Na primavera espanhola de 1939, o ditador Francisco Franco
proclamou o fim da guerra civil de três anos. E classificou sua vitória
sobre as tropas republicanas como uma vitória do cristianismo.
Numa missa de ação de graças na Igreja de Santa Bárbara, em
Madri, Franco depositou simbolicamente sua espada diante do altar:
"Senhor, aceite de bom grado os esforços deste povo, que sempre lhe
pertenceu e que, comigo e em vosso nome, venceu com grande heroísmo o
inimigo da verdade neste século. Dai-me a vossa ajuda para conduzir este
povo à completa liberdade do vosso reino, para a vossa glória e a
glória da vossa Igreja".
E, de fato: à parte de raras exceções, a Igreja Católica da
Espanha estava em peso do lado dos golpistas de Franco. Houve pois
enorme satisfação, quando o "generalíssimo" assumiu o poder no país, em
1939.
Também o recém-eleito papa Pio 12 congratulou o ditador vitorioso
de maneira efusiva: “Elevando o nosso coração a Deus, juntamente com
Vossa Excelência, expressamos nossa profunda gratidão pela vitória que
ansiávamos, da Espanha católica. Desejamos que, depois de lograr a paz,
esse país – que nos é tão caro – dê nova força à sua velha tradição
católica, que o fez tão grande. Concedemos Vossa Excelência e a todo o
nobre povo espanhol nossa bênção apostólica”.
Baluartes do franquismo
Ao lado dos militares e dos latifundiários, a Igreja continuou
sendo um dos principais baluartes da ditadura franquista – mesmo quando o
país foi internacionalmente boicotado, após o término da Segunda Guerra
Mundial. A maioria das nações retirou seus embaixadores da Espanha e a
ONU recusou a filiação espanhola.
Mas, no início da década de 1950, em face da Guerra Fria, o
boicote começou a se desfazer paulatinamente. Os Estados Unidos
iniciaram negociações para uma cooperação econômica e militar com a
Espanha.
Esta era a situação internacional, quando a Santa Sé assinou uma
concordata com o Estado espanhol em 1953. A concordata – uma espécie de
tratado entre a Santa Sé e o governo do país signatário – regula as
questões de política eclesiástica, por exemplo, os limites das dioceses,
a ocupação das cátedras episcopais, mas também assuntos relacionados às
leis matrimoniais, à educação ou às ajudas financeiras do Estado para o
trabalho da Igreja.
Prerrogativas da Igreja Católica
Na concordata de 1953, a Igreja e o Estado espanhol fizeram
amplas concessões mútuas. A Igreja recebeu privilégios extraordinários
de Franco. O catolicismo foi designado como única religião da Espanha.
Foi concedida à Igreja Católica uma enorme influência na área
educacional, nas escolas e nos currículos escolares. Dificultou-se muito
a realização de casamentos exclusivamente civis. Eventuais julgamentos
de padres, monges e freiras deixaram de ser da alçada da Justiça comum.
Em contrapartida, foi dada ao ditador a prerrogativa da indicação
dos bispos, um direito concedido tradicionalmente à monarquia
espanhola. Através da nomeação de adeptos da sua linha política para as
cátedras pontifícias, Franco esperava obter uma ligação mais estreita
dos bispos com o Estado e impedir qualquer oposição ou simpatia com a
oposição – por exemplo, com os movimentos de autonomia no País Basco ou
na Catalunha.
Passo para o reconhecimento internacional
Roma aprovou tal acordo, que na verdade contrariava a sua
política, porque Pio 12 tinha grande conformidade com a política
eclesiástica de Franco. Para o ditador, a concordata significou uma
espécie de justificativa tanto para a política interna como para a
política exterior.
Ela atuou como um aval da Igreja Católica para o Estado espanhol e
foi um passo decisivo para romper o isolamento internacional do regime
de Franco. Depois disto, os EUA assinaram uma aliança econômica e de
defesa com a Espanha no outono setentrional de 1953. Dois anos depois, a
Espanha foi aceita na ONU.
Fonte: DEUTSCHE WELLE
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