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Advogado - Nascido em 1949, na Ilha de SC/BR - Ateu - Adepto do Humanismo e da Ecologia - Residente em Ratones - Florianópolis/SC/BR

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terça-feira, 20 de outubro de 2020

Notícias de Santa Catarina

 Gostas de ler? 

Então, sugiro que procures a obra do Pe. LUIGI MARZANO, intitulada Colonos e Missionários italianos nas Florestas do Brasil, publicado pela Edit. da UFSC, em co-edição com a Prefeitura Municipal de Urussanga, dos idos de 1985.

Trata-se de uma obra "deliciosa", com muita informação sobre as coisas do nosso Estado, incluindo a descrição da natureza, dos costumes locais e dos adventícios.

Apesar de não ser descendente de italianos, já li e reli várias vezes (e não foi por falta de opção de leitura) e não me canso de apreciá-la. Desconsiderando-se a pregação do catolicismo de que está impregnada - que não chega a empanar o brilho das informações úteis veiculadas pelo laborioso religioso - constitui-se o livro num passatempo precioso, como, aliás, tantos outros escritos por missionários católicos e de outras crenças.

Encontra-se de tudo nele: a descrição do meio ambiente (incluindo espécies vegetais e de animais), costumes religiosos e outros, notícias sobre a agricultura dos idos do século XIX, funcionamento e produtos dos engenhos, etc..., construção civil de moradias, aspectos das estradas e picadas, dificuldades de comunicação e grande variedade de aspectos outros da sacrificada vida dos colonos.

Destaco, em tempos de preocupação com o meio ambiente, como os que vivemos presentemente, o seguinte trecho da obra aludida, onde o autor da obra descreveu uma caçada: 

"Estávamos há algum tempo gozando daquelas estranhas e encantadoras belezas da natureza, quando nossa atenção foi atraída para uma altíssima árvore, por estranhos gritos provenientes de sua copa. engatilhamos a espingarda e prontamente nos dirigimos para lá. E eis quase nos depara um bando de símios ou macacos, que, apenas nos perceberam, deram-se em precipitada fuga, lançando-se com prodigiosos saltos de uma árvore a outra. Desejando ter alguns daqueles animais, dos quais certa gente enganada e enganadora nos faz descender, seguimos o bando simiesco pela floresta espessa, correndo à  esquerda e à direita. Caminhamos por um bom trecho, escalando uma alta e íngreme colina, quando eis que no plano inferior ofereceu-se ao nosso olhar um macaquinho que nos observava. Num instante o animalzinho caiu ferido por nossas espingardas. Pobre animalzinho! Com uma mãozinha cobria-se a ferida, emitindo um gemido prolongado, lancinante. Não pudemos assistir à comovente cena de agonia. Retiramo-nos um pouco, e ao voltarmos estava morto. (...)".

Nota-se que, mesmo gente com grau de instrução privilegiado para a época, como eram os padres-caçadores, não havia consciência ecológica suficiente e capaz de obstar-lhe o ato de maldade praticado contra um animalzinho que de nada lhes serviria morto, a não ser que o tenham comido, como era hábito entre os ameríndios. 

Ainda da aludida obra: 

O colono, mesmo porque é prático, é o inimigo da floresta, que destrói sem compaixão alguma.

Ele abate as árvores, depois lança-lhe fogo, destrói uma quantia imensa de ricos materiais, e em pouco tempo, daquela luxuriante  vegetação não resta mais que cinza. Em breve, porém, aquela imensa planura será cultivada com cuidado e dará lucro aos colonos.(*)

As melhores árvores que existem nas florestas são as seguintes: em primeiro lugar há o sobragi (**), chamada a rainha das madeiras. É a mais resistente de todas, e depois de anos parece de ferro. Os colonos usam desta madeira para formar os ângulos da casa e também fazer cercas de estaquetes (...)

E continua o autor a descrever outras espécies, citando a tajuva, o ipê, a cabriuva, o carvalho, a peroba (encarnada ***, branca e matambu), o cedro (vermelho, rosa e batata), a garuva, a canela (negra, amarela e parda), o óleo, o louro, o guarapari, o baguaçu, a bicuba, o pinheiro da serra, a salsaparrilha e a japecanga.

-=-=-=-

(*) A notícia dada pelo padre-escritor desmente as alegações do atual presidente do Brasil, Bolsonaro, por sinal descendente de italianos, no sentido de que as queimadas eram e são práticas adotadas apelas pelos índios e caboclos.

(**) Parece a mesma espécie conhecida na Ilha de SC como  sobraju,  famosa pela sua utilização como esteio de engenhos de mandioca e cana de açúcar. Fornece grossos e eretos troncos. Possuo um exemplar de cerca de 40 cm de grossura no meu terreno de Ratones.

*** - encarnada, para os não acostumados à linguagem mais antiga, é sinônimo de vermelha.

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