O encarregado conduziu a reza, mas não prestei muita atenção porque estava completamente ocupado com o quadro da miséria que se apresentava aos meus olhos.
O sermão dizia mais ou menos o seguinte: “Vocês terão fartura no paraíso. Não importa que passem fome e que sofram aqui, vocês terão fartura no paraíso, desde que sigam o bom caminho”. E por aí ia.
Entendi aquilo como uma engenhosa peça de propaganda, mas pouco eficaz por duas razões: primeiro, quem ouvia aquilo eram homens materialistas e de pouca imaginação, inconscientes da existência do Invisível e muito acostumados com o inferno sobre a terra para terem medo de um inferno futuro.
Segundo, porque, fatigados pelas noites de vigília e privação, exauridos pela longa espera de pé e abatidos pela fome, eles não ansiavam pela salvação, mas sim pelo grude. Para serem mais eficientes, os “ladrões de alma” (é assim que se referem aos propagandistas das religiões) deviam estudar um pouco da base fisiológica da psicologia.
JACK LONDON - O povo do abismo
Nenhum comentário:
Postar um comentário