Escritos como o que segue transcrito certamente serviram de orientação para os constitucionalistas de 1988 e legisladores ordinários que pugnam pela defesa do meio ambiente, em todos os quadrantes.
Quem pensa que a legislação ambiental é coisa de comunistas, para travar o agronegócio, a industrialização e a construção civil, portanto, está redondamente enganado. Podem até ter criado uma burocracia infernal, que embarga empreendimentos, impede desenvolvimento e geração de empregos, entre outras inconveniênias. Mas é induvidoso que as políticas ambientais, descontados os excessos, tem muito mérito, considerando-se um interesse mais amplo que o universo individualista e egoista dos capitalistas.
TAUNAY, que era - até por força da profissão e dos vínculos familiares, um conservador -, vislumbrou o lado pernicioso das velhas práticas agrícolas, que levavam à destruição desenfreada da natureza no RJ, para onde a família imperial, em 1808, se mudara.
Cabe lembrar que foi criado, na época, o Jardim Botânico e implementado o replantio, em larga escalar, por exemplo, nas encostas da Tijuca, do que veio a ressurgir a famosa floresta da Tijuca, dentre outros ambientes recuperados.
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- C. A. TAUNAY - Manual do Agricultor brasileiro (ESCRITO EM 1825) - Edit. Schwarcz Ltda/SP/2001, ps. 252 e seguintes: (...) necessidade que há, desde já, de não abusar deste manancial de riqueza quase inesgotável que a natureza nos outorgou, não só pela razão da economia a favor de nossos vindouros(*) como mesmo para a boa conservação da terra e temperamento da nossa atmosfera; não só os matos defendem e engordam o chão em que nascem, como obstam o furor dos ventos, os ardores do sol, chamam as nuvens para refresco da atmosfera e produção de fontes e corgos(**), e purificam o ar absorvendo os gases deletérios, e exalando oxigênio.
Estes serviços são ainda mais precisos nas serras e morros, a ponto de que o descortinamento de grande porção deles pode ocasionar uma sensível alteração do clima e notável diminuição das águas, como acontece no Rio de Janeiro, cuja diferença de clima foi observada desde a vinda d’el-rei d. João VI.
A grande extensão que a cultura tomou nas vizinhanças da cidade e indiscreto corte de matas que causou, originaram, sem dúvida, esta alteração.
O calor está notavelmente mais intenso. As trovoadas outrora diárias são raríssimas, e finalmente, de tantas fontes próximas à cidade, umas já secaram de todo e outras correm mais escassas.
O governo deu a miúdo providências para coibir o corte das matas sobranceiras aos aquedutos; porém estas ordens, como muitas outras, são pouco observadas. Um sistema permanente de devastação assola e desguarnece as fraldas da serra do Corcovado e das serras da Tijuca, e entretanto um respeito sagrado se deveria apegar àquelas matas, que tanto préstimo têm para ornato, refresco e purificação da atmosfera da cidade.
O governo deveria dar nelas um exemplo por que todo o lavrador, lembrado das gerações futuras (#), haveria de tratar seus morros deixando cada pico isolado com uma coroa de uma terceira quarta parte da altura total do morrão (++). As matas e catingas das fraldas íngremes e barrancos merecem igualmente ser poupadas.
Quem observar semelhantes regras nos seus roçados será premiado pela conservação dos declives, cuja fertilidade míngua depressa por as chuvas levarem o húmus consigo., e ajudarão a viscosidade das plantas pela sua sombra e umidade que atraem. (...)
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(*) e (#) - preocupação com as gerações futuras.
(**) - Era assim mesmo que se grafava a palavra (corgo) a qual hoje dizemos córrego. MONTEIRO LOBATO, MÁRIO DE ANDRADE e JOÃO GUIMARÃES ROSA, por exemplo, usaram tal grafia, exaustivamente.
(++) - Ver art. 4, do Código Florestal de 2012.
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