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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Vestígios podem comprovar tese de que Florianópolis nem sempre foi uma ilha

Pesquisa realizada por empresa privada encontra vestígios de que existiu um canal na Baía Norte

Vestígios podem comprovar tese de que Florianópolis nem sempre foi uma ilha Ricardo Wolffenbüttel/Agencia RBS
A análise geofísica pode ser considerada mais um indício da variação do nível do mar na costa de SCFoto: Ricardo Wolffenbüttel / Agencia RBS
Atravessar o espaço entre a Ilha de Santa Catarina e o Continente sem depender de pontes ou embarcações. O que pode parecer impensável hoje era realidade há cerca de 3,5 mil anos, quando o mar estaria 10 metros abaixo do nível atual. A hipótese estudada por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Universidade do Vale do Itajaí (Univali) nas últimas décadas ganhou mais uma importante comprovação no começo de setembro.

Imagens de sonar registradas na Baía Norte por uma empresa privada mostram vestígios da existência do que poderia ser um rio ou canal na região. A análise geofísica pode ser considerada mais um indício da variação do nível do mar na costa catarinense.

– Em cima dos dados do passado, você começa a entender o presente e pode prever situações futuras. Isso é importante, principalmente para nós que moramos em uma ilha extremamente sensível. Se o mar subir meio metro, o impacto é muito grande – disseJorge Souza, doutor em geofísica e geologia marinha e coordenador da análise realizada na baía pela empresa de análise de perfis sísmicos CB&I.



Florianópolis já foi um arquipélago de 20 ilhas
O estudo revela ainda que há 5 mil anos o movimento da água foi inverso, segundo a explicação do doutor em geociências e professor do curso de oceanografia da Univali, José Natorf de Abreu.


– Com o nível do mar tão alto, os estudos apontam que Florianópolis era umarquipélago de cerca de 20 ilhas. Em compensação, o inverso também pode ter acontecido e o mar estar tão distante que a Ilha de Santa Catarina teria ligação ao Continente por terra – afirmou.

Outros levantamentos semelhantes foram feitos anteriormente por pesquisadores universitários. No entanto, apenas na costa oceânica da Ilha de Santa Catarina. Por isso, os novos dados podem reforçar hipóteses já expressas em trabalhos acadêmicos.


Pesquisas revelaram ação do nível do mar
Pesquisas anteriores realizadas pelo departamento de geofísica da UFSC já apontam a existência de “paleocanais”, como são conhecidos os leitos de antigos cursos d’água, mas na costa voltada para o oceano Atlântico. Doutor em geociências e professor do curso de oceanografia da UFSC, Norberto Horn Filho pesquisa indícios da variação do nível do mar no Estado e revela que em épocas ainda mais antigas, há 18 mil anos, não daria nem ao menos para ver água onde hoje fica a área insular da Capital.


– O mar já esteve 120 metros abaixo do nível atual. Levando em consideração a relação de altura e distância da costa brasileira, isso significa que a água estava a pelo menos 120 quilômetros da costa – diz Norberto.



No rastro do homem-sambaqui
A análise geofísica que permitiu observar a existência de paleocanais na costa oceânica da ilha foi realizada em 2011, através do Programa de Avaliação da Potencialidade Mineral da Plataforma Continental (Remplac), uma parceria com o governo Federal.


Para analisar o caminho inverso da água, os pesquisadores da UFSC avaliaram vestígios por onde o mar passou quando estava cerca de três ou quatro metros acima do atual – há aproximadamente 5 mil anos. Esse último levantamento originou o Mapa Geoevolutivo da Planície Costeira da Ilha de Santa Catarina, lançado no ano passado. Entre as curiosidades apresentadas no documento está a constatação de que Florianópolis chegou a ser composta por 20 ilhas.

– No último ápice do nível do mar, a região do Carianos, onde fica o aeroporto, por exemplo, ficou completamente submersa. Além disso, vestígios da vida do homem sambaqui, que se alimentava em áreas cada vez mais altas, indicariam essa variação do nível do mar. Essa é uma evidência arqueológica. Ainda temos resquícios de crustáceos e a presença de praias mais antigas – afirma o professor.


Empresa usou sonar para estudar área de 40 quilômetros
No começo de setembro, uma equipe da CB&I, empresa norte-americana com filial no Brasil, fez um mapeamento da Baía Norte. Eles percorreram mais de 40 quilômetros com dois sonares. 


– Vimos uma mancha mais escura na imagem, que significa a presença de gás. Quando há um rio ou canal, há a presença de mata ciliar. Se o mar sobe ao longo dos anos, essa vegetação morre e se deposita no fundo. Com o passar do tempo, esse resto se sedimenta e entra em processo anaeróbico, se decompondo e formando um gás – detalhou Jorge.

Em fase de apuração dos resultados, o material coletado durante a expedição ainda não permite afirmações mais precisas, como se esse canal é um rio ou apenas o estreitamento da Baía Norte, o que pode ter ocorrido quando o nível do mar estava abaixo do atual. Por enquanto, a suspeita dos geofísicos é que possa ter ocorrido há 3,5 mil anos ou 7,5 mil anos da data atual, mas apenas exames mais detalhados podem precisar.

Fonte: DC

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