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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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sábado, 27 de janeiro de 2024

Do papel enganador dos pregadores

 Que infame idéia imaginar que um sacerdote de Isis e de Cíbele, tocando címbalos e castanholas, vos reconciliará com a Divindade! 

E quem é pois esse sacerdote de Cibele, esse eunuco errante que vive de vossas fraquezas, para se arvorar intermediário entre o Céu e vós outros? 

Que espécie de patentes recebeu ele de Deus? Recebe de vós algum dinheiro para balbuciar algumas palavras, e credes que o Ser dos seres ratificará as palavras desse charlatão? - VOLTAIRE

Troquemos sacerdote de Ísis e de Cibele  por qualquer outro pregador (católico, protestante, de qualquer corrente dentro das mais variadas igrejas) e seria possível acreditar que - se deus existe - irá ratificar as palavras do charlatão?

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Medo, a base de qualquer religião

O medo mais intenso que se pode ter é daquilo (ou daquele) cujas caracteristicas não se conhece à exaustão, de sorte a se poder esboçar qualquer defesa.

O medo é a sorte das religiões. Sem ele sequer existiriam. 

Prega-se a existência de um deus e de um demônio, cujas configurações são toalmente confusas, meramente presumidas e incertas, mesmo que se dê crédito aos incontáveis livros sagrados e malditos já escritos.

Atribui-se a deus e ao diabo as mais disparatadas características e, mesmo assim, por temor de se mostrar descrentes, ou mesmo duvidantes, os fiéis preferem mostrar-se crentes e proclamar sua fé e medo do Supremo. 

A religião colhe os rendimentos da covardia dos ingênuos e medrosos, que não se furtam aos sacrifícios mais abomináveis para contar com as graças "divinas" e sentir-se protegidos contra o oponente do Criador e Arquiteto do Universo, Senhor do Céu e da Terra. 

Se deus criou tudo e todos, criou também o diabo, com a intenção de engendrar o terror nos propensos à covardia. Ou seja, deus é uma ideia maldosa, nefasta, que propicia a exploração dos que acreditam em tal embuste. 

Cogita-se que exista, mas toma-se a dúvida por certeza. Isto é a crença, que não se harmoniza com a razão.

Quanto mais desenvolvido, culturalmente, um povo, menor a aceitação da ideia dessas quimeras que chamam deus e diabo. O conhecimento e a capacidade de questionar com destemor libertam, livram os povos da submissão a espertalhões e fraudadores, verdadeiros estelionatários, que são os pregadores religiosos de todos as origens.

Deus e o diabo são o capital dos exploradores da credulidade pública, cujos  ganhos são auferidos à medida que afirmam como certezas meras possibilidades de castigo. 

Não se adora, não se crê senão naquilo que se teme, sustentou VOLTAIRE. 

A fragilidade (inclusive espiritual e moral) favorece os ambiciosos

O tempo, a ocasião, a ambição de uns e a fraqueza de outros tudo fizeram e farão neste mundo - VOLTAIRE -  Dicionário filosófico

