Integrante do Instituto de Debates, Estudos e Alternativas de Porto Alegre (Idea), foi coordenador-executivo do 5º Fórum Social Mundial
"As Forças Armadas brasileiras atuam como uma guarda pretoriana da potência imperial, e já nem disfarçam esta escolha desonrosa. Os comandantes “pátrios” aceitam com naturalidade a humilhação e ultraje decorrentes desta escolha subjugada", escreve o colunista Jeferson Miola
17 de julho de 2020, 13:20 h Atualizado em 17 de julho de 2020, 13:27
(Foto: Marcos Corrêa/PR)
É impressionante a penetração e o domínio do governo dos EUA sobre instituições do Estado brasileiro.
A Lava Jato foi o dispositivo-chave dos EUA na produção do caos, desestabilização política e corrupção do sistema de justiça para a consecução da estratégia estadunidense no país.
Juízes, procuradores, policiais federais e agentes públicos obedecem ordens e executam planos delineados pelo FBI, CIA, Departamento de Justiça, Departamento de Estado, agências e órgãos de inteligência e espionagem dos EUA [a respeito aqui e aqui].
A sabotagem dirigida por Eduardo Cunha com Temer, Aécio e FHC; a instalação do Estado de exceção; o impeachment fraudulento da presidente Dilma e a farsa do Sérgio Moro e comparsas da Lava Jato para prender Lula, fizeram parte das violências perpetradas contra o Estado de Direito para colocar o poder nas mãos da extrema-direita anti-popular e entreguista.
De início, a conspiração da elite ocorreu com a atuação discreta e oculta da cúpula militar, que já em 29 de novembro de 2014 lançara a candidatura de Bolsonaro para a eleição de 2018 no pátio da AMAN [Academia Militar das Agulhas Negras] – 4 anos antes, portanto.
Com o avanço do golpe continuado, o protagonismo da cúpula militar mudou de patamar, e então passou da atuação discreta e oculta para o exercício aberto da tutela militar sobre judiciário, mídia e Congresso.
O general Villas Bôas, mirando seu twitter na cabeça do STF para barrar a candidatura certamente vitoriosa do ex-presidente Lula, escancarou o papel conspirativo das Forças Armadas [FFAA], pôs em evidência o ativismo do “Partido Militar” e sinalizou a escalada militarista que desembocou no governo/regime militar hoje reinante.
A presença do general Ajax Porto Pinheiro como assessor “direto e imediato” de Dias Toffoli, o presidente do STF, para o “relacionamento com outros Poderes”, traduz o controle e a tutela, pelos militares, da estrutura de poder.
O Brasil mudou de regime de civil para militar de modo silencioso; como numa rápida virada de chave. A democracia foi, então, mortalmente desnucada.
Estes militares, que afiançam o mais devastador processo de pilhagem e saqueio jamais visto na história do país, são controlados e comandados pelos EUA.
A simbologia da submissão e subserviência integral, que tinha como gesto emblemático a continência prestada por Bolsonaro à bandeira estadunidense, foi reforçada em 4 de julho passado, quando Bolsonaro e vários dos seus ministros-generais e seu lunático chanceler celebraram a independência dos EUA na embaixada daquele país em Brasília.
Como servo dócil e obediente, o governo brasileiro poderá se associar à insanidade de Trump de guerrear contra a Venezuela, o que causaria um desastre de consequências imponderáveis.
O Brasil está sob ocupação de uma potência estrangeira que, inclusive, recebeu aval para instalar uma base militar em território brasileiro nos meses iniciais do atual governo/regime.
O absurdo é que esta ocupação estrangeira é executada pelas próprias FFAA, que atuam como um exército de ocupação no próprio país – recebendo adestramento e sendo teleguiado pelos EUA.
As Forças Armadas brasileiras atuam como uma guarda pretoriana da potência imperial, e já nem disfarçam esta escolha desonrosa.
Os comandantes “pátrios” aceitam com naturalidade a humilhação e ultraje decorrentes desta escolha subjugada, como se vê no vídeo em que o chefe do Comando Sul das FFAA dos EUA mostra a Trump “a mais nova adição ao nosso quartel-general [sic]: o major-general David, das FFAA do Brasil […]. Mais uma vez, brasileiros, pagando para ele vir para cá, e trabalhar para mim […]”, disse Craig Faller.
O ministério da Defesa noticiou que na última 2ª feira, 13/7, o embaixador de Trump no Brasil, o extravagante Todd Chapman, realizou audiência com o Comandante da Aeronáutica, brigadeiro Antonio Carlos Moretti Bermudez, para “tratar de assuntos correlatos às Forças Aéreas dos dois países”.
Trata-se, por acaso, de alguma atividade de “supervisão rotineira” dos EUA numa das suas “forças auxiliares”? Porque seria incogitável, por exemplo, um encontro deste tipo entre o embaixador do Brasil nos EUA com o alto-comando da USAF, a Força Aérea dos EUA.
É urgente a necessidade de se pôr fim à atuação das Forças Armadas na política e na condução dos assuntos e interesses nacionais que, como está evidenciado, se desenrola desde uma perspectiva entreguista, submissa e contrária aos objetivos estratégicos do Brasil nas arenas continental, hemisférica e mundial.
É preciso interromper a continuidade da catástrofe em curso no Brasil promovida pelos militares – que se expressa no genocídio, ecocídio, etnocídio, democracídio e todas formas de destruição devastadora do presente e do futuro do país.
Os militares têm de ser urgentemente mandados de volta aos quartéis para desempenharem a função profissional estrita, de defesa do território nacional sob o comando do poder civil e em obediência à Constituição civil.
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