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segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Capela mortuária tem que ser pública e não da ICAR, num estado laico




Construção de capela mortuária, no valor de R$ 92 mil, fica ao lado da intendência

Novo local fica nos fundos da intendência, em frente a uma praça
Foto: Julio Cavalheiro / Agencia RBS
Ângela Bastos



A construção de uma capela mortuária na Barra da Lagoa, Leste da Ilha, toma a atenção dos moradores. Não tanto pelo valor da obra— R$ 92 mil—, mas pela localização. O lugar escolhido pela prefeitura fica nos fundos da Gerência Distrital, antiga Intendência, na Avenida Cidade de Córdoba. Um dos acessos à praia, fica a cerca de 150 metros do Projeto Tamar, que trabalha com pesquisa, conservação e manejo de espécies de tartarugas marinhas.

Ser considerado um ponto turístico não é o único argumento. Ligada à prefeitura, a gerência distrital é ponto de referência para pessoas que diariamente buscam resolver problemas do bairro.
A capela era um pedido antigo da comunidade. Sem um lugar específico, os velórios ocorrem nas casas ou salão paroquial da Igreja Católica.

— A gente tem uma agenda com a programação de festas, como casamentos e aniversários. Aconteceu de estarmos preparando a comida para o jantar e chegar a família para velar um corpo— explica José Braz, zelador do salão.

Gilson Bittencourt assumiu a gerência distrital em janeiro deste ano. Bittencourt conta que não teve como interferir, pois havia a determinação da prefeitura. A justificativa da Secretaria Municipal de Obras é por se tratar de um terreno do município.

— Não somos contra a construção da capela, mas ali não é um bom lugar. Tem uma creche grudada ao prédio da intendência— reclama Paulo de Lima.
O vereador João da Bega (PMDB) é o autor do projeto. O parlamentar conta ter recebido pedidos de moradores para que a Barra da Lagoa tivesse um lugar digno para velar os mortos, inclusive, através de abaixo-assinado.

— Eu fiz o meu papel de vereador, mas a responsabilidade da escolha do lugar é da prefeitura, dona do terreno— diz.
Sobre ser um ponto turístico, o vereador reage:

— Toda a Barra da Lagoa é um ponto turístico. Onde quer que fosse, estaria em um lugar que recebe visitantes— sugere.
O valor da construção é R$ 92 mil e foi aprovado na Câmara Municipal em março deste ano. No cemitério da comunidade da Fortaleza existe uma capela mortuária. Mas as famílias preferem não usar, pois além da localização ser considerada ruim, nos fundos do cemitério, existe outro problema grave, que é a falta de vagas para sepultamento.

— Ninguém quer velar ali e ter que transportar o corpo para outro cemitério_ diz Rogerio Freitas, morador.
A falta de vagas, que atinge outros cemitérios da cidade, é um problema antigo. Esse tema é abordado por Edna Teresinha Rosa, mestre em Geografia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com a dissertação de mestrado "A relação das áreas de cemitérios públicos com o crescimento urbano".

— Existe uma lei que determina que as exumações em túmulos públicos sejam feitas quando ultrapassado o prazo de quatro anos de sepultamento. Se a legislação fosse cumprida, teríamos terreno para novas ocupações _sugere a professora de Geografia na rede pública estadual de Biguaçu, na Grande Florianópolis.

Veja mais da entrevista com Edna Teresinha da Rosa, mestre em Geografia

Diário Catarinense— Desde a antiga Desterro, a cidade tem problemas com os rituais de morte da população.
Edna Teresinha Rosa, professora— A prática mais comum eram os enterramentos no solo. Para a doutrina cristã católica, a prática do enterramento está ligada à ressurreição. A cremação, por exemplo, anularia a imagem do sono à espera do despertar. Crença que ainda persiste.

DC— Como eram os cemitérios de antigamente?
Edna Teresinha Rosa — O tipo de sepultamento mais comum até o século 19 era os enterramentos dentro das igrejas, nas grossas paredes ou abaixo do piso. Toda gente fazia questão de ser enterrada no sagrado. Muitas vezes o mau cheiro que saia das igrejas, foi acusado como fator de disseminação de várias epidemias que assolaram a cidade.

DC— Cemitérios como da Barra Lagoa estão sem espaço. Estamos diante de um problema de saúde pública?
Edna Teresinha Rosa— Os cemitérios são um problema de saúde pública, são laboratórios de decomposição. Todo organismo que morre fica sujeito a fenômenos transformativos, através de micro-organismos, fungos e bactérias.

DC— A localização dos cemitérios deveria ser mais criteriosa por parte das autoridades?
Edna Teresinha da Rosa— Deveria ser extremamente criteriosa, pois a natureza geológica do terreno além de poder favorecer a possibilidade de poluição ou contaminação das águas superficiais ou dos lençóis freáticos, pode provocar alterações no processo de decomposição dos cadáveres.
Diário Catarinense— Ser vizinho de cemitério pode ser um risco em termos de saúde?

Edna Teresinha Rosa— Em Florianópolis há um total desconhecimento no que tange a questão, ainda levada adiante nos cemitérios pelos coveiros, que tentam processar a inumação cercada de cuidados para que o chorume (líquido proveniente da decomposição do cadáver) não vaze quando se trata de carneiras ou de túmulos coletivos (lóculos).


Diário Catarinense— Você aponta alguma sugestão para o problema?

Edna Teresinha Rosa— Recomendo estudos técnicos sobre os cemitérios públicos, que permitam a prefeitura ter o conhecimento detalhado da real situação do problema da falta de espaço e com base neles planejar.

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