Os falsos messias


Messiah ou Meshiah em hebreu; Christos ou Eleimmenos em grego; Unctus em latim; Ungido. Vemos no Velho Testamento que o nome de Messias foi dado a príncipes idólatras ou infiéis. 
Está dito(51) que Deus enviou um profeta para ungir Jeú, rei de Israel. Anunciou ele a unção sagrada a Hazael, rei de Damasco e Síria, pois esses dois príncipes eram os Messias do Altíssimo para punir a casa de Acabe. No 45o. de Isaías o nome de Messias é expressamente dado a Ciro. "Assim disse o Eterno a Ciro, seu ungido, seu Messias, de quem tomei a mão direita, a fim de que eu submeta as nações diante dele, etc.". 
Ezequiel, no capítulo 28 de suas revelações, dá o nome de Messias ao rei de Tiro, a quem também chamava Querubim. "Filho do homem, - disse o Eterno ao profeta, - pronuncia em altas vozes uma queixa ao rei de Tiro, e diz-lhe: "Assim disse o Senhor, o Eterno. Eras o sinete da semelhança de Deus, repleto de sabedoria e perfeito em beleza; foste o jardim do Éden do Senhor, (ou, segundo outras versões) eras todas as delícias do Senhor. Tuas vestes eram de sardônica, de topázio, de jaspe, de crisólita, de ônix, de berilo, de safira, de escarbúnculo, de esmeralda e ouro. O que sabiam fazer teus tambores e tuas flautas esteve contigo; eles foram aprontados no dia de tua criação; foste um Querubim, um Messias". 
Esse nome de Messiah, Christ, era dado aos reis, aos profetas e aos grandes sacerdotes dos hebreus. Lemos no 1o. dos Reis, XII, 5: "0 Senhor e seu Messias são testemunhas", isto é: "0 Senhor e o rei que estabeleceu". E alhures: "Não toqueis em meus ungidos nem façais mal algum a meus profetas". 
Davi, animado do espírito de Deus, deu em várias ocasiões a Saul, seu sogro renegado, que o perseguia, o nome e a qualidade de ungido, de Messias do Senhor. "Deus me guarde" - diz freqüentemente - "de levantar a mão sobre o ungido do Senhor, sobre o Messias de Deus!" 
Se o nome de Messias, ungido do Senhor, foi dado a reis idólatras, a renegados, foi também mui freqüentemente empregado em nossos antigos oráculos para designar o verdadeiro ungido do Senhor, esse Messias por excelência, o Cristo, filho de Deus, enfim o próprio Deus. 
Se compararmos todos os diversos oráculos que se aplicam de ordinário ao Messias, não pode haver ao que parece dificuldade alguma capaz de favorecer os judeus, no sentido de justificar, se o pudessem, sua obstinação. 
Vários grandes teólogos concordam que, no estado de opressão sob o qual gemia o povo judeu, e depois de todas as promessas que o Eterno lhe fez com tanta freqüência, podia suspirar pela vinda de um Messias vencedor e libertador, e que assim se torna de certa forma escusável o não haver a princípio reconhecido esse libertador na pessoa de Jesus. 
Pertencia ao plano da sabedoria eterna que as idéias espirituais do verdadeiro Messias permanecessem desconhecidas pelas multidões cegas; foram-no ao ponto de os doutores judeus tomarem o cuidado de não negar senão os trechos que alegamos deverem ser entendidos como referentes ao Messias. 
Dizem vários que o Messias já veio na pessoa de Ezequias; é também o pensamento do famoso Hilel. 
Outros, em grande número, pretendem que a crença da vinda de um Messias não é absolutamente um artigo fundamental de fé, e que esse dogma, não assomando nem no Decálogo nem no Levítico, não passa de uma esperança consoladora. 
Vários rabinos dizem não duvidar que, segundo os antigos oráculos, o Messias não tenha vindo nos tempos determinados; mas que ele não envelhece, que ficará sobre esta terra e esperará, para se  manifestar, que Israel tenha celebrado como é de mister o sabate. 
O famoso rabino Salomão Jarquí ou Rasquí, que viveu no princípio do duodécimo século, diz em suas Talmúdicas que os antigos hebreus acreditaram que o Messias nascera no dia da última destruição de Jerusalém pelos exércitos romanos; é, como se costuma dizer, chamar o médico depois da morte. 
O rabino Quinquí, que também viveu no duodécimo século, anunciou que o Messias, cuja vinda julgava muito próxima, expulsaria da Judéia os cristãos que a possuíam até aquele momento; é verdade que os cristãos perderam a Terra Santa; mas foi Saladino quem os venceu; por pouco que esse conquistador tenha protegido os judeus declarando-se a seu favor, parece que em seu entusiasmo eles o transformaram em seu Messias. 
Os autores sacros, e o próprio Nosso Senhor Jesus, comparam freqüentemente o reino do Messias e a eterna beatitude a dias de esponsais, a festins; porém os talmudistas abusaram estranhamente dessas parábolas; segundo eles, o Messias dará a seu povo, reunido na terra de Canaã, uma refeição cujo vinho será o mesmo feito por Adão no Paraíso terrestre, e que se conserva em vastas adegas, guardadas pelos anjos no centro da terra. Servir-se-á de início o famoso peixe chamado o grande Leviatã, que engole de um só trago um peixe maior do que ele, o qual não deixa de ter trezentas léguas de comprimento; toda a maça das águas está apoiada sobre Leviatã. 
Deus, a princípio, criou um macho e uma fêmea; mas temendo que eles revolvessem a terra e enchessem o universo de seus semelhantes, Deus matou a fêmea, salgando-a para o festim do Messias. 
Os rabinos acrescentam que se matará para esse festim o touro de Beemote, que é tão grande que come diariamente o feno de mil montanhas; a fêmea desse touro foi morta no princípio do mundo, para que uma espécie tão prodigiosa não se multiplicasse, o que apenas poderia ser prejudicial às outras criaturas; asseguram porém que o Eterno não a salgou, pois a vaca salgada não é tão boa como o Leviatã. 
Os judeus acrescentaram ainda tanta fé a todas essas fantasias rabínicas que é freqüente jurarem sobre a parte do boi de Beemote que lhes cabe. Depois de idéias tão grosseiras sobre a vinda do Messias e sobre o seu reino, será para admirar que os judeus, tanto antigos como modernos, e vários mesmo dos primeiros cristãos, desgraçadamente imbuídos de todas essas loucuras, não tenham podido elevar-se à idéia da natureza divina do ungido do Senhor, nem atribuíram as qualidades de Deus ao Messias? Vede como os judeus se exprimem lá das alturas em sua obra intitulada Juaei Lusitani Quaestiones ad Christianos. "Reconhecer" - dizem - "um homem-Deus é forjar um monstro, um centauro, o composto estranho de duas naturezas que não se poderiam aliar". 
Acrescentam que os profetas não ensinam absolutamente que o Messias deve ser homem-Deus, que fazem distinções expressas entre Deus e Davi, que consideram o primeiro, senhor, o segundo, servidor, etc. 
Sabe-se muito bem que os judeus, escravos da letra, jamais penetraram como nós o sentido das Escrituras. 
Quando o Salvador apareceu, os preconceitos judeus se ergueram contra ele. 
O próprio Jesus Cristo, para não revoltar seus espíritos cegos, parece extremamente reservado sobre o artigo de sua divindade:  "Ele queria" - diz São Crisóstomo - "acostumar insensivelmente seus auditores a crer num mistério grandemente elevado acima da razão".
Se toma a autoridade de um Deus perdoando os pecados, isto revolta todos os que o testemunham; seus milagres mais evidentes não podem convencer de sua divindade aqueles mesmos em favor dos quais opera. 
Quando perante o tribunal do soberano sacrificador ele admite com modéstia ser filho de Deus, o sumo sacerdote rasga-lhe a roupa, rompendo em blasfêmias. 
Antes do enviado do Espírito Santo os apóstolos nem sequer suspeitavam a divindade de seu mestre; ele os interroga sobre o que pensa o povo a seu respeito: respondem-lhe que uns o tomam por Elias, outros por Jeremias ou qualquer outro profeta. 
São Pedro precisa de uma revelação particular para conhecer que Jesus é o Cristo, o filho de Deus vivente. 
Os judeus, revoltados contra a divindade de Jesus Cristo, recorreram a toda sorte de meios para destruir esse grande mistério; deturpam o sentido dos seus próprios oráculos, ou não os aplicam ao Messias; pretendem que o nome de Deus, Elói, não é particular à divindade, sendo até concedido pelos autores sagrados aos juizes, aos magistrados, em geral aos elevados em autoridade; citam, com efeito, grande número de passos das Santas Escrituras que justificam esta observação, mas que não concedem a mínima atenção aos termos expressos dos antigos oráculos que falam do Messias. 
Enfim, pretendem que se o Salvador, e depois dele os evangelistas, os apóstolos e os primeiros cristãos chamam Jesus o filho de Deus, esse termo augusto não significava nos tempos evangélicos senão o oposto dos filhos de Belial, isto é, homem de bem, servidor de Deus, em oposição a um malvado, um homem que não teme a Deus. 
