Postado em 29/10/2022 11:22
© Sputnik / Valery Melnikov
Sputnik – O número de grupos extremistas e neonazistas no Brasil está em expansão, principalmente através da Internet. Surfando na impunidade e na onda de crescimento da extrema-direita, esses grupos têm virado alvo de ações policiais no país. A Sputnik Brasil ouviu especialistas no assunto que alertaram para necessidade de impedir e combater esse grupos.
Na semana passada, a Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância de Porto Alegre deu início a uma investigação sobre a atuação de grupos neonazistas no Rio Grande do Sul. Conforme informou o portal G1, a polícia local monitora pelo menos 15 pessoas suspeitas. Na mesma data, no estado de Santa Catarina, a polícia prendeu um grupo de seis jovens acusados de atividades neonazistas. O grupo teria ramificações em Florianópolis, Joinville e São José. A investigação teve início em abril, após a prisão de um homem por tráfico de drogas que guardava em casa bandeiras neonazistas.
Esses são apenas alguns casos de um problema que tem crescido no Brasil nos últimos anos. Um estudo elaborado pela antropóloga Adriana Dias, doutora pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que estuda o tema há 20 anos, aponta um crescimento de 270,6% de grupos neonazistas no país em três anos, entre 2019 e 2021. Segundo o levantamento, há pelo menos 530 núcleos extremistas no Brasil — a maioria neonazistas — reunindo até dez mil pessoas.
Em entrevista ao podcast Jabuticaba sem Caroço, da Sputnik Brasil o jornalista João Werneck contou que passou quatro meses acompanhando grupos de extrema-direita nas redes sociais para a publicação de uma reportagem investigativa no site. Segundo ele, a atuação desses grupos é difusa, espalhada por diversas redes sociais e regiões do país. Entre os temas de ódio mais citados nesses grupos, o jornalista identificou apoio ao nazismo, ao racismo, à xenofobia e à homofobia. “Tem gente ali que está esperando a fagulha acender. São pessoas perigosas. Não podemos deixar de dizer que são perigosas, porque são pessoas que estão ali atrás de alguma coisa. Elas não estão ali por acaso”, afirmou Werneck durante a entrevista, acrescentando que o público desses grupos é predominantemente masculino e prega a realização de golpes e a instauração de ditaduras.
Após a publicação, o profissional conta que teve seu nome divulgado nesses grupos por pessoas insatisfeitas com a exposição. Para ele, apesar da preocupação com denúncias, os membros se sentem confortáveis no anonimato on-line. “Eles não têm medo, eles simplesmente sabem que é um movimento que não é combatido e, por não ser combatido, não pode ser parado simplesmente pela nossa vontade”, aponta.
Defesa falsa da liberdade de expressão serve de escudo para extremistas
O sociólogo Leonardo Puglia, professor da Faculdade Católica Salesiana de Macaé, conta em entrevista ao Jabuticaba sem Caroço, podcast da Sputnik Brasil, que suas pesquisas também identificam o crescimento desses grupos. O pesquisador atribui essa expansão ao crescimento da extrema-direita no Brasil e no mundo. “Houve um crescimento, sim, nessa onda do crescimento da extrema-direita ao nível global. Esse crescimento, no Brasil, se dá também escorado nesse discurso da liberdade de expressão, um discurso que a extrema-direita contemporânea — ou nova direita, como a gente tem chamado no Brasil — utiliza para escorar o discurso de ódio às minorias”, afirma o pesquisador em entrevista à Sputnik Brasil, lembrando que o direito constitucional à liberdade de expressão não dá margens para a apologia do nazismo, o que é crime no Brasil.
“Esse é o grande escudo que essa nova direita tem usado para avançar no Brasil nos últimos anos e tem conseguido”, explica o professor, acrescentando que as ferramentas da Internet e do anonimato também estimulam o crescimento desse discurso.
Puglia explica que o discurso neonazista é utilizado por esses grupos para legitimar de alguma forma “os piores preconceitos”, como o próprio racismo. No caso do Brasil, contra negros e indígenas e em algumas regiões, contra nordestinos. Segundo o pesquisador, essas pessoas que frequentam esses grupos são principalmente jovens que têm contato com essa ideologia através de revisionismo histórico. “Isso passa por um negacionismo histórico. Existem muitos desses autores neonazistas no Brasil que fazem um esforço não só de revisionismo histórico, mas de negacionismo histórico, do Holocausto, por exemplo”, aponta.
Fonte: Pátria Latina
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