Em 1901, Máximo Gorki escreveu este belo
poema sentindo o tempo que vivia e do qual se avizinhava poderosa tempestade
revolucionária na Rússia heróica de seu tempo. A palavra albatroz
(burieviestnik) em russo pode ser traduzida como mensageiro (viéstnik) da
tempestade (buria), por ser ele o único animal que sai alegremente a voar e
sente-se perfeitamente à vontade em meio a qualquer tormenta. A mensagem é
clara: no meio do caos, não devemos temer as tempestades, mas voar com elas e
contribuir para que elas transformem efetivamente o mundo!
Quando verti este poema para o português
anos atrás, a então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas estava em seus
estertores. Convém lembrar que o poema foi escrito às vésperas de um tempo de
sonho, sonho do qual se precisou acordar...
"Sobre a superfície cinzenta do
mar,
O vento reúne
Pesadas nuvens.
Semelhante a um raio negro,
Entre as nuvens e o mar,
Paira orgulhoso o albatroz,
Mensageiro da tempestade.
E ora são as asas tocando as ondas,
Ora é uma flecha rasgando as nuvens,
Ele grita.
E as nuvens escutam a alegria
No ousado grito do pássaro.
Nesse grito - sede de tempestade!
Nesse grito - as nuvens escutam a fúria,
A chama da paixão,
A confiança na Vitória.
As gaivotas gemem diante da tempestade,
Gemem e lançam-se ao mar,
Para lá no fundo esconderem
O pavor da tempestade.
E os mergulhões também gemem.
A eles, mergulhões,
É inacessível a delícia da luta pela
vida:
O barulho do trovão os amedronta...
O tolo pingüim, timidamente
Esconde seu corpo obeso entre as
rochas...
Apenas o orgulhoso albatroz voa,
Ousado e livre sobre a espuma cinzenta
do mar.
Tonitroa o trovão.
As ondas gemem na espuma da fúria.
E discutem com o vento.
Eis que o vento
Abraça uma porção de ondas
Com força e lança-as
Com maldade selvagem nas rochas,
Espalhando-as como a poeira,
Respingando uma noite de esmeraldas.
O albatroz paira a gritar
Como um raio negro,
Rompendo as nuvens como uma flecha,
Levantando espuma com suas asas.
Ei-lo voando rápido como um demônio;
Orgulhoso e negro demônio da tempestade;
Ri das nuvens, soluça de alegria!
Ele - sensível demônio -
Há muito vem escutando
Cansaço na fúria do trovão.
Tem certeza de que as nuvens não
escondem,
Não, não escondem...
Uiva o vento... Ribomba o trovão...
Sobre o abismo do mar,
Um monte de nuvens pesadas
Brilham como centelhas.
O mar pega as flechas de relâmpagos
E as apaga em sua voragem.
Parecem cobras de fogo.
Os reflexos desses raios,
Rastejando sobre o mar e desaparecendo.
_ Tempestade!
Breve rebentará a tempestade!
Esse corajoso albatroz
Paira altivo entre os raios
E sobre o mar furiosamente urrando
Então grita o profeta da Vitória:
QUE MAIS FORTE ARREBENTE A
TEMPESTADE!"
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