Se os judeus contestaram a Jesus Cristo a qualidade de Messias e sua divindade, nada esqueceram para torná-lo desprezível, para atirar sobre o seu nascimento, sua vida e sua morte, todo o ridículo e todo o opróbrio imaginado pela sua obstinação criminosa. 
De todas as obras produzidas pela cegueira dos judeus, nada há de mais odioso e extravagante do que o antigo livro intitulado: Sepher Toldos Jeschut, extraído da poeira dos arquivos pelo sr. Wagenseil, no segundo tomo de sua obra intitulada: Tela ignea, etc. É nesse Sepher Toldos Jeschut que se lê uma história monstruosa da vida do nosso Salvador, forjada com toda paixão e má fé possíveis. 
Assim, por exemplo, ousaram escrever que um tal Panter ou Pandera, habitante de Betlêm, se apaixonara por uma mulher casada com Jocanã. Teve desse comércio impuro um filho que foi chamado Jesuá ou Jesú. O pai desse menino foi obrigado a fugir, retirando-se para Babilônia. Quanto ao jovem Jesú, foi enviado à escola; mas, - acrescenta o autor - teve a insolência de levantar a cabeça e de se descobrir diante dos sacrificadores, em lugar de se apresentar à sua frente com a cabeça baixa e o rosto coberto, como era costume: ousadia que foi vivamente punida; o que deu lugar ao exame de seu nascimento, que se revelou impuro e em breve o expôs à ignomínia. 
Esse detestável livro Sepher Toldos Jeschut era conhecido desde o segundo século; é citado por Celso com confiança e Orígenes refuta-o no nono capítulo. 
Existe outro livro também intitulado Toldos Jeschut, publicado no ano de 1705 pelo Sr. Huldrich, que segue mais de perto o Evangelho da infância mas que comete, a todo momento, os anacronismos e faltas mais grosseiros. Faz nascer e morrer Jesus Cristo no reinado de Herodes, o Grande; pretende terem sido dirigidas a esse príncipe as queixas sobre o adultério de Panter e de Maria, mãe de Jesus. O autor, que toma o nome de Jonatã, que se diz contemporâneo de Jesus Cristo e morador em Jerusalém, adianta que Herodes consultou os senadores de uma cidade da terra de Cesárea sobre o caso de Jesus Cristo. 
Não seguiremos um autor tão absurdo em todas as suas contradições. No entanto é a favor de todas essas calúnias que os judeus se entretêm em seu ódio implacável contra os cristãos e contra o Evangelho; nada esqueceram eles para alterar a cronologia do Velho Testamento e para espalhar dúvidas e dificuldades sobre o tempo da vinda do nosso Salvador. 
Ahmed-ben-Cassum-al-Andacusi, mouro de Granada que viveu nos fins do século XVI, cita o antigo manuscrito árabe que foi encontrado junto a seis lâminas de chumbo, gravado em caracteres árabes, numa gruta perto de Granada. D. Pedro y Quinones, arcebispo de Granada, prestou ele próprio testemunho. Essas lâminas de chumbo que chamamos de Granada foram depois transladadas para Roma, onde, após um exame de vários anos, foram finalmente condenadas como apócrifas, sob o pontificado de Alexandre VII; não continham senão histórias fabulosas concernentes à vida de Maná e seu filho. 
O nome de Messias, acompanhado do epíteto falso, ainda se dá a esses impostores que, em épocas diversas, procuraram mistificar a nação judaica. 
Houve desses falsos Messias antes mesmo da vinda do verdadeiro ungido de Deus. O sábio Gamaliel fala(52) de um certo Teodas cuja história se lê nas Antigüidades Judaicas de José; livro 20, capítulo 2. Jactava-se de haver passado o Jordão a pé seco; conseguiu grande número de adeptos que o seguiam; mas os romanos, caindo sobre sua tropa, dizimaram-na, cortaram a cabeça do desgraçado chefe e a expuseram em Jerusalém. Gamaliel fala também de Judas, o Galileu, que é sem dúvida o mesmo mencionado por José, no capítulo 12 do segundo livro da Guerra das Judeus. Diz que esse falso profeta reunira quase trinta mil adeptos; porém a hipérbole é o característico do historiador judeu. 
Desde os tempos dos apóstolos viu-se Simão, cognominado o Mágico (53), seduzir os habitantes de Samaria a ponto de o considerarem como a virtude de Deus. 
No século seguinte, no ano 178 e 179 da era cristã, sob o império de Adriano, apareceu o falso Messias Barco Queba, à testa de um exército. O imperador enviou contra ele Júlio Severo, que depois de vários encontros encerrou os revoltosos na cidade de Biter; manteve um assedio obstinado e foi violentíssimo em suas represálias; Barco Queba foi preso e condenado à morte. 
Adriano julgou não poder prevenir as revoltas contínuas dos judeus, senão proibindo-os por édito de irem a Jerusalém; estabeleceu, mesmo, postos de vigilância nas portas dessa cidade, para proibir a entrada ao resto do povo de Israel. 
Lemos em Sócrates, historiador eclesiástico(54), que no ano 434 apareceu na ilha de Cândia um falso Messias chamado Moisés. Dizia-se o antigo libertador dos hebreus, ressuscitado para os libertar de novo. 
Um século depois, em 530, houve na Palestina um falso Messias chamado Julião; anunciou-se como um grande conquistador que, à frente de sua nação, destruiria pelas armas todo o povo cristão; seduzidos por suas promessas, os judeus, armados, massacraram muitos cristãos. O imperador Justiniano enviou tropas contra ele. Travou-se batalha contra o falso Cristo: foi preso e condenado ao suplício extremo. 
No princípio do século VIII Sereno, judeu espanhol, apresentou-se como Messias, pregou, teve discípulos e morreu como eles na miséria. Vários falsos Messias surgiram no século XII. 
Apareceu um na França, sob o reinado de Luís, o Jovem; foi enforcado, ele e seus correligionários, sem que jamais se conhecessem os nomes nem do mestre nem dos discípulos. 
O século XIII foi fertilíssimo de falsos Messias; contam-se sete ou oito, aparecidos na Arábia, na Pérsia, na Espanha e na Morávia. Um deles, que se fazia chamar David el Re, passou por ter sido um grande mártir, seduziu os judeus, vendo-se à testa de um partido considerável; mas esse Messias foi assassinado. Jacques Zieglerne, da Morávia, que viveu em meados do século XVI, anunciou a próxima manifestação do Messias, nascido, segundo afirmava, havia catorze anos. Ele o tinha visto, dizia, em Estrasburgo, e guardava com cuidado uma espada e um cetro para lhos entregar quando ele estivesse em idade de ensinar. 
No ano de 1624 outro Zieglerne confirmou a predição do primeiro. Em 1666 Sabatê Seví, nascido em Alepo, se apresentou como o Messias predito pelos Zieglerne. Principiou por pregar nas estradas reais e no meio dos campos; os turcos riram-se dele, apesar da grande admiração dos seus discípulos. 
Parece que não agradou à maioria da nação hebraica, pois os chefes da sinagoga de Smirna lavraram contra ele uma sentença de morte; mas livrou-se da pena, sofrendo somente o medo e o exílio Contratou três casamentos que não chegou a realizar, segundo se diz. Associou-se a um certo Natã Leví: este fez o papel do profeta Elias, que devia preceder o Messias. Dirigiram-se a Jerusalém e Natã anunciou Sabatê Seví como o libertador das nações. A população judaica declarou-se a seu favor; mas os que tinham alguma coisa a perder o anatematizaram. Seví, para fugir à borrasca, retirou-se para Constantinopla, e de lá para Smirna. Natã Leví enviou-lhe quatro embaixadores que o reconheceram e saudaram publicamente na qualidade de Messias; essa embaixada teve certa influência no povo e mesmo em alguns doutores, que declararam Sabat Seví Messias e rei dos hebreus. Mas a sinagoga de Smirna condenou seu rei a ser empalado. Sabatê pôs-se sob a proteção do cadi de Smirna, e teve em breve ao seu favor todo o povo judeu. Fez erguer dois tronos, um para ele e outro para sua esposa favorita; tomou o nome de rei dos reis e deu a José Seví, seu irmão, o de rei de Judá. Prometeu aos judeus assegurar a conquista do império otomano. Chegou mesmo à insolência de fazer riscar da liturgia judaica o nome do imperador, substituindo-o pelo seu. Foi remetido à prisão dos Dardanelos. Os judeus tornaram público que: só se poupara a sua vida por que os turcos sabiam muito bem que ele era imortal. 
O governador dos Dardanelos enriqueceu-se à custa dos presentes que os hebreus lhe prodigalizaram para visitar o seu rei, o seu Messias, prisioneiro que, entre grades, conservava toda a sua dignidade, deixando que lhe beijassem os pés. Entretanto o sultão, que tinha a sua corte em Andrinopla, resolveu acabar com essa comédia; mandou chamar Seví e disse-lhe que se ele fosse Messias deveria ser invulnerável; Seví concordou. O grão senhor mandou que o colocassem como alvo das flechas de seus pagens; o Messias compreendeu logo nada ter de invulnerável e pretextou que Deus apenas o enviara para render testemunho à santa religião muçulmana. Fustigado pelos ministros da lei, tornou-se mafomista e morreu desprezado igualmente por judeus e muçulmanos: o que desacreditou de tal forma a profissão de falso Messias que Seví foi o último deles.(55) - VOLTAIRE - Diconário filosófico.

