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sexta-feira, 23 de abril de 2021

O discurso das elites, seguido pelo gado fascista

Estava ali apenas para dar ao burguês a impressão de que havia muitos elementos perniciosos e o capital corria perigo.  - GRACILIANO RAMOS -  Misérias do cárcere.


Para que servem as forças de segurança?

Para propiciar a sensação de que o inimigo da ordem pública será combatido e derrotado.

Mas, quando o inimigo é apenas hipotético, como justificar-se a manutenção das forças de segurança, que tantos recursos drenam aos cofres públicos?

Ora: é preciso pintar o inimigo meramente hipotético como uma realidade palpável. 

"Comunista, comedor de criancinhas, imoral por natureza, desrespeitador da família, inimigo da religião, do povo e da nação". 

É o rótulo que pregam na testa de todo aquele que não compactua com os abusos do capitalismo, com os desmandos da Justiça e dos políticos, com os embustes dos operadores dos mercados financeiro e religioso, com a supressão de políticas públicas tendentes a mitigar as diferenças entre as várias classes sociais, as quais democratizam o ensino, asseguram dignidade, direitos fundamentais e cidadania plena. 

É assim (assustando os incautos, os desinformados, os ingênuos, em uma palavra, os beócios) que as classes dominantes, no seio das quais está a elite das forças de segurança e também a cúpula das incontáveis falsas igrejas, defendem, como necessidade evidente a manutenção e o suporte incondicional  dado ao Exército (até com manjares aos quais os simples, inclusive os da caserna, não têm acesso, como picanha, bacalhau, champanhe  e outros luxos do mesmo nível), às Polícias Militares, à Polícia Federal e até às Guardas Municipais,   e que todo aquele que discorda da dominação capitalista exacerbada é estampado, perante a opinião pública como um repugnante, detestável e perigosíssimo "comunista".

Os capitalistas precisam de proteção e os militares - bem como seus parceiros, incluindo membros do Ministério Público, da Magistratura e da mídia conservadora - no afã de conservarem as sinecuras escandalosas que as elites lhes permitem desfrutar, teorizam sobre o suposto "perigo comunista", a "ditadura do proletariado", a revolta dos inconformados com as injustiças sociais, que ousam proclamar discordância ante o  status quo vigente. 

Pintam todos os dissidentes como "terroristas", capazes de explodirem tudo que vejam pela frente e de desviarem a mocidade para o mau caminho, para o ataque aos "cidadãos de bem", construtores, geradores de empregos e do desenvolvimento da nação. 

Desenham os "comunistas" como indivíduos sem o menor sentimento de brasilidade, avessos aos símbolos nacionais e ao patriotismo, capazes de entregar as riquezas nacionais à Rússia, à Venezuela ou a Cuba. 

E não faltam descerebrados para lhes dar crédito, em todas as camadas sociais, mas, principalmente, entre os "pobres de direita", sempre contentes com as migalhas que lhes são destinadas, com tendência inata para aderirem a ditaduras antidemocráticas. Essa gente, que tem complexo de vira-latas, admira e aplaude os fardados, os de paletó e gravata, os bem falantes políticos (principalmente os que não são de esquerda), padres e pastores embusteiros, principalmente. 

Essa mesma parcela do povo serve de base para que as situações de desequilíbrio social, de acentuação das diferenças, de supressão das oportunidades se perpetuem. Não conseguem os pobres de direita livrar-se da propensão para a canga e a aguilhada. 

Uma triste realidade. 

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