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segunda-feira, 11 de abril de 2016

Aos médicos brasileiros que partidarizam o atendimento até na pediatria



Por Daniela Kresch
Jornalista
direto de Israel

VOZES DA MODERAÇÃO CONTRA A INTOLERÂNCIA
TEL AVIV – Estava a caminho do Hospital Sheba, em Tel Hashomer, quando escutei uma das notícias que dividiram Israel, nos últimos dias. De acordo com uma reportagem de rádio, algumas clínicas e maternidades do país, incluindo públicas, estariam separando mulheres grávidas judias de árabes em quartos separados. Em Israel, as maternidades públicas têm quartos para duas ou três gestantes de uma vez só. Todas as futuras mamães estariam recebendo o mesmo tipo de tratamento, mas em quartos separados.
Indagadas pela repórter, que fingiu estar grávida, algumas maternidades disseram “fazer questão” de realizar a separação, como se estivessem prestando um serviço a mais às gestantes. Seria um pedido das próprias futuras mamães.

Fiquei chocada enquanto lembrava que, quando minha filha de oito anos nasceu, no Hospital Beilinsson, em Petah Tikva, fiquei num quarto com mais duas mulheres: uma árabe e uma russa. Não houve o menor problema, claro. Cada nova mamãe recebia visitas de parentes e amigos em volta de sua cama sem atrapalhar ninguém. No meu caso, não dei a menor bola para o fato de não poder me comunicar com as colegas de quarto, que não falavam hebraico (e eu não falo árabe ou russo). Afinal, era algo temporário e havia, acima de tudo, uma fraternidade no ar entre mulheres que acabaram de ganhar presentes lindos: seus bebês.
Eu lembrava disso ao me encher de indignação com a reportagem, algo chocante por tantos motivos que é difícil saber por onde começar. Primeiro, porque é contra o que manda o Ministério da Saúde, para o qual trata-se claramente de discriminação.  Segundo, porque Israel se gaba de promover uma convivência pacífica entre árabes e judeus em seus hospitais. Médicos árabes tratam pacientes judeus, médicos judeus salvam a vida de feridos na guerra civil da Síria e até mesmo de terroristas palestinos.
Terceiro, porque esse tipo de atitude só divide ainda mais os cidadãos num país que precisa, acima de tudo, de uma fórmula definitiva de convivência. Um dos maiores bastiões dessa convivência é o sistema de saúde. A discussão sobre o assunto levou um parlamentar do partido ultranacionalista Casa Judaica, Betzalel Smotrich, a escrever o seguinte no Twitter: “Minha mulher não é racista, mas depois de dar à luz, ela quer descansar e não fazer uma festa como fazem as mulheres árabes depois de darem à luz” (como se novas mães judaicas não recebessem visitas ruidosas!).
Smutrich foi mais além ao escrever o seguinte absurdo: “É natural que minha mulher não queira se deitar do lado de alguém que acabou de dar à luz a um neném que pode querer matar seu bebê, daqui a 20 anos”.
A própria mulher do parlamentar, Revital, conseguiu ser ainda mais abertamente racista numa entrevista de TV, afirmando que também prefere que um médico judeu faça o parto: “Não é agradável para mim me deitar do lado de uma mulher árabe. O momento do nascimento é sagrado, puro. É um momento muito judaico. Eu ficaria muito satisfeita se mãos judaicas tocassem meu bebê no momento em que ele vem ao mundo”.
Quero crer que a maioria dos israelenses também tenha sentido calafrios ao ouvir esses comentários. Não é possível que opiniões como a desse parlamentar e sua esposa se tornem “mainstream”. É claro que visões de mundo ultraconservadoras e segregacionistas não existem apenas entre os israelenses. Mas Israel não pode se dar ao luxo de deixar que convivência entre a maioria judaica e as minorias árabe, cristã, drusa, circassiana, samaritana e outras tantas se deteriore. Quero crer que a voz da maioria moderada – que costuma ser menos barulhenta do que a dos radicais – seja ouvida.
O jornal Yedioth Aharonoth deu voz a essas pessoas ao repercutir a reportagem radiofônica. Entrevistou gestantes, médicos e enfermeiras árabes e judias e publicou imagens de convivência, fraternidade e amor na primeira página do diário, o maior do país. Uma satisfação depois de tanta ignorância.

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