Como um advogado pode explicar isso a um cliente?

No dia seguinte o meu processo foi julgado numa das câmaras do parlamento: perdi por unanimidade; explicou-me o meu advogado que eu teria ganho também por unanimidade numa outra câmara. 
"Eis uma coisa bem cômica - disse-lhe eu; - de modo que, cada câmara, cada lei. 
- Sim, - disse ele - há vinte e cinco comentários sobre a lei municipal de Paris; isto é, provou-se vinte e cinco vezes que a lei municipal de Paris está errada; e se houvesse vinte e cinco câmaras de juizes haveria também vinte e cinco jurisprudências diferentes.

Imagino que esse tipo de situação é que motivou  o que se conhece como obrigação dos Tribunais de promoverem  "uniformização de jurisprudência", a que se refere o Código de Processo Civil:

Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente.

§ 1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência dominante.

§ 2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação.

A referência no referido Cógido a "jurisprudência dominante" é suficiente para obviar a circunstância de que é comum existir, comumente, mais de uma jurisprudência sobre o mesmo tema.
Como um advogado pode explicar isso?
Talvez alegando que as leis (obras humanas) são mal feitas, que "cada caso é um caso", que "cada cabeça uma sentença", dentre outros ditados bem conhecidos. 
Explicar até é possível, convencer é outra história. 

Filosofando sobre o bem e o mal

Ficará, inevitavelmente,  um tanto zureta, aquele que se dedique a prescrutar os contornos do bem e do mal.

Lendo Voltaire (Dicionário Filosófico, verbete BEM), confesso, senti-me um tanto assim, meio desorientado. 

Ainda bem que ali o famoso filósofo francês afirma que  não há delícias extremas nem extremos tormentos que possam durar toda a vida; o supremo bem e o supremo mal são quimeras. 

Um dos trechos das considerações de Voltaire sobre o bem, tem estreita relação com o que estão a fazer, no presente momento, os governantes de Israel -  horrendos criminosos - e seus subordinados ocidentais, com o povo palestino. 

Disse Voltaire: O homem ofende a Deus (*) matando ao seu próximo (...) Se assim for, os governantes das nações são horrendos criminosos, pois, mandam degolar (**)- invocando o próprio Deus -, uma multidão prodigiosa de seus semelhantes, por vis interesses que seria melhor deixar de lado. 

Sujeitos cruéis como mandatários ianques, ingleses, franceses, alemães, belgas, holandeses, dentre tantos outros,  e obviamente israelenses, como Netanyahu e seus sequazes, não passam de vis delinquentes, que matam por prazer, ao mesmo tempo em que fingem ser virtuosos e crer em "D'us" e no bem. 

São - essas personificações do mal  - incapazes da menor compaixão com pessoas inocentes, como o o eram as crianças vietnamitas e como o são as crianças da Palestina, da Síria, do Iêmen, do Iran, do Iraque, da Líbia, do Afeganistão, do Paquistão e mesmo as de Israel, cujas vidas são ceifadas em conflitos absurdos, sabidamente decorrentes de interesses criminosos cujo desiderato (sob o disfarce abjeto de defesa da democracia e das liberdades) sabemos ser a apropriação de  territórios e riquezas das outras nações, como o petróleoe plantações de azeitona, por exemplo.

E o pior é que, para legitimar seus atos de extrema maldade, que vitimam milhares de pessoas inocentes, dão-se ao requinte de criar "inimigos" como os "terroristas" (Al Fatah, Hesbolá, Al Qaeda, Isis, dentre outros) que agem sob a capa de adversários violentos, cuja eliminação aparenta-se imperiosa, mas que não passam de prepostos dessa gente capitalista inescrupulosa. 

Sim: estão mais que provados os vínculos dos sicários (terroristas) com as potências ocidentais e com Israel. A razão de criá-los e mostrá-los cruéis é a necessidade  de, perante a opinião pública, legitimar a reação levada aos extremos do genocídio, como se os ditos terroristas fossem eleitos pelos povos, implementando contra as nações "inimigas" (ou seja, que se opõem à expulsão dos seus territórios e à dominação colonialista, contrariando os interesses dos gananciosos ocidentais e dos sionistas), violentas medidas de apropriação de riquezas e de eliminação sumária e sistemática das pessoas.

O pior é que esse lixo chamado ONU - cujo "Conselho de Segurança" é dominado pelos países mais criminosos do planeta - recebe vultosas contribuições de  governos de países ditos democratas, como o de Lula da Silva, do Brasil. Lula tem a vaidade de guindar o nosso país a membro do dito Conselho de Segurança (já o demonstrou em mandatos anteriores) - este uma verdadeira excrescência cujos votos prevalecem sobre os das outras nações, nos assuntos mais relevantes (como seria hoje a condenação do Estado de Israel) -, admitindo que o privilégio do dito Conselho, é uma prerrogativa condizente com os direitos naturais dos demais membros. Jamais perdoarei ao presidente do nosso país esse deslize, mesmo que pareça sua intenção projetar o Brasil no rol das nações poderosas.

-=-=-=-=

(*) quando diz isso admite a ideia, a probabilidade da existência de uma divindade, ao contrário dos maniqueus, os quais pregam a existência de duas, uma representante do bem e outra do mal.

