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domingo, 3 de agosto de 2014

Poeta e tradutora israelense, Tal Nitzán condena ataques a Gaza: ‘Às vezes é difícil até respirar’



Responsável por traduções de Neruda, Borges, Cortázar e García Márquez, autora tem protestado nas ruas com outros escritores
POR MARIANA FILGUEIRAS
03/08/2014 6:00





RIO — Na última terça-feira, o poeta palestino-egípcio Tamim al-Barghouti falou ao GLOBO sobre os ataques recentes entre Israel e a Faixa de Gaza, notando que houve um aumento do uso da linguagem poética nas ruas como reflexo da escalada da violência — em grafites, cartazes, hinos, poesias, cartuns.

Desta vez, quem comenta o conflito é a premiada poeta israelense Tal Nitzán, principal tradutora de literatura latino-americana para o hebraico — incluindo Pablo Neruda, Octavio Paz, Jorge Luis Borges, García Márquez, Julio Cortázar e Vargas Llosa, ela já traduziu mais de 70 obras. Autora do livro “O ponto de ternura” (Lumme), lançado no Brasil em fevereiro, a poeta tem ido às ruas de Tel Aviv protestar contra a guerra, junto a outros escritores e ativistas. Perplexa com a quebra do último acordo de cessar-fogo, anteontem, ela fala sobre a impossibilidade pessoal de produção literária em tempos de guerra.

Como você tem se informado sobre os conflitos em Gaza?

Eu leio o jornal “Haaretz”, um dos poucos confiáveis que sobraram. O resto é tudo propaganda oficial, que repete e espalha a versão do governo. Mas nos informamos principalmente pela internet, por blogs, fotos, vídeos e relatos nas redes sociais.

Você tem compartilhado relatos sobre a guerra nas redes sociais. Qual é a responsabilidade de ser uma líder de opinião neste momento?

Eu falo porque não posso ficar calada diante de uma calamidade tão grande. Por acaso eu tenho leitores, mas reajo como um ser humano, não como um líder. Se minhas palavras tocarem alguma alma, é um pequeno milagre. E percebo que tais milagres são muito mais raros em tempos de guerra. As pessoas ficam mais agarradas às suas opiniões,e se sentem ameaçadas por qualquer visão alternativa.

Você acredita que a arte dá conta da produção de subjetividades em tempos de violência extrema?

Não necessariamente. Todo ser humano decente deve levantar a voz diante de atrocidades. Mesmo admitindo que sou classificada às vezes como uma “poeta política”, acho que devemos sempre tomar cuidado ao subordinar a arte e a literatura a uma tese política. Se um escritor adere à verdade e lida com as feridas, a conotação política penetra naturalmente.

Você tem conseguido escrever?

Eu sinto muita dificuldade em abraçar qualquer atividade literária em tempos tão negros. Não apenas poesia. Toda e qualquer palavra parece fútil. O que estamos testemunhando agora é muito pior do que um mero conflito. É um banho de sangue, um desastre humanitário inconcebível. Como as palavras ou a literatura lidam com essa realidade esmagadora? Pode uma palavra como “devastação” realmente transmitir a magnitude desse desastre em curso? Penso em obras atemporais como “Guernica” (de Pablo Picasso), mas, como poeta, sinto-me paralisada. É difícil escrever, às vezes é difícil até respirar.

O que diferencia esse conflito dos anteriores?

O pior é perceber outra vez o quão poderoso é o círculo vicioso do mal e da violência, e quão frágil é a tentativa de detê-lo. Como o mal gera apenas mais mal, a esperança de miná-lo acaba dia a dia. O que mais me assusta é que, depois de toda essa destruição, ainda podemos testemunhar uma revanche.

Você tem falado com outros escritores ou artistas israelenses?

A maioria da comunidade literária e artística em Israel se opõe à ocupação da Palestina e está contra essa guerra. Mas infelizmente essas vozes raramente atingem os meios de comunicação. Quantas demonstrações antiguerra que aconteceram em Tel Aviv nos últimos três dias foram divulgadas em Israel? Pois milhares de pessoas, cerca de 10 mil, pelo menos, foram às ruas convocar o governo israelense para suspender as investidas em Gaza e optar por negociações de paz. É importante ressaltar que o povo judeu e o povo israelense não têm o mesmo discurso. Milhares de pessoas têm vindo a público dizer desde o primeiro dia: não em meu nome.



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