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sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Os malefícios da religião



Por Marino Boeira

Historicamente, as igrejas e seu maior produto de venda, a religião, sempre serviram ao obscurantismo e às práticas contrárias a ciência. Desde seus mitos fundadores, como a criação do mundo em sete dias e o surgimento do homem feito de barro por atos de vontade de um Deus onipotente, as diversas seitas religiosas sempre se colocaram do lado oposto à verdade científica e se valeram das fraquezas e da ignorância dos homens para se tornarem poderosas armas que ajudam a manter a alienação das classes sociais com menos acesso à cultura e com isso preservar a injusta divisão social que acompanha a humanidade desde que a antiga sociedade comunitária se perdeu com o avanço dos primeiros negócios.

Quando imaginávamos que a condenação à fogueira daqueles que ousavam dizer que a Terra não era o centro do universo, havia ficado no passado da Idade Média e que a lembrança dos anjos, dos santos e seus milagres e das fantásticas histórias de deuses que ressuscitam dos mortos, seria apenas mais algumas histórias provindas do universo infantil ao lado de fadas e duendes, somos brindados com notícias que mostram que os mal feitos da religião continuam nos dias de hoje.

Enquanto a Igreja Católica se vê a braços com seus padres pedófilos no mundo inteiro, outras seitas mostram mazelas ainda mais dramáticas. Esta semana o Tribunal de Justiça de São Paulo condenou a Igreja Universal a indenizar em 10 mil reais Alcione Saturnino dos Santos por atos de agressão praticados por seus pastores. Em 2001, Alcione, que é epilético, se sentiu mal durante um culto da igreja em Sumaré, a 100 quilômetros da Capital e foi para o fundo da igreja para se medicar. Os pastores não acreditaram que seu mal fosse físico e “diagnosticaram” que ele estava possuído por um espírito do mal. O tratamento foi socos e pontapés para afastar o demônio.

No Paquistão, a polícia prendeu Rimsha Masih, de 11 anos, analfabeta e com síndrome de Down. A acusação: alimentou uma fogueira com páginas do Al Corão. Em países islâmicos blasfemar contra o fundador da religião e seu livro sagrado é passível de condenação à morte.

A tendência é pensarmos que estes casos são exceções e que em sociedades mais democráticas como a nossa, existe uma separação entre o estado laico e as organizações religiosas. Quem quiser acreditar em Deus pode fazer tranquilamente, seja qual for a sua cara e ensinamentos e quem quiser permanecer ateu em respeito a sua racionalidade de ser humano, também pode. Tudo garantido pela Constituição.

Como se diz hoje, há divergências sobre essas possibilidades. Os parlamentos, tribunais e agora também os executivos estão na mira dessas organizações religiosas, transformadas em partidos políticos e dispostas a levar o país de volta ao passado, anulando muitas conquistas republicanas do nosso estado laico. Esse retorno ao obscurantismo religioso poderá ser feito de uma maneira formalmente legal através da conquista de maiorias nos parlamentos.

Aqui no Sul, esta possibilidade parece um pouco distante, embora alguns representantes dessa linha política já tenham chegado às nossas casas legislativas e muitos políticos que se dizem de esquerda, pratiquem um ecumenismo religioso altamente suspeito em busca de votos nas campanhas eleitorais.

Em São Paulo, porém, esta possibilidade parece extremamente viável. O deputado Celso Russomano que, como tantos outros políticos, ficou conhecido no rádio pelas suas campanhas ditas filantrópicas, é o favorito para se tornar prefeito da maior cidade do País, com um discurso extremamente perturbador. Disse ele, esta semana, que “as pessoas não matam e não roubam não por causa de leis, mas porque têm uma linha religiosa. Gostaria que em cada quarteirão tivesse uma igreja pregando amor ao próximo, porque sem isso não tem como viver em sociedade. Desde que existe história, existe religião, e eu quero manter isso.”

Richard Dawkins, no seu livro, Deus – um delírio, diz que “seria preciso uma dose muito baixa de auto-estima para achar que, se a crença em Deus desaparecesse repentinamente do mundo, todos nós nos tornaríamos hedonistas insensíveis e egoístas, sem nenhuma bondade, caridade, generosidade , nada que mereça o nome de bondade” e cita Sean Ó Casey (dramaturgo irlandês – 1880/1964) para mostrar que a religião é mais nociva que a política: “A política já matou uns bons milhares, mas a religião já matou umas boas dezenas de milhares”

Talvez a melhor resposta para o que aconteceria com o homem, liberto da tutela do Deus que ele mesmo criou, já tenha mais de 80 anos e foi escrita por Sigmund Freud em seu livro “O Futuro de uma Ilusão”, escrito em 1927: “Afastando suas expectativas em relação a um outro mundo e concentrando todas as energias liberadas em sua vida na Terra, provavelmente (os homens) conseguirão alcançar um estado de coisas em que a vida se tornará tolerável para todos e a civilização não mais será opressiva para ninguém.”

Marino Boeira é professor universitário.

Fonte: SUL 21

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