(**) naquele tempo era a degola, hoje é a pulverização. As bombas transformam seres humanos em pó, precocemente.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Sobre Constantino

Constantino entrou na História como primeiro imperador romano a professar o cristianismo, na sequência da sua vitória sobre Magêncio na Batalha da Ponte Mílvia, em 28 de outubro de 312, perto de Roma, que ele mais tarde atribuiu ao Deus cristão. Segundo a tradição, na noite anterior à batalha sonhou com uma cruz, e nela estava escrito em latim: "In hoc signo vinces"

Vejamos o que escreveu sobre ele o célebre francÊs VOLTAIRE, no seu Dicionário Filosófico (verbete ÁRIO):

O imperador Constantino era um celerado, confesso-o;  um parricida que havia afogado
 sua mulher na banheira, que havia degolado seu filho, assassinado seu sogro, seu cunhado e seu sobrinho, não o nego; um homem cheio de orgulho e mergulhado nos prazeres, concordo; um detestável tirano, bem como seus filhos (...). 





Sobre a China

- JARED DIAMOND - Armas, germes e aço - Edit. Record/RJ e SP/2001, p. 254: 

A inovação na China também variou nitidamente com o tempo. Até por volta de 1450, a China era tecnologicamente muito mais inovadora e avançada que a Europa, mais até que o Islã medieval. 
Nas extensa lista de invenções chinesas estão incluídas comportas para fechamento de canais, ferro fundido, perfuração em profundidade, arreios eficientes para animais, pólvora, pipas de brinquedo, bússolas magnéticas, tipos móveis, papel, porcelana, impressão (com exceção do disco de Festos), leme de popa e carrinhos de mão. 
Depois, a China deixou de ser inovadora, por razões que abordaremos no epílogo. Em contrapartida, consideramos a europa ocidental e as sociedades norte-americanas que dela derivaram líderes do mundo moderno em matéria de inovação tecnológica, mas a tecnologia era menos avançada na Europa ocidental do que em qualquer outra área “civilizada”do velho mundo até o fim da Idade Média.

Lendo Lenin, vi uma referência ao Levante dos Boxers, assunto sobre o qual, confesso, nada conhecia. 
A história do tal levante, descrita em minucias na Wikipedia, é muito interessante, inclusive pelo envolvimento do cristianismo, demolição de templos de outras religiões, etc...

LENIN E A CENSURA CZARISTA

 A brochura que apresentamos ao leitor foi escrita por mim em Zurique durante a Primavera de 1916. Dadas as condições em que ali tinha de trabalhar, deparei naturalmente com certa insuficiência de materiais franceses e ingleses e com uma grande carência de materiais russos. Contudo, utilizei a obra inglesa mais importante sobre o imperialismo, o livro de J. A. Hobson, corri a atenção que em meu entender merece. A brochura foi escrita tendo em conta a censura tzarista. Por isso, não só me vi forçado a limitarme estritamente a uma análise exclusivamente teórica - sobretudo econômica - como também tive de formular as indispensáveis e pouco numerosas observações políticas com a maior prudência, servindome de alusões, na língua de Esopo, nessa maldita língua que o tsarismo obrigava todos os revolucionários a utilizar quando pegavam na pena para escrever alguma coisa destinada a publicações de tipo "legal. É doloroso reler agora, nos dias de liberdade, as passagens da brochura mutiladas, comprimidas, apertadas num torno de ferro, com receio da censura tzarista. Para dizer que o imperialismo é a véspera da revolução socialista, que o social-chauvinismo (socialismo de palavra e chauvinismo de fato) é uma completa traição ao socialismo, a completa passagem para o lado da burguesia, que essa cisão do movimento operário está relacionada com as condições objetivas do imperialismo, etc., vi-me obrigado a recorrer a uma linguagem “servil”, e por isso devo remeter os leitores que se interessem pelo problema para a coleção dos artigos que publiquei no estrangeiro entre 1914 e 1917, os quais serão em breve reeditados. Vale a pena, em particular, assinalar uma passagem das pp. 119-120*: para fazer compreender ao leitor, de maneira a ser aceite pela censura, a forma indecorosa de mentir que têm os capitalistas e os sociais-chauvinistas que se passaram para o lado daqueles (os quais Kautsky combate com tanta inconseqüência) no que se refere às anexações, o descaramento com que encobrem as anexações dos seus capitalistas, vi-me obrigado a citar o exemplo ... do Japão! O leitor atento substituirá facilmente o Japão pela Rússia, e a Coréia pela Finlândia, Polônia, Curlândia, Ucrânia, Khivá, Bukhará, Estlândia e outros territórios não povoados por grãorussos. Atrevo-me a acalentar a esperança de que a minha brochura ajudará à compreensão de um problema econômico fundamental, sem cujo estudo é impossível compreender seja o que for e formar um juízo sobre a guerra e a política atuais: refiro-me ao problema da essência econômica do imperialismo. 

 O Autor 

 Petrogrado, 26 de Abril de 1917.

Prefácio do livreto intitulado O imperialismo, etapa superior do capitalismo.

Sobre o mar invadir a costa e sobre a seca na amazônia, com o que muito se espantam agora...

 ...já ao tempo em que Olavo Bilac e Manoel Bonfim escreveram Através do Brasil,  lê-se:

(...) agora começam a aparecer entradas e pontas, principalmente neste trecho do Maranhão ao Pará. É um dédalo de baías, enseadas, ilhas, ilhotas, lagos, canais, que mudam de aspecto constantemente de maré a maré. As vagassão violentíssimas, e o mar invade a terra dia a dia, comendo-a. De quando em quando, surge em uma dessas ilhotas um coqueiro isolado, cujo raizame a maré vai corroendo, corroendo, até estendê-lo na costa...

(...)

Na outra época, que é a da seca, os rios afluentes, até caudalosos, tornam-se inavegáveis: cessa toda a comunicação das grandes povoações com o interior das terras; a mata está em seco, e os seringueiros entregam-se ao trabalho.

Os deuses são também perecíveis, ou sequer existiram, senão na imaginação dos crentes?

- Correi os mapas de Atenas, de Roma, de Nínive ou de Babilônia, o mapa das cidades mortas. 
Termas, canais, fontes, jardins suspensos, lugares onde se fez negócio, onde se amou, lugares onde se se cultuaram os deusestudo desapareceu. 
Olhai o mapa das cidades modernas. De século em século a transformação é quase radical. As ruas são perecíveis como os homens. 
- JOÃO DO RIO - A alma encantadora das ruas.


