Nesses tempos bicudos, da política brasileira, com uma bipolarização acentuada e, porque não dizer, até perniciosa para a democracia, é preciso que não se perca de vista a tiranização da opinião.
A tirania da opinião – e que opinião! – é tão estúpida nas pequenas cidades da França quanto nos Estados Unidos da América. A frase aparenta estar deslocada do contexto da política brasileira, mas explico o motivo: é de STENDHAL, na famosa obra O vermelho e o negro, que muita gente, de cara (em face do título, mesmo sem tê-la lido, por um julgamento apressado) irá achar repugnante, coisa de comedores de sanduíches de mortadela.
É sempre tentador o desejo de parecermos o dono absoluto da suposta verdade, rotulando o outro, de opiniões contrárias, como "desinformado", "burro", "infantil", "mimizento", "terrorista", "comunista", "ladrão", "preconceituoso", "miliciano", "fascista", "nazista", "gado", "corrupto", "entreguista", "traidor", "pobre de direita", "vendido", "interesseiro", dentre tantos outros "elogios".
Tenhamos a ideologia que tivermos, a força que nos atrai para impor nossa opinião é sobremaneira humana. Ninguém gosta de perder uma discussão, de dar o braço a torcer, mesmo que se considere um empedernido democrata.
(...) tal é a tendência do homem para o despotismo, que ele procura sem cessar, não só retirar da massa comum sua porção de liberdade, mas ainda usurpar a dos outros. - CESARE BECCARIA - Dos delitos e das penas.
Boca maldita, paga, alugada, intolerante, grosso, incivilizado, truculento, agressivo, é sempre o outro.
A nossa opinião, sempre tenderemos a considerar lúcida, brilhante e irretocável.
Assim como ocorre entre os crentes de alguma religião, para os quais a outra é sempre uma "seita", tão somente. O outro, somente ele, é o herege. O deus do outro (Alá, por exemplo) é desprezível. A Igreja, não tolera a sinagoga, que detesta a mesquita. Os evangélicos abominam os umbandistas, os católicos têm ódio visceral pelos evangélicos e por aí afora. A tirania da opinião não é só política, como religiosa.
Nós pretendemos ser a antítese do outro, mas incidimos nos mesmos excessos e pecado da tirania da intolerância.
Este texto é uma confissão?
Sim. Conforta-me admitir o meu grave defeito e, a partir dessa reflexão, buscar corrigir meu comportamento, para ficar em paz com minha consciência.
Não sei se você, que me está lendo, conseguirá tomar idêntica decisão, qual seja, a de abdicar da condição de tirano.
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