A uma semana das eleições nos EUA, Sandy traz à tona debate sobre aquecimento global
Ao longo da corrida presidencial, questões ambientais foram preteridas pelos candidatos
A apenas uma semana das eleições presidenciais norte-americanas, a supertempestade Sandy veio relembrar os candidatos Barack Obama e Mitt Romney de um tema preterido ao longo de suas campanhas – os efeitos cada vez mais intensos de fenômenos naturais e a apatia do governo dos EUA diante de protocolos sobre o meio ambiente.
Salvo discreta menção do democrata à necessidade de ampliar a participação de fontes renováveis na matriz energética norte-americana, nenhuma das campanhas apresentou propostas efetivas para a contenção do fenômeno de aquecimento global. Isso pouco tempo após o Earth Policy Institute, um dos mais importantes centros de pesquisa sobre sustentabilidade ambiental, publicar um relatório que atesta o gradativo aumento da intensidade de tempestades tropicais ao longo dos últimos anos.
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Enquanto Sandy deixava um rastro de danos e mortes em regiões de infraestrutura urbana mais precária e, portanto, mais vulnerável, a tônica da corrida presidencial oscilava entre a macroeconomia norte-americana e a forma como Washington deveria “conquistar” aliados geopolíticos mundo afora. Logo após se formar nas águas quentes do Caribe no último dia 20 de outubro, a supertempestade provocou nada menos que 67 mortes em populações locais. Mais de 50 delas apenas no Haiti, onde os efeitos do grande sismo de 2010 ainda não foram revertidos substancialmente.
A tormenta desviou-se então para noroeste, onde adquiriu velocidade e atingiu o eixo BosWash, zona mais povoada e rica dos Estados Unidos. Bairros de menor altitude de Nova York ficaram submersos em cerca de quatro metros de água marinha. Com tuneis inundados, o metrô da “cidade que nunca dorme” (um dos poucos do mundo que operam 24 horas) está paralisado e não há previsão para seu reestabelecimento. Estações de energia explodiram por toda a região e nada menos que sete milhões de pessoas ficaram sem luz.
Alerta
Não pela primeira vez, instituições do patamar da Academia Nacional de Ciências dos EUA alertam para a maior frequência de fenômenos como Sandy durante anos mais quentes. A opinião pública norte-americana, contudo, evita a temática das mudanças climáticas.
Em um artigo publicado pelo jornalista Antonio Martins, há a menção de uma recente publicação de Noam Chomsky sobre a “cegueira” ambiental que existe nos Estados Unidos. No entendimento do filósofo de orientação anarquista, as diferenças sobre políticas ambientais entre os dois partidos “dizem respeito a quão entusiasticamente os ratos devem marchar até o abismo”.
Houve, contudo, quem resistisse ao obscurantismo climático dos tais “ratos”. No momento em que democratas e republicanos disseram não ter outra opção que não suspender suas campanhas, um grupo de ativistas da rede 350.org foi à Times Square expor mensagens de protesto contra o que consideram uma aversão norte-americana a políticas de investimento em sustentabilidade ecológica. Enquanto o céu enegrecia, prenunciando a maior tempestade do país desde o furacão Katrina (2005), os ambientalistas estendiam uma faixa e exigiam o fim “do silêncio sobre o clima”.
Chomsky lembra que as pessoas não são obrigadas a tolerar a passividade que se esconde sob o “circo eleitoral” e convoca seus leitores para um caminho mais “honroso”. Tal como os manifestantes que contrariaram as orientações da Prefeitura de Nova York e saíram às ruas, ele propõe que o restante da população exija tanto de Obama quanto de Romney uma atitude mais estrutural que apenas adotar medidas de emergência às vésperas da tragédia. Trata-se de algo próximo da conclusão de Bill McKibben, fundador do 350.org: “se temos que acordar, a hora é essa”.
Fonte: OPERA MUNDI
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