FLORIANÓPOLIS

– É bonita Florianópolis? 
– É. Muito quieta e pitoresca. Possui lindo jardins. 
Diálogo de duas personagens de OLAVO BILAC e MANOEL BOMFIM - Através do Brasil.
Quem me dera que o quadro atual ainda fosse o da época em que os famosos escritores citados escreveram tal registro.


quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

QUEM PODE MANDA, NÃO PEDE

Não é a primeira vez que o Judiciário brasileiro dá mostras gritantes de subserviêndia aos interesses sionistas. No julgamento de Elwanger - gaúcho que se proclamou descrente do Holocausto em vários livros editados, dentre eles "Holocausto judeu ou alemão?" - o STF fez uma autêntifca mágica na argumentação para relativizar a liberdade de pensamento e expressão e o editor foi perseguido de todas as maneiras possíveis e imagináveis. 

Tudo para satisfazer a pressão judaica, eis que os judeus, donos do capital internacional e de notória influência na mídia conservadora (principalmente), sabem pressionar, aqui como em muitos outros países, para manter uma abjeta dominação sobre os poderes constituídos.

Agora, com o escandaloso genocídio contra os palestinos - que não poupa crianças e idosos - para ganhar a simpatia dos ministros e desembargadores (pessoas com evidente influência na opinião pública), instituições sionistas  trataram de levar os magistrados a Israel, diz-se que com tudo pago, para fazer-lhes a cabeça, como noticia a matéria abaixo.

As instituições patrocinadoras alegam que a visita tem "carater técnico". É muito descaramento.

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Oito ministros e desembargadores chegam a Israel com tudo pago; veja quem são

 Atualizado em 23 de janeiro de 2024 às 23:16
Ministros e desembargadores brasileiros sendo recebidos pelo presidente do Parlamento de Israel, Amir Ohana, e posando para foto
Ministros e desembargadores brasileiros foram recebidos pelo presidente do Parlamento de Israel, Amir Ohana – Noam Moskowitz/Knesset Press Office

Magistrados iniciaram nesta terça-feira (23) uma viagem a Israel promovida por duas entidades judaicas, a StandWithUs Brasil e a Conib (Confederação Israelita do Brasil). O cronograma de visitas, mantido em sigilo até então, tem o propósito de apresentar a perspectiva israelense sobre o conflito entre Israel e o grupo Hamas.

O grupo é composto por oito ministros e desembargadores, incluindo o ministro do STF André Mendonça. Também fazem parte da comitiva ministros do STJ Sebastião Alves dos Reis Júnior, Marco Aurelio Bellizze Oliveira, Antonio Saldanha Palheiro e Ricardo Villas Bôas Cueva, além do vice-presidente do STM José Coêlho Ferreira. Os desembargadores federais Marcus Abraham e Fábio Uchôa Pinto de Miranda Montenegro completam a lista.

Supremo Tribunal de Israel
Está prevista uma visita ao Supremo Tribunal de Israel – Reprodução

A viagem gerou controvérsias por não abordar a visão palestina sobre o conflito, não incluindo passagens pela Cisjordânia ou pela Faixa de Gaza. Todos os custos da viagem serão cobertos por entidades que apoiam Israel, levantando questionamentos sobre a imparcialidade da iniciativa.

A StandWithUs Brasil e a Conib afirmam, em nota, que a viagem, de caráter técnico, segue padrões anteriores e é integralmente custeada por ambas as instituições.

Na semana passada, um dos magistrados convidados expressou que não recebeu convite para visitar Gaza, mas afirmou que iria caso fosse convidado. Vale ressaltar que Gaza é bloqueada por Israel, com acesso restrito por terra, mar e ar, sujeito à autorização israelense. A fronteira com o Egito permanece majoritariamente fechada, sendo aberta apenas excepcionalmente para auxílio humanitário e a saída de estrangeiros de Gaza.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

A "praga" da bebida alcoólica e o bêbado de Dostoievski

 "O senhor sabe que até as meias dela eu bebi? 

Não foram os 17 sapatos, o que sempre seria mais lógico, mas as meias. Bebi as suas meias! 

Também bebi a sua gola de pêlo de cabra, apesar de ser propriedade dela, pois já a tinha antes de casada; e moramos num buraco gelado, e ela, este inverno, apanhou uma bronquite e começou a tossir e a cuspir sangue. 

Temos três filhos pequenos, e Ekatierina Ivânovna trabalha desde manhã até a noite, lava, esfrega e trata das crianças, pois foi costumada à limpeza desde pequena, simplesmente está doente do peito e tem propensão para a tísica, sei-o muito bem. 

 Mas então eu não tenho sentimentos? 

E quanto mais bebo mais sinto as coisas. É por isso que bebo, porque na bebida encontro o sofrimento... Bebo porque quero sofrer em dobro!"!

- Em  Crime e castigo.

Super-ricos apropriam-se do 'boom' do agro e mais que triplicam renda rural desde 2017

 

Estudo indica que 0,01% mais rico do Brasil foi quem mais aumentou ganhos com atividade no campo
Vinicius Konchinski
Brasil de Fato | Curitiba (PR) | 23 de janeiro de 2024 às 06:06

Irrigação usa água de todos em prol do aumento do ganho de empresários do agro - Nelson Almeida/ AFP


As cerca de 15 mil pessoas mais ricas do país foram as maiores beneficiadas pelo crescimento do setor agropecuário no Brasil e o aumento do preço dos produtos agrícolas no mercado mundial de 2017 a 2022, de acordo com um estudo divulgado pela Fundação Getulio Vargas no último dia 16. Segundo o documento, os 0,01% mais abastados do país aumentaram em 248% sua renda advinda da atividade rural em cinco anos. Para todos os brasileiros, a renda rural cresceu, na média, 74% – menos de um terço da alta verificada entre os mais ricos.


O estudo foi produzido pelo economista Sérgio Wulff Gobetti, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), com base em dados gerais de declarações de Imposto de Renda (IR) fornecidas pela Receita Federal. Os números indicam que a agropecuária é hoje a atividade que mais contribui para o aumento da desigualdade no país.


Tabela mostra aumento dos ganhos dos mais ricos por tipo de atividade exercida / Reprodução/FGV

Em nenhuma das outras atividades analisadas no estudo (renda com trabalho, com lucros, etc), o ganho dos super-ricos aumentou tanto. Em nenhuma delas também a diferença entre alta dos ganhos dos super-ricos com o aumento do ganho médio foi tão grande.

Isso fez com que o agro passasse a ter uma importância cada vez maior para os mais ricos no país. Em 2017, cerca de 3,3% do que eles ganhavam por ano vinha do setor. Em 2022, essa parcela passou para 5,9%, segundo dados da Receita.

Para Gesmar Rosa dos Santos, doutor em Desenvolvimento Sustentável pelo Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (UnB), os rendimentos altos atraíram inclusive os super-ricos erradicados nas cidades a investir no agro. "As maiores rendas da agropecuária, assim como a posse das maiores propriedades e das melhores terras, estão em poder de agentes econômicos que vivem nas cidades", afirmou, ao Brasil de Fato.

