JULIANA COISSI
A imagem de um cavalo caído em uma avenida deu início a uma batalha na cidade mineira de Poços de Caldas. Está em xeque uma das principais atividades turísticas da cidade: o passeio de charretes por cachoeiras, lojas e fábricas artesanais.
Um dos abaixo-assinados que circulam em redes sociais pede o fim das charretes, passeio que, garantem os charreteiros, já atraiu turistas como Getúlio Vargas, jogadores de futebol e até o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O pivô da crise é Iraque, um cavalo de cerca de 12 anos. Em dezembro, ele voltava para casa após ter feito, segundo o dono, dois passeios e aparentar estar mal.
No caminho, foi ao chão. Segundo a prefeitura, o laudo veterinário apontou estafa -- o dono diz que ele estava com dificuldades de urinar.
Silva Junior/Folhapress | ||
Charrete transporta turistas em Poços de Caldas (MG); supostos maus-tratos causam polêmica no interior mineiro |
Outra veterinária, Sheila Patresi dos Santos, de um grupo protetor de animais, passava de carro, parou e fez fotos da cena, que caíram na internet.
Opiniões prós e contras à parte, porém, uma avaliação acendeu um alerta. Segundo a prefeitura, diagnóstico clínico da medicina veterinária da PUC de Poços apontou que, de 70 cavalos de charreteiros analisados, 38% não tinham condições de trabalhar, em razão de fadiga muscular e esquelética.
A constatação levará a prefeitura a exigir que charreteiros assinem um termo se comprometendo a uma série de pontos, como limite de peso, para evitar abusos. Uma audiência na Câmara também propôs sugestões, como a de um veterinário próprio para os charreteiros e a criação de um disque-denúncias.
Mas o debate está longe do fim. Segundo Sheila, há intenção de propor uma alteração na lei, para que, quando os atuais charreteiros se aposentarem, não possam mais "passar o ponto" aos filhos.
TRADIÇÃO
A ideia fere um motivo de orgulho entre os donos das charretes --são 49 famílias ligadas à atividade, e um total de pelo menos 120 cavalos.
Cada um faz até quatro passeios por dia. O ganho mensal chega a R$ 3.000, em alta temporada.
Cada um faz até quatro passeios por dia. O ganho mensal chega a R$ 3.000, em alta temporada.
"Eu já venho da terceira geração e meus netos estão se preparando para trabalhar com a charrete", disse Francisco Carlos Rodrigues, presidente da associação.
Segundo a associação, cada dono possui ao menos dois cavalos --a maioria tem três--, que fazem rodízio diário.
Após a polêmica, Iraque foi aposentado --prefeitura e charreteiros dizem que o animal é saudável e atualmente vive em uma fazenda.
O último dono do cavalo Iraque, o charreteiro e técnico em enfermagem Davi Bonaldo, negou existir maus-tratos. "Foi um fato isolado. Eu trabalho numa UTI cuidando de pessoas doentes, tenho cachorro, não sou tão tonto, sei cuidar bem [dos cavalos]", disse.
Para Rosangela Ribeiro, representante da WSPA Brasil, uma das principais entidades de proteção animal do país, o ideal seria acabar com as charretes com fins turísticos.
Enquanto isso, diz a veterinária, é preciso leis rígidas e fiscalização para coibir abusos.
Fonte: FOLHA DE SP
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