Condenado em 2009 a 150 anos de prisão após desfalcar dezenas de milhares de pessoas, fraudador morreu na cadeia aos 82 anos após ter pedido de clemência negado.
Bernard Madoff estava preso desde 2009
Morreu na prisão nesta quarta-feira (14/04), aos 82 anos, Bernard Madoff, criador do maior esquema de pirâmide da história. "Podemos confirmar que Bernard Madoff morreu em 14 de abril de 2021 no Centro Médico Federal de Butner, na Carolina do Norte", informou por e-mail um porta-voz do serviço penitenciário dos Estados Unidos (BoP), acrescentando que a causa da morte deve ser determinada por um médico legista.
Bernard "Bernie" Madoff foi condenado a 150 anos de prisão em 2009 por desfalcar dezenas de milhares de pessoas em vários países ao redor do mundo. O valor total do golpe foi estimado em até 65 bilhões de dólares (mais de R$ 360 bilhões).
Ele foi preso em 2008 no auge da crise financeira. No ano seguinte, se declarou culpado de 11 acusações, incluindo fraude e lavagem de dinheiro. No julgamento, confessou que nunca investiu as somas que lhe foram confiadas. Suas vítimas incluíam bancos, indivíduos e instituições de caridade de todo o mundo.
Pedido de clemência rejeitado
Em fevereiro passado, o advogado de Madoff relatou que seu cliente estava com uma doença terminal e não queria morrer na prisão. De acordo com o advogado, Brandon Sample, Madoff sofria de "doença renal em estágio terminal, entre outras doenças graves".
O jornal Washington Post relatou na época que Madoff precisava de atenção médica 24 horas por dia e só se movimentava em uma cadeira de rodas. O pedido de clemência de Madoff, que queria fazer as pazes com seus netos e morrer em casa, foi rejeitado. "Passei 11 anos na prisão e, com bastante franqueza, posso dizer que sofri", afirmou, em entrevista ao periódico. "Não houve um único dia na prisão em que eu não sentisse culpa pela dor que causei às vítimas e à minha família.".
Um esquema de pirâmide ou esquema Ponzi criado por Madoff é uma forma de fraude que exige constantemente novos investimentos de novas vítimas para pagar os lucros aos investidores mais antigos. O dinheiro dos novos investidores é usado para pagar os clientes existentes até que o esquema finalmente entre em colapso.
A fraude de Madoff foi exposta em 2008, quando o financiador não conseguia mais atender à crescente demanda de clientes que queriam retirar seus investimentos. Muitos perderam seu dinheiro.
Madoff nunca investiu um centavo do dinheiro que seus clientes lhe confiavam. As autoridades dos Estados Unidos apreenderam cerca de 4 bilhões de dólares (quase R$ 23 bilhões) vinculados a Madoff e esperam devolver esse dinheiro a suas dezenas de milhares de vítimas.
O Madoff Victims Fund fará pagamentos a mais de 30 mil pessoas em todo o mundo que foram enganadas pelo investidor entre os anos 1970 e 2000, de acordo com o Departamento de Justiça dos EUA.
Além do esquema Ponzi, Madoff fazia uso de um esquema de fraude por afinidade, no qual o fraudador mira em uma comunidade específica (minoria, grupo profissional ou religioso), conquistando a confiança de alguns membros do grupo e depois contando com o boca a boca para conseguir mais vítimas. No caso, Madoff mirou especialmente em membros da comunidade judaica dos EUA. Entre as vítimas estavam o diretor Steven Spielberg e o sobrevivente do Holocausto Elie Wiesel.
Mas ao longo dos anos, a operação de Madoff se expandiu além da comunidade, passando até a incluir grandes bancos que passaram a intermediar investimentos de clientes nos fundos fraudulentos do financista. No Brasil, dezenas de clientes da firma Fairfield Greenwich Group, que esteve profundamente envolvida nos negócios de Madoff, perderam dinheiro com a fraude.
Membro da alta sociedade
A carreira de Madoff em Wall Street começou na década de 1960. Quando com pouco mais de 20 anos, o corretor financeiro originário do bairro novaiorquino do Brooklyn fundou sua própria empresa de investimentos logo após se formar. Com a promessa de retornos elevados, ele arrecadou muito dinheiro dos investidores – parentes, amigos e conhecidos doaram suas economias. De fato, o dinheiro continuou aumentando – pelo menos no papel – e Madoff se tornou um grande nome nos círculos financeiros e um membro da alta sociedade de Nova York.
Foi só na crise financeira de 2008, quando muitos investidores repentinamente decidiram reaver seus fundos, que o sistema de fraude desmoronou. Quando a empresa de Madoff entrou em colapso, os depósitos dos clientes foram avaliados em 65 bilhões de dólares (R$ 369 bilhões). Na verdade, havia apenas 300 milhões de dólares (R$ 1,7 bilhão) disponíveis.
O tamanho total da fraude depende do cálculo. O esquema envolveu US$ 65 bilhões, mas esse valor inclui os ganhos fictícios que investidores esperavam receber. Alguns investidores no topo da pirâmide chegaram a receber mais do que aplicaram ao longo do anos. Diferentes avaliações apontam que o prejuízo líquido da fraude foi entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões - valores que investidores na base perderam para o topo mais a fatia que Madoff e seus cúmplices embolsaram.
Madoff afirmou mais tarde que suas fraudes só foram possíveis porque instituições financeiras como seu banco, JPMorgan, faziam vista grossa deliberadamente.
md (DPA, AFP), via https://www.dw.com/pt-br/not%C3%ADcias/s-7111
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