Motivos

Segundo outros estudiosos ouvidos pelo BdF, o crescimento expressivo da renda dos mais ricos com o agro tem a ver com o “boom” do mercado agrícola. O economista e engenheiro agrônomo José Giacomo Baccarin afirmou que os preços dos produtos alimentícios subiram consideravelmente entre 2017 e 2022 – período que incluiu os anos de pandemia –, o que elevou a inflação, mas turbinou os ganhos dos produtores rurais.

O Índice de Preços Reais de Alimentos divulgado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) estava em 98 pontos em 2017, lembrou Baccarin. Fechou 2022 em 143,7 pontos. Isso indica uma alta de 46% do preço da comida em cinco anos ao redor do mundo.

No Brasil, o preço dos alimentos subiu 11,64% só em 2022, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

André Roncaglia, economista e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), observou que a alta nos ganhos dos agricultores não foi repassada igualmente entre todos eles. O motivo é a alta concentração da propriedade da terra pela elite brasileira. Quando a agricultura avança, a maior parte da renda gerada vai justamente para quem já possui uma renda altíssima.

De acordo com a pesquisa de Gobetti, os 0,01% mais ricos do país, que mais ganharam com o crescimento da agropecuária, tem renda mensal de R$ 2,1 milhão. Já a renda média no Brasil é de R$ 3,6 mil por mês.

Isenções

Gobetti lembrou ainda que a renda da atividade agrícola no país é pouco tributada, o que a torna mais vantajosa para os ricos.

Mauro Silva, presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (Unafisco), acrescentou que produtores rurais têm benefícios tributários que outros tipos de profissionais não têm. “Quem tem atividade rural adota como resultado só 20% de sua receita e, em cima disso, paga os tributos. É uma vantagem grande”, disse.

Para Pedro Faria, economista e pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas (Cedeplar) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), há uma contradição nesse modo de cobrar os impostos. Ele explicou que a agricultura gera poucos empregos e, por conta disso, já deveria ser mais tributada para que seus ganhos fossem, em parte, distribuídos entre uma fatia da maior da população.

Faria admite que a tributação do produto da agropecuária tenderia a pressionar os preços dos alimentos no país. Justamente por isso, explicou ele, essa tributação deveria estar focada no lucro ou renda dos produtores rurais, pouco taxados atualmente.

Débora Nunes, da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), acrescentou ainda que agricultura naturalmente apropria-se de bens comuns para sua produção: água, luz solar, biodiversidade, etc. Seria justo que o ganho com essa atividade fosse melhor repartido com todos. “A atividade rural tem se tornado uma das principais formas de concentração e aumento da renda dos super-ricos porque transforma bens da natureza, que deveriam estar a serviço da humanidade, em mercadoria”, afirmou.

Edição: Matheus Alves de Almeida

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Suspeito pode se recusar a dar senha do celular à polícia, diz tribunal dos EUA

 


20 de dezembro de 2023, 9h47

Em investigações criminais, suspeitos podem se recusar a fornecer a senha de seus celulares à polícia, porque estão protegidos pelo privilégio da não autoincriminação, garantido pela Quinta Emenda da Constituição dos EUA, de acordo com decisão unânime do Tribunal Superior de Utah.

Reprodução

Suspeito não é obrigado a fornecer senha do celular à polícia, diz tribunal dos EUA

Mas a Suprema Corte dos EUA terá de intervir no caso por duas razões: 1) essa é uma decisão tomada pelos tribunais superiores de Utah e da Pensilvânia, mas o tribunal superior de Nova Jersey tomou uma decisão conflitante; 2) a decisão se refere apenas à revelação verbal da senha; não se refere a um pedido da polícia ao suspeito para desbloquear o telefone.

Está claro para a corte que a revelação verbal da senha constitui um testemunho e, portanto, os promotores não podem usar essa comunicação autoincriminatória contra o réu em julgamento. Mas a Justiça ainda não decidiu se um pedido da polícia para desbloquear o celular tem o mesmo efeito — isto é, o réu pode se negar a desbloquear o celular, mas não está claro se os promotores podem usar isso contra ele no julgamento.

No caso perante o Tribunal Superior de Utah (State v. Valdez), o promotor disse aos jurados, nas alegações finais, que o réu, Alonso Valdez, se recusou a fornecer a senha de seu celular aos investigadores, que queriam produzir provas para substanciar a acusação de que ele sequestrou, agrediu e roubou sua ex-namorada.

O júri condenou Valdez. Mas um tribunal de recursos do estado anulou a condenação, com o argumento de que o réu tinha o direito, garantido pela Quinta Emenda da Constituição, de se recusar a fornecer a senha à polícia   apesar de a polícia ter obtido um mandado judicial para fazê-lo  porque isso caracteriza autoincriminação. E que a Promotoria errou ao usar essa recusa contra ele no julgamento. O Tribunal Superior de Utah concordou.

“Concordamos com o tribunal de recursos que fornecer verbalmente a senha do telefone celular é uma ‘comunicação testemunhal’, em que Valdez iria comunicar explicitamente o que estava em sua mente e se autoincriminar. Portanto, sua recusa é protegida pela Quinta Emenda e a análise do estado de que precisa produzir provas não se aplica nesse caso”, diz a decisão unânime da corte.

Mas esse caso trata apenas de uma parte da questão, a de que a “comunicação testemunhal” do suspeito está protegida. Não trata, porém, da tática da polícia de tentar forçar o suspeito a desbloquear o telefone  uma dúvida que a Suprema Corte terá de sanar em outro processo.

“Há uma diferença entre uma coisa e outra”, diz a decisão do Tribunal Superior de Utah. “Embora esses dois atos possam ser funcionalmente equivalentes em muitos aspectos, essa equivalência funcional ainda não foi interpretada na jurisprudência da Quinta Emenda.”

“A polícia pode pedir a suspeitos que desbloqueiem seus telefones por impressão digital ou identificação facial. Fornecer a senha verbalmente é um testemunho comum, mas desbloquear o telefone por meios biométricos é um ato físico. São dois cenários que apresentam questões distintas.”

Quinta Emenda
Alguns dos principais direitos dos réus estão expressos na Quinta Emenda da Constituição dos EUA, entre eles o da proteção contra autoincriminação (o direito de ficar calado ou de não responder perguntas incriminatórias, não produzir provas contra si mesmo,  não testemunhar em julgamento), além do direito a julgamento justo por tribunal do júri, proteção contra dupla punição (double jeopoardy) e contra sequestro de propriedade pelo governo sem a devida compensação.

