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quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Interessante matéria sobre o café

22.01.2017 às 11h00



Depois dos runs e whiskies velhos, dos vinhos velhos e das carnes maturadas, eis que a tendência do vintage chega ao café




É preciso alguma imaginação para conceber um empregado de café gritar: "Sai uma bica velha", em vez de "sai um café cheio", "americano" ou "italiano", "sem princípio", ou "abatanado", nas infindáveis versões da arte de tirar um café. Mas a tendência do vintage chegou ao café. Uma conhecida marca desta bebida lançou este mês uma edição limitada de café de 2014, envelhecido durante três anos. Este, composto por grão 100% Arábica, envelheceu três anos num armazém da Colômbia, no meio das montanhas, a 3700 metros de altitude. Neste armazém sem janelas – e por isso, sem luz -, as sementes de café maturaram ao longo deste período.

O local foi escolhido pelo facto de, em altitude, haver menos oxigénio, e assim mais frio. Como tal, "a humidade congela, em vez de ser absorvida pelos grãos", explica a Nespresso. Um sistema de rotação foi ainda criado, com as sacas de serapilheira a serem viradas ao contrário e mudadas de posição para os grãos de café envelhecerem de forma homogénea.

Para se envelhecer café, tem de se partir de grãos de café verde de elevada qualidade

© THOMAS MUKOYA / REUTERS

Mas afinal, qual o objetivo de criar um café vintage? Dar uma novidade ao consumidor, criar um novo nicho? Rodolfo Tristão, escansão de café desde 2009, esclarece: "Acredito que esta é uma forma inovadora de surpreender os apreciadores de café, transpondo-os para o mundo dos vinhos. E já que temos os whiskies e os runs envelhecidos, por que não explorar isso num café?" É um facto. E a que sabe um café envelhecido? "Devido ao tempo de estágio, este café vintage 2014 concentra um pouco mais os aromas, buscando mais aromas secundários e terciários, fruto da evolução. Toque amadeirado, notas suaves de fruto e sabor elegante, sedoso e menos acídulo, mais intenso", descreve o 'sommelier'.

Qualquer café pode ser envelhecido? (Ou seja, será que podemos fazer experiências com grãos que tenhamos em casa?) Não, responde Rodolfo. "Para se conseguir um café envelhecido, é preciso ter um café verde de elevada qualidade", explica. "Nem todos os cafés envelhecem bem, tal como acontece nos vinhos". Será que esta inovação se vai tornar numa tendência? Rodolfo já sabia "da existência de cafés envelhecidos, comercializados por pequenas empresas em outros países", mas confessa que foi a primeira vez que provou um café deste género.

Os grãos de café costumavam passar meses nas caravelas, no tempo dos Descobrimentos, até chegarem à Europa. Não há registo de se estragarem na viagem.

MICHAEL SWANSON

Se pensarmos bem, e recuarmos até às origens do consumo do café na Europa, quando este era transportado nos navios, do continente americano para cá, percebemos que passavam meses desde que as sacas de café embarcavam até chegarem. E não há registo de que se estragasse. Como a cura dos queijos ou dos enchidos, talvez o café ganhe em poder ser vintage. Agora é ver se a moda pega ou passa.

Fonte: http://expresso.sapo.pt/

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