Religiosos acreditam que atos de intolerância recentes no Rio são praticados por minoria
Para eles, convivência entre diferentes doutrinas exige adaptação
POR FÁBIO TEIXEIRA
Reunião de Eduardo Paes com menino que foi impedido de entrar em colégio com guias de Candomblé - O Globo / Alessandro Lo Bianco
RIO — Os recentes casos de intolerância religiosa no Rio — como o do aluno barrado em escola municipal por usar guias de candomblé e o da confusão no 5º Juizado Especial Cível, em Copacabana, que terminou com delegado preso e fiel baleado — estariam sendo praticados por indivíduos ou grupos minoritários que acabam ferindo os princípios básicos das crenças que buscam representar. Esse é um consenso entre vários religiosos, que afirmam que falta a muitas pessoas o entendimento do Brasil como um estado laico. O interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, babalaô Ivanir dos Santos, lembra que a violência contra praticantes das religiões africanas não é novidade:
— A umbanda e o candomblé passaram por muitos momentos de repressão ao longo de sua história, por diferentes grupos religiosos. Porém, hoje, nossa capacidade de reação é maior do que no passado.
‘NÃO PODEMOS GENERALIZAR’
O umbandista lembra que, em 2008, evangélicos da igreja Geração Jesus Cristo invadiram o Centro Espírita Cruz de Oxalá, no Catete, e depredaram várias imagens. Na ocasião, quatro foram presos por vandalismo. Os responsáveis por assediar o delegado Henrique Pessoa durante audiência, nesta quarta-feira, são da mesma igreja. Segundo Ivanir, integrantes da comissão têm sofrido constantes assédios por parte de evangélicos desse grupo.
— Não podemos generalizar. Sabemos que é uma minoria dentro dos grupos evangélicos, mas é inegável que há lideranças fomentando um clima ruim e incentivando a ação desses radicais. São fascistas, isso fica evidente pelas próprias camisas, que dizem “Bíblia sim, Constituição não" — avalia Ivanir.
Para o pastor da Igreja Presbiteriana Betânia em Niterói, Teo Elias ações como as da diretora de uma escola municipal que impediu um aluno de entrar com vestes de umbanda na unidade exibem a falta de entendimento a respeito das normas que devem ser seguidas em colégios:
— É importante haver uma neutralidade no que diz respeito à religião em espaços públicos. A polêmica não é só nossa, todos precisam se adaptar. Na França, por exemplo, o problema também existe, mas lá o preconceito recai sobre os muçulmanos.
O presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro, Jaime Salim Salomão, avalia que a integração de diferentes religiões dentro da sociedade pode gerar atritos. Para ele, deve ser feito um trabalho constante de comunicação:
— É preciso mostrar à comunidade que todas as religiões têm um papel a ser cumprido dentro da sociedade. Queremos integrar, mas sem eliminar nenhuma religião.
Read more: http://oglobo.globo.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário