bombardeadas por forças aéreas israelitas três ou quatro vezes. Isso é muito sério, ninguém pode tentar ir lá, porque é muito, muito sério. A segunda coisa é que todas as pessoas, incluindo palestinos com nacionalidades estrangeiras, não podem ir do norte para o sul, e posso dizer que centenas de pessoas estão esperando agora por sete dias perto da passagem de Rafah [na fronteira com o Egito]. Pessoas de nacionalidades diferentes, não só brasileiros, mas elas não podem sair, porque a qualquer momento, se a fronteira aberta, será atacada pelas forças aéreas israelitas. O próprio chefe do departamento de Rafah foi morto com sua família [Horas depois da entrevista, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou que o Egito iria abrir as fronteiras para envio de alguns suprimentos, mas não foi mencionado o tema da saída de estrangeiros].

P - O governo de Gaza e o Hamas têm relações com o governo brasileiro e com o PT?

R - Nós temos algumas relações com figuras no governo, no Congresso, mas na maioria dos casos são relações não oficiais, porque você sabe que sob a pressão do Ocidente de pessoas muito poderosas, por causa das sanções ao Hamas e a Gaza, tenta-se evitar esses contatos públicos.

Mas eu tenho que dizer que é uma perda de tempo evitar o contato das pessoas do Hamas e de Gaza. A maioria das pessoas sustenta a visão do Hamas de que temos que lutar pela nossa liberdade e pela nossa dignidade.

Nós fomos infelizmente enganados pela comunidade internacional. Estamos esperando há 75 anos para a comunidade internacional implementar resoluções da ONU. E nada foi feito.

P - Dr. Naim, existem ainda algumas questões que o senhor queira colocar?

R - Eu espero que todos nossos irmãos e irmãs, amigos e amigas no Brasil possam dar passos para que Israel pare essa agressão, para ajudar nosso povo a conquistar seu direito de uma vida digna e independente e livre, um futuro mais seguro.

Nós acreditamos que os brasileiros podem fazer muito. Eu acho que é uma causa de todos e todos com uma mente consciente devem ficar do lado correto da história.

Muito obrigado.