Investigações, que começaram a vir à tona em maio, agora expõem envolvimento da empresa de tecnologia bélica em esquema de subornos para assinatura de contratos com a Otan
Pablo Elorduy
El Salto
Madri
15 de dezembro de 2025
às 15:52
Tradução:
Ana Corbisier
Em maio deste ano, veio a público que a Agência de Apoio e Aquisições (NSPA) da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) encontrava-se no centro da maior investigação por corrupção que envolve a Aliança Atlântica. As operações realizadas na primavera ocorreram em sete países, incluindo a Espanha, e resultaram inicialmente em oito detenções. Agora, especificamente no último dia 8, outra informação colocou em primeiro plano o nome da Elbit Systems, empresa relacionada ao mesmo caso e que foi suspensa pela agência de aquisições da Otan.
O escândalo, revelado pela organização Follow the Money e publicado por três veículos — o francês La Lettre, o belga Le Soir e o neerlandês Knack —, descreve como diferentes empresas do setor de defesa pagaram subornos “potencialmente de milhões de euros” para garantir contratos com a Otan por meio da NSPA. Essa agência cresceu de forma geométrica após o recrudescimento do conflito na Ucrânia e atualmente administra contratos avaliados em cerca de 9,5 bilhões de euros, valor que quase triplicou desde 2021.
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Nesta semana, o consórcio midiático divulgou que, desde que o escândalo veio à tona em julho, vários contratos vigentes firmados com a Elbit Systems foram suspensos, e a empresa está proibida de disputar novas licitações. Os contratos afetados incluem munições para obuses montados em caminhões, sistemas móveis de artilharia de foguetes e sistemas de defesa para aviões e helicópteros militares.
“A corrupção é uma doença persistente na NSPA”, segundo revelou a investigação centro-europeia.
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A Elbit é uma das maiores fabricantes de sistemas de defesa de Israel e uma empresa-chave no genocídio que o país vem perpetrando em Gaza desde 7 de outubro de 2023. A companhia afirmou que “não houve irregularidades em sua conduta” no que diz respeito aos contratos com a agência de compras da Otan.
Embora as informações indiquem que a Elbit, junto com sua subsidiária Orion Advanced Systems, tenha sido afastada das compras da OTAN, nas últimas semanas veio a público que a empresa assinou um contrato de 650 milhões de euros com a Grécia para a vigilância da fronteira com a Turquia, além de outro acordo, estimado em 100 milhões de euros, com um “cliente internacional não revelado”, para o fornecimento de drones do modelo Hermes 900, voltados ao controle fronteiriço.
Recordes de lucros
Em novembro, a Elbit anunciou recordes de encomendas em carteira e um aumento substancial no preço de suas ações, resultado, segundo a empresa, “dos importantes contratos assegurados em toda a Europa e com clientes em todo o mundo”.
A organização Follow the Money (Siga o Dinheiro, em tradução literal) detalha que, nos últimos anos, a Elbit forneceu “munições, óculos de visão noturna e sistemas antimísseis para aeronaves” a países da OTAN por meio de contratos que somam dezenas de milhões de euros, embora acordos de confidencialidade impeçam o conhecimento do valor real.
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“A corrupção é uma doença persistente na NSPA”, segundo revelações da investigação centro-europeia. O fato é que, apesar das detenções ocorridas desde maio, a sombra da impunidade se estendeu sobre o caso. Em outubro deste ano, os Estados Unidos desmontaram parte do processo ao retirar as acusações contra quatro dos principais suspeitos, três dos quais já estavam em prisão preventiva.
Estande da Elbit Systems no Paris Air Show 2025. (Foto: Wikimedia Commons)
Estande da Elbit Systems no Paris Air Show 2025. (Foto: Wikimedia Commons)Em meados de novembro, teve início em Londres o julgamento de militantes do grupo Palestine Action, acusados de destruir armas em uma fábrica da Elbit Systems no valor de dois milhões de libras — armamentos que seriam utilizados no genocídio em Gaza. Durante as audiências, foram lembrados fatos como a afirmação da própria empresa de que fornece 85% dos drones utilizados pelas Forças de Defesa de Israel (FDI) nos territórios palestinos.
* Imagens na capa:
– Mark Rutte: Otan / Flickr
– Elbit Systems: Wikimedia Commons
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