O mais popular é, provavelmente, o direito de ficar calado, que gerou a expressão “plead the fifth”(ou “take the fifth”). Em interrogatórios policiais, inquirições de promotores, investigações no Congresso, o interrogado pode simplesmente dizer: “I take the fifth”. Isso significa que vai invocar a Quinta Emenda e, portanto, exercer seu direito de não responder a perguntas que possam incriminá-lo. Em algumas situações:

  • O suspeito pode invocar a Quinta Emenda em resposta a uma comunicação de caráter obrigatório, tal como uma intimação ou outro processo legal.
  • A comunicação precisa ser testemunhal em natureza. Isto é, precisa se relacionar a afirmações expressas ou implícitas de fato ou crença. Por exemplo, um aceno de cabeça pode ser considerado uma comunicação testemunhal, bem como produzir documentos ou qualquer outro elemento e prova.
  • O testemunho é incriminatório, mesmo que a informação apenas forneça uma pista para levar os investigadores à descoberta de provas que poderão ser usadas para processar o suspeito por um crime.

Como a comunicação deve ser incriminatória, um interrogado com garantia de imunidade não pode invocar a Quinta Emenda para se recusar a responder perguntas. Afinal, qualquer declaração dele não pode ser incriminatória, se a imunidade impede a Promotoria de usá-la – ou usar qualquer prova derivada dela – para processá-lo criminalmente.

Quando a pessoa invoca a Quinta Emenda, seu silêncio ou recusa de responder perguntas não podem ser usados contra ele em julgamentos criminais. O promotor não pode dizer aos jurados que o silêncio do réu denuncia sua culpa.

Mas invocar a Quinta Emenda pode ter sérias consequências em ações civis. O juiz ou o júri podem inferir conclusões adversas, que apoiam a responsabilização quando o réu invoca esse direito.

Outros direitos do réu são garantidos pela Sexta Emenda da Constituição. Entre eles, os direitos a um julgamento público, sem atraso desnecessário, a um júri imparcial, a um advogado e o de saber quem são os acusadores e a natureza das acusações e das provas contra ele. O direito ao devido processo é garantido pela 14ª Emenda.

Vegetação e clima mais ameno

- (...) entraram numa região mais fresca, mais coberta de mato (...)  - OLAVO BILAC e MANOEL BOMFIM -  Através do Brasil.

Efetivamente, onde há mato há sombra e onde há sombra a temperatura é mais amena. Em tempos de "crise climática", obviamente, a presença de árvores faz muita diferença.

Assim é em Ratones, onde moro: quem sai da SC-401 e toma o rumo do interior do distrito (o único da Ilha de SC ainda não atingido pela febre das "casa de praia", pelo "veraneio", isto é, pelas demandas de chão para assentar equipamentos voltados para o turismo), sente na pele que a temperatura baixa cerca de 3 a 5 graus.

Antigamente, em razão das roças que eram plantadas nas encostas e nas várzeas, o desmatamento e as queimadas arrasavam as matas do distrito.

O próprio mangue era utilizado em diversas tarefas do dia a dia do "manezinho" (nativo), como se vê, , por exemplo, dos excertos dos escritos abaixo:

- CÉSAR DO CANTO MACHADO - Em nome do Rei/Santa Catarina no tempo da realeza - Edit. INSULAR/Fpolis-SC/2004, p. 119, citando o médico HENRIQUE SCHUTTEL, registrou: Consagrado também como cientista pela gente local, o mesmo Dr. Henrique, em 27 de maio de 1868, seria autorizado pelo Império a explorar os mangues da província e deles colher substâncias utilizáveis em fins medicinais.

(...) o mangue era usado como lenha nos engenhos de farinha e de aguardente (...) - p. 90. – MARILÉA MARTINS LEAL CARUSO - O desmatamento da Ilha de Santa Catarina/de 1500 aos dias atuais - Editora da UFSC/Folis-SC.

Usava-se cascas as árvores de mangue vermelho (e de aroeira) também para tingir redes de pesca, quando eram feitas com certos fios que ainda não eram de nylon. Henry KOSTER (Viagem ao nordeste do Brasil) destacou que o mangue vermelho tem tanino em sua casca.

Mas tal situação, com o advento da conscientização ecológica e com a repressão das autoridades ambientais, fatores secundados pela atração do homem da roça para profissões criadas pelo "veraneio" (jardineiro, caseiro, porteiro de edifício, operário da construção civil, vigilante, dentre tantas outras) as vertentes e as vargens deixaram de ser cultivadas e uma vegetação exuberante voltou a cobrir nossa região, assegurando o retorno de alguns cursos d'água  que haviam minguado significativamente e mantendo a temperatura em níveis suportáveis.

Não me nego a enfatizar que gente como eu, adventícia (não nascida no distrito) tem prestado colaboração significativa à recuperação da cobertura vegetal em Ratones, plantando espécies nativas e que isso serve de exemplo para alguns nativos, antes despreocupados em relação ao desmatamento. Com tal mudança de mentalidade (que veio, inclusive, corrigir erros do passado, do tempo em que não possuíamos consciência ecológica), há esperança de que a situação no distrito melhore cada vez mais. Felizmente, a iniciativa de instalação de um aeroporto por aqui foi abortada, por resistência da população de Ratones e adjacências. Se tivesse vingado, o empreendimento destruiria uma parte sgnificativa da lezíria, além do nosso sossego, obviamente.

Mas, é preciso enfatizar que, ainda se vê alguns maus procedimentos, como o de um certo advogado que, tendo adquirido um imóvel na região contígua ao manguezal de Ratones (ao sul da    SC-401, local chamado Vargem Pequena, antigamente Vargem de Baixo, que integra o distrito de Ratones) estaria (segundo informações não aferidas por mim) a desmatar impunemente, com o desiderato de criar espaço para uma hípica.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

FENTANIL - A tragédia

 



FENTANILO, RETRATO DE UN ASESINO DE MASAS




Es la gran amenaza. Un polvo blanco y barato, 50 veces más poderoso que la heroína, que mata cada año a más de 70.000 personas en Estados Unidos e incontables en el resto de América. EL PAÍS, en una investigación de largo aliento en dos continentes con entrevistas a los zares antidroga de EE UU y China, visitó a los químicos clandestinos en Sinaloa que fabrican el fentanilo y en cuyas proximidades los adictos sirven de ‘cobayas’ al narco. Logró testimonios de cómo esta sustancia letal cruza la frontera hacia el norte y se expande como una plaga por las calles de la primera potencia. Un entramado de escala mundial al que han declarado la guerra desde la Casa Blanca

IKER SEISDEDOS

DAVID MARCIAL PÉREZ

CARLOS ROSILLO

GUILLERMO ABRIL
14 ENE 2024 - 01:30 BRT