30.03.2018
As eleições e consultas interpartidárias de 11 de março estiveram marcadas pela fraude, as trapaças, compra de votos e constrangimento ao votante, deixando a descoberto o obsoleto, os grandes vazios e a falta de transparência do sistema eleitoral colombiano.
As eleições e consultas interpartidárias de 11 de março estiveram marcadas pela fraude, as trapaças, compra de votos e constrangimento ao votante, deixando a descoberto o obsoleto, os grandes vazios e a falta de transparência do sistema eleitoral colombiano. Não obstante, o cavalinho de batalha do estabelecimento colombiano e seus altos funcionários segue sendo a Venezuela, que conta com um sistema eleitoral elogiado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, como o melhor do mundo http://bit.ly/2Itvf27.
Por Oto Higuita
Ao longo e ancho do país, como evidenciaram dezenas de denúncias de cidadãos em vídeos, fotos e registros se observa como à consulta entre Petro-Caicedo esconderam a cédula, não a entregaram, diziam que tinha se acabado ou induziam a gente a votar pela consulta da direita,https://bit.ly/2pxrKzM. De outro lado, o escândalo em alguns postos de votação onde supostamente se esgotaram as cédulas da consulta entre Duque-Ramírez-Ordóñez levou o Registrador Nacional do Estado, Juan Carlos Galindo, a autorizar fotocópias destas como se se tratasse da eleição do representante estudantil de um colégio. Decisão que demonstra a improvisação e falta de planejamento numa organização estatal deste nível, deixando a nu as graves falhas do sistema eleitoral, convertendo um assunto tão importante para uma democracia como são suas eleições livres, transparentes e seguras no faz-me rir de todo o mundo.
O mais incrível deste escândalo é a afirmação do MinFazenda Mauricio Cárdenas de que sobraram 20 milhões de cédulas http://bit.ly/2Dlnc3D. O mesmo ministro que disse que se propõe reconstruir a Venezuela https://bit.ly/2u8iir2 quando o governo de Santos que representa nem sequer cumpriu os acordos com as FARC com a importância histórica que que têm; nem tem sido capaz de proteger a vida dos líderes sociais que são assassinados diariamente; nem de reconstruir La Guajira, estado onde morrem milhares de crianças anualmente de pobreza absoluta e de fome https://bit.ly/1NrtgGZ; nem o porto de Buenaventura, Tumaco, ou o estado do Chocó, nem o de Arauca; nem o norte do país onde dezenas de municípios carecem de escolas, hospitais, vias, moradias dignas para o povo, serviços fundamentais como água potável, energia e saneamento básico. Então, o governo tem os recursos com que reconstruir Venezuela, porém não os recursos para salvar da fome e da inanição a milhares de crianças da Guajira, Chocó e outros estados, nem tampouco com que reconstruir os estados mais necessitados do país? Está bem que criam estúpidos à maioria de colombianos, para isso controlam sua opinião, porém ante outros povos do continente são a chacota.
Ao anterior se soma a renúncia do presidente do Peru, Pedro Pablo Kuckzynski, aceitada pelo Congresso por 105 votos a favor, 11 contra e 4 abstenções, https://bit.ly/2pxcNNT, que fragmentou a conspiração regional da direita do continente. Já não estão na mesma situação de há alguns meses quando ameaçaram a Venezuela em não lhe permitir assistir e participar na VIII Cúpula das Américas, que se realizará em Lima, entre 13 e 14 de abril próximo. Santos e Macri da Argentina tomaram nota, já não se sentem tão cômodos com um Peru afundado numa profunda crise política e de legitimidade pela saída de PPK. Irão à Cúpula das Américas?
A nova situação que se apresenta a nível regional modifica as predições do ex-presidente do Equador, Rafael Correa, de que o continente caminha para a restauração neoconservadora, mudam quanto ao Peru e, de passagem, fraturam a aliança da direita que PPK encabeçava contra os governos progressistas.
Muitos têm se perguntado por que no Peru renuncia seu presidente acusado de corrupção e de comprar sua permanência no poder evitando a destituição quando negociou com Kenji Fujimori [senador e filho do ex-presidente Alberto Fujimori] o indulto humanitário a seu pai condenado a 25 anos de cárcere por crimes de lesa-humanidade, enquanto em Colômbia com cenários piores, não se produz a renúncia de nenhum presidente?
Aqui a corrupção, como em outros países, também é sistêmica, isto é, é o modelo político, social e econômico mesmo que nos governa, adubada com uma alta dose de imoralidade por aqueles funcionários acostumados a passarem por cima das normas e ultrapassem a faixa do dever ético; uma prática socialmente aceitada que se tornou costume, se reproduzindo dentro do sistema, suas instituições e a sociedade.
A diferença com o Peru, neste caso, é que aqui as elites que têm tido o poder se encobrem entre elas e criaram um modelo para que os poderes que deveriam julgá-los [Promotoria, altas Cortes, Comissão de Investigação e Acusação da Câmara de Representantes] não o façam, nem se atrevam sequer a levantar-lhes a imunidade de que gozam como aforados [altos dignitários ou funcionários do Estado com um foro especial]; e, em lugar de lhes fazer um julgamento e condená-los por crimes, desfalques do erário ou corrupção, o que fazem é absolvê-los com o conhecido e fraudulento procedimento de prescrição. Como quem diz, em Colômbia é muito barato roubar, violar as leis e ser corrupto para as elites governantes.
Se poderia dizer que, enquanto no Peru um presidente se pode cair ou ser condenado por crimes de lesa-humanidade [Fujimori] ou corrupção [PPK], em Colômbia se consolidam no poder. Por isso é insustentável seguir afirmando que a Colômbia é a democracia mais antiga e estável do continente, a não ser que se lhe acrescente que também é a mais corrupta e frouxa com seus governantes.
Tradução > Joaquim Lisboa Neto
26 de março 2018
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