AGORA NO AR
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Em entrevista exclusiva à Sputnik, o ativista de direitos humanos e Prêmio Nobel da Paz de 1980, Adolfo Pérez Esquivel, se mostrou preocupado com o que chamou de "ressurgimento de grupos neonazistas na Argentina e a violência daí decorrente". Na semana passada, Esquivel teve sua casa em Mar de Plata arrombada e saqueada.
O episódio não foi isolado. Nos últimos meses, um número crescente de residências têm sido roubadas, ao mesmo tempo em que a polícia têm detido um grande número de jovens portando símbolos neonazistas, como tatuagens com a cruz de ferro.
"Não sabemos bem a quem atribuir esses ataques, mas têm surgido grupos de choque em Mar de Plata. Houve vários desses casos em bairros com pouca vigilância. Isso, porém, não acontece de forma espontânea, são grupos que são organizados. Quem os financia para essas ações para gerar insegurança social e medo? Ainda não temos muitas informações a respeito, mas houve vários detidos com várias tatuagens no corpo, com cruzes suásticas. Eles estavam como adormecidos durante um tempo e agora saíram novamente à superfície."
Esquivel disse que os moradores já têm conversado com as autoridades. "Já falamos com o ministro de Segurança da província sobre esses grupos que começam a surgir e a provocar violência. Essas coisas são preocupantes, antes também ocorriam, mas não com essa magnitude. Também são preocupantes a repressão e o protocolo oficial que aplicaram às manifestações públicas."
© AP PHOTO/ VICTOR R. CAIVANO
Em 1974, Esquivel coordenou a fundação Serviço Paz e Justiça na América Latina junto com vários bispos, teólogos, militantes, líderes comunitários e sindicalistas. A entidade, que lhe valeu a premiação, passou a defender os direitos humanos no continente e a difundir a não-violência ativa como instrumento de transformação da realidade e de enfrentamento dos crimes de tortura e desaparecimento forçado de militantes políticos e agentes comunitários e pastorais, praticados pelas ditaduras militares que haviam se instalado por toda a América Latina.
A preocupação do Prêmio Nobel da Paz é compartilhada por outro ícone da defesa dos direitos humanos, a presidente da organização Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, para quem o fato de que 40 casas assaltadas em Mar del Plata em curto intervalo de tempo indica que não seja obra de delinquentes comuns.
Estela – que em fevereiro se encontrou com o presidente da França, François Hollande – se mostra angustiada com o recrudescimento da violência na Argentina nos últimos meses. No sábado passado, por exemplo, dois manifestantes da agremiação La Campora foram baleados por desconhecidos durante a realização de um protesto em Buenos Aires. Confrontos também têm sido registrados nas manifestações de outros grupos, como o Nuevo Encontro. A dirigente culpa o novo governo pelo aumento da violência.
"Desde que o Presidente Macri tomou posse, mudaram diametralmente todas as condutas do Estado em relação à população. Ele veio com o conceito de pagar a dívida externa ilícita e negociar com os fundos abutres nos Estados Unidos. As demissões de milhares de trabalhadores vêm com o pretexto que são pessoas incompetentes, de apequenar o Estado e o colocar a serviço de um conceito de empresa e não de um país. Essas ações de demitir e discriminar são um ato inadmissível. Deixá-los sem trabalho é uma violação flagrante dos direitos humanos.”
Estela afirma que além disso as províncias começaram a reprimir as manifestações de protesto, desrespeitando a garantia constitucional de direito à manifestação. Ea lembra que em La Plata, onde vive, são frequentes os casos de pessoas feridas por bala de borracha, de repressão policial no Aeroporto de Ezeiza, além de manifestantes baleados por franco atiradores.
A presidente das Avós da Praça de Maio recordou também o momento de emoção quando Hollande a convidou e ao neto para participar da homenagem aos desaparecidos na ditadura, no monumento junto ao Rio da Prata.
"O Presidente Holande quis a minha presença e do meu neto, Inacio Guido, encontrado depois de 36 anos de buscas em 5 de agosto de 2014 e que teve grande repercussão nacional e internacional." Até agora o movimento das Avós da Praça de Maio já recuperaram 119 netos, mas estima que outros 500 ainda não foram reconhecidos. Segundo ela, ainda hoje chegam denúncias de mulheres que deram à luz em campos de concentração e a família desconhece a origem dessas crianças.
Quanto a um possível encontro com o presidente dos EUA, Barack Obama, que visitará a Argentina nos dias 23 e 24 deste mês, Estela diz não saber qual é a agenda, mas que não tem intenção de promover um encontro com ele. Ela informa, porém, que já levaram à embaixada americana e aos organismos de direitos humanos pedido formal ao presidente americano para abrir os arquivos secretos referentes ao desaparecimento forçado de pessoas durante a ditadura militar na Argentina.
"Queremos que a Justiça americana colabore para o encontro de jovens que estamos investigando e que podem ser nossos netos vivendo nos EUA, para que legalmente se possa extrair uma mostra de sangue."
Leia mais: http://br.sputniknews.com/opiniao/20160310/3779296/nobel-da-paz-denuncia-volta-neonazismo-na-argentina.html#ixzz43Mgrcv5d
O episódio não foi isolado. Nos últimos meses, um número crescente de residências têm sido roubadas, ao mesmo tempo em que a polícia têm detido um grande número de jovens portando símbolos neonazistas, como tatuagens com a cruz de ferro.
"Não sabemos bem a quem atribuir esses ataques, mas têm surgido grupos de choque em Mar de Plata. Houve vários desses casos em bairros com pouca vigilância. Isso, porém, não acontece de forma espontânea, são grupos que são organizados. Quem os financia para essas ações para gerar insegurança social e medo? Ainda não temos muitas informações a respeito, mas houve vários detidos com várias tatuagens no corpo, com cruzes suásticas. Eles estavam como adormecidos durante um tempo e agora saíram novamente à superfície."
Esquivel disse que os moradores já têm conversado com as autoridades. "Já falamos com o ministro de Segurança da província sobre esses grupos que começam a surgir e a provocar violência. Essas coisas são preocupantes, antes também ocorriam, mas não com essa magnitude. Também são preocupantes a repressão e o protocolo oficial que aplicaram às manifestações públicas."
© AP PHOTO/ VICTOR R. CAIVANO
A preocupação do Prêmio Nobel da Paz é compartilhada por outro ícone da defesa dos direitos humanos, a presidente da organização Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, para quem o fato de que 40 casas assaltadas em Mar del Plata em curto intervalo de tempo indica que não seja obra de delinquentes comuns.
Estela – que em fevereiro se encontrou com o presidente da França, François Hollande – se mostra angustiada com o recrudescimento da violência na Argentina nos últimos meses. No sábado passado, por exemplo, dois manifestantes da agremiação La Campora foram baleados por desconhecidos durante a realização de um protesto em Buenos Aires. Confrontos também têm sido registrados nas manifestações de outros grupos, como o Nuevo Encontro. A dirigente culpa o novo governo pelo aumento da violência.
"Desde que o Presidente Macri tomou posse, mudaram diametralmente todas as condutas do Estado em relação à população. Ele veio com o conceito de pagar a dívida externa ilícita e negociar com os fundos abutres nos Estados Unidos. As demissões de milhares de trabalhadores vêm com o pretexto que são pessoas incompetentes, de apequenar o Estado e o colocar a serviço de um conceito de empresa e não de um país. Essas ações de demitir e discriminar são um ato inadmissível. Deixá-los sem trabalho é uma violação flagrante dos direitos humanos.”
A presidente das Avós da Praça de Maio recordou também o momento de emoção quando Hollande a convidou e ao neto para participar da homenagem aos desaparecidos na ditadura, no monumento junto ao Rio da Prata.
"O Presidente Holande quis a minha presença e do meu neto, Inacio Guido, encontrado depois de 36 anos de buscas em 5 de agosto de 2014 e que teve grande repercussão nacional e internacional." Até agora o movimento das Avós da Praça de Maio já recuperaram 119 netos, mas estima que outros 500 ainda não foram reconhecidos. Segundo ela, ainda hoje chegam denúncias de mulheres que deram à luz em campos de concentração e a família desconhece a origem dessas crianças.
"Queremos que a Justiça americana colabore para o encontro de jovens que estamos investigando e que podem ser nossos netos vivendo nos EUA, para que legalmente se possa extrair uma mostra de sangue."
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