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segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Os fabricantes de água do campo brasileiro


Agricultores de Italva protegem terrenos, melhoram produção e dão lição de conservação

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Sebastião Gonzaga utiliza água tratada de desperdícios para regar. / MARIANA CERATTI / BANCO MUNDIAL
Com muito bom humor, os produtores rurais de Italva, a 311km do Rio de Janeiro, consideram-se legítimos “fabricantes de água”. Não, eles não trocaram os campos pelos laboratórios, nem as plantas e animais por experiências atômicas.
O “experimento” deles se dá em terrenos pequenos e montanhosos. Neles, os agricultores criam e recuperam áreas de Mata Atlântica, aplicam técnicas para diminuir (ou eliminar) a necessidade de agrotóxicos e fertilizantes artificiais, constroem caixas de contenção nos morros para guardar a água das chuvas e instalam fossas sépticas para tratar o líquido usado pelas residências.
Todas as novidades são bem-vindas numa área com regimes de chuvas cada vez mais irregulares e córregos que só agora estão se tornando limpos.
E, mais ainda, na América Latina: 110 milhões de pessoas vivem sem acesso a saneamento e apenas 20% da água é tratada depois do uso. Finalmente, entre 1961 e 2011, a região viu sua superfície agrícola aumentar de 561 milhões para 741 milhões de hectares, o que reduziu a cobertura florestal.
O agricultor Sebastião Gonzaga, 52 anos, e seu sítio de apenas 5,7 hectares vão na contramão das estatísticas. Até um ano atrás, ele e a família usavam valas abertas para jogar os dejetos de casa.
“Quando ela enchia, despejávamos tudo no solo mesmo. Todo mundo fazia isso, e os terrenos ficavam tomados por mosquitos”, lembra o produtor rural. Os resíduos ainda contaminavam as águas do Córrego Marimbondo, ameaçando a saúde dos agricultores.

Florestas protegidas

Há um ano, porém, ele teve a chance de construir uma fossa séptica – nada mais é do que uma miniestação de tratamento de água – e muita coisa mudou desde então.
Os insetos deixaram de incomodar a família e o líquido tratado, com 96% de pureza, é usado para regar o feijão, a cana e as frutas cítricas cultivadas no sítio. Ao todo, 304 fossas foram construídas nos terrenos rurais de toda Italva.
Outra coisa que chama a atenção no terreno montanhoso local é a cobertura de floresta que se forma morro acima. Gonzaga deixou uma área cercada especialmente para recuperar a mata nativa, algo que não existia quando ele comprou o terreno, em 2005. “A terra era pelada. Chegou a haver um deslizamento há alguns anos”, comenta o agricultor.
As árvores da Mata Atlântica hoje retêm na terra a água das chuvas. Se chove um pouco mais na região, o líquido desce o morro limpinho e em pequena quantidade, sem carrear o solo.
“A diferença entre o terreno do Gonzaga e o sítio ao lado se tornou tão nítida que o vizinho se convenceu da necessidade de montar uma área protegida de floresta”, explica Carlos Marconi de Souza, supervisor local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RJ) em Italva.
Os recursos e o apoio técnico para o trabalho na cidadezinha e em mais 71 municípios do Rio de Janeiro vêm do programa Rio Rural, que une o Banco Mundial e o governo do estado. Iniciado em 2006, o programa atenderá 78 mil produtores rurais até 2018.

Contaminação mínima

Na chácara de Almerindo Corrêa, 70 anos, a montanha funciona como uma grande caixa d’água. Além da vasta cobertura de florestas no topo, o morro conta com plantações em curva de nível (que protege a terra de erosões).
E, em breve, os animais do agricultor revezarão as áreas de pastagem, para permitir uma melhor conservação do solo. Vale destacar que 14% das terras degradadas do mundo estão na América Latina e no Caribe, segundo a FAO.
O Rio Rural proporcionou a Corrêa recursos e assistência técnica para proteger a água e as matas do terreno, e também para instalar equipamentos que minimizam o uso de água na irrigação. “Assim, a umidade do solo se mantém, e por isso não sofri com a estiagem deste ano”, comemora o agricultor, referindo-se à pior seca que o Rio de Janeiro sofreu nas últimas seis décadas.
Corrêa também sonha reduzir a contaminação das águas. Ele tem uma fossa séptica igual à de Sebastião Gonzaga e, agora, quer cada vez mais dispensar os agrotóxicos. “O arroz que cultivo tornou-se 100% orgânico, e 70% do restante da minha produção é assim”, acrescenta ele, que vive e trabalha no sítio desde os 9 anos.
“Com atividades do Rio Rural, é possível ajudar os agricultores a ter água de boa qualidade, em quantidade suficiente para os cultivos e as atividades do dia a dia”, comenta a economista Marianne Grosclaude, do Banco Mundial.
Ainda que não sejam literalmente “fabricantes” do precioso líquido, os agricultores brasileiros cuidam para usá-lo e devolvê-lo à natureza da melhor forma possível, além de dar sua contribuição contra as mudanças climáticas. Com tudo isso, tornaram-se participantes de uma experiência importante para a preservação das águas da